No último dia de 2010 e nos primeiros dias deste ano, milhares de pássaros morreram mundo afora. Foram milhares no estado do Arkansas, e 500 na Louisiana, nos EUA. Dezenas na Suécia e centenas na Itália. Também no Arkansas, 100 mil peixes amanheceram mortos, assim como 60 toneladas no Paraná. Isso sem contar os casos de mortes de cardumes espalhadas durante todo o ano de 2010.
Em 2007, os EUA também viveram um grande mistério. Mais de 24 estados sofreram o sumiço de mais de 50% de suas abelhas, o que causou sérios problemas para a agricultura. Não haviam corpos ou pistas dos motivos que fizeram milhares de abelhas abandonarem as colméias e as rainhas, e o mistério ainda perdura. Hoje sabemos que o problemas atingiu parte da Europa e até mesmo o Brasil. Uma das causas apontadas hoje em dia são as lavouras transgênicas, mas ainda não se sabe como isso afeta de fato as abelhas.
Assim começa o filme que ousarei defender filosoficamente hoje. Fim dos Tempos começa com o professor de ciências vivido por Mark Wahlberg questionando seus alunos sobre o que teria acontecido com estas abelhas. A conclusão na sala de aula é que ainda é um mistério. A trama segue ele e sua esposa fugindo de uma estranha epidemia que faz as pessoas se suicidarem da primeira e pior maneira possível. O filme de M. Night Shyamalan foi lançado em 2008 no Brasil com este título de filme-catástrofe, apesar do título original ser apenas "O Acontecimento". Mas de fato o filme é um filme-catástrofe, mas não como o título pode remeter a 2012, O Dia Depois de Amanhã e Independence Day, mas muito mais filosófico e subjetivo que Sinais, o filme de invasão alienígena que o diretor lançou com sucesso em 2002. O filme tem um suspense barato, mas com engajamento, metáforas e ambiguidade.
Fim dos Tempos foi lançado ainda na esteira da polêmica do diretor com a Disney, sua parceira desde O Sexto Sentido. O diretor insistia no complicado (mas pra mim nada confuso) roteiro de A Dama na Água, e com o sucesso de A Vila tudo o que os executivos não iriam querer dele seria um conto de fadas sem tom político, então o diretor rompeu com o estúdio alegando não ter mais liberdade. A briga do diretor até rendeu um livro "O Homem que Escuta Vozes: Ou, como M. Night Shyamalan arriscou sua carreira num conto de fadas" de Michael Bamberger. A Warner bancou A Dama na Água, mas o filme foi (infelizmente) um fracasso gigante de público e crítica, e o diretor foi fazer seu próximo filme na 20th Century Fox. Inicialmente o projeto tinha o título de "The Green Effect" (Efeito Verde), e só foi aprovado após mudança do título e extensiva mudanças no roteiro. Mesmo assim o filme recebeu a tão temida classificação R (menores de 17 anos só podiam assistir acompanhadas de um adulto) nos EUA.
Então o filme trata dos temas ambientais atuais citados no começo do texto, e que muita gente acha chato. E mais do que falar de como a natureza reage as nossas intervenções, o filme fala sobre como reagimos a tudo. Não à toa o diretor queria Amy Adams no papel da esposa do professor, e sem ter esta atriz escolheu a diva indie Zooey Deschanel. Ele queria uma atriz que parecesse alheia aos acontecimentos ao seu redor. Isso fica claro no fato da personagem ter apenas uma preocupação durante quase todo o filme: seu celular e um segredo que ela guarda nele. O mundo está acabando e ela só pensa no celular? É como estamos vivendo hoje. Muita gente acha este o pior filme do diretor, talvez pelo fato do diretor ter usado uma brisa como materialização do mal, fazendo assim homenagem a clássicos do suspense e cinema B como Os Pássaros e Anjo Exterminador; ou talvez pelos personagens não se desenvolverem como se espera num roteiro do diretor, mas como disse, os personagens estão mais preocupados consigo mesmos.
Nunca saberemos como seria o roteiro como o diretor o imaginou, sem a preocupação de deixá-lo mais comercial, mas acredito que o conceito moral que ele queria passar ainda está ali, o de que não estamos nem aí pra porra da natureza, contanto que possamos comprar nosso iPhone 4 e comemorar a virada do ano novo.
Em tempo, o filme seguinte do diretor O Último Mestre do Ar é o primeiro roteiro adaptado (de uma série animada) e é tecnicamente incrível, mas sofre do mal de ter de ser comercial e do roteiro mais preguiçoso que M. Night poderia escrever.
Mesmo com a imensa crítica negativa, Fim dos Tempos é um filme forte que trata de um assunto simples em forma de alerta: se algo não for feito, o planeta se livra da gente! Pode ser dessa ou de outra maneira! M. Night Shyamalan continua sendo um dos meus diretores preferidos, por sua coragem de tratar seus filmes como obra de arte! Perdoe-me os críticos, mas os filmes dele necessita muito mais que visão e audição!
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