terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

TV: Revolution, ou Sob a Sombra Eterna de "Lost"

Há algumas séries de tv que fazem um sucesso popular, mas têm tantos altos e baixos como recentemente Smallville e Supernatural que podem terminar no fundo do poço da atenção do público e crítica, e há aquelas que nasceram pra ficar na história da televisão como Star Trek, Twilight Zone, Dallas, Twin Peaks e mais recentemente Lost. Esta última é conhecida pelos seus altos e médios, apesar da oposição chamar de baixos, e seu final baixo, uma vez frustrante do ponto de vista da curiosidade do público. Alguns podem dizer que a série acabou mal pela sua ambição de ser algo mais, mas de fato é inegável que ela foi algo mais por sua produção, seu elenco, sua narrativa, sua trilha sonora, sua edição, etc. J.J. Abrams, um dos criadores, diretores e produtores não é o novo rei da ficção científica, como dito neste post à toa. E é inegável a influência da série na televisão americana, com muitas séries tentando replicar seu sucesso com produção semelhantes. 
"Me mandaram usar um desses por causa do sucesso de Jogos Vorazes"
O triste é verificar que muitas das séries que tentam imitar Lost sejam dos próprios envolvidos na produção desta. FlashForward tem alguns dos mesmos produtores, e foi considerada por muitos um bom substituto pelo bom enredo (mas mal desenvolvido) da população mundial tendo uma rápida visão de como estariam num futuro próximo. Heroes de um canal rival falava de pessoas com super poderes, supostamente interligadas por uma conspiração misteriosa que acompanhava a trama, assim como em Lost. Ambas foram canceladas pela falta de interesse do público. Podemos chamar de sobrevivente Fringe, que apesar de um começo muito semelhante a Lost em relação ao mistério e sua edição, ganhou uma identidade quase própria (mais próxima de Arquivo X) ao longo dos episódios, e chega em sua derradeira temporada no auge.
"Desculpe pelo seu Totó"
Só o tempo dirá em qual categoria a atual Revolution, exibida no Brasil pelo canal Cinemax, está. Eu diria que está no primeiro time, o das cópias baratas que ficarão cada vez mais desinteressantes ao público. Com uma estréia de grande audiência, a série, que ainda não finalizou sua temporada de 22 episódios encomendados pela emissora, vem perdendo mais telespectadores a cada semana apesar de nomes como o de J.J.Abrams, Jon Favreau (diretor dos primeiros dois Homem de Ferro e Cowboys & Aliens) e Eric Kripke (criador da popular, mas já um tanto decadente Supernatural) envolvidos com roteiro, produção e direção.
 Apesar do ótimo plot do fim da eletricidade e como a humanidade reage a isso, a série comete dezenas, senão centenas de erros principalmente em sua concepção, tentando repará-los ou amenizá-los em sua condução. A trama começa com um homem preparando a esposa, os dois pequenos filhos, e tentando avisar o irmão sobre o apagão que no meio da ligação ocorre em todo o mundo causando tragédias e mais tragédias (como quedas de aviões, explosões, pânico em geral). Apesar desse começo que rende boas (e rápidas) sequências gráficas, a série comete o primeiro grande erro ao pular repentinamente para 15 anos após o evento, onde somos apresentados a protagonista Charlie, filha do homem que sabia do fim da eletricidade. Agora ela é uma jovem (nem vou me dar ao trabalho de chamar uma moça de 20 anos de adolescente, apesar da série dar a entender isso), que precisa cuidar do irmão (cover bombado do Justin Bieber) que sofre constantes ataques de asma, e que deseja conhecer o que há fora da pequena vila onde vivem, e pra isso implica com o pai, que tem uma nova namorada. Entendemos a desastrosa opção de pular 15 anos de história quando vemos o primeiro flashback (talvez a principal característica de Lost), e eles aqui gradualmente também terão função de responder as perguntas que o público fará, e não apenas causar emoção. O que move a trama aqui é Charlie partindo para o resgate de seu irmão asmático sequestrado pela milícia em troca de informações sobre como restaurar a energia, que supostamente seu pai teria, e da ajuda do seu misterioso tio cover de Chuck Norris vivido por Billy Burke (o pai da Bella Swan na Saga Crepúsculo).
"Eu sei que você vai desejar que eu morra no primeiro episódio,
mas eu sou o motivo da trama existir, tá?"
Mas como seria a sociedade sem energia elétrica? Sejamos honestos: seria um desastre! As pessoas têm preguiça de fazer comida em casa, de construir algo com seu suor (que não através do dinheiro), e de se relacionar saudavelmente sem querer nada em troca. A série acerta neste ponto, mas erra em dar num primeiro momento um enfoque geral desta situação, fazendo todos os cenários serem pós-apocalípticos, como se não houvesse mais enxadas no mundo pra capinar o mato, ou como se não houvessem mais braços saudáveis pra construir um prédio. Tudo está caindo aos pedaços, e as pessoas brigam (e se matam) por um pedaço de pão nas ruas.
Com tamanha desolação (que remete ao sucesso The Walking Dead), é claro que os governos cairam, dando lugar às temidas milícias, que anseiam por se tornarem governos soberanos. Politicamente, Revolution copia descaradamente conceitos da excelente, porém subestimada, Jericho, quando divide os EUA em seis áreas e suas milícias. A trama inicia na República Monroe, chefiada por Sebastian Monroe (o barman descamisado de Bali em Comer, Rezar, Amar) que pretende restaurar a energia pra dominar o continente (SIC), e é na fundação dela que o mistério da série se divide, pois personagens importantes se envolvem nisso. A outra metade do mistério está em entender o que levou ao apagão, e alguma resposta pode ser tirada de um pingente pen-drive que misteriosamente liga equipamentos eletrônicos num raio indefinido, e que ao menos 3 personagens possuem, indicando uma conspiração (que conta com uma comunicação eletrônica pós-energia!!) na qual o pai da protagonista estaria envolvido.
"O público te acha mais legal que eu!"
"Claro! Você é legal, mas só está aqui por causa de Crepúsculo"
De todos os personagens, de longe, o mais carismático seja o super vilão Capitão Tom Neville da República Monroe vivido por Giancarlo Esposito (de Breaking Bad), que é um dos poucos sem flashbacks nos primeiros episódios. Mesmo assim ele acaba sendo o mais humano e sensato de todos. E quando você começa a gostar de outro personagem, já que seu flashback o torna menos forçado, o roteiro faz o favor de matá-lo pra "tentar" humanizar outro.
Essa mistura de Lost, Jericho e The Walking Dead teve um bom plot pra ser uma ótima série, mas deve acabar no rol das cópias que serão canceladas muito em breve. Em tempo: com cenário parecido com o da série, o jogo The Last of Us, que será lançado exclusivamente pra PS3 em maio parece bem mais interessante!

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Não se deixar emocionar pode ser o ponto cego da vida


Filmes como UM SONHO POSSÍVEL (The Blind Side, 2009) são muitas vezes subvalorizados. Entretanto, roteiros como o desse belo filme atingem um outro aspecto cinematográfico: a emoção.


A decoradora e ex-cheerleader Leigh Anne Tuohy (Sandra Bullock), já na abertura, explica o título original do longa, derivado de um termo do futebol americano: o atacante esquerdo do time deve proteger o lado cego do quarteback (armador das jogadas do time), o blind side. Esse termo servirá de premissa e reverberará por toda a história, metáfora da trama inspirada na história real do então problemático adolescente Michael Oher (Quinton Aaron, cativante).

Sua qualidades (altura e força) extremadas tornam a vida do jovem em uma escola para ricos possível, sob a aposta de que ele possa ser um bom jogador de futebol americano. Mas 'Big Mike', apelido de que não gosta, mal tem o que vestir e enfrenta inúmeras dificuldades para estudar. Ele é muito introspectivo, mas guarda em si um espírito protetor para com aqueles que o inspiram, sua família. Com poucos minutos de filme já sabemos para onde o mesmo aponta, quando Leigh Anne conhece Michael e resolve ajudar o jovem rapaz. Caricaturalmente engraçada e extremamente amorosa, a decoradora é o tipo de mulher que esconde sob a futilidade do dia a dia muita bondade. A família adota Mike e quer dar a ele as oportunidades que a vida lhe negou.

Mesmo sendo mais um daqueles típicos filmes americanos de superação, buscando vencer na vida, UM SONHO POSSÍVEL tem como principal mérito o esforço enorme que a direção e o roteiro de John Lee Hancok (adaptando o livro The Blind Side: Evolution of a Game), fazem para que o longa não seja piegas. Tem sim os seus clichês, mas ele são coerentes com o desenrolar dos acontecimentos. O casting foi perfeito, desde a boa química entre Sandra Bullock e Quinton Aron, passando pelos singelos novos "irmãos" de Big Mike e Kathy Bates como a tutora de estudos do rapaz, que agora tem um sonho e um futuro em ser jogador de futebol americano.



Por que lembrei desse filme e resolvi escrever sobre ele hoje? Ontem à noite, o Baltimore Ravens venceu o Super Bowl XLVII. Michael Oher é jogador do Baltimore Ravens. Ele venceu. A vida imita a arte ou vice-versa...
Sim, o cinema é maravilhoso, mas a vida é tão emocionante!

DIRETO DA TELONA: As Aventuras de Pi

A obra de Scliar e Martel: plágio?
Um garoto que sobrevive ao naufrágio do barco que o está levando para outra terra onde existe a promessa de uma nova vida, tem que dividir o bote salva-vidas com uma fera. Se você pensou em As Aventuras de Pi, errou!

Essa é a história do livro do autor brasileiro Moacyr Scliar, Max e os Felinos, que serviu de inspiração, segundo o autor Yann Martel, para o seu Life of Pi.

Claro que as coincidências das histórias levam a pensar em plágio, o que é realmente plausível.
As Aventuras de Pi tem
 11 indicações ao Oscar
Dois garotos que sobrevivem ao naufrágio de um navio - um deles saindo da Alemanha indo para o Brasil, o outro indo da Índia para o Canadá. Ambos os navios cheios de animais: um deles vindos de um circo, o outro de um zoológico. Os garotos precisam sobreviver num bote no meio do oceano dividindo esse bote com uma fera: um jaguar no caso do alemão, e um tigre-de-bengala no caso do indiano. São coincidências demais pra não suspeitar de plágio.

Apesar da polêmica, Scliar decidiu não processar o autor canadense pelo seu Life of Pi, que acabou virando um longa na mão do diretor premiado com o Oscar por Brokeback Mountain (2005) Ang Lee e o não tão elogiado Hulk (2003).

As Aventuras de Pi é um filme para ser apreciado, apesar da mancha de plágio que cerca a obra literária, pois Ang Lee explora os efeitos especiais de maneira a nos deixar boquiabertos com um show de cores e tons. Infelizmente não pude assistir esse filme na sala 4D, mas teria sido uma experiência interessante, visto que a cena do naufrágio e das mazelas que o garoto Piscine Patel, ou apenas Pi, tem que enfrentar em seu bote são de movimentos que variam do singelo ao intenso em poucos segundos.

O uso de cores no filme é intenso!

A história que começa na Índia, uma parte colorida e com uma seqüência divertida sobre o nome do garoto Pi que se perde na tradução para o português. Assiti ao filme no idioma original e insisto que se você não quer perder esse ótimo jogo de palavras, não assista ao filme dublado - no meu ponto de vista, uma praga que tem invadido os cinemas brasileiros!

Após anos lutando para manter o zoológico da familia aberto, o patriarca decidi mudar-se com todos para o Canadá, inclusive com a bicharada. Mas no meio da viagem, uma tempestade acaba por afundar o navio e Pi se vê sozinho dividindo o bote salva-vidas com um tigre-de-bengala, ou Richard Parker.

Tolerância para a sobrevivência
A partir desse momento, ambos passam os momentos se estudando, tudo em nome da sobrevivência.
É certo que toda a magia da história, que está sendo contada por um Piscine agora estabelecido em Montreal para um jornalista incrédulo ao que ouve, também o fará pensar se toda essa experiência não é uma invenção de uma mente perturbada por tanto tempo à deriva no oceano, porém aos que gostam de filmes que não trazem respostas prontas, As Aventuras de Pi é um prato cheio.

A beleza do filme, com imagens de tirar o fôlego, não se resume apenas ao visual, mas no conflito que todos trazemos sobre o que pode acontecer quando nossa sobrevivência está em risco.

É claro que a As Aventuras de Pi, indicado ao Oscar em 11 categorias incluindo Melhor Filme e Diretor, não é apenas um filme de visual estonteante, mas de expor nossas reações diante dos "Richard Parkers" de nossa existência, seja diante da ditadura como no livro de Scliar, ou de outras feras.

Filme: As Aventuras de Pi (EUA, 2012)
Direção: Ang Lee
Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain, Rafe Spall, Gérard Depardieu
Gênero: Aventura, Drama