sábado, 26 de janeiro de 2013

Star Wars Episódio VII, ou "Luke, Mickey Mouse Is Your New Father"


Após comprar a Marvel em 2009 por 4 bilhões de dólares, a Disney engoliu outra gigante em outubro passado por outros 4 bilhões de dólares: LucasFilm (a casa de Star Wars). 

Segundo George Lucas, o dono da LucasFilm e criador de uma das sagas de ficção científica mais poderosas e influentes do mundo "É hora de eu passar Star Wars para uma nova geração de cineastas. Sempre achei que Star Wars viveria além de mim, e eu penso que é importante montar a transição enquanto eu estou vivo. O alcance da Disney vai dar à LucasFilm a oportunidade de trilhar novos caminhos em cinema, TV, produtos interativos, parques temáticos, produtos ao vivo e outros direto ao consumidor". Tudo isso não quer dizer que Lucas está prevendo sua morte, apesar dela ser iminente, mas quer dizer que seremos bombardeados de produtos Star Wars nos próximos anos, além da série animada exibida pelo canal Cartoon Network, e dos jogos de videogame.
Entre os planos de Lucas antes da venda, havia uma série de TV com atores, centrada nos rebeldes e sobreviventes após os eventos de Episódio III, e a possibilidade da série vir a ser produzida pelo canal ABC (do conglomerado Disney) aumentou.

Mas a surpresa de todos foi a revelação de que a prioridade após a compra seria a produção de um Episódio VII. Surpresa, já que teoricamente toda a saga de Darth Vader (personagem-chave dos primeiros 6 filmes) e sua prole foi concluída. Seria então um recomeço dentro daquele universo de naves, sabres de luz, Siths, Jedis, Império, etc? Não importava. Todos queriam saber quem seria o diretor, já que George Lucas estava passando o cargo para um diretor mais jovem, e a partir daí fazer especulações.

Com negociações acontecendo mais rápido que o esperado, choveram rumores de diretores responsáveis pelo filme. O nome de Zach Snyder (diretor de 300, Watchmen, Sucker Punch e Homem de Aço) foi mencionado, mas logo veio a notícia de que seria uma filme baseado em Os Sete Samurais, clássico absoluto de Akira Kurosawa, que já foi adaptado pela Pixar na animação Vida de Inseto, e que seria um projeto para depois da estréia de Episódio VII, mas que também depende do sucesso ou fracasso de Homem de Aço em julho.

Esta semana o mistério acabou, e apesar de ter negado anteriormente, o diretor do recomeço de Guerra nas Estrelas será mesmo Jeffrey Jacob Abrams (ou J.J. Abrams). Peraí! J.J. Abrams não é o diretor de Star Trek (vulgo o reboot de Jornada nas Estrelas no cinema), e sua continuação Star Trek - Into The Darkness que estréia em maio? Pois é, ele mesmo.

Traidor ou não, ele é um nerd viciado em ficção científica assumido. E apesar da carreira de diretor de cinema ser recente (ele estreou com Missão: Impossível 3 em 2006), sua capacidade como produtor e diretor de TV (Felicity, Alias e Lost), além do sensacional recomeço de Star Trek, também ajuda a nos acalentar de que o novo filme estará em boas mãos, apesar de todos os riscos para sua carreira.
Em tempo: George Lucas (o ainda consultor criativo da LucasFilm) é amigo de Steven Spielberg, que foi homenageado por Abrams em Super 8, também produzido por Spielberg.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Direto da Telona: LINCOLN

Começo de 1865.

A Guerra Civil americana entra em seu quarto ano e Abraham Lincoln acaba de ser reeleito.

Após acompanhar cenas da selvageria da guerra, onde muitos dos soldados de casaca azul são negros, o público assiste a uma conversa entre o Presidente Lincoln e alguns soldados. Negros, eles contam seus feitos e indagam do político o que será deles no pós-guerra. E no olhar pensativo de Lincoln, encarando o vazio quando é deixado sozinho, já é possível sentir o tom dessa nova produção de Steven Spielberg.


LINCOLN (Lincoln, 2012) se propõe a mostrar todo o processo que levou à vitória do norte na Guerra Civil dos EUA bem como à aprovação da chamada 13a. Emenda, que dispunha sobre a abolição da escravidão no país. Mostra, portanto, a importância desse homem para a integração americana, o que acabou permitindo ao país despontar como uma potência mundial.

Em linhas gerais, o longa é um filme sobre política. Dessa forma, seu ritmo é sim lento, fazendo com que suas quase duas horas e meia de projeção sejam sentidas por quem não se interessar pelas conversas de bastidores que primam pelos ótimos diálogos e que possibilitam aos atores mostrarem do que são capazes. Tendo dito isso, o filme é muito bom, brindando o público com atuações excelentes e trazendo Spielberg em um de seus melhores trabalhos de direção. Considerando o tempo que o mesmo desejava tirar esse projeto do papel, encontramos um trabalho no qual o longo tempo de produção foi favorável, gerando um resultado final digno de todas as indicações e elogios que tem recebido.


É fato que o desconhecimento das minúcias históricas - por não sermos norte-americanos - acaba por fazer com que detalhes, idéias e sutilezas nos escapem, tendo em vista o tão conhecido patriotismo daquele país. Entretanto, o ensejo principal de acabar com algo que incomodava a muitos, apesar de isso evidentemente não acabar com o preconceito, ainda assim é algo tocante.


Uma fotografia que, por muitos momentos, tem uma iluminação suave, o que acentua o peso das salas da Casa Branca, ou de qualquer local onde os personagens se reúnem enfatiza a trama de gabinete. A grande quantidade de personagens gera um certo incomodo, pois temos que nos esforçar para lembrar se já os vimos antes ou não. Spielberg se foca em detalhes, em expressões faciais e o trabalho de linguagem corporal passa a ser determinante.


Daniel Day-Lewis representa de forma esplendorosa o presidente Lincoln. Sua maquiagem acaba aceita graças aos trejeitos e sua postura carismática. O respeito que arranca de seus assessores é justificado e nos sentimos atraídos por aquela figura. Suas cenas junto a Sally Field, que vive a esposa de Lincoln,  são emocionantes, críveis e fortes, assim como seu embate ideológico com Tommy Lee Jones, que vive um líder republicano.



O trabalho de ambientação é tecnicamente muito bem executado. Detalhes dos sets e a caracterização geral dos personagens é muito além do satisfatório. Steven Spielberg sempre teve como principal crítica à sua direção o exagero emocional, criando cenas com sentimentalismo exacerbado. Aqui, entretanto, temos uma direção equilibrada, mesmo em momentos onde  a dor dos personagens poderia ser intensificada. Ele aprendeu e não repete Cavalo de Guerra.

LINCOLN é uma película de técnica apurada, ótimas interpretações e uma direção exemplar, além de trazer a história de um homem notório. Ele sabia que estava lá para tomar decisões visando o bem de toda a sociedade. E é isso que o filme nos mostra: como Lincoln viveu, e como ele será lembrado.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Da TV: O Canto da Sereia, ou Existe Bahia Sem Mãe de Santo?

Segundo o jornal Folha de S.Paulo do dia 23 de janeiro, a cantora baiana Ivete Sangalo recebeu 650 mil Reais de cachê para fazer um show de inauguração do maior hospital da região de Sobral, no Ceará. Curiosamente a região é o "berço político" dos irmão Cid (governador) e Ciro Gomes. Não foi o primeiro, e nem será o último show da cantora que algum governo nordestino banca por motivos no mínimo duvidosos. Como artista, a cantora estaria apenas sendo contratada e sua imagem popular sendo utilizada pelos políticos para conquistar e agradar eleitores, mas há um código ético dos artistas pra situações como essa? Afinal, a combinação de música popular e política parecem ser polêmicas.
Foi nessa linha de raciocínio (ou não) que o escritor, jornalista, produtor musical e compositor Nelson Motta escreveu seu primeiro romance: "O Canto da Sereia - Um noir baiano", que mostra os desdobramentos da investigação do assassinato de uma famosa cantora de axé em pleno carnaval de Salvador, e as ramificações políticas do caso.
A morte da Sereia
Adaptado para a tv como uma microssérie em 4 capítulos diários, a história de Sereia, considerada a animada e sensual princesa do axé baiano que é assassinada em plena famosa Praça Castro Alves em Salvador em cima de um trio elétrico durante o Carnaval chamou a atenção dos telespectadores pro clássico e enganador "quem matou?". Já não é de hoje que a tv brasileira explora o tema (veio bem antes do boom Odete Roitmann), mas salvo exceções de filmes de terror americanos, os textos brasileiros costumam explorar o desenvolvimento dos personagens envolvidos no mistério, e o segredo em si é apenas consequencia (geralmente óbvia) destes desenvolvimentos. O Canto da Sereia não é diferente, o foco da versão televisiva é a personagem Sereia, e principalmente sua intérprete: Ísis Valverde.
É inegável que Ísis é a alma refrescante da produção, e fica difícil imaginar outra atriz no personagem com tamanho carisma, entrega e novidade. Surpreende mais saber que Ísis gravou sua primeira cena como Sereia poucos dias após sua última cena como a igualmente inesquecível periguete Suéllen da novela Avenida Brasil. Suéllen era uma periguete boliviana que não tinha medo e receio de nada, já Sereia é arroz de festa, porque quando sozinha é só tristeza.
Flashback na Patagônia Argentina
A cena que apresenta Sereia mostra ela tomando uma ducha, e nua pára frente ao espelho pra se olhar. Tinha tudo pra ser uma cena meramente sensual, mas ao se ver no espelho, o público imediatamente entende que essa "diva" está se sentindo tudo, menos sensual. E então ela tira um comprimido do fundo de uma caixa. Droga? Remédio? É o que a investigação do crime vai elucidar.
A montagem acompanha Sereia até seu assassinato, pra então mostrar os avanços da investigação particular do chefe de sua segurança Augustão (Marcos Palmeira competente tentando não parecer um Mandrake baiano) entre muitos flashbacks de tempos distintos, que irão explicar a relação da cantora com os suspeitos. Aqui a trama se assemelha com a serie Twin Peaks, pois vamos desvendando Sereia (humilde? Metida? Ardilosa? Bissexual? Frigida?) assim como Laura Palmer, com direito a diário também.
Figurino: Sempre saias, e muita renda pra realizar a fantasia
À primeira vista, fica parecendo repetitivo que grande parte do elenco tenha saído da novela Avenida Brasil, e sem dúvida foi um risco, mas os atores (e equipe!) mostraram que apesar da superexposição, uma entrega completa aos personagens e a história fazem toda a diferença. Além de Ísis, despreocupada em como aparece no vídeo e preocupada em fazer a cena funcionar, com outro sotaque, figurino e uma energia solar contrária a de sua personagem anterior, Marcos Caruso mostra o bom ator que é como o governador (ACM?) alvo da espada justiceira e popular de Sereia, e principalmente Camila Morgado, mostrando como a empresária, uma força masculina que muitos duvidariam. Completam o elenco Marcelo Médici como o marqueteiro (in)discretamente gay da cantora e do governador, a cantora Margareth Menezes estreando como atriz no papel da pouco vista Delegada Pimenta, Zezé Motta como uma mãe de santo de segundo escalão, Fabíula Nascimento incrível e seríssima como a jovem mãe de santo mais poderosa da Bahia, o sempre ótimo Fabio Lago como o braço direito de Augustão, e o sensacional e mais visto no cinema João Miguel como o fã e maquiador Só Love. O maior porém fica por conta de Gabriel Braga Nunes como Paulinho de Jesus, ex namorado de Sereia e o cara que a revelou. Me convenço que ele é um ator ok de um mesmo personagem, e que não deu nem metade do que poderia pelo papel.
Mas fica claro que nada disso resultaria num bom produto se não fosse o roteiro enxuto (que muda o final do livro) de George Moura, Patrícia Andrade e Sérgio Goldenberg, e que (pasmem) tem supervisão final de Glória Perez; os figurinos perfeitos de Cao Albuquerque e Natalia Duran (a idéia das rendas pra Sereia parecia clichê, mas funciona sem alarde); e a direção geral (que valoriza a estética moderna e a atuação do elenco) de José Luiz Villamarim sob o núcleo de Ricardo Waddington, não por acaso os mesmos por trás do sucesso de Avenida Brasil.
polêmica?
Uma polêmica rondou a estréia quando um pastor evangélico do interior de SP pediu que internautas boicotassem o programa, ao afirmar que a emissora valorizava mais as religiões afro-brasileiras (claramente depreciadas por ele e seus fiéis) que a evangélica. Não deu certo, e o programa foi tal sucesso de audiência para tal horário que a emissora pensa em transformar o material num longa metragem, além de inscrevê-lo para o Emmy. A emissora rival Record chegou a exibir uma longa matéria em seu principal programa dominical falando do assunto, e curiosamente cobrando a Globo a dar mais espaço para a religião evangélica em suas novelas.
Na opinião de quem vos escreve, seria impossível fazer O Canto da Sereia na Bahia sem mencionar o candomblé e ter uma mãe de santo (alvos da polêmica). E outra: a emissora é privada, ela pode decidir seu posicionamento político, religioso ou moral sem se preocupar se o povo pense que está sofrendo manipulação. Deveria caber apenas ao Estado fazer com que a população tenha educação suficiente pra ter opinião própria, sem se achar manipulado. Infelizmente não é o que ocorre, mas não é por culpa de uma mera emissora de televisão, que nem tem obrigação educadora.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Quadrinhos: SWEET TOOTH


SWEET TOOTH, de Jeff Lemire, HQ de 2009 (EUA) acaba de chegar por aqui com o subtítulo Depois do Apocalipse. No enredo temos um garoto com chifres de cervo que nasce após um "incidente" ter atingido os EUA, destroçando sua população. As únicas crianças nascidas após o tal evento são híbridas, alteração essa que as torna imunes à peste dizimadora. Elas mesclam características humanas e animais, e são perseguidas. Gus, o garoto com chifres da capa - e que acompanhamos -, é um menino com uma alma dócil e uma queda por doces (daí o nome do gibi).


Na trama, os garotos híbridos como ele passam a ter a cabeça a prêmio, pois muitos acreditam que em seus DNAs se esconda a resposta para a peste. Quando o lar de Gus é atacado por caçadores inescrupulosos, um homem misterioso e violento aparece para lhe salvar. O nome dele é Jepperd e ele promete levar o jovem até a mítica Reserva, um local seguro para as crianças híbridas.

Percebemos logo que as cidades não são lugares aconselháveis, já que saqueadores e estupradores agora habitam suas construções abandonadas. O pai de Gus deixou para o ensinou cinco regras de ouro antes de sucumbir à praga: sem fogueiras durante o dia, confiar somente em si mesmo, orar pela proteção divina antes de dormir, lembrar de sua mãe em suas preces e, a mais importante de todas as regras, nunca deixar a mata, seu lar. Mas Gus irá quebrá-las antes mesmo de terminarmos as primeiras 30 páginas...


O criador Jeff Lemire, que escreve e desenha - e vem fazendo sucesso na DC tradicional com Homem-Animal -, terminou a pouco a série na edição 40, como havia prometido. Já indicado ao prêmio Eisner, o autor apresenta uma ousada visão pós-apocalíptica sobre o destino da humanidade. A influência e o valor da inocência face uma inesperada amizade que brota mesmo diante de situações adversas. A narrativa é cinematográfica e se encaixa perfeitamente com o clima tétrico e pesado da obra, com pequenos espaços para o humor mordaz do autor. Relativamente um novato na indústria, o canadense abandonou a faculdade de cinema, alegando que os quadrinhos eram mais apropriados à sua natureza taciturna (palavras do autor). Jeff chamou atenção pra si ganhando prêmios e, após alguns outros trabalhos, começou a jornada de Sweet Tooth para a Vertigo.

A arte de Lemire pode não cativar à todos de princípio. Seus traços são marcados e simplistas, chegando por vezes a serem um pouco rústicos, mas mantendo um charme esquisito. Charme esse que serve para ressaltar o caráter estranho da história que temos em mãos. Após algumas páginas o traçado já se torna orgânico e o ritmo da HQ já cativou o leitor. A arte do momento em que Gus se vê frente a frente com um cervo e os detalhes do olhar de ambos ressoam na página, aguçando a curiosidade sobre o caráter híbrido do personagem. Os dois olhares transmitem medo e curiosidade, sentimentos que permeiam as páginas desse primeiro encadernado.


O material não é indicado para menores de 18 anos, em virtude da violência exacerbada e dos temas pesados sobre a natureza humana. A economia de texto por parte do autor dão um ar contemplativo e minimalista ao gibi, convidando o leitor a observar os fenômenos que acontecem no papel. E não é exatamente esse um dos atrativos da leitura desse tipo de fonte? A narrativa deixa os leitores ávidos para saber o que está por vir... Talvez seja a expectativa de ver o comportamento de um indivíduo indefeso neste novo mundo que traga a vontade de ler. Sua inocência, a ponto de apenas provar um chocolate ser uma grande descoberta em sua vida, é tocante. Leia este primeiro encadernado e tente não ficar curioso com o enorme cliffhanger ao final.

Sweet Tooth – Depois do Apocalipse Vol. 01: Saindo da Mata reúne as 5 primeiras edições em uma brochura de enorme qualidade. Se gosta de quadrinhos, não deixe de conferir.