sábado, 28 de janeiro de 2012

Direto da Telona: O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS


Uma sala "claustrofobicamente" fechada. Paredes à prova de som. Control (John Hurt), chefe da Circus - elite do serviço secreto britânico - anuncia sua saída e de George Smiley (Gary Oldman). Este último, apesar de desconhecer a sua própria saída, não esboça reação frente aos demais presentes na sala. Sai resignado e a câmera o segue pelos corredores, escadas, até chegar ao térreo, onde passa pelo porteiro e começa o caminho para casa. O ESPIÃO QUE SABIA DEMAIS (Tinker Tailor Soldier Spy, 2011) é o cinema em sua essência: a imagem carregada de significado.

Em seu novo filme, Tomas Alfredson parece querer continuar tratando do medo x atitude, como já havia feito em Deixe Ela Entrar. Lá, tínhamos a vampira e seu amigo, a primeira lutando (ou seria administrando?) sua capacidade de fazer o mal; o segundo, tentando lidar com seus problemas. O encontro dos dois os ajuda a ampliar o seu auto conhecimento e lhes dá força para seguir. Agora temos um novo panorama: a Guerra Fria. Encrustada no meio do fogo cruzado de CIA e KGB, a Circus tem em seu alto escalão pelo menos cinco ou seis agentes dignos de ostentar a alcunha do título do filme.

Após uma operação mal sucedida em Budapeste, assistimos à cena descrita no início deste post. Mas bastam poucos dias para que Smiley seja tirado de seu sossego: suspeitasse da existência de um traidor russo infiltrado e o governo precisa novamente de seus préstimos. Smiley é o agente para o serviço. Frio e objetivo, dá início a um processo investigatório de espionagem como ele deve ser: sem explosões e tiros, mas cheio de escutas, entrevistas e documentos comprometedores. O diretor e seu fotógrafo acertam ao escolher filmar os acontecimentos de um ponto distante, tornando-os, de certa forma, objetos de nosso voyerismo investigatório. Além disso, os cenários e figurino sóbrios e frios contribuem para criar o clima de tensão, que domina toda a película.

Gary Oldman apresenta uma interpretação muito diferente do seu habitual. De fala mansa e decidida, eleva a voz apenas em dois pontos, claramente motivados. Seu óculos, mantidos até durante a sua natação, torna-se o seu Aston Martin, como ele mesmo informou em uma entrevista sobre o filme. Sua indicação ao prêmio de melhor ator se justifica e fica inegável na cena em que conta a Peter Guillam (Benedict Cumberbatch, mostrando que é mais do que Sherlock) o seu encontro com "Karla" (chefe da KGB).

O elenco é fabuloso. Além dos já citados, temos Mark Strong, Colin Firth, Ciaran Hinds, Toby Jones. Tom Hardy, cada vez melhor, é responsável por uma das cenas de flashback mais interessantes e densas. Aliás, a forma como a trama nos é contada, não-linear, funciona muito bem. Ao investir nessa estratégia, o diretor traz a imagem acompanhada por uma narração, a do entrevistado. Dessa forma, as interpretações de quem está em cena dependem muito mais de expressões faciais, movimentos corporais e agilidade/bom posicionamento da câmera. E nesse quesito, a equipe envolvida está de parabéns.

A trilha sonora, composta por Alberto Iglesias, é marcante e dá o tom às cenas. Suas notas parecem evidenciar o que devemos prestar atenção nos ambientes apresentados, nos tornando parte da investigação. Aí está outro grande acerto do filme: ele não nos convida a tentar desvendar quem é o espião, mas sim a acompanhar quão estafante á a vida de um espião, que abdica de todo o resto e vê em tudo algo para desconfiar. Uma subtrama de Smiley é particularmente interessante e o diretor, de forma inteligente, nos mostra a frieza com que o espião (vira de costas quando descobre) e o diretor (não mostra a personagem que motiva a situação claramente em nenhum momento) tratam a vida pessoal do mesmo. Smiley, por sinal, é a grande ironia do filme, por ser um nome de alguém que não dá um sorriso sequer durante todo o longa.

Dino Jonsater executa com inteligência a sua montagem, tornando a trama, por natureza um tanto quanto parada, fluída. Ele consegue intrigar e instigar na mesma medida, favorecendo o resultado final. Aliás, por falar em final, a cena que finda o filme é de uma beleza cinematográfica ímpar: ao som de La mer, cantada por Julio Iglesias, vemos uma sequência de cenas autoexplicativas e carregadas de significado.

O filme é um ótimo exemplar de filme de espionagem e merece ser conferido. O roteiro, uma adaptação do livro de John Le Carré, tem mais um mérito que, pelo menos comigo, conquistou: a trama foi tão interessante que me instigou a querer ler o livro. Eu sei que um bom filme não significa uma boa obra literária (ou vice versa), mas acho que vou arriscar. De suspeitas, chega as do filme...

OBS.: o nome em inglês do filme se justifica de forma brilhante (na minha opinião) durante a película.

Band of Brothers: Encruzilhada e Bastogne

Nos episódios 5 e 6 da premiada série "Band of Brothers", acompanhamos as histórias centradas no capitão Dick Winters e do enfermeiro/socorrista Eugene "Doc" Roe.

Em "Encruzilhada", o capitão Winters leva a Companhia Easy à uma batalha em que sua inteligência e visão de líder em campo, acaba por conduzir a companhia E em uma das vitórias mais impressionantes da minissérie. Após a informação de que um dos soldados foi atingido por um dos disparos na rodovia próximo ao QG onde estavam, Winters decidi sair com uma patrulha para verificar o que estava acontecendo. Passaram a noite entrincheirados, observando que os alemães estavam aguardando a retirada daquela área de batalha.

Ao perceber que se não fizesse algo, toda a companhia poderia ser cercada pelos alemães que estavam em maior número, Winters decidi atacar. Examinando o campo e as condições, ele monta a estratégia e surpreende os alemães, composta de duas companhias inteiras de soldados das SS - aproximadamente 200 homens!

A operação é um sucesso! Duas companhias inteiras de alemães capturados e apenas um morto do lado dos aliados.

O avanço do Capitão Winters no episódio Encruzilhadas
O resultado dessa operação, que um soldado chega a atribuir com "sorte"e o capitão Nixon corrigi o soldado afirmando que sorte não teve nada a ver com isso, é que o capitão Winters é promovido para uma função burocrática, que ele obviamente não gosta muito. Vemos esse descontentamento no início do episódio quando ele é cobrado sobre relatórios e inventário! Nos depoimentos dos soldados, vemos a admiração que todos guardavam pelo capitão, que nunca imaginou não ser o primeiro a avançar sobre o inimigo. Essa atitude, de um líder que não abandona seus soldados, é admirada a ponto de se afirmar que "ele seria seguido a qualquer lugar"! 

No episódio, o soldado alemão morto por Winters
Nesse episódio, vemos ainda que o capitão Winters tem uma preocupação com o que se faz na guerra, pois a imagem de um soldado alemão que ele mata logo no início do ataque, o persegue em seus pensamentos. Outra preocupação é com quem comandará a Easy Company no campo de batalha já que o Tenente Moose, um soldado de confiança de Winters foi atingindo por fogo amigo.

No final do episódio, a companhia E está se dirigindo para uma das piores batalhas que enfrentariam - A Batalha do Bulge em Bastogne, no rigoroso inverno Europeu!

Eugene Roe
No episódio 6, centrado no enfermeiro Eugene "Doc" Roe, vemos o quão difícil foi a luta em um lugar cercado pelos alemães, num frio de congelar a alma, onde vários soldados tiveram problemas graves nos pés com a chamada "pé-de-trincheira",  provocado pela condição de alta umidade nas trincheiras. Além dessas condições, ainda havia o problema de falta de munição, de roupas para as congelantes temperaturas e alimentação. E para piorar, quando os aviões com suprimentos eram enviados, devido ao espaço mínimo que separava os alemães e os aliados, e o tempo sempre com neblina,  os suprimentos sempre caiam do lado alemão. 

Doc Roe era respeitado pois nunca desistia de levantar a moral dos soldados e sempre preocupado com a condição dos amigos que estavam na pior condição desde que chegaram ao território Europeu. Além do poder de fogo alemão ser superior, ao atingir as árvores, o poder de fogo se multiplicava, espalhando destroços sobre todos.
No episódio Bastogne, Doc Roe observa
um momento de descontração dos amigos!

Nesse episódio, vemos um dos poucos momentos em que os soldados tem contato com as enfermeiras que serviram voluntariamente nas frentes de batalha. Existe um flerte entre a enfermeira Renee e Doc Roe (uma homenagem à essa enfermeira, que na verdade serviu e cuidou dos soldados americanos, mas não conheceu os homens da companhia E), mas que é interrompido de forma trágica e lembra ao soldado como é importante coisas simples da vida como um sorriso, um copo de whisky ou um episódio de chocolate.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Breve na TV: Smash

Em 1886, uma peça de teatro de mais de 5 horas de duração estreou em Nova Iorque usando dança e músicas originais pra contar sua história. A região do Distrito do Teatro, que acabou denominada 'Broadway' por estar na hoje na mais agitada área da rua Broadway na Ilha de Manhattan, já existia a todo vapor, mas depois deste primeiro musical, o teatro americano se destacou e se diferenciou de seu irmão londrino. 

Em 1881, um cara chamado Tony Pastor (que mais de 60 anos depois daria nome a um prêmio importante) fez uma série de musicais ainda mais originais, e principalmente profissionais que definiu o que conhecemos como "musical da Broadway" hoje. Desde então cantar, dançar e atuar virou uma tradição no teatro americano, e uma grande jornada pros atores que fazem este caminho. Tradição esta que tomou conta do cinema após a Segunda Guerra Mundial, e bem mais tarde começou a aparecer esporadicamente nas séries televisivas também. 

"I am beautiful..."
Mas a partir de 1985, com o fim da União Soviética, os musicais na tv e cinema precisaram passar por uma reforma pra tratarem de temas que falassem menos da sociedade americana, mas as paródias que pouco agregam se proliferam, e "Evita" se torna um grande fracasso nos cinemas em 1996. O cinema só voltaria a produzir musicais depois de "Moulin Rouge" em 2001. E a tv tenta fazer um seriado musical em 2007 com "Viva Laughin" produzido por Hugh Jackman, mas que fracassa pela história fraca e números dublados. Mas em 2009 estréia "Glee" criado por Ryan Murphy, e com os prêmios e audiência parece ser bem viável fazer musicais na televisão tão profissionais quanto no teatro.

Provavelmente pensando nisso Steven Spielberg (sempre ele) e alguns nomes acostumados com adaptações de musicais pro cinema resolveram produzir a série dramática "Smash" que mostre os bastidores de um musical na Broadway. A série conta a história de dois amigos (Debra Messing de "Will & Grace" e Christian Borle, com experiência de musicais) que querem fazer um musical sobre Marilyn Monroe, aproveitando os 50 anos de morte da atriz. Cada um tem seus próprios problemas pra resolver, além de precisarem da produção executiva da personagem vivida por Anjelica Houston, que está passando por um financeiramente turbulento divórcio, e a direção do genial mas complicado Derek (vivido pelo inglês Jack Davenport). Mas a série tende a ficar focada na morena Karen, personagem vivida pela ex-participante do "American Idol" Katherine McPhee, que disputa o papel de Marilyn com a platinada experiente Ivy (Megan Hilty). São as duas que mostrarão quão difícil é se dedicar a um musical da Broadway, e ter que abrir mão de muitas coisas e conceitos.
O ótimo número do baseball

A série estréia apenas dia 6 de fevereiro nos EUA, mas está tendo seu episódio piloto distribuído há algumas semanas pra tentar conquistar o público. O que se vê por este piloto é que a série não pode ser muito comparada com "Glee", que tem o humor corrosivo e altamente crítico de Ryan Murphy, pois fica bastante na superfície dramática da trama e de seus personagens. E as sequências musicais deste piloto são poucas, mas deve-se considerar que das músicas cantadas, apenas "Beautiful" da Christina Aguilera não era original. A série deve então se apoiar em músicas criadas para o musical fictício de Marilyn Monroe, deixando pouco espaço para músicas populares.

Pode parecer perseguição, mas Steven Spielberg estar na produção não me inspirou muita confiança em termos algo no mínimo original em qualquer aspecto. Tanto que não sou apenas eu a dizer que "Smash" é um "Glee" sem humor com o recente filme "Cisne Negro" sem a paranóia aterrorizante. Mas pode surpreender pela enorme quantidade de referências e participações que terá aos musicais da Broadway turística. E homenagear Marilyn Monroe não é nada deselegante.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Cinema e a Criatividade...


O cinema, nos últimos anos, tem nos coberto com mais e mais adaptações. Sejam livros ou HQs, a verdade é que, cada vez mais, vemos os roteiristas somente adaptando argumentos pré-moldados, deixando de lado o espírito criativo e inovador de sua profissão, que envolve sim o lado estrutural, mas que também incentiva esse lado original. É muito legal ver algo que já imaginamos através da leitura ser transposto para a telona, não me entendam mal. Mas, eu gostaria muito de ter novas histórias sendo contadas.

O pior viés desse contexto é a forma como os produtores, ao perceberem o rincão de ouro que atingiram, insistem em garimpar e tentar adaptar toda e qualquer obra que surge. Muitos livros e HQs já tem seus direitos vendidos antes mesmo do lançamento. Isso aconteceu com o novo Sherlock Holmes, com Scott Pilgrim (não havia sido finalizado), com o livro As Ruínas (de Scott Smith), entre vários outros. Muitas vezes, a sétima arte presta um serviço ao original, como fez com O Procurado (péssima HQ, bom filme) e Kick-Ass (boa HQ, ótimo filme). O fato é que, independente das intenções, algum critério deveria ser empregado.

A HQ ATLANTIS RISING (2007/08), escrita por Scott O. Brown e desenhada por Tim Irwim, é uma dessas Graphic Novel que teve os seus direitos adquiridos pela Dreamworks Animation (Spielberg), sendo que Alex Kurtzman e Roberto Orci (que escreveram Star Trek e M:I III e cometeram Transformers e Cowboys & Aliens) tiveram anos para desenvolver a produção. Entretanto venceu o tempo contratado e os direitos retornaram para a Platinum Studios (Cowboys & Aliens), que vai desenvolvê-la, sob a batuta de Mark Canton (Imortais e 300).

E a grande pergunta é: vale a pena? A trama, dividida em cinco partes, envolve certos abalos sísmicos que levam militares (sempre eles) a investigar e, acabam "provocando" o povo das profundezas, disposto a guerrear com o povo da superfície. Mais um blockbuster que oferecerá a possibilidade de encher as cenas de grandes efeitos especiais e, com certeza, inflacionar o valor dos ingressos, com o 3D, que muitas vezes não agrega nada à película.

O roteiro não oferece nada de novo e que não tenha sido explorado em, por exemplo, Fathom (de Michael Turner e sua personagem principal tem a cara de Megan Fox) e no conhecido Aquaman (agora sob o controle criativo do grande Geoff Johns). Esses dois, por sinal, o fizeram com uma visão mais interessante. Talvez esses dois gerariam melhores filmes. Ou melhor, levando em conta o que foi colocado no início desse post, por que não investir nos grandes escritores dessas tramas para desenvolverem algo novo (em tempo, Michael Turner faleceu em 2008, depois de contribuir para Witchblade, Soulfire e Superman/Batman).


O jeito é esperar e torcer para um bom filme, mas gostaria de ver uma mudança nessa tendência do cinema. Filmes como Meia-Noite em Paris, por exemplo, partindo de um roteiro original, emociona e tem uma produção tecnicamente impecável. E olha que o mercado oferece bons nomes. Diablo Cody (Juno), os próprios Alex Kurtzman e Roberto Orci, Rhett Reese e Paul Wernick (Zumbilândia), Jonathan Nolan (os novos filmes do Batman) são nomes novos que são bastante criativos. O que falta é o investimento e voto de confiança das grande Produtoras.

A abundância de grandes séries também revelam, dia após dia, muitos bons nomes, criativos e ousados. Por que não incentivar? Somente assim, novos Woody Allens e Aaron Sorkins surgirão. E eles também são necessários...

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

The Normal Heart & a História da AIDS

Quando a crise da AIDS começou no fim dos anos 70, e começou a preocupar politicamente no começo dos anos 80, achavam que era uma epidemia apenas entre homens homossexuais. A comunidade médica sabia que poderia piorar, mas além de não terem tido "pulso firme", precisavam lidar com o preconceito. Alguns dizem que a doença apareceu no final do século XIX, outros que ela apareceu na década de 20, alguns dizem que foi fruto de experimentos, outros que foi castigo de Deus, alguns de que foi o cruzamento entre homens e macacos (este cientificamente mais provável), só se sabe que ela é original do centro-oeste africano, mas apesar de diagnosticado o vírus HIV no começo de 1980, só foi "catalogado" pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA em 1981, quando dezenas de homens gays morriam de uma fortíssima pneumonia em metrópoles como Nova Iorque. Os governos foram negligentes, e não tomaram nenhuma medida pra que a epidemia se espalhasse pelo mundo.

A comunidade gay e, porquê não, artística estavam atentas ao problema que os governantes dos EUA ignoravam. E sem espaço nos meios de comunicação em massa, eles voltaram no tempo, e usaram o que os gregos inventaram e usavam lá na antiguidade pra se comunicar com as massas: os palcos. Em 1982 já haviam alguns pequenos espetáculos que mal foram documentados, mas foi com a estréia de duas peças em Nova Iorque em 1985 que o mundo começou a questionar a política de controle à AIDS, e ver o sentimento naqueles que a maioria negligenciava. "As Is" de William Hoffman mostrava como a doença afetava as pessoas, e "The Normal Heart" de Tony Kushner veio na esteira mostrando isso tudo e alfinetando o prefeito de Nova Iorque Ed Koch, o jornal The New York Times por falhar em divulgar informações sobre a doença, o governo e todo o preconceito em torno da praga.

O que fez o discurso de "The Normal Heart" mais poderoso que o de "As Is" foi o caráter autobiográfico que Tony Kushner deu a sua obra. Ele é o personagem principal Ned Weeks, e ao viver tudo o que a peça mostra, viu nos palcos uma maneira de dar voz ao grito que ninguém queria escutar. E é exatamente esta a sensação que o público tem ao sair do teatro, de ter ouvido um merecido e racionalmente emotivo grito.

o elenco da peça
Quando fui pra Nova Iorque e escolhi os espetáculos que assistiria, usei o critério da variedade e principalmente preço, porque não ia dar pra assistir tudo o que queria ao preço de ao menos 70 dólares cada. Como não queria ficar restrito aos musicais, "The Normal Heart" me chamou a atenção por ser uma peça dramática e ainda ter o ator Jim Parsons, o Sheldon da série cômica "The Big Bang Theory" no elenco. Eu não tinha idéia!... Depois de 294 apresentações de 1985, a peça foi encenada em outras cidades e em Londres, e foi remontada em 2004, mas sempre no circuito off-Broadway (e ainda existe o off-off-Broadway!). Em 2011 ela foi remontada no circuito da Broadway pra uma curtíssima temporada, e eu dei sorte. No elenco desta montagem estavam o incrível Joe Mantello (um dos atores originais da peça dupla que também fala da crise da AIDS e originou a minissérie da HBO "Angels in America", e diretor original do musical-sensação "Wicked"), John Benjamin Hickey (o irmão da protagonista da série "The Big C", e ganhador do Tony - Oscar da Broadway - pelo papel), Ellen Barkin (que também ganhou um Tony pelo papel), Jim Parsons, Lee Pace (protagonista da finada série "Pushing Daisies") e outros.

Os nomes ao fundo do palco são dos primeiros mortos
Na peça, Ned Weeks é um escritor-ativista gay judeu-americano que foi chamado pela médica cadeirante Dra. Emma Brookner pra falar sobre uma misteriosa doença que ao longo da peça matou 45 homossexuais. Ela parece ser a única médica de Nova Iorque a atender esses homens, e a única a compreender o comportamento do vírus e sua ação endêmica. Ela é categórica ao dizer para o escritor "Você precisa falar para os gays que eles não podem continuar fazendo sexo˜, o que causa risos do protagonista e da platéia. O que ela quer é que Ned se torne um ativista deste problema, e o destino vai cercar ele deste problema. Nessa jornada pra fundar uma organização que informe a sociedade, e ajude os infectados, ele entra em atrito com seu homofóbico irmão mais velho que poderia lhe ajudar, com um ativista de caráter menos agressivo porém duvidoso que tenta lhe ajudar, e com a prefeitura de Nova Iorque que cria diversos obstáculos pra obtenção de apoio. E talvez dando origem ao título, se apaixona pela primeira vez. Talvez seu feroz coração tenha ficado normal?

A Doutora
O sucesso da peça gerou o óbvio caminho do cinema, mas obras como "Angels in America" de 1993 foram adaptados muito antes. A atriz Barbra Streisand comprou os direitos da peça logo que assistiu em 1985, mas nunca conseguiu tirar do projeto, e então 10 anos depois devolveu os direitos para Tony Kushner. Durante a remontagem da peça ano passado, ele chegou a dizer para uma revista que a culpa da peça ainda não ter virado filme era dela. Anúncio este que fez a atriz postar em seu site oficial uma carta sobre o assunto, dizendo que Kushner exigiu que o roteiro que ele havia escrito não fosse retocado, o que segundo ela nenhum estúdio aceitou, e que a declaração dele de que ela havia feito um roteiro onde a Doutora era a protagonista em detrimento dos personagens gays para que ela estrelasse e dirigisse não procedia já que ela já havia oferecido o papel para Julia Roberts. Na carta, Barbra lembra que admira profundamente o trabalho de Kushner, que não tem ressentimentos, e que ao se entristecer por não ter levado o projeto pra frente espera e deseja que o filme seja feito, pelo bem de sua mensagem.

O elenco do filme, e o diretor no centro inferior
De qualquer forma o trabalho de sondagem de Barbra deu resultados positivos, pois parte do elenco que ela havia procurado irá de fato fazer o filme. Ryan Murphy, notório criador de séries com militância gay como "Popular", "Nip/Tuck", "Glee" e "American Horror Story", e diretor de "Comer, Rezar, Amar" será o diretor, mas ainda não se sabe se o roteiro será nos termos de Kramer ou se o estúdio fará alterações. A produção fica por conta da Plan B de Brad Pitt, e no elenco principal terá Mark Ruffalo (o Hulk de "Vingadores") como Ned, Julia Roberts como a Dra. Emma Brookner (e única personagem feminina), Matt Bomer (da série "White Collar") como o namorado de Ned, Alec Baldwin como o irmão homofóbico e Jim Parsons reprisando seu papel de um inocente ativista gay do sul na peça.

Vai ser de cortar corações, mas PELAMORDEDEUS sempre usem camisinha. AIDS é uma praga mundial que QUALQUER um está passível de contrair. E já que os governos não fizeram nada lá atrás, quando só haviam dezenas de mortos, fazemos a contenção agora.


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Comentários sobre a (Pré-)estreia de ALCATRAZ


Agora sim, após o pontapé inicial da série, podemos tecer alguns comentários sobre o novo LOST. E a primeira constatação é a de que ele NÃO é um novo LOST. Aliás, acho que será difícil alguma série conseguir o que o piloto de LOST conseguiu. Naquele, tínhamos mistérios que aguçaram a mente dos espectadores (monstro na floresta? um urso polar em uma ilha tropical?) de forma nunca antes vista, criando todo o hype na internet. Sendo assim, é complicado - e até injusto - fazer essa comparação a cada nova série que é lançada.

ALCATRAZ, partindo do mote comentado no post de ontem, nos apresenta no primeiro episódio a Jack Sylvane que, após roubar um mercado, é preso e acorda nos dias atuais, em meio a uma visita de turistas à lendária prisão. Sem titubear ele foge da ilha, determinado a se vingar do antigo guarda da prisão, que o perseguia há tantos anos atrás.

Rebecca Madsen aparece como uma policial que perdeu seu parceiro e ainda não conseguiu substituí-lo. Esperta, é ela quem encontra as digitais de Sylvane e, contando com a tecnologia (leia-se Google), ela descobre a identidade do mesmo e, de quebra, resolve seu problema de parceria: Diego Soto, expert em Alcatraz e escritor de HQs (ponto para os NERDS, rs).

A partir daí somos apresentados aos demais personagens e, entre idas e vindas, começa a ser contado o que acontecia no passado em paralelo à investigação de nossos heróis, vigiados de perto por Emerson Hauser (testemunha ocular do sumiço dos residentes de Alcatraz).

Esse início me lembrou muito ao de Fringe: um episódio morno (quando comparado ao de LOST), mas muito bem desenvolvido e intrigante. Ainda procedural, dá a impressão de que será no formato "bandido da semana", mas, como em Fringe, é bem provável que depois engate uma linha mestra mais conclusiva. Não posso deixar de comentar a semelhança com outra série de que gostava muito: THE 4400. Só espero que não façam com ALCATRAZ o mesmo que com esta última: cancelamento antes de finalizar e responder as perguntas do público. De resto, estou apostando as minhas fichas na série. Terminei o episódio com algumas perguntas em mente, e isso é bom...

Cenograficamente perfeita (como já era esperado), a série tem em Diego Soto um personagem muito legal. Jorge Garcia executa muito bem seu papel de ser os olhos da audiência, verbalizando nossas perguntas e reagindo aos acontecimentos da forma como nós, muito provavelmente, reagiríamos. Fica a pequena ressalva de que talvez pudessem diminuir só um pouquinho a capacidade dedutiva de Rebecca. Ok, aceito que ela é a heroína, mas descobrir coisas somente com uma olhada no local do crime é algo que precisa ser conquistado, ao longo dos episódios. Não são todos que podem ser um Sherlock logo no piloto.

E você, o que achou? Ainda não assistiu? Não perca hoje, a estreia oficial, e depois comente por aqui.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Pré-estreia de hoje: ALCATRAZ


Em 1963, Alcatraz foi oficialmente fechada, devido aos altos custos e às más condições das instalações. Todos os presos foram transferidos. Ou deveriam ter sido...

É assim que começa a nova incursão de J.J. Abrams na TV. Reunindo entre os produtores muitos nomes conhecidos pela já finalizada LOST, a trama se concentra na famosa ilha-prisão de segurança máxima situada na baía de São Francisco. Por motivos misteriosos (sério?), pouco antes do seu fechamento, diversos detentos e guardas somem, repentinamente. Agora, eles estão reaparecendo, um a um, nos dias atuais, para retomar seus projetos antigos. Como e por que elas desapareceram? Por que estão reaparecendo agora? Lá vamos nós, novamente tentando descobrir o que se passa com pessoas oriundos de uma ilha...

A série passou por alguns contratempos ao longo de sua produção. 13 episódios foram encomendados pela FOX, já que a série foi pensada como uma midseason. Quando 7 estavam prontos, como não havia pressa, a produção foi paralisada, para retocar algumas cenas dos já filmados. Isso foi encarado como "problemas criativos", apesar das negativas dos envolvidos. Em novembro de 2011, devido às famosas "diferenças criativas", Elizabeth Sarnoff, responsável pelo roteiro inicial vendido para a FOX, deixou o cargo de principal produtora (ela ainda receberá os créditos como consultora). Ela escreveu muitos episódios de LOST, inclusive o penúltimo.

Com um elenco de peso, capitaneado por Sam Neill e Jorge Garcia (o Hurley, de LOST), e uma equipe que já conhecemos por sua excelência em séries como Alias, LOST e Fringe (entre eles Bryan Burk, Michael Giacchino e Jack Bender), a série promete. ALCATRAZ traz a pouco conhecida Sarah Jones como a detetive Rebecca Madsen, parceira de Diego Soto (Garcia) tentando descobrir o que está acontecendo, sob a direção de Emerson Hauser (Neill), que parece saber mais do que revela. Como em Fringe, talvez surja uma nova personagem feminina forte, como Olívia (Anna Torv).

Sua exibição será às Segundas-feiras, mas hoje, domingo, haverá pré-estreia, no Warner Channel (22 h). Recomendamos, senão pela "moral" dos envolvidos, pela trama, efetivamente interessante até que se prove o contrário. Nos EUA, a série estreou na dia 16, com audiência de mais de 9 milhões. Assista e comente depois aqui. A Liga estará na poltrona, acompanhando!