Janete Clair, a maior novelista que o país já teve, dizia que novela é oque o nome diz, um novelo que vai se desenrolando (ou seria nos enrolando?). Mas não quero entrar no mérito ideológico e moral das telenovelas, e nem na Globo versus Record versus SBT versus Televisa, mas nos detalhes que na minha opinião fazem de TiTiTi a melhor novela no ar atualmente.
André Spina/ Jacques Leclair (Reginaldo Faria) e Ariclenes/ Victor Valentim (Luís Gustavo) |
A principal comédia do autor foi a inesquecível Que rei sou eu? de 1989, mas em 1985 ele escreveu "Ti Ti Ti", que mostrava a briga de dois homens inimigos de infância (Reginaldo Faria e Luís Gustavo) nos bastidores do competitivo mundo da moda, com direito ao romance proibido de seus filhos (Malu Mader e Cassio Gabus Mendes) e o disputado batom Boka Loka. Então as 19h ficou marcado para comédias, mas não é fácil seguir a cartilha, e é cada vez mais difícil que novelas neste horário tenham êxito de público e crítica.
Então o interesse da Globo em fazer remake para manter o horário chamou a atenção da autora Maria Adelaide Amaral, que aceitou a tarefa de trazer TiTiTi para os dias de hoje. Ela iniciou a carreira na tv co-escrevendo Meu bem, meu mal com Cassiano, e mesmo preferindo escrever minisséries (A muralha, A casa das sete mulheres, Queridos amigos) ela já havia feito o remake de Anjo Mau (também de Cassiano) em 1997.
Com o tempo as novelas ficaram mais recheadas para atender ao público cada vez mais voraz, então Maria Adelaide resolveu misturar mais uma novela de Cassiano Gabus Mendes. E aí está o meu interesse: nada se cria, tudo se transforma. Assim a trama principal continuaria sendo a briga de cão e gato dos estilistas, mas permeada por outras tramas que pudessem agradar a um público maior.
Marcela (Ísis Valverde) e Edgar (Caio Castro) |
Há também uma trama secundária originada de Plumas e Paetês vivida por Christiane Torloni, onde ela vive uma viúva que precisa cuidar da empresa do falecido marido, mas passa a ser assediada por um operário e um diretor da fábrica. Originalmente o papel foi de Eva Wilma e tinha tom cômico, que foi abandonado para mostrar uma mulher em ascensão.
Há de se perceber ainda que havia um plano B para a personagem de Torloni. Ela também poderia ser uma viúva que descobre que o falecido marido deixou todo o dinheiro para uma segunda e humilde esposa, já que seu marido (Paulo Goulart) morreu a traindo e após fazer negócios não muito lícitos. Esta trama seria originada de Brega & Chique de 1987, onde o marido volta com novo rosto revelando que tudo não passou de um golpe.
Jaqueline (Claudia Raia) com calor num momento pastelão |
E como muitos dos atores veteranos fizeram a versão original, a autora brinca de colocá-los pra contracenar com as versões atuais de seus personagens dos anos 80, e são sempre cenas que deixam claro a homenagem.
Concluo com certa tristeza que novelas foram feitas para serem escritas conforme o público, mas ainda defendo que isso deve ser feito com cuidado moral, pois ninguém precisa jogar na cara da sociedade suas hipocrisias, mas pode muito bem mostrar o caminho da verdade. Mas infelizmente não anda acontecendo muitas renovações de autores, o que está prejudicando muito a manutenção da teledramaturgia que um dia foi tão forte, por isso TiTiTi (que acaba sendo um triste retrato nostálgico) é um oasis num deserto tomado por novelas como Passione, que é um retrocesso criativo que ainda ousa chamar o mesmo telespectador que a faz seguir adiante de burro.
O primeiro post sobre TV está excelente! Apesar de muitos negarem, novelas sempre acaba despertando um pouco a curiosidade! E o legal de TiTiTi é ver e ouvir muitas referências de uma São Paulo que nos é próxima! Parabéns pelo post!
ResponderExcluirDeu saudades de "Que Rei Sou Eu?", "A Próxima Vítima" e "VAMP"... Mas concordo plenamente com a análise sobre as novelas em geral: cada vez + sem criatividade, com poucas exceções. TiTiTi parece ser uma dessas exceções...
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