segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Teatro: Bárbara Paz é o Inferno

Hell (Bárbara Paz) deve fumar uns
 15 cigarros ao longo do espetáculo
O diretor de cinema Hector Babenco (Carandiru, O Passado, O beijo da mulher aranha) estava totalmente parado há mais de dois anos, porque segundo ele "cansou de passar o chapéu, tudo é subvencionado pelo governo como se fosse merenda cultural", e casado com a atriz Bárbara Paz redescobriu o teatro, uma vez que ela lhe apresentou ao polêmico romance "Hell: Paris 75016", ele o adaptou para os palcos com a ajuda de Marco Antônio Braz.
Fui assistir a peça com certa expectativa em torno da atriz Bárbara Paz, 35 anos. Atriz e modelo gaúcha, ela ganhou notoriedade ao participar do reality show "Casa dos Artistas" no SBT, e ficar com o cantor Supla. Ao sair do programa protagonizou duas novelas na emissora, todas adaptações de dramalhões mexicanos. Mas o que me chamava a atenção era sua dedicação ao teatro, sempre tinha algo com ela nos palcos, e nunca algo que parecia pouco desafiador. Por este motivo ela chegou a Rede Globo pela porta da frente, convidada pelos diretores e autores, pra viver o papel de uma jovem problemática que se alimentava de álcool na novela "Viver a vida", e estará na nova novela das sete de Walcyr Carrasco.
"Eu sou uma putinha. Daquelas mais insuportáveis, da pior espécie. Meu credo: 'Seja bela e consumista". É assim que começa a peça, baseada no livro de Lolita Pille, que escreveu o livro semi auto-biográfico, sobre jovens ricos, fúteis, drogados, consumistas e que fazem sexo como quem troca de roupa. Tudo o que Hell, a protagonista, quer é arrumar um marido pra continuar a pagar as contas que seu pai banca, mas eis que em meio a tantas baladas ela se apaixona pela pior espécie de homem, Andrea, tão rico e podre quanto ela. Assim como o livro, a peça não poupa a platéia, e tudo o que precisa ser dito, é dito. E assim temos um retrato cruel da juventude atual, seja em Paris, São Paulo ou Morro do Alemão. Curioso foi sair do Teatro do Sesi, na Av. Paulista e dar de cara com duas garotas muito bem vestidas, fumando, e com todo um ar da Hell. A peça não mentiu...
Esta é a primeira adaptação do livro para os palcos feita no mundo, mas não deverá ser por muito tempo. Hector Babenco usa e abusa do talento da esposa pra fazer com que Hell, como num monólogo, nos conte tudo, e se transforme no palco conforme o texto avança. Usa pra isso alguns artifícios, como muitos jogos interessantes de luz e muitas trocas de roupa. Mas só peca ao colocar Andrea no palco, vivido pelo belo e inexpressivo Ricardo Tozzi. O personagem é frio, mas o ator também entrega uma atuação mecânica, que contrasta demais com a de Bárbara, e que não me convenceu de que Hell tenha se apaixonado por ele.
Não se sabe se a peça volta em 2011 pra nova temporada, mas ainda vai se ouvir bastante sobre esta elegante adaptação teatral.

Um comentário:

  1. Não imaginei que a montagem dessa peça tivesse um texto tão forte e atual. A atuação de Bárbara Paz é outro diferencial que explora o mundo fútil, amargo e solitário dos endinheirados que vivem a base de etiquetas famosas, álcool e drogas! Se voltar em cartaz em 2011, não deixe de conferir!

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