terça-feira, 18 de outubro de 2011

Direto da Telona: Melancolia

Segundo a Wikipedia, a melancolia é um estado psíquico de depressão sem causa específica, que se caracteriza pela falta de entusiasmo e predisposição para atividades em geral. Neste último trabalho do polêmico diretor dinamarquês Lars Von Trier também é o nome de um planeta que de uma hora pra outra sai de trás do Sol numa rota de colisão com a Terra. Toda a metáfora do apocalipse é pertinente à trama e relacionamento das irmãs Justine e Claire, respectivamente interpretadas por Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg.

O filme é dividido em duas partes, cada parte para cada irmã, ou para um planeta, ou para um tipo de melancolia. Na primeira parte, Justine está indo para sua festa de casamento com Michael (Alexander Skargaard), na enorme casa de campo de sua irmã e seu milionário cunhado John (Kiefer Sutherland, ótimo). Tudo parece perfeito, até que o atraso do casal em chegar à festa revela um certo receio da família em relação ao comportamento de Justine. Logo saberemos que ela finge deprimentemente a felicidade da cerimônia. Seu chefe (Stellan Skargaad), seu pai (John Hurt) e sua mãe (Charlotte Rampling) não ajudam em deixá-la melhor, revelando algum motivo de sua infelicidade. Nada acaba bem neste ato, que mais parecido com os conceitos cinematográficos do diretor durante o manifesto Dogma de 1995 recebeu as principais críticas negativas da impresnsa. Eu gostei de acompanhar essa tragédia de família, onde a câmera parece boba em meio aos convidados, sendo alguns muito caricatos, pois me transmitiu a inquietação de Justine.
melancólica ao extremo

O segundo ato começa com Justine no limite de suas capacidades, e Claire deve administrar a irmã, o marido, o filho, e um possível apocalipse. Muito diferente do primeiro ato, aqui não acompanhamos costumes familiares, e sim um tenso suspense sobre o que pode vir a acontecer: um assassinato? um tapa? a colisão do planeta? É um ato mais interno, com menos tramas, mas sem dúvida cinematograficamente mais rico, onde as coisas acontecem com leveza e sem necessidade de explicações. Mal comparando, me lembrou mais filmes apocaliptícos de Hollywood como "Independence Day", "2012" e até mesmo "Transformers", o que para mim pode soar apelativo. Foge um pouco as regras do diretor, mas demonstra seu talento em outra seara.

O filme deu merecidamente a Kirsten Dunst a Palma de Ouro de Melhor Atriz no Festival de Cannes, e mostra que a atriz, após uma temporada com o Homem Aranha e alguns escândalos, está disposta a voltar aos velhos tempos em que se mostrou uma atriz madura em Gostosa Loucura. E ainda traz a nova parceria do diretor com a atriz e cantora Charlotte Gainsbourg, depois dela ter ganhado o mesmo prêmio de Kirsten em 2009 pelo polêmico Anticristo.

à espera do fim
Maior que as qualidades do filme foi a bagunça que o diretor fez numa entrevista coletiva em Cannes, quando fez uma brincadeira de mau gosto envolvendo sua família e uma falsa orgulhosa origem nazista. A repercussão foi tão ruim que o diretor foi proibido de pisar no Festival novamente, mesmo que ganhasse o prêmio de melhor diretor. Para se defender, o diretor avisou que estava passando por um período de abstinência alcoólica, mas o circo já estava armado. Provavelmente o diretor se tornou o próprio AntiCristo do cinema (e da imprensa especializada), pois sua filmografia inclui filmes muito experimentais e polêmicos, como Dogville, Dançando no Escuro e Os Idiotas que para o bem ou para o mal fizeram história e escola.

domingo, 16 de outubro de 2011

Direto da Telona: A Hora do Espanto (2011)

Hollywood sempre renovou filmes baseados em obras literárias, mas de uns tempos pra cá, estão atualizando filmes mais recentes, e que nem mesmo tenham tido algum êxito maior. É o caso dos filmes dos anos 80, geralmente comédias adolescentes e filmes de horror. Na lista destes remakes de horror já estão "Sexta-feira 13", "Hora do Pesadelo" e até mesmo "Halloween", que talvez seja o "pai"do gênero.

Agora é a vez de "A Hora do Espanto"(Fright Night, 2011), no qual o original de 1985 foi dirigido por Tom Holland, que poucos anos depois faria Brinquedo Assassino. O original contava a história do adolescente Charlie que começa a desconfiar que seu charmoso vizinho é um vampiro, que está fazendo uma verdadeira carnificina no bairro, e pede ajuda a Peter Vincent, um velho apresentador de um decadente programa de horror. A nova versão é dirigida por Craig Gillespie, diretor de comerciais que fez seu debut no elogiado A Garota Ideal, e é um dos criadores e diretores da série United States of Tara. O elenco deste remake também traz melhorias significativas, trazendo atores já consagrados como Colin Farrell como o vampirão Jerry, Toni Collette (não por acaso protagonista de United States of Tara) como a mãe de Charlie, e Anton Yelchin (de Star Trek e Exterminador do Futuro: A Salvação) como o protagonista Charlie.

Peter Vincent e Charlie no original
Os principais elementos do filme original estão neste remake, mas há atualizações importantes. O vampiro no original tinha um "escravo" aparentemente humano, que em tempos de "True Blood" não caberia na nova versão, pois a margem para interpretações homoeróticas seria enorme. Os vampiros do original se transformavam em morcegos e lobos, e em tempos de "Crepúsculo" os vampiros são apenas vampiros humanóides com algumas capacidades elevadas, e um limite físico um tanto quanto monstruoso. Outra grande alteração é o do apresentador caça-vampiros Peter Vincente, que deixou de ser o decadente idoso para ser um jovem e famoso ilusionista de Las Vegas, que não é tão charlatão quanto parece em relação a sua fama de caça-vampiros. Entre outros detalhes bem adaptados.


mãe e filho em apuros
Colin Farrell, que foi convidado para o papel após a morte de Heath Ledger, parece se divertir em fazer o vilão noturno, e troca o charme socialmente formal de Chris Sarandon (que faz uma participação irônica no filme) por um sedutor charme de mecânico, que o torna sexual o suficiente pra sustentar a trama com a namorada do personagem Charlie. E outro bônus é o primeiro grande trabalho estadunidense de David Tennant como o caça-vampiros, que deixou a série britânica Dr. Who pra ter um lugar na calçada da fama de Hollywood. E claro que o jovem ator Chistopher Mintz-Plasse (O McLovin de SuperBad), aqui num personagem importante inédito em relação ao original se mostra em evolução e merece, ao menos, o meu respeito e ingresso.

O diretor mostra talento ao criar longas e interessantes tomadas de suspense, sem precisar usar muitos efeitos visuais ou até mesmo especiais (com excessão do sensacional plano sequência no carro).  Do momento que Charlie entra na casa do vampiro Jerry, a câmera o segue tensa por vários minutos sem fazer cortes bruscos, terminando toda a sequência novamente fora da casa, o que favorece o 3D utilizado no filme. Aprenda, Michael Bay!