sábado, 29 de janeiro de 2011

Direto da Telona: O Turista

O filme O Turista é cercado de dúvidas e críticas negativas por todos os lados, e virou alvo de piadas do apresentador da premiação Globo de Ouro deste ano por suas duvidosas indicações a melhor filme, ator e atriz de comédia. Todo mundo ficou na dúvida sobre como classificar o filme, com razão, mas acho que o filme foi muito mal compreendido. Eu diria que o filme é algo como "se um filme do 007 fosse um conto de fadas onde você não sabe quem é James Bond".

O projeto inicial era um remake direto do filme francês Anthony Zimmer - A Caçada de 2005, estrelado pela bela Sophie Marceau (Coração Valente), mas estrelado por Charlize Theron e Tom Cruise sob a direção do indiano pouco expressivo Bharat Nalluri. Charlize Theron viu as complicações do projeto, e pulou fora, levando Cruise pra fora do barco junto, mas chamando a atenção de Angelina Jolie, que procurava um projeto parecido. No meio do caminho o nome de Sam Worthington (Avatar) foi escalado para o papel masculino, mas sem um diretor o filme ficou em suspenso. Foi Jolie quem organizou tudo novamente, ao convidar o diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck, que havia acabado de receber um Oscar de melhor filme estrangeiro pelo seu filme sério A Vida dos Outros. Segundo o diretor foi impossível negar um convite de Angelina. O próximo convidado que não conseguiu dizer não para a atriz foi Johnny Depp, uma vez que ambos queriam trabalhar juntos.

Depp num momento definitivo com
 pombos voando à la John Woo.
O roteiro de Christopher McQuarrie (Os Suspeitos e o vindouro novo Wolverine) foi lapidado por Florian para ficar um pouco mais do jeito que toda a equipe queria, ou seja um thriller de espionagem incomum, uma vez que o gênero foi banalizado por Hollywood com filmes sempre iguais. Não que o resultado tenha sido original, já que usa vários clichês do gênero, mas o tom de descomprometimento o torna uma comédia que parece se levar a sério. A trama começa com Elise (Angelina Jolie) sendo perseguida por agentes secretos, até que ela recebe uma carta em público e descobrimos que ela é a namorada de um cara procurado por "roubar" bilhões e dever outros milhões em impostos, mas que supostamente fez uma cirurgia plástica e está irreconhecível, portanto ela é a única pessoa com acesso a ele. O plano que ele sugere a ela na tal carta inicial é que ela faça com que pensem que um cara qualquer é ele. E é quando ela encontra o Turista vivido por Johnny Depp, e muitas confusões envolvendo um vilão digno de 007 acontecem.

O tom de 007 versão conto de fadas que disse no começo se refere a curiosa e romântica trilha sonora, aos poucos diálogos com ótimas frases de efeito da primeira parte do filme e principalmente a beleza real de Angelina em vestidos de princesa pensados pela genial figurinista Coleen Atwood (que está indicada ao Oscar deste ano por Alice no País das Maravilhas, mas já ganhou duas vezes) e obviamente ao cenário mais que romântico que é Veneza.



Os protagonistas se conhecem no trem
rumo a Veneza.
A verdade é que O Turista foi desde o começo um filme de estrelas, o chamado star system, e o produto final é exatamente um veículo para Angelina Jolie e Johnny Depp continuarem no estrelato. As câmeras dão closes em cima de closes nos atores, exaltando a beleza de Angelina, a cara de Jack Sparrow romântico de Johnny Depp e uma certa canastrice de ambos. Mas enxerguei tudo isso de forma positiva, vendo um diretor que sempre teve dificuldades se divertindo com uma trama mais branda e uma atriz que estava querendo brincar de princesa num gênero desgastado. Todo o material publitário e até mesmo o trailer já indicavam um filme leve sem cenas de ação (há apenas momentos levemente tensos) e com um espetáculo de beleza e simpatia de Angelina, que nós não cansamos de assistir nunca.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Band of Brothers: Carentan e Os Substitutos

Nesse novo post sobre Band of Brothers, vamos falar sobre os episódios 3 e 4 – Carentan e Os Substitutos. 

O episódio 3 tem início mostrando o soldado que acompanharemos durante todo episódio, Albert Blithe, olhando para cima, meio perdido, enquanto seus companheiros que o reconheceram, o chamam para se juntar a eles na busca pela Easy Company. Dois dias após o salto no Dia D e ainda há soldados aliados espalhados por toda Normandia e que não conseguiram  achar suas unidades. É o caso de Blithe, Floyd e Shift.

Ao encontrarem a Easy, Perconte mostra ao Blithe que a guerra está lhe rendendo alguns souvenir e após um breve descanso, todos saem para uma nova e perigosa missão: expulsar os alemães que estão na cidade de Carentan, ponto estratégico para que os blindados aliados avancem.
Durante a caminhada, Blithe deixa transparecer todo o medo que está sentido.

A tomada de Carentan não foi fácil e após algumas baixas, eles finalmente conseguem o controle da cidade. Durante os embates, Albert Blithe é acometido do que foi chamado de “cegueira histérica” e foi conduzido para a enfermaria. Winters, que foi atingido por uma bala que richicoteou e o atingiu na perna,  está sendo atendido por Eugene “Doc” Roe quando vê Blithe no enfermaria. Ao ser informado por Eugene do que se trata, imagina-se que Winters dará um sermão ou uma bronca no soldado, mas ao invés disso, o tenente compreende o torpor dele e até oferece um retorno a Inglaterra. Blithe então se recupera depois de expor que não queria decepcionar seus companheiros.

De volta ao seu pelotão, a Easy sai em nova missão e dessa vez, são impedidos de prosseguir pois encontram uma resistência alemã na floresta nos arredores de Carentan. Passam a noite entrincheirados e nessa noite, enquanto aguardam ordens do que fazer, o Tenente Speirs percebendo que o medo toma conta de muitos da companhia diz que “eles tem medo por que acreditam que ainda existe esperança, mas quando perceberem que não há, deixarão o medo de lado e entrarão de vez na guerra.” É mais ou menos a lei “ou mata ou morre”.

Na manhã seguinte, os alemães começam um forte ataque com blindados e metralhadoras. A Easy Company e outros batalhões com eles começam a passar por momentos difíceis pois a munição está acabando e a superioridade do fogo inimigo é bem maior, até que o reforço chega e os alemães batem em retirada. Durante a batalha, Blithe entra em pânico e não consegue reagir, mas com a ajuda de Winters que diz a ele que seus amigos estão sendo atacados, Blithe redireciona sua raiva para agir. Ele então entra na guerra de vez, mas sua coragem logo será testada e no campo de batalha, apesar de necessária, ela nem sempre nos garante a vitória.





No episódio 4, Os Substitutos, a Easy Company recebe novos recrutas ainda na Inglaterra. Nos depoimentos no começo do episódio, vemos uma mistura de sentimentos dos veteranos que não queriam fazer amizade e nem ser muito cordiais com os novatos pois não desejavam ficar lamentando depois a morte deles, e o de orgulho e admiração que esses homens recém chegados no front por aqueles que estavam lutando desde o Dia D, e ostentavam as condecorações por seus feitos.

Vemos um novo e até então desconhecido James McAvoy (Crônicas de Nárnia: o leão, a feiticeira e o guarda-roupa, O Procurado) como Soldado James Miller, que faz parte do pelotão do Sargento “Bull” Randleman. Nesse episódio, os homens da Easy participam da Operação Market Guardem, que tinha como objetivo entrar na Alemanha através da Holanda. Em Eindhoven, os aliados encontram na verdade uma nação holandesa festejando sua libertação. A Easy Company porém prossegue seu caminho mas é parada por um destacamento alemão com poder de fogo muito superior ao dos aliados.

Nesse vilarejo, o Sargento “Bull” fica isolado durante o ataque e tem que passar a noite escondido em um celeiro com alemães por toda a volta. Os homens de seu pelotão, incentivados por “Wild Bill” Guarnere, sai a procura do Sargento e depois de passar a noite tentando encontrar o “chefe”, finalmente o encontram na manhã seguinte.

O senso de camaradagem e de preocupação mútua entre os soldados é um dos destaques dessa parte do seriado, que termina de um jeito que o Tenente Winters diz não gostar – recuando do campo de batalha. Como diz seu amigo, o Tenente Nixon, “sempre tem uma primeira vez para tudo”.

Curiosidade: No final da parte 3, somos informados que o Soldado Albert Blithe morreu em 1948 em função dos ferimentos na Holanda. Após a exibição do episódio, a família de Blithe veio a público corrigir essa informação. Albert Blithe teve uma carreira sólida no exército e participou da Guerra da Coréia. Ele se retirou do exército como Primeiro-Sargento, casou e teve dois filhos. Ele faleceu em 1967 e foi sepultado no Cemitério Nacional de Arlington com honras militares. A confusão deve-se ao fato que depois da guerra, Blithe não manteve contato com os homens de seu antigo batalhão, e todos na Easy pensaram que ele teria morrido em razão de seus graves ferimentos.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Um Sonho Crepuscular...


"Uma jovem falava com um homem lindo em uma campina ensolarada. Ele era um vampiro. Eles estavam apaixonados e ele dizia como era difícil evitar matá-la".

Foi com essa frase que Stephenie Meyer descreveu o sonho que teve em 2003 e que a levou a escrever a série de livros que virou fenômeno mundial: Crepúsculo. Nela ela narra a história da jovem, Bella Swan, e do homem lindo e vampiro na campina, Edward Cullen. Além de Crepúsculo, o primeiro da série, temos Lua Nova, Eclipse e Amanhecer.

Vampiros são seres lendários que fascinam geração após geração. Seu caratér imortal e sedutor nos atrai contrabalanceado apenas pela sua necessidade de sangue e pela impossibilidade de caminhar sob a luz do sol. É bem verdade que, de tempo
s em tempos, esses personagens são redescobertos e o momento que vivemos aponta exatamente para isso, com diversas séries de TV (True Blood, The Vampire Diaries) e livros "pipocando" a cada dia. Em muitas dessas releituras o que se vê são pequenas adaptações sobre a lenda, para favorecer o desenrolar de seus contos. E não foi diferente com Stephenie Meyer.

Em sua saga os vampiros caminham sob a luz solar, sem problemas. Aliás, eles brilham, como que se cobertos por pequenos diamantes, quando expostos ao sol. E nosso Edward, o vampiro sedutor, se vê seduzido e lutando contra seus instintos para não atacar o alvo do seu afeto. Li todos os quatro livros e, olhando a história de forma geral, gostei. Minhas ressalvas são quanto ao excesso de páginas gastas com ladainhas intermináveis da menina Bella. "Será que ele me ama? Será que a pele dele brilha se ele estiver na Lua? Como a unha do dedão da mão esquerda dele é bonita". Por vezes, a sensação é de estar lendo realmente um diário e, como todos sabemos, nossos dias não são repletos só de acontecimentos legais. Talvez se Meyer tivesse feito uma triagem um pouco mais criteriosa a sensação de enrolação não ficasse evidente. Algo que, na minha opinião, os filmes tem feito cada vez melhor.

Nas três produções que já foram para as telonas, vemos um esforço dos roteiristas em enxugar a história, criando uma dinâmica interessante. São mídias diferentes, eu sei, mas quem disse que um livro também não pode ser enxuto? O terceiro, Eclipse, é realmente muito bom. Tem seus "lenga-lengas" também, mas não incomodam tanto. É esse também o meu livro preferido da série.


A última parte da saga teve sua história dividida em duas produções. Quando ouvi a mesma notícia com relação a Harry Potter 7 confesso que aceitei rapidamente, pois via muitas situações para serem contadas em apenas um filme. Já com relação a Amanhecer penso diferente. Aliás, talvez isso possa estragar o trunfo que o cinema tinha sobre os livros e que citei acima: aparar o supérfluo.

Enfim, cumpre dizer que a autora começou a reescrever toda história, agora sob a visão de Edward, mas teve seu manuscrito ilegalmente publicado na rede, desistindo indefinidamente do projeto. Em sua página é possível ler sobre o incidente e mais, ter acesso ao manuscrito (em inglês) de Midnight Sun, o primeiro livro.

Em tempo, li também A Breve Segunda Vida de Bree Tanner, um complemento à Saga... e o considero o melhor de todos!

Como leitura leve, a saga funciona. Mas não exija demais. Leia sem compromisso e, quando as lamúrias de Bella te cansarem um pouco, coloque o livro na estante e vá dar uma volta. Apreciar o crepúsculo sentado em uma campina também pode ser interessante.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Direto da Telona: Desenrola

Ao longo do tempo, o Cinema Brasileiro construiu-se com alguns rótulos que infelizmente ainda persistem para a grande maioria daqueles que frequentam as salas de projeções tupiniquins: a de que os filmes produzidos por aqui exploram em demasia a sexualidade, a violência e a pobreza e por isso são ruins.

Engana-se porém, aqueles que deixam de prestigiar nossas produções. Como em todos os seguimentos, há o bom e o ruim; o que agrada à muitos, apesar do discutível valor cinematográfico e o que não agrada ninguém, exceto aos especialistas, justamente pelo valor cinematográfico que poucos compreendem e não fazem a mínima questão para tal. Infelizmente, nosso (pré)conceito acaba por relegar ao Cinema Brasileiro um lugar não muito acolhedor. Uma pena.

Coloco essas questões no início desse post pois, no dia em que assisti ao filme, rolou uma pequena discussão no Twitter sobre o tema entre a diretora do filme aqui comentado e o Pablo Villaça, crítico de cinema e editor do site Cinema em Cena, motivado pelo Pedro Bial que "tuitou" a seguinte frase: "Desenrola"! Que realização! Filme Impecável, sensível, emocionante! Cito meu filhinho: "parece americano" de tão bom. "Desenrola"!
Um tanto complicado essas questões de comparação. O cinema americano produz ótimas produções, mas também encontramos muita porcaria por lá, e na minha opinião, esse tipo de abordagem só faz por desmerecer nosso cinema.

O filme "Desenrola", da cinesta, roteirista e diretora de TV Rosane Svartman, pode ser vítima desse preconceito aos filmes brasileiros agravado ainda por ser uma produção direcionada ao público adolescente. Engana-se porém, aqueles que acreditam que o filme não é bom: pelo contrário! Trata-se de uma fita muito bem trabalhada e pensada na geração "imediatista" da internet em que tudo tem que ser resolvido ontem e as liberdades alcançam níveis mais profundos que antes, e querem uma comunicação direta.

Os principais ingredientes da "sociedade adolescente" atual - e em muitos momentos, aspectos universais - estão lá: a garota tímida que quer ser aceita, a popular por já levar uma vida de adulta, o "palhaço", o tímido-atrapalhado-romântico, os garotos mais velhos, os pais perdidos com a velocidade com que seus bebês viraram mocinhos e mocinhas...

O filme é ágil, veloz e não "enrola" para introduzir seus personagens: Priscila (Olivia Torres), que passará 20 dias sem a supervisão da mãe e vê finalmente, a brecha que precisa para a "1ª vez" com o garoto mais velho que ela tanto sonha, Rafa (Kayky Brito). Para que isso aconteça, Priscila conta com a ajuda de Caco (Daniel Passi), que ainda está naquela confusão se é apaixonado pela amiga. No meio de tudo isso, tem o Boca (Lucas Salles), que tem uma queda por Priscila e sonha ter com ela a primeira noite amor.

A maneira que as roteiristas encontraram para falar sobre o tema "virgindade" foi bem legal: o professor de matemática Pedro Bial pede um trabalho sobre pesquisa estatística e o grupo formado por Priscila, Caco, Boca e Tize (Juliana Paixa, atualmente na novela Ti Ti Ti) resolvem fazer a pesquisa sobre quantas garotas do Ensino Médio ainda são virgens. Essa é uma das sequencias mais engraçadas do filme, quando montam uma série de depoimentos com as garotas.

O tema pesado - primeira transa e "perda" da virgindade - poderia cair em piadas desconcertantes e de mal gosto, mas o assunto é tratado com sutileza e apoiado em ótimas piadas que estão no cotidiano dos adolescentes, é possível passar uma mensagem sem a pressão ou o julgamento se o momento é certo ou errado para as coisas que acontecem. O filme não é uma celebração e um convite para que as mocinhas tenham sua primeira vez, mas ajuda a pensar se elas de fato querem isso e o mais importante, com quem querem ter essa experiência. Até mesmo os palavrões ditos durante o filme, não soam grosseiros. "Desenrola" acaba por ser mais engraçado e atual que a comédia "De pernas pro ar" com Ingrid Guimarães, que nós comentamos aqui. A trilha sonora com muitos hits dos anos 1980, fará muitos pais terem uma sessão nostalgia na sala de cinema e correr para ouvir em casa músicas de Ricthie e Simple Minds.

A participação dos "famosos" globais Juliana Paes, Pedro Bial, Claudia Ohana, Letícia Spiller, Marcello Novaes, Marcela Barrozo e Roberta Rodrigues, completam a história de maneira muito agradável pois não ofusca o talento desses jovens atores que estão muito a vontade fazendo um papel que muitos deles, vivenciam no cotidiano. Destaque para Vitor Thiré (bisneto de Tônia Carrero) no papel do hilário e engraçado Amaral, melhor amigo do Boca. Os dois garantem boas gargalhadas.

Apesar do assunto parecer 'batido" e muitos adultos torcerem o nariz para o tema, o filme diverte e leva a garotada a pensar que o assunto "transa", "virgindade", "camisinha" vem acompanhado de outra palavra que muitos não querem ouvir, mas é inevitável - "consequencia"!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Último Homem

Em 2002, o roteirista Brian K. Vaughan já trabalhava com quadrinhos desde os anos 90, mas foi neste ano que ele chamou a atenção por um trabalho somente seu, Y - O Último Homem, lançado pelo selo adulto Vertigo, geralmente de independentes e experimentais. A originalidade e qualidade da história e dos desenhos de Pia Guerra chamou a atenção e fez com que o trabalho ganhasse alguns prêmios Eisner, o Oscar dos quadrinhos. Mais do que isso, por se tratar da história de um personagem que não tem super poderes, o criador avisou que a obra teria um final, em seu número 60.

A inquietante série instiga uma fantasia que é masculina e feminina ao mesmo tempo, ao ficcionalizar como seria a sociedade atual sem indivíduos masculinos. Na trama, algo (chamado de "praga") mata simultaneamente todos os mamíferos vivos que possuam o cromossomo Y (inclusive embriões, óvulos fertilizados, e até mesmo esperma). As únicas excessões são Yorick Brown, um jovem artista amador da fuga (ou alguém sem muita noção de futuro e trabalho) e seu macaco-prego macho nomeado Ampersand. A sociedade está jogada ao caos do colapso da infraestrutura, e as mulheres sobreviventes tentam lidar com a perda de seus homens (e seus cadáveres), a culpa, a espera pela extinção da humanidade, e a esperança. Yorick, em sua busca pela noiva que estava na Austrália no momento da praga, acaba recebendo a proteção da misteriosa agente 355, enviada pela mãe de Yorick, uma congressista do governo oficial. Mas o conflitante destino e plano dos dois sofrerá várias reviravoltas, pois no caminho há gangues de mulheres fanáticas e exércitos estrangeiros e revolucionários. Além de encontrar a Dra. Mann (um nome irônico, por sinal), uma geneticista que tentou gerar um clone à época da praga, e que persuade os dois a ir até seu segundo laboratório (já que o primeiro é destruído) na Califórnia para estudar o rapaz e encontrar a cura. O trajeto dos três leva muitos meses, encontram muitos obstáculos, estradas fechadas, tiroteios, conspirações, análises psicológicas, discussões políticas e morais, e algumas histórias curtas e outras que não parecem ter nada a ver com os protagonistas.

A idéia de analisar como seria uma situação desta não é inédita. A clássica escritora de Frankestein, Mary Shelley escreveu em 1826 O Último Homem, que era um longo romance que falava de uma praga que dizimava a população mundial, mas o último homem em questão só se tornava último ao final da história, e o escritor Richard Matheson escreveu em 1954 o livro Eu Sou a Lenda, que conta a história de um homem que sobreviveu a um vírus que transformou toda a população em vampiros, e virou filme com Will Smith. E o próprio Y pode ter sido inspirado por um romance em quadrinhos dos anos 50 chamado Yorick - The Last Man on Earth. 
A obra terminou de ser publicada nos EUA em março de 2008, ganhando várias coletâneas em seguida. No Brasil começou a ser publicada individualmente pela Opera Graphica, ganhou coletâneas similares as estadounidenses, mas migrou para a Editora Panini, onde ganhou por enquanto quatro coletâneas, chegando até o número 23 (de 60), mas os lançamentos irregulares da editora prejudicam um bocado os leitores, que nunca entendem a periodicidade.

O sucesso desses quadrinhos abriram para o autor Brian K.Vaughan as portas para lançar em seguida os igualmente sucessos Runaways, Deus Ex Machina (que nosso colega Cylon Thirteen irá escrever brevemente) e a obra única Leões de Bagdá, além de colocar o autor nas trilhas do audiovisual. Ele foi convidado para fazer parte da equipe de roteiristas do seriado Lost durante duas temporadas, logo depois escreveu um primeiro rascunho para um filme baseado em Y. O filme se mantém na gaveta, já que o estúdio New Line que detém os direitos quer apenas um filme, e o primeiro diretor interessado, D.J. Caruso (de Paranóia, Controle Absoluto e o vindouro Eu Sou Número 4) acha que só é possível contar a história numa trilogia. O ator cotada para o papel de Yorick na época era Shia Labeouf (Transformers). Mas o fraquíssimo diretor Louis Leterrier (O Incrível Hulk, Fúria de Titãs) sugeriu ao estúdio transformar a obra numa série, que na minha opinião seria o ideal, mas bateria de frente com os conceitos de The Walking Dead de alguma forma (não que mulheres sejam necessariamente zumbis).

O tom de aventura cinematográfica, com um texto sensacional fazem de Y: O Último Homem uma obra obrigatória, por seu realismo e sua oportunidade única de traçar as possibilidades para o engajamento dos leitores com situações traumáticas em específicos espaços e tempos, além de toda uma discussão política e sexista. A obra fala sobre um homem sozinho num mundo de mulheres, mas poderia falar sobre uma mulher num mundo de homens que teria as mesmas discussões, portanto, como seria se você fosse o último homem/mulher do mundo?