quinta-feira, 10 de março de 2011

Direto da Telona: Bravura Indômita

Hollywood, assim como a televisão, vira a mexe se mete a fazer remakes. Sejam eles cópias descaradas dos originais, reinvenções ou apenas baseados nos materiais que originaram alguma adaptação pra cinema. Este Bravura Indômita (True Grit, 2011) se enquadra mais na última categoria.

Os diretores Joel e Ethan Coen leram o livro que Charles Portis publicou em 1968, e como buscavam um filme realmente western para filmar, viram que aquela história seria perfeita, e somente depois se deram conta que aquela história tinha virado o famoso filme que deu o Oscar de melhor ator para John Wayne e seu tapa-olho. Mas já era tarde demais para escolher outra história, e mesmo porquê o filme de 1969, apesar do Oscar de melhor ator, sempre foi muito criticado pelo excesso de caricaturas.

Mattie e LaBeouf num momento tenso
A história gira em torno da menina de 14 anos Mattie Ross (a revelação indicada ao Oscar de melhor atriz coadjuvante, apesar dela ser a protagonista, Hailee Steinfeld), que acaba de perder o pai assassinado pelo frio e complexado Tom Chaney (um surpreendente Josh Brolin). Como sua frágil mãe não tem forças para lutar por justiça, e ela é a filha mais velha, ela parte em busca de alguém que leve Chaney à forca, já que o xerife não pode intervir em território indígena (para onde ele fugiu). É quando ela conhece o caçador de recompensas Rooster Cogburn (Jeff Bridges brilhando como sempre num filme dos Coen), um beberrão que usa tapa-olho e tem fama de ser muito violento, a ponto de não trazer seus prêmios vivos. No encalço dos dois estará o Texas Ranger LaBeouf (Matt Damon em plena forma e sotaque) que também quer capturar Chaney, mas por outros crimes.
A cena do urso é muito "Coen"!

Um dos destaques, além do elenco principal, e do sensacional roteiro que os Coen mantiveram fiel ao livro, é a participação de Barry Pepper (À Espera de Um Milagre) na terceira parte do filme. O ator surpreende de todas as formas, e mostra porque foi considerado um dos melhores (e mais mal aproveitados) atores de sua geração. E os detalhes técnicos saltam da tela desde o primeiro frame, pois a cena inicial é de uma fotografia tão inspirada que poucas vezes vimos no cinemão americano. O que justifica de todas as formas as várias indicações ao Oscar que esta refilmagem recebeu.

O duelo final é covarde?
Quando disse há pouco que este western refilmado faz parte do cinemão estadunidense, não é apenas por ser um filme americano sobre uma história bem americana. Bravura Indômita é o primeiro filme (digamos assim) autoral dos independentes Irmãos Coen  a ter um orçamento superior a 30 milhões de dólares, e que ao mesmo tempo tenha sido uma encomenda de um grande estúdio e produzido por ninguém mais ninguém menos que Steven Spielberg. Talvez isso explique o quão homogêneo o filme ficou, pois os diretores são acostumados a subverter os gêneros em que pisam, como o fizeram no próprio Onde os Fracos Não Têm Vez e até na comédia romântica O Amor Custa Caro, que tinha como "carro-chefe" a presença dos astros George Clooney e Catherine Zeta-Jones e não seus diretores. Não que ser homogêneo cinematograficamente seja ruim, mas muita gente achou que para ser um filme dos Coen, este Bravura Indômita ficou meio Disney, mesmo com duas ou três cenas que você jamais verá num outro western que não seja o deles.

Mas como disse no começo do texto, os diretores queriam fazer um legítimo western, e conseguiram!!



terça-feira, 8 de março de 2011

Direto da Telona: Gnomeu & Julieta

Um atirador feriu 19 pessoas, matando 6 delas no estacionamento de um supermercado em Tucson, Arizona, nos EUA no dia 8 de janeiro de 2011 por razões políticas envolvendo a atual briga entre as alas democrata e republicana. Lá estava acontecendo uma reunião aberta que a congressista democrata Gabrielle Giffords liderava com seu eleitorado, e onde provavelmente se discutia o fato do "tea party" da ex-quase-vice-presidente Sara Palin ter colocado a região na mira dos republicanos ultra-direitistas. Entre as vítimas fatais estava uma menina de apenas 9 anos que nasceu no dia 11 de setembro de 2001 e tinha muitas aspirações esportivas e políticas. Ela estava lá para discutir e colaborar para um mundo melhor.

O presidente Barack Obama falou no memorial das vítimas desse tiroteio no dia 13 de janeiro em especial sobre esta garotinha, e sobre a bondade que ainda existe nas pessoas, mas que são mascaradas por questões políticas e disputas de poder. E de uma maneira singela ele nos pede a refletir se esta garotinha deva viver num mundo que os adultos criaram, ou se somos nós os adultos quem devem viver num mundo idealizado por ela. Provavelmente um mundo melhor.

"A flor do Cupido", menção a "Sonhos de uma noite de verão" 
O discurso do presidente americano não tem nada a ver com o filme Gnomeu & Julieta, nem o filme tem a ver com seu discurso, pois eles dividem a mesma questão apenas por coincidência. Uma feliz coincidência, que faz deste longa animado dirigido pelo diretor de Spirit - O Corcel IndomávelShrek 2 o primeiro grande sucesso do ano. Não que o filme seja um arroubo de cinema!

menção a "Hamlet": To Be or Not To Be
O filme, que começou a ser produzido há 11 anos, usa a mesma história escrita há séculos por William Shakespeare (que alíás aparece no filme), sobre um rapaz e uma moça que se apaixonam, mas são de famílias rivais. No filme o Romeu e Julieta (vozes de James McAvoy e Emily Blunt no original) são anões de jardim feitos de porcelana que ganham vida longe dos humanos, e pertencem a famílias rivais há várias gerações, respectivamente os azuis (do jardim do Sr. Capuleto) e os vermelhos (do jardim da Sra. Montecchio). Julieta vive numa torre ao lado de sua ama, uma sapa que esguicha água pela boca, mas é superprotegida por seu pai e todos do jardim. Romeu é o orgulho de sua mãe, e como um guerreiro para todos no jardim. A briga das duas comunidades é pela beleza de seus jardins, e sempre há uma corrida de cortadores de grama para aumentar a rivalidade.

Elton John em versão anão de jardim
O belo filme usa o 3D tão bem quanto possível (e um dos indícios é que não dá para assistir ao filme sem os óculos), e traz imagens diurnas e noturnas bastante inspiradas, e detalhes interessantes na composição dos frágeis personagens pintados na porcelana. Romeu tem uma pintura mais rústica, e Julieta tem traços bem delineados. No filme de Baz Luhrmann com Leonardo DiCaprio e Claire Danes, os dois se conhecem divididos por um aquário, e neste longa animado eles se descobrem rivais literalmente na água.

Mas o que chama a atenção é ter o cantor Elton John trabalhando num longa de uma forma integral. Ele assina a trilha sonora e a produção executiva, desde o começo do projeto. Bem verdade que ele não fez nada na produção executiva a não ser ser o dono da produtora Rocket Pictures  junto ao seu marido (e este é o terceiro filme deles, mas o primeiro com grande distribuição), mas ele colaborou com a trilha sonora. A trilha assinada por James Newton Howard e Chris Bacon acabou usando quase que em totalidade as canções de Elton John instrumentalmente, mas também há duas músicas inéditas, além daquelas cantadas e tocadas no filme, que é "Crocodile's Rock" em dueto com Nelly Furtado e a excelente "Hello Hello" em dueto com Lady Gaga, que toca nos créditos, mas que não entrou no álbum do filme.

Se o casal romântico morre ao final, como na peça original? Estamos falando de um filme voltado para o público infantil, mas você pode esperar por um final interessante. Pelo menos no filme, aquele discurso do Barack Obama faz algum efeito. E será que precisamos mesmo seguir o que nossos antepassados disseram? Se você acreditar nelas, tudo bem, mas e se você tiver suas próprias convicções?

domingo, 6 de março de 2011

Direto da Telona: 127 Horas


Antes de falar do filme 127 Horas em si, preciso falar sobre seu protagonista, o ator James Franco, de 32 anos. O ator fazia participações pequenas até se destacar pelo seriado Freaks & Geeks de 2000 que teve apenas uma temporada, e então no ano seguinte o ator viveu James Dean num filme para a televisão e levou o Emmy e o Globo de Ouro pela atuação. Foi aí que a vontade de ser um astro aparentemente subiu a cabeça do ator, e ele participou de produções independentes, cults e filmes bastante comerciais, incluindo aí logo em seguida seu chato Harry Osbourne em Homem Aranha

Mas em algum momento essa longa fase do ator tentando ser um galã de Hollywood cessou, e ele percebeu que seria melhor tentar ser um bom ator que um mero astro. E desde então o ator vem colhendo os frutos deste novo comportamento. A mudança aconteceu por volta de Homem Aranha 3, onde pela primeira vez ele se destacava mais que Tobey Maguire e Kirsten Dunst, com uma atuação que não se preocupava com estética, mas sim com as mudanças psicológicas do personagem. E então veio seu elogiado trabalho em Milk, e comédias aparentemente descompromissadas como Segurando as Pontas Uma Noite Fora de Série. Seu trabalho baseado em dramas biográficos começou com o pouco comentado Howl de 2010, sobre uma fase da vida do poeta Allen Ginsberg. Então ele engatou uma ótima participação em Comer, Rezar, Amar e então este 127 Horas.
 
O filme dirigido pelo cultuado inglês Danny Boyle, que após ganhar um Oscar de direção por Quem Quer Ser Um Milionário? escolheu este projeto independente de estúdios, é baseado no livro autobiográfico de Aron Ralston, que conta sua experiência durante uma tarde de sábado em 2003 num parque repleto de cânyons no estado de Utah nos EUA, quando desalojou uma rocha de quase meia tonelada que caiu sobre a sua mão direita e o pulso. A partir de então foram seis dias até que conseguisse sair. Em meio ao desespero da falta de suprimentos, e de gravações de despedida para a família em suas duas câmeras, ele se lembrava e se arrependia de não ter avisado ninguém sobre onde iria. Após os 6 dias, a solução foi se livrar da única coisa que o mantinha preso à pedra, seu braço.

Aron e o desespero de ter a mão presa
As 127 Horas que o filme e o livro cobrem são desde o momento em que Aron acorda no sábado até ele apagar ao ser resgatado. Talvez por isso Boyle tenha resistido ao clássico relógio na tela, e tenha apenas colocado os dias da semana. Mas todo o talento pop do diretor de Transpotting A Praia estão ali no filme, dos videoclípicos créditos iniciais ao som de "Never Hear Surf Music Again" do Free Blood às cenas em primeira pessoa (através das câmeras portáteis de Aron). O filme está repleto de qualidades técnicas, como a brilhante fotografia e a surpreendente praticidade da trilha de A.R. Rahman (o mesmo indiano de Quem quer ser um milionário?), e talvez por ter sido um projeto independente, tenha muitos problemas de continuidade (que só serão notados por chatos, mas como o filme tem muitos cortes podem ser perdoados). 

A tão comentada cena do auto-amputamento do braço, onde pessoas teriam passado mal no Festival de Cinema Independente de Toronto não é tão longa quanto eu esperava, e nem tão cruel, apesar de realista. 
O verdadeiro Aron Ralston e sua prótese.
Mas a maior surpresa é podermos assistir a um filme de pouco mais de 90 minutos onde James Franco fica o maior tempo sozinho em cena. Eu pessoalmente o detestava como ator, a ponto de pedir para que em Tristão e Isolda o ator que fez o personagem de Franco criança permanecesse na projeção, ou que o personagem morresse pra que Isolda ficasse sozinha em cena. Franco não recebeu uma indicação ao Oscar e o convite para apresentá-lo à toa (mesmo que a apresentação tenha se tornado um tropeço em sua carreira), pois sua atuação se despe de qualquer vaidade para se preocupar apenas com o sofrimento do personagem e fazer parte de uma espécie de documentário dramático.

O diretor Danny Boyle agora dá um tempo no cinema para fazer um "Frankestein" teatral na Inglaterra (que será exibido nos cinemas no esquema que as óperas vêm fazendo) , e principalmente para preparar a grandiosa cerimônia de abertura das Olimpíadas 2012 em Londres, da qual é o responsável.