O que poderia dar errado numa trama que falasse sobre uma sociedade alternativa em busca da felicidade plena no meio da floresta amazônica? Tudo, se a estrutura e principalmente os personagens forem frágeis. É o caso da novela das 19h da Rede Globo "Além do Horizonte", escrita por Carlos Gregório (roteirista do filme "Se eu Fosse Você") e Marcos Bernstein (roteirista de "Central do Brasil" ao lado de João Emanuel Carneiro, autor do hit "Avenida Brasil") com a colaboração de outros seis roteiristas.
A trama começa com os jovens Marlon (Rodrigo Simas) e
jovem elenco protagonista |
máquina de felicidade ou tomografia? |
Uma trama assim deixa pouco espaço pra humor, que só era encontrado na comunidade ribeirinha de Tapiré, o núcleo mais interessante da novela, e também a civilização mais próxima do tal local secreto. De todos os personagens da trama, era a professora Celina (Mariana Rios) de Tapiré quem mais se destacava, numa mistura de engajamento social, heroína e humor natural.
A baixíssima audiência de 13 pontos fez os autores acelerarem a
"É, vamos ter que reprisar o casal de 'Malhação'" |
O maior pecado da trama é a falta de estrutura e convicção de seus valores. De longe, poderíamos dizer que a busca da abstrata felicidade "além do horizonte" fosse uma analogia à busca dos jovens pra uma função no mundo, mas a trama jamais explorou esta crítica objetivamente. Sem personagens pra realmente chamar de protagonistas, e torcer a favor esperando um começo, meio e fim toda a trama patina. E a bruxa parece estar solta na produção com Claudia Jimenes tendo de se afastar pra se recuperar de uma cirurgia no coração, Laila Zaid precisando se recuperar de uma forte pneumonia e até Flavia Alessandra sofrendo uma luxação no pé que acabou sendo incorporado à trama.
"Jogaram até eu no buraco" |
Acredito que todos estes problemas poderiam ser solucionados se os autores tivessem uma escaleta original pra novela, mas todos os conceitos são provenientes de outros produtos. A sociedade utópica saiu de "Lost", assim como toda falta de explicação que a cerca. O monstro que assustava Tapiré era uma mistura de monstro-nuvem do mesmo "Lost" com a explicação de "A Vila". Até a livraria, que servia de recrutamento, se chamava Quimera, numa clara alusão - inclusive no logo - à "Lost". Isso sem contar as provas pra "conhecer a felicidade plena" que lembraram demais "Jogos Vorazes".
Talvez se acompanhasse o novo ritmo samba-rock da música tema composta por Erasmo e Roberto Carlos, a novela teria tido maiores atenções.