Lançado em outubro de 2013 exclusivamente pra download no PlayStation3, o jogo "rain" desenvolvido pela Sony Computer Entertainment Japan foi divulgado como um jogo de arte, daqueles destinados a se tornar cult. Mas não foi o caso ao lançamento.
O belíssimo jogo começa com artísticos rabiscos pré-animados de um garotinho que não pode ir ao circo porque ficou doente, eis que olhando pras pessoas na janela ele vê uma garotinha ser perseguida por uma criatura, mas ambos ficam invisíveis. Ao tentar segui-los para salvar a garotinha, ele passa por um portal onde também se torna invisível, numa estonteante e 'noir' cidade tridimensional. Porém, neste universo a chuva é constante, assim como sua silhueta sob ela, e pegadas em poças de lama. O que acontece? Quem é a garotinha que foge o tempo todo? E que criaturas são essas?
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as criaturas parecem esqueletos de animais pré-históricos |
A jogabilidade é controlar o garoto, ou melhor, a silhueta do garoto na chuva e suas pegadas em lugares cobertos em quebra-cabeças absolutamente simples (arrastar caixar pra alcançar pontos mais altos, ou na melhor das intenções chamar a atenção das criaturas pra destruir objetos a fim de criar pontos de apoio), sempre atrás da garotinha. Há alguns momentos de perseguição, mas nada desafiadores. Mesmo adiante, quando finalmente acontece o encontro com a garotinha, a parceria continua com os mesmos conceitos piegas.
Usar a clássica (calma, mas manjada) música "Clair de Lune" do Debussy, já devassada pela trilogia "Crepúsculo" nos cinemas, numa nova roupagem, não foi a pior das idéias, mas não emprega ao jogo o clima ideal, além de tornar tudo muito monótono. A falta de diálogos num jogo de tão arrojado visual não parece ter sido necessariamente por questão econômica, mas por marca estética, e só diminui tudo. Ao contrário do ótimo "Unfinished Swan" que conta a história como uma fábula com palavras na tela (e há um interessante subtexto impossível de decifrar em ação), aqui tudo parece forçado e faz o jogador concluir que perde tempo lendo uma história que se acha poética, mas nada mais faz que subestimá-lo. As imagens já são óbvias. E dizer que o jogo faz homenagem aos filmes mudos franceses é ainda mais ultrajante.
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Um daqueles momentos "uau! Agora vamos embora?" |
Pior que isso, só o fato de você caminhar durante as poucas horas do jogo por uma arrojada cidade francesa digital, e não ter absolutamente nada pra explorar. Há becos e caminhos que não levam a lugar algum, mas você só encontrará colecionáveis (umas porcarias de bolhas-memórias) depois que terminar o jogo da primeira vez. Sim, o jogo foi criado pra ser jogado duas vezes, mas não vejo motivo para tal, já que apesar da trama surpreender perto do final com um plot twist (com alguns tropeços que indicam uma dependência em texto) que explica o que é tudo aquilo, inclusive mudando o cenário (sai a cidade francesa e entra uma geométrica cidade sem identidade), notamos que os desenvolvedores só perderam a chance de fazer um jogo realmente memorável, e que pudesse surpreender duas vezes.