sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Direto da Telona: O IMPOSSÍVEL

No dia 26 de dezembro de 2004, em consequência de um terremoto de pouco mais de 9 graus na escala Richter ocorrido nas profundezas do oceano Índico, ondas gigantescas atingiram a costa de nove países, dentre eles a Tailândia, deixando um rastro de destruição e mais de 230 mil mortos.


Quase 8 anos após a tragédia, O IMPOSSÍVEL (Lo Imposible, 2012) traz para os cinemas a dramatização desse momento sob o ponto de vista de uma família inglesa passando férias em um hotel paradisíaco tailandês. Eles aparentam uma condição financeira estável e, aos poucos, nos é mostrado um pouco de cada um dos constituintes da família: Henry (Ewan McGregor / o pai dedicado e preocupado com a manutenção de seu emprego), Maria (Naomi Watts / a mãe que almeja voltar ao batente) e os filhos Thomas (temeroso), Simon (divertido e amoroso) e Lucas (desafiador). Até que o tsunami atinge em cheio o local onde estão hospedados...

O diretor Juan Antonio Bayona (do ótimo O ORFANATO) aproveita o início do filme para flertar com o acontecido e deixar o publico em suspense, ora usando o barulho das turbinas do avião em que a família chega para sugerir o barulho de uma grande onda, ora mostrando o inquietamento dos animais, como se esses pressentissem algo. A fotografia de Óscar Faura insiste em belos enquadramentos, ressaltando as belezas naturais do local, algo que fica ainda mais poderoso quando, poucos minutos depois, podemos contrastá-las com o cenário de destruição. E que destruição.

É assustador o realismo conseguido pela equipe de produção na cena da invasão do litoral pelas águas. Sempre se fala da força da natureza, mas o que os técnicos em efeitos especiais conseguiram nesse filme é palpável. Cada efeito sonoro ecoa em nossas mentes, tornando um corte em uma perna algo que a plateia consegue quase compartilhar. São minutos de desespero, em que o "barulho silencioso" de estar embaixo d'água parece ser a coisa mais assustadora que pode existir.

A família se vê dividida, e isso abre caminho para duas atuações portentosas, por parte de Watts e do jovem Tom Holland, intérprete do intempestivo Lucas. A saga dos dois é insana, justificando o título do filme, e o garoto empresta uma sinceridade tão visceral ao seu personagem que fica muito difícil segurar as lágrimas. Já MacGregor e os outros dois filhos tem o seu desenvolvimento mais focado nos desafios e nas escolhas a serem feitas quando em desespero. Aliás, toda história baseada em fatos reais carrega uma carga emocional própria e não é diferente nesse filme. E aí reside a minha crítica com relação a essa película.

Bayona e seu roteirista, Sérgio G. Sanchez estavam de posse de um acontecimento real, de uma família real. O simples fato de eles terem sobrevivido e se encontrado já é, por si só, algo tocante. Entretanto, ao meu ver, os dois pesaram demais a mão ao tentar consternar o público. Ficamos envoltos em um vai-e-vem que, ao ser extremado por determinados diálogos, nos faz questionar o que é real e o que é dramatizado. E isso estraga um pouco da imersão. Sem falar na trilha sonora, ensurdecedora e insistente, tentando trazer à tona um sentido de suspense desnecessário, afinal não estamos diante de um TITANIC, onde personagens fictícios usam o pano de fundo histórico para contar a sua história.

Ressalvas a parte, é um bom filme. A sensação de medo vivenciada nas cenas de destruição é claustrofóbica. Além disso, o filme toca brilhantemente em um ponto muito interessante: a capacidade do ser humano de se tornar, com o perdão do trocadilho, mais humano em face ao desespero de outro. Quem dera não fossem necessárias tragédias como essa para esse espírito solidário emergir...

O IMPOSSÍVEL (The Impossible - Espanha , 2012 - 107 min. - Drama)
Direção: Juan Antonio Bayona
Roteiro: Sergio G. Sánchez
Elenco: Ewan McGregor, Naomi Watts, Geraldine Chaplin, Marta Etura, Tom Holland, Sönke Möhring, Oaklee Pendergast, Samuel Joslin