sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O Exorcismo no Cinema


Com a estréia no Brasil de "A Filha do Mal", o tema do exorcismo no cinema voltou à tona mais uma vez. O filme conta a história de Isabella, que vai a Roma fazer um documentário sobre exorcismos e descobrir o que houve com sua mãe, que matou três clérigos 20 anos atrás durante seu exorcismo, e hoje vive num hospital psiquiátrico católico. Em sua trajetória conhece dois padres que misturam fé e ciência pra desvendar o que é doença psiquiátrica de possessão demoníaca, e que podem ajudar sua mãe.


O filme que custou cerca de 1 milhão de dólares, surpreendeu nas bilheterias mesmo com censura alta ao derrubar "Missão Impossível: Protocolo Fantasma" do primeiro lugar e lucrar mais de 33 milhões apenas no primeiro final de semana. Até agora, o filme já lucrou apenas por lá mais de 50 milhões de dólares.

Os exorcismos começaram a ser explorados pelo cinema principalmente após "O Exorcista", clássico do terror de 1973, mas décadas antes o cinema já havia falado de possessões, mas o mais emblemático talvez tenha sido o polonês "Der Dibuk" de 1937, que baseado numa peça da cultura judaica mística que não existe mais, mostra entre outras coisas uma noiva que é possuída no dia de seu casamento pelo espírito de seu noivo anterior, já falecido, através de magia. Foi com o igualmente polonês "Madre Joana dos Anjos" de 1961, vencedor do prêmio especial do Júri de Cannes no ano, que o cinema viu cenas de exorcismo, quando no século 17 um padre vai investigar a possessão demoníaca de uma madre num convento isolado, e descobre que outras freiras também podem estar possuídas.
"Madre Joana dos Anjos"

Mas foi com os mitos criados em cima de "O Exorcista" e sua produção que filmes com possessão demoníaca, e por consequência exorcismos se tornaram cult e fonte de renda. O filme de 1973, baseado num livro que por fim era baseado em fatos reais, foi cercado de acidentes durante suas gravações. A protagonista Linda Blair, que viveu a menina possuída Regan, participou da primeira continuação do filme, e disse ter sido amaldiçoada pelo tema do filme mergulhando nas drogas e nunca progredindo como atriz. E dois dos atores que o demônio mata na trama, morreram de verdade após o lançamento do filme. Após o lançamento do filme, um cinéfilo teve um ataque durante a sessão, desmaiou e quebrou o queixo ao bater na poltrona da frente, com isso ele ganhou milhões da Warner, distribuidora do filme. Como ele não foi o único a ter ataques de medo durante o filme, a Warner à época fazia sessões com sacos de vômito. O filme recebeu 3 continuações diretas, e diversas cópias famosas em vários países. No começo dos anos 2000, a Warner decidiu retornar ao filme, produzindo "Exorcista - O Início", um prequel, mas outra série de incidentes aconteceram: o diretor original morreu antes das gravações, o novo diretor foi criticado por fazer um filme muito psicológico, então contrataram um terceiro que regravou quase tudo com o mesmo elenco estourando todo o orçamento, e recebendo críticas e bilheteria negativas, para então a Warner alguns anos depois lançar a versão do segundo diretor "Dominiom, que recebeu críticas positivas, mas ninguém assistiu.

boneco da menina de "O Exorcista"
Em 1979, "Horror em Amityville", baseado num bestseller também baseado em supostos fatos reais estreou com sucesso ocasionando nada mais que 8 sequências até culminar no remake de 2005 estrelado por Ryan Reynolds e Melissa George.

"A Filha do Mal" faz parte da leva mais recente de filmes de possessão demoníaca e exorcismo iniciada em "O Exorcismo de Emily Rose", que mostrava a história real do julgamento da Igreja Católica no caso de uma alemã que morreu durante seu exorcismo em 1976. Muito mais filme de tribunal, as cenas um tanto realistas e documentais do exorcismo inspiraram a nova safra em filmes como "O Último Exorcismo" de 2010, e até "Atividade Paranormal".

Se você gosta deste tipo de filme, está numa boa época.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Annie Awards, o Oscar das animações

O troféu mais polêmico
Ontem, sábado 4 de fevereiro foram entregues os polêmicos prêmios Annie, auto-intitulado a maior honraria da animação. Famoso por ser palco de brigas entre os estúdios, e não necessariamente entre seus filmes, o grande contemplado do ano foram "Rango", da Paramount através de sua Nickelodeon Movies com 4 prêmios. Este ano marcou o retorno da Disney/Pixar a competição.

O Annie entregue pela International Animated Film Society (ASIFA-Hollywood) acontece devido a contribuições de patrocinadores, no caso os próprios estúdios, e pelo visto os organizadores dividem esses patrocinadores por quantidade de contribuições. A DreamWorks, a Paramount e a Nickelodeon (do grupo Paramount) aparecem como Patrocinadores Ouro, seguidos pelo Cartoon Network, todo o conglomerado de animações Disney, Pixar e Sony como Patrocinadores Prata. Qualquer um pode se associar ao IAFS, mas desde a premiação do ano passado algumas mudanças foram feitas, como o voto ser válido apenas por profissionais da área de animação.

A polêmica do Annie começou em agosto de 2010, quando Disney e Pixar comunicaram que não iriam participar da premiação fazendo campanha ou inscrevendo seus filmes, uma vez que discordavam do critério de votação e alegavam que a DreamWorks havia trapaceado dois anos antes, quando "Kung Fu Panda" ganhou todos os prêmios, deixando o favorito "Wall-E" de mãos abanando. A DreamWorks havia comprado associações para todos os seus funcionários, e pedido pra que eles votassem em favor do estúdio, daí a explicação para "Wall-E" não ter ganho um mísero prêmio. Mas por que a Disney veio a se manifestar dois anos depois? Porque a premiação de 2010, vencida por "Up - Altas Aventuras", não teve a concorrência da DreamWorks. Já em 2011 a Disney/Pixar, que tinha "Toy Story 3" e "Enrolados", iria concorrer com "Como Treinar Seu Dragão", da DreamWorks, e se os critérios continuassem os mesmos, a história provavelmente iria se repetir. Mas mesmo sem apoio ao prêmio, a Disney/Pixar recebeu 7 indicações, já que estas podem acontecer a critério dos organizadores, frente a 39 indicações da DreamWorks.

"Rango", o grande vencedor
Como se percebe os vencedores são geralmente os filmes de grandes estúdios e muita propaganda, e neste ano não poderia ter sido diferente, e suspeitamente ganharam filmes dos patrocinadores Ouro, mas ao menos sobram indicações pra filmes menores como "Um Gato em Paris" e "Chico & Rita", que concorrem ao Oscar. Em sua 39ª edição ainda vai demorar pra maior honraria da animação recuperar seu verdadeiro pretígio, depois de tanta confusão organizacional.
destaque na tv

Entre os premiados e indicados deste ano os destaques curiosos que a Liga dá são para a indicação de "Star Tours", uma animação feita pra um brinquedo da Disney como melhor Produção Especial Animada, que foi vencida por "Kung Fu Panda - Secrets of The Masters", lançado direto em vídeo; O jogo "Insanely Twisted Shadow Planet", que venceu como melhor videogame animado de "Rayman Origins" e "Uncharted 3"; a Industrial Light&Magic dominou as indicações de Melhores Efeitos Animados em filme live-action, que ficou para "Transformers 3"; "Rio" e "Planeta dos Macacos - A Origem" só ganhou como Melhor Animação de Personagem respectivamente num longa animado e num longa live-action; Grace Potter e Michael Giacchino (sempre ele) venceram como melhor trilha sonora numa produção de tv com "Prep & Landing: Naughty vs. Nice", segunda continuação do desenho vencedor do Emmy que a Globo passou aqui no último natal como "Missão de Natal"; e por fim o prêmio de John Williams para "As Aventuras de Tintim", que foi bastante acadêmico e esquecível comparado com o trabalho de Henry Jackman em "Gato de Botas", aliás dentro do terreno da DreamWorks, acho injusto que o longa do felino tenha sido ignorado em vantagem do filme do urso panda lutador, mas de qualquer forma aí estão os principais vencedores:



Rango - Melhor Filme de Animação, Melhor Design de Personagem, Melhor Roteiro e Melhor Montagem

Kung Fu Panda 2 - Melhor Direção e Melhor Design de Produção

Os Simpsons - Melhor Animação pra televisão pra todos os públicos, Melhor Direção na Televisão, e Melhor Roteiro de um episódio

As Aventuras de Tintim - Melhores Efeitos Animados num Longa Animado e Melhor Música.

Prep & Landing: Naughty vs. Nice / Missão de Natal 3 - Melhor Animação de Personagem para tv, Melhor Design de Personagem para tv, Melhor música para tv e Melhor Storyboard para tv.



domingo, 5 de fevereiro de 2012

Oscar 2012 - Animação: UM GATO EM PARIS


UM GATO EM PARIS (Une Vie de Chat, 2010) surpreende como uma animação convencional 2D que diverte por sua simplicidade e beleza artística. Ele fala, mais diretamente, com um público um pouco mais adulto, mas seu protagonista felino consegue fazer brotar um sorriso em qualquer criança.

Dino é um gato parisiense que vive durante o dia na casa da delegada Jeanne, sendo o melhor companheiro de Zoé, uma menina introspectiva e solitária desde a morte de seu pai. Entretanto, durante a noite ele acompanha as peripécias de Nico, um gatuno que "passeia" pelos telhados, saltando de uma casa à outra e, com o auxílio do pequeno felino, rouba artigos belos, para figurarem em sua coleção particular.

Paralelamente, temos um ladrão mais ambicioso, Costa. Na mira da polícia, ele e sua trupe pretendem roubar o Colosso de Nairóbi, uma obra de arte que visitará a cidade em breve. Sim, é uma trama simples, mas que se desenrola muito bem e gera um ótimo ambiente para que todos se deliciem com as belas imagens.

Sim, esse desenho vai de encontro ao motivo de ser do cinema: ser visualmente inesquecível! Nos dias de hoje, em que a computação gráfica parece passar com um rolo compressor sobre essas animações mais simples e isso, em muito, acontece pela grande diferença de qualidade existente, assistir a uma película convencional que impressiona me encantou.

A utilização das sombras, a silhueta da cidade quando Dino e Nico pulam de um prédio a outro (com a Torre Eiffel ou Notre Dame ao fundo), a engenhosidade de uma cena em que a casa está escura, a visualização de um perfume que acontece de forma quase poética, tudo auxiliando a desenvolver o roteiro, não sendo somente um rompante. Destaque para a animação do gato, de uma realidade ímpar (seus espirros e espreguiçadas são verdadeiramente animais).

Em um ano em que temos RANGO no páreo, UM GATO EM PARIS corre por fora. Mas não ficaria surpreso se este ganhasse. Ele diverte e anima. E não é para isso que serve uma animação?

TOUCH, a nova série de Kiefer Sutherland e Tim Kring


"Kiefer Sutherland e Tim Kring retornam à TV em TOUCH, nova série da FOX".

Confesso que quando li essa notícia, alguns meses atrás, a minha tradução automática foi: Jack Bauer e o criador de HEROES estão de volta. E, apesar de minha empolgação pelo nome do primeiro, o do segundo não me trouxe boas recordações.

Em sua tentativa de contar a história de pessoas comuns, ao redor do mundo, com poderes extraordinários, o produtor e roteirista conseguiu transformar uma boa ideia (que não era original nem aqui nem no Japão, apesar dele tentar vender essa ideia) em uma sequência de péssimas escolhas, acabando cancelada e sem final. Dessa forma, é impossível para os fãs de seriados não ficarem com um pé atrás.

A série só estreia nos EUA em 19 de março, mas teve o seu episódio piloto divulgado na loja iTunes, para download gratuito desde o mês de janeiro, e foi coberta de elogios pelos que a assistiram. Ao meu ver, a série tem dois grandes desafios: convencer o público de que a pessoa em tela NÃO é Jack Bauer e de que Tim Kring é capaz de conduzir uma trama com vários personagens sem criar uma bagunça.

"Há um antigo mito Chinês sobre o Fio Vermelho do Destino: ele diz que os Deuses amarram um fio vermelho no tornozelo de cada um de nós e o conectam com os tornozelos de todas as pessoas cujas vidas estamos destinados a TOCAR". É com essa explicação e muitos números que a série começa, com a narração de Jake. Aprendemos, de forma rápida e com uma bela abertura, o pressuposto do enredo, onde os padrões matemáticos que o garoto autista vê de forma tão clara regem as relações entre as pessoas e os acontecimentos no mundo. Ah, descobrimos também que essa será (pelo menos por enquanto) a última vez em que ouviremos a voz do rapaz, que é mudo.

Fui surpreendido. Com um desenrolar interessante, o episódio é muito bem executado. Somos apresentados a Martin Bohm (Kiefer Sutherland), o pai do garoto, que tenta cumprir o papel de pai e mãe (já que a mesma faleceu no 11/09), mas não consegue criar um bom relacionamento com o filho. Logo de cara, os gritos ao telefone e o famoso Damn It me fizeram "temer" que Jack teria mais 24 horas para resolver algum problema. Ledo engano. Pouco a pouco, Sutherland traz o novo personagem à vida, alguém mais disponível emocionalmente.

Vários personagens, ao redor do mundo, começam a ser apresentados. E há uma conexão entre todos. Alguém aí pensou HEROES??? Engraçado, eu também. Mas, verdade seja dita, tudo acontece de forma organizada e orgânica. Conhecemos a assistente social (Gugu Mbatha-Raw) que tentará ajudá-lo a entender melhor o garoto, Arthur (Danny Glover), alguém que parece entender o mundo de padrões e números do garoto, Randall Meade (Titus Welliver, o Man in Black de LOST), entre vários outros. Diversas histórias acontecem em paralelo, criando no espectador aquele laço afetivo, que nos faz querer assistir mais, para conhecer melhor essas pessoas e suas vidas. Ótima execução!

O episódio piloto, com a direção de Francis Lawrence (Eu sou a Lenda), com o perdão do trocadilho, me tocou. Resta saber se Tim Kring conseguirá sustentar (leia-se não estragar) o bom início. Tomara que os próximos capítulos consigam, pelo menos, manter o ritmo e boa produção deste. Tomara que Jake possa trazer bons desafios para Martin. Qualquer coisa, chamamos o pessoal da CTU e a Chloe dá um jeito de resgatar o ator das mãos do produtor.