terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Direto da Telona: Desenrola

Ao longo do tempo, o Cinema Brasileiro construiu-se com alguns rótulos que infelizmente ainda persistem para a grande maioria daqueles que frequentam as salas de projeções tupiniquins: a de que os filmes produzidos por aqui exploram em demasia a sexualidade, a violência e a pobreza e por isso são ruins.

Engana-se porém, aqueles que deixam de prestigiar nossas produções. Como em todos os seguimentos, há o bom e o ruim; o que agrada à muitos, apesar do discutível valor cinematográfico e o que não agrada ninguém, exceto aos especialistas, justamente pelo valor cinematográfico que poucos compreendem e não fazem a mínima questão para tal. Infelizmente, nosso (pré)conceito acaba por relegar ao Cinema Brasileiro um lugar não muito acolhedor. Uma pena.

Coloco essas questões no início desse post pois, no dia em que assisti ao filme, rolou uma pequena discussão no Twitter sobre o tema entre a diretora do filme aqui comentado e o Pablo Villaça, crítico de cinema e editor do site Cinema em Cena, motivado pelo Pedro Bial que "tuitou" a seguinte frase: "Desenrola"! Que realização! Filme Impecável, sensível, emocionante! Cito meu filhinho: "parece americano" de tão bom. "Desenrola"!
Um tanto complicado essas questões de comparação. O cinema americano produz ótimas produções, mas também encontramos muita porcaria por lá, e na minha opinião, esse tipo de abordagem só faz por desmerecer nosso cinema.

O filme "Desenrola", da cinesta, roteirista e diretora de TV Rosane Svartman, pode ser vítima desse preconceito aos filmes brasileiros agravado ainda por ser uma produção direcionada ao público adolescente. Engana-se porém, aqueles que acreditam que o filme não é bom: pelo contrário! Trata-se de uma fita muito bem trabalhada e pensada na geração "imediatista" da internet em que tudo tem que ser resolvido ontem e as liberdades alcançam níveis mais profundos que antes, e querem uma comunicação direta.

Os principais ingredientes da "sociedade adolescente" atual - e em muitos momentos, aspectos universais - estão lá: a garota tímida que quer ser aceita, a popular por já levar uma vida de adulta, o "palhaço", o tímido-atrapalhado-romântico, os garotos mais velhos, os pais perdidos com a velocidade com que seus bebês viraram mocinhos e mocinhas...

O filme é ágil, veloz e não "enrola" para introduzir seus personagens: Priscila (Olivia Torres), que passará 20 dias sem a supervisão da mãe e vê finalmente, a brecha que precisa para a "1ª vez" com o garoto mais velho que ela tanto sonha, Rafa (Kayky Brito). Para que isso aconteça, Priscila conta com a ajuda de Caco (Daniel Passi), que ainda está naquela confusão se é apaixonado pela amiga. No meio de tudo isso, tem o Boca (Lucas Salles), que tem uma queda por Priscila e sonha ter com ela a primeira noite amor.

A maneira que as roteiristas encontraram para falar sobre o tema "virgindade" foi bem legal: o professor de matemática Pedro Bial pede um trabalho sobre pesquisa estatística e o grupo formado por Priscila, Caco, Boca e Tize (Juliana Paixa, atualmente na novela Ti Ti Ti) resolvem fazer a pesquisa sobre quantas garotas do Ensino Médio ainda são virgens. Essa é uma das sequencias mais engraçadas do filme, quando montam uma série de depoimentos com as garotas.

O tema pesado - primeira transa e "perda" da virgindade - poderia cair em piadas desconcertantes e de mal gosto, mas o assunto é tratado com sutileza e apoiado em ótimas piadas que estão no cotidiano dos adolescentes, é possível passar uma mensagem sem a pressão ou o julgamento se o momento é certo ou errado para as coisas que acontecem. O filme não é uma celebração e um convite para que as mocinhas tenham sua primeira vez, mas ajuda a pensar se elas de fato querem isso e o mais importante, com quem querem ter essa experiência. Até mesmo os palavrões ditos durante o filme, não soam grosseiros. "Desenrola" acaba por ser mais engraçado e atual que a comédia "De pernas pro ar" com Ingrid Guimarães, que nós comentamos aqui. A trilha sonora com muitos hits dos anos 1980, fará muitos pais terem uma sessão nostalgia na sala de cinema e correr para ouvir em casa músicas de Ricthie e Simple Minds.

A participação dos "famosos" globais Juliana Paes, Pedro Bial, Claudia Ohana, Letícia Spiller, Marcello Novaes, Marcela Barrozo e Roberta Rodrigues, completam a história de maneira muito agradável pois não ofusca o talento desses jovens atores que estão muito a vontade fazendo um papel que muitos deles, vivenciam no cotidiano. Destaque para Vitor Thiré (bisneto de Tônia Carrero) no papel do hilário e engraçado Amaral, melhor amigo do Boca. Os dois garantem boas gargalhadas.

Apesar do assunto parecer 'batido" e muitos adultos torcerem o nariz para o tema, o filme diverte e leva a garotada a pensar que o assunto "transa", "virgindade", "camisinha" vem acompanhado de outra palavra que muitos não querem ouvir, mas é inevitável - "consequencia"!

3 comentários:

  1. Olá, aqui é a Rosane, diretora do Desenrola. Muito bacana ler essa crítica, que ajuda a demolir alguns preconceitos - tanto em relação ao cinema brasileiro, quanto em relação à filmes sobre (mas não necessariamente apenas para) adolescentes. Estamos juntos nessa. Obrigada.

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  2. Guck mal! Wirst du ein einen berühmten Schreiber sein!

    Vergiss nicht, dass ich seinen Freund bin!

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  3. Depois da "diretora do filme" comentar o post, o que eu vou ecrever aqui, hein? Me digam?

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