sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Direto da Telona: DJANGO LIVRE

Tarantino está de volta às telas de cinema!

Com suas histórias que não necessariamente nos são apresentadas de forma linear, com seus diálogos memoráveis e o uso da violência de forma única, Quentin consegue dividir opiniões, partindo o público entre aqueles que gostam de seu trabalho e aqueles que o acham superestimado. Informo que me encontro no primeiro grupo.

Já tendo colocado o dedo na ferida da Segunda Guerra Mundial de forma magistral com o seu Bastardos Inglórios, agora é a vez de visitar a mancha que foi o sistema escravocrata nos EUA em DJANGO LIVRE (Django Unchained, 2012).


Com uma premissa simples, desenhada sobre a busca de um escravo recém liberto por sua amada, Tarantino, que como de costume também é o responsável pelo roteiro, nos leva por uma jornada pelo interior dos EUA durante um período em que "grandes" senhores brancos gerenciavam grandes fazendas abusando do trabalho escravo dos negros, que não tinham direito nem sequer de montar um cavalo.

Jamie Foxx, o Django do título, fica sob a tutela do caçador de recompensas Dr. King Shultz (o magistral Cristoph Waltz) que em troca de um auxílio em um dos seus serviços, se oferece para ajudar nosso herói a reencontrar sua paixão, Brunhilda (referência direta à mitologia nórdica e à busca de Siegfried). É preciso dizer que o ator austríaco mostra sua enorme capacidade de construir personagens e sua versatilidade ao desenvolver camadas em um caçador de recompensas. Fica difícil até dizer se é a direção que o auxilia ou se sua postura que facilita o trabalho do diretor. O fato é que sua atuação favorece o trabalho de Foxx, que está melhor do que o habitual, e quem lucra com isso é o público. A cena em que vemos o Dr. em ação pela primeira vez, em uma pequena cidade logo após libertar Django, é um deleite, tanto na atuação quanto nos diálogos, muito bem construídos com doses de humor e sarcasmo.


Presença quase obrigatória, Samuel L. Jackson incorpora um dos personagens mais mesquinhos do panteão do diretor. Ele ajuda (e muito) no desenvolvimento do personagem de Leonardo DiCaprio, atual proprietário de Brunhilda. A cena que os dois protagonizam na primeira aparição de Jackson é divertida e traz um respiro para o filme. Tarantino é o tipo de diretor que filma muito material. Para quebrar a sequência de diálogos, o diretor sabe inserir cenas contemplativas, em que determinada música nos guia pelo cenário, ajudando-nos a conhecer melhor onde estamos. Para alguns o filme é muito longo, mas confesso que estava tão entretido com o enredo que isso não me incomodou.

A longa cena sentados à mesa de jantar é uma mostra de como o diretor está em forma. A construção da tensão é de um brilhantismo ímpar. Risadas forçadas, hesitação palpável e os olhares cruzados enfeitiçam. O entrosamento de todo o elenco traz uma imersão - acentuada por divertidos diálogos  - em um crescendo narrativo coroado por um Beethoven aflitivo e desconcertante. DiCaprio, Jackson e Waltz dão um show!


O tino de Tarantino para a trilha sonora continua impressionante. Ele sabe ousar quando necessário, como quando usa "I've got a Name" para ilustrar o inverno trabalhoso da parceria do ex-escravo e do Dr., ou mesmo colocar um quase rap durante uma cavalgada ou um tiroteio. Seu conhecimento sobre cinema salta aos olhos, com belos enquadramentos e pequenos detalhes que remontam a diversos outros filmes, clássicos.

Sem a parceira de longa data Sally Menke, falecida em 2010, Tarantino optou por Fred Raskin (que foi editor-assistente nos  dois Kill Bill), que desenvolve um bom trabalho na montagem da película. Saem as cenas não lineares, e entram somente alguns flashbacks para ajudar a contar a história (algo que já ocorrera em Bastardos Inglórios). A movimentação da câmera só acelera em meio a cenas de ação que mostram, de forma inteligível, o que está acontecendo. A fotografia - repetindo a parceria de Bastardos Inglórios com Robert Richardson - sabe explorar bem a crueza dos ambientes desérticos e vazios. As diferentes fases do sol são sempre um apoio interessante para a iluminação, tendo uma das passagens mais bonitas na minha opinião, em uma chegada ao pôr-do-sol em uma pequena cidade, com os belos tons de laranja e violeta do céu a emoldurar as sombras dos cavaleiros que chegam. O uso de espelhos e reflexos é bem balanceado, e diálogos em que vemos a nuca de um dos envolvidos tomam parte na construção dos personagens.


Um belo filme, com um assunto polêmico e, ainda mais polemizado, por ser dirigido por quem é. Todos ressaltam o uso excessivo da violência nos filmes do diretor, mas acho que essas cenas tem um papel importante na catarse do público. Somos como as flores brancas, que observam o capataz ser morto no campo e acabam salpicadas de sangue. O diretor merece, como é costume do sul dos EUA, um aperto de mão. Isso é cinema. Isso é Tarantino.


quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Curta de Animação: PAPERMAN

The Adventures of André & Wally B.
Os curtas de animação, ao contrário do pensamento de muitos, se tornou uma categoria do Oscar em 1932, sendo que o curta premiado fora produzido pelos Estúdios Diesney. A popularização desses curtas porém, tomou outra proporção devido à Pixar, que lançou o primeiro curta The Adventures of André & Wally B. em 1984. Um desenho simples que mostra a fuga de um personagem de uma abelha, e já aparecia as características que dariam as diretrizes dos curtas: a ausência de diálogos e uma trilha instrumental. 
Luxo Jr.
Mas em 1986, a Pixar lança um curta que faria um enorme sucesso e se tornaria o símbolo do estúdio: Luxo Jr. A história da luminária saltitante brincando com sua bola, levou os curtas à outro patamar - filmes bem produzidos com trilhas sonoras caprichadas.

Quase todos os novos curtas trazem uma boa dose de humor e alguns alguma lição de perseverança ou algo parecido.

Quem não riu com a carinha brava da menina de One Man Band quando vê sua moeda perdida, ou com o alienígena desastrado de Lifted e com o mágico e o coelho de Presto. Outro que leva muita gente às gargalhadas é o For the Birds.

Quem foi aos cinemas conferir Detorna Ralph, pode se deliciar com o maravilhoso curta Paperman. Um rapaz um tanto atrapalhado, cheio de papéis numa estação de metrô, deixa escapar uma das folhas que está carregando, indo parar no rosto de uma bela jovem que está ao seu lado. Meio sem graça, ele retira o papel do rosto da moça e percebe uma marca de baton. Mas ao se voltar para jovem, ela já entrara no metrô e ele fica na plataforma pensando na jovem.

Paperman - Novo curta de animação da Disney
O acaso sorri para o rapaz apaixonado que no meio do tédio do trabalho, sempre com o pensamento na moça do metrô, a vê num prédio em frente. Nesse momento, ele usa todo o seu arsenal para chamar a atenção da jovem. Óbvio que não contarei o desfecho dessa bonita história.

Aparentemente, a cidade retratada no curta é Nova York em meados dos anos 1930 ou 1940, com seus prédios altos separados pelas ruas e avenidas. Todo feito em preto e branco, com exceção do vermelho da cor do baton da jovem, existe um tom maravilhoso no curta que dá um glamour típicos desse período. Um trabalho de luzes e sombras que não se vê em muito longa-metragem.


Não à toa, Paperman está indicado ao Oscar na categoria Curta de Animação desse ano. Não será uma surpresa se a Disney levar mais essa estatueta pra casa!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Clássicos do Cinema - TURMA DA MÔNICA: STAR TREKO

A leitura é uma atividade libertadora. Com ela, as pessoas podem soltar a imaginação e se deixar levar para um mundo ficcional. Aventura, suspense, terror, emoções que podem ser deflagradas após algumas páginas lidas. Ao longo de nossas vidas, a infância é um momento único no quesito imaginação: nossa suspensão de descrença opera no nível mais alto, propiciando uma imersão quase que total em todo e qualquer entretenimento. Os quadrinhos são uma janela para um mundo imaginário, por trazerem junto às palavras imagens que nos ajudam a sonhar. No Brasil, Maurício de Sousa é um magos que ajuda toda a criança a expandir seus horizontes com sua Turma da Mônica.


São personagens variados, com características que atraem e aproximam suas rotinas de papel das nossas realidades. Densos e, ao mesmo tempo, leves, Mônica, Cascão, Cebolinha e cia são uma extensão do círculo de amizades de todos e ajudam a povoar as tardes de férias, principalmente com o famoso Almanacão de Férias!

Pois bem, o tempo passa e nossos interesses mudam, mas no caso do aficionados por cinema lá vem Maurício trazendo nossa turminha de volta. Com sua série Clássicos do Cinema: TURMA DA MÔNICA, é possível LER, sob nova perspectiva, filmes que obtiveram sucesso na telona. Não é uma linha nova, mas que voltou com tudo agora, com exemplares bimestrais. E o último desses, agora nas bancas, é STAR TREKO.


Em primeiro lugar, ressalto a ótima decisão da produção ao se inspirar apenas no roteiro do último filme da longeva franquia. A transposição para o papel retoma, cena a cena, a película, transformando os personagens da turma em algum dos do filme. Maurício e seu pool de roteiristas demonstram conhecimento da cultura pop que gira em torno dessas superproduções, usando e abusando nas citações a outros universos próximos ao deste. Star Wars, Alien, Dr. Who, De Volta para o Futuro, está tudo lá, gerando os risos de satisfação nos fãs. Até um certo personagem bem famoso (BAZINGA!) faz sua aparição.


A produção de arte segue o padrão Maurício de Sousa de qualidade, com os desenhistas recriando os sets em cada novo quadrinho. Muito divertido também a forma como os nomes são adaptados e piadas são apropriadamente usadas ("Alerta vermelho significa que os de camisa vermelha vão morrer!" rs).

Diversão garantida, recomendo este e os anteriores (BATMENINO, MENINO-ARANHA e TRÔNICA), se é que ainda estão disponíveis. De qualquer forma, vista o seu uniforme (menos o vermelho, rs) e embarque na Leciclaize (como diria o Capitão Kilcolinha) e viaje para onde nenhum homem jamais esteve. Vida longa e próspera a Maurício e sua Turma!





terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Direto da Telona (em 4D): DETONA RALPH

Cada vez mais as animações ocupam lugar de destaque em Hollywood. Não apenas por causa das cifras milionárias que giram em torno delas em função de todos os produtos que podem sair de uma franquia de sucesso. Outro motivo para as animações estarem na moda, é a onda 3D, com ingressos mais caros e que ajudam ainda mais na arrecadação.

Quando assisti ao trailer de Detona Ralph (Wreck-It Ralph, 2012), confesso que fiquei empolgado com a oportunidade de ver na telona uma parte da infância tomando vida, afinal, mesmo não sendo versado nos videogames e jogando apenas nos video games de amigos, não há como os que foram crianças nos anos 1980 e início dos anos 1990, ficar indiferentes à Pac-Man, Sonic ou Street Fighter.



Partindo de uma premissa já explorada pela Disney em Toy Story - que os brinquedos têm vida própria longe da atenção das crianças, aqui os personagens de video games ganham vida depois que o fliperama fecha e último game over do dia acontece.

Nesse caso, os heróis podem celebrar suas conquistas e os vilões se reúnem como numa sessão dos alcóolicos anônimos, para repetirem o mantra "eu sou bom sendo mal" e assim aceitarem seu destino de servirem como contra ponto para o equilíbrio da vida no fliperama.



Essa rotina entretanto, muda quando o vilão do jogo Fix-It Felix (Concerta Tudo Felix Jr.) se cansa da marginalidade dos companheiros de jogo após 30 anos de vilania e sai em busca da conquista de uma medalha para mostrar aos seus compatriotas de jogo que ele pode ser diferente.

Sua busca o leva a um jogo de última geração em alta definição jogado em primeira pessoa, e cuja recompensa após matarem os insetos que tudo consomem, a tão esperada medalha.

Mas claro que as coisas acabam não funcionando conforme o planejado, e sua fuga do jogo original acaba por colocar em risco a sobrevivência do jogo, uma vez que o mocinho vai em busca do vilão, pois, sem o Ralph para quebrar, o Concerta Tudo Felix Jr, não tem o que concertar.

Ambos acabam indo parar em outro jogo, Sugar Rush, que agora está contaminado com um dos insetos que saiu do jogo de tiros em primeira pessoa e agora coloca em risco todo o fliperama. Além desse problema, nosso vilão (ou seria herói?) assume outra responsabilidade, a de ajudar o bug nesse jogo de corrida, Venellope Von Schweetz a participar de uma competição promovida pelo rei do jogo Sugar Rush, que insiste em prejudicar a participação da Venellope pois com um jogo "bugado", o usuário pode se desinteressar pelo jogo levando ao fechamento do mesmo.



É fato que o desenho irá agradar as crianças, principalmente devido ao colorido vívido dos ambientes e também agradará aos pais, que verão, ao menos por uma fração, personagens como Ryu e Ken terminando um dia de trabalho de lutas no Street Fighter e indo ao bar do fliperama tomar uma cerveja.

Mas a história em si - a de aceitação de si mesmo e pelos outros por ser o que é - não empolga muito e leva ao anunciado desfecho, coisa que outros desenhos já o fizeram de maneira mais eficaz.

É claro que o filme tem momentos engraçados e memoráveis como a respiração do Darth Vader, o "xingamento" entre Ralph e Venellope e a admiração de Felix pela "perfeição" da alta definição da capitã do jogo em primeira pessoa. Para quem se lembra das experiências envolvendo coca-cola e balas de mentos, há momentos também nostálgicos.



O filme funciona bem pois irá agradar a todos os públicos, mas para aqueles que esperavam mais interatividade com outros jogos e personagens da infância, talvez saiam um tanto decepcionados.

Nada impede que a Disney retome o tema em outras animações, pois mesmo com opções melhores, Detona Ralph garantiu ao estúdio mais uma indicação ao Globo de Ouro (que ficou com Valente - discutível) e ao Oscar.

A dublagem - sempre muito boa nas animações - não chega a incomodar, mas não é uma das melhores, com as vozes de Tiago Abravanel, Rafael Cortez e MariMoon - Ralph, Felix e Venellope respectivamente. As vozes originais de John C. Reilly (Precisamos falar sobre Kevin, Chicago), Jack McBrayer (da série 30 Rock) e Sarah Silverman (que tinha um programa de comédias com seu nome) talvez empreste um pouco mais de comicidade às personagens. Para conferir se isso é verdade, só no DVD.


4D - A experiência de ter assistido o desenho em 4D foi bacana, afinal, aliado ao 3D que dá a sensação de inserção no filme fica ainda mais completa quando em tomadas aéreas ocorre a percepção de total integração ao filme com o movimento das cadeiras. Já os jatos de vento e as vezes de água, após a surpresa da primeira vez que isso acontece, torna-se um tanto chato para os adultos já na segunda vez.

As crianças porém, divertem-se com o acontecido e brincadeira de sentir os jatos de ventos e água no rosto acaba virando a atração principal e o filme a secundária.

Saí com a convicção que não é todo o filme que agradará ao ser assistido numa sala 4D. Um filme que talvez fosse uma boa experiência em sala 4D é As Aventuras de Pi, mas infelizmente não estava mais em cartaz na única sala com essa tecnologia em São Paulo, o Cinépolis do Shopping JK. E claro que o custo do ingresso - R$72,00 - torna a experiência um tanto salgada e difícil de se repetir semanalmente. Em tempo: Clientes Santander tem 50% de desconto.