Quando lançou "LittleBigPlanet" exclusivamente para PlayStation3 em 2008, o estúdio britânico Media Molecule foi imediatamente nomeado o melhor estúdio do ano. O jogo honrava os clássicos de plataforma, trazia um arrasador visual 2-3D, e uma interatividade nunca vista no gênero que resultou em milhares de fases criadas pelos jogadores. Depois criaram sua sequência, cheia de novas ferramentas, e a versão portátil em colaboração com a ainda Cambridge Studio (hoje Guerrilla Cambridge). Em 2010, o estúdio foi adquirido pela Sony, garantindo a exclusividade criativa.
brincando de deus |
O próximo passo deles seria algo tão grandioso quanto para PlayStation4, então. Certo para grandioso, mas errado para PS4. Eles focaram sua criatividade nas muitas funcionalidades do portátil PlayStationVita no jogo "Tearaway", lançado em novembro de 2013. O genial fiapo de história do jogo é sobre uma mensagem em forma de mensageiro na missão de chegar ao jogador, que tem papel divino no jogo sendo chamado de "O Você". Ironicamente em tempos digitais, a mensagem está em papel, e todo o universo de papel do jogo (não confundir com origami, que não sofre cortes, rasgos e colagens) é invadido pelos 'scraps' (fragmentos), pequenos inimigos que tentam impedir a mensagem de ser entregue.
De forma engajada, no começo você tem a opção de escolher o mensageiro masculino Iota ou a feminina Atoi. Com visão em terceira pessoa, aquele universo aparentemente pequeno vai ganhando dimensões épicas com a opção do(a) mensageiro(a), a qualquer momento, usar uma câmera e tirar fotos do tipo Instagram de qualquer canto do universo, inclusive selfies. E não fica só nisso, já que a jornada da mensagem passa por enormes áreas abertas de florestas, praias, desertos, subterrâneos e céu. No caminho ele encontra e ajuda diversos adoráveis personagens que estão sofrendo com a presença dos 'scraps' que rasgam e tiram a cor dos papéis. Tudo embalado por uma das trilhas sonoras mais divertidas já vistas nos videogames, composta Kenneth Young e Brian D'Oliveira (que já havia chamado a atenção no instável e comentado jogo "Papo y Yo").
As muitas funcionalidades do aparelho PlayStationVita nunca foram tão bem utilizadas quanto neste
metendo o dedo onde foi chamado |
jogo. Você usa a câmera frontal pra ser o deus supremo do jogo, que fica na estrela maior - o sol -, a câmera traseira serve pra afirmar que o universo de papel do jogo está nas suas mãos divinas - então a superfície de onde estiver jogando aparece sutilmente durante todos os rasgos do jogo. O microfone serve pra você dar voz a algumas partes do jogo - inclusive para provar que você existe para personagens descrentes. O giroscópio tem diversas funcionalidades - como simplesmente rolar o personagem na tela. O sistema de toque traseiro é usada para você rasgar pedaços de papel,
literalmente com seu dedo - para ajudar o mensageiro a pular ou eliminar inimigos. A tela de toque dianteira é usada pra combater inimigos, desenhar e recortar pedaços de papel - como a coroa de um rei-esquilo e um floco de neve -, mover dobraduras e colar fotos e apliques no cenário. Muitas vezes, estas funções são usadas ao mesmo tempo, na mesma ação, e não parecendo forçado.
faça em casa |
Mas o que faz o jogo ser ainda mais especial é a integração com o mundo real. Além dos já clássicos e queridos troféus da rede PlayStation Network, as fotos tipo Instagram que podem ser postadas no Twitter e Facebook, são recompensadas com manuais de dobraduras/recortes/colagens reais de personagens e objetos vistos no jogo - e tudo o que está no jogo foi testado na prática.
O final, épico, reúne tudo o que houve de melhor no jogo de forma quase psicodélica, lembrando a magnitude musical e visual do final de "Journey", que tem um ponto de partida semelhante - chegar em algum lugar específico, sem poréns. Alardeado como uma obra-prima do subestimado aparelho, talvez não demore muito pra vermos o mesmo jogo no PS4, que tem um joystick com funcionalidades semelhantes, apesar do estúdio estar trabalhando em novo e misterioso título pro console.
Homem dos Dados no jogo |