sábado, 15 de fevereiro de 2014

O Vasto Mundo de "Tearaway"

Quando lançou "LittleBigPlanet" exclusivamente para PlayStation3 em 2008, o estúdio britânico Media Molecule foi imediatamente nomeado o melhor estúdio do ano. O jogo honrava os clássicos de plataforma, trazia um arrasador visual 2-3D, e uma interatividade nunca vista no gênero que resultou em milhares de fases criadas pelos jogadores. Depois criaram sua sequência, cheia de novas ferramentas, e a versão portátil em colaboração com a ainda Cambridge Studio (hoje Guerrilla Cambridge). Em 2010, o estúdio foi adquirido pela Sony, garantindo a exclusividade criativa.

brincando de deus
O próximo passo deles seria algo tão grandioso quanto para PlayStation4, então. Certo para grandioso, mas errado para PS4. Eles focaram sua criatividade nas muitas funcionalidades do portátil PlayStationVita no jogo "Tearaway", lançado em novembro de 2013. O genial fiapo de história do jogo é sobre uma mensagem em forma de mensageiro na missão de chegar ao jogador, que tem papel divino no jogo sendo chamado de "O Você". Ironicamente em tempos digitais, a mensagem está em papel, e todo o universo de papel do jogo (não confundir com origami, que não sofre cortes, rasgos e colagens) é invadido pelos 'scraps' (fragmentos), pequenos inimigos que tentam impedir a mensagem de ser entregue.

De forma engajada, no começo você tem a opção de escolher o mensageiro masculino Iota ou a feminina Atoi. Com visão em terceira pessoa, aquele universo aparentemente pequeno vai ganhando dimensões épicas com a opção do(a) mensageiro(a), a qualquer momento, usar uma câmera e tirar fotos do tipo Instagram de qualquer canto do universo, inclusive selfies. E não fica só nisso, já que a jornada da mensagem passa por enormes áreas abertas de florestas, praias, desertos, subterrâneos e céu. No caminho ele encontra e ajuda diversos adoráveis personagens que estão sofrendo com a presença dos 'scraps' que rasgam e tiram a cor dos papéis. Tudo embalado por uma das trilhas sonoras mais divertidas já vistas nos videogames, composta Kenneth Young e Brian D'Oliveira (que já havia chamado a atenção no instável e comentado jogo "Papo y Yo").

As muitas funcionalidades do aparelho PlayStationVita nunca foram tão bem utilizadas quanto neste
metendo o dedo onde foi chamado
jogo. Você usa a câmera frontal pra ser o deus supremo do jogo, que fica na estrela maior - o sol -, a câmera traseira serve pra afirmar que o universo de papel do jogo está nas suas mãos divinas - então a superfície de onde estiver jogando aparece sutilmente durante todos os rasgos do jogo. O microfone serve pra você dar voz a algumas partes do jogo - inclusive para provar que você existe para personagens descrentes. O giroscópio tem diversas funcionalidades - como simplesmente rolar o personagem na tela. O sistema de toque traseiro é usada para você rasgar pedaços de papel,
literalmente com seu dedo - para ajudar o mensageiro a pular ou eliminar inimigos. A tela de toque dianteira é usada pra combater inimigos, desenhar e recortar pedaços de papel - como a coroa de um rei-esquilo e um floco de neve -, mover dobraduras e colar fotos e apliques no cenário. Muitas vezes, estas funções são usadas ao mesmo tempo, na mesma ação, e não parecendo forçado.


faça em casa
Mas o que faz o jogo ser ainda mais especial é a integração com o mundo real. Além dos já clássicos e queridos troféus da rede PlayStation Network, as fotos tipo Instagram que podem ser postadas no Twitter e Facebook, são recompensadas com manuais de dobraduras/recortes/colagens reais de personagens e objetos vistos no jogo - e tudo o que está no jogo foi testado na prática. 

O final, épico, reúne tudo o que houve de melhor no jogo de forma quase psicodélica, lembrando a magnitude musical e visual do final de "Journey", que tem um ponto de partida semelhante - chegar em algum lugar específico, sem poréns. Alardeado como uma obra-prima do subestimado aparelho, talvez não demore muito pra vermos o mesmo jogo no PS4, que tem um joystick com funcionalidades semelhantes, apesar do estúdio estar trabalhando em novo e misterioso título pro console.

Homem dos Dados no jogo


sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

daPoltronaCast: Adaptações Literárias


No quinto episódio do daPoltronaCast conversamos sobre adaptações de livros pro cinema. Quais lembramos que ficaram boas, e quais ficaram ruins? Adaptação literária ou literal? Quais nossas adaptações favoritas?


Ouça, compartilhe, comente!

Para fazer o download do podcast (49.7 MB) clique aqui.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

A DC segundo Stan Lee

Entre 2001 e 2003 o mundo dos quadrinhos apreciou um projeto que chamou muito a atenção. Marvel e DC sempre foram as duas maiores fábricas de HQs e se o Superman e o Batman remetem à segunda, no caso da primeira não lembramos de seres ficcionais, mas de um homem de carne e osso: o grande Stan Lee.



Dessa forma, a ideia de lançar HQs em que o maior criador da Marvel reimaginava as maiores criações da DC foi tratada de forma quase sobrenatural. Poder ver como seriam Batman, Superman, Mulher Maravilha, Flash, Lanterna Verde (,etc.) se Stan Lee (o co-criador de X-Men e Homem-Aranha entre outros) tivesse sido a mente criativa por trás desses era algo para explodir as cabeças dos fãs da nona arte. Para tornar a situação ainda mais épica, por que não convidar os grande artistas da época? Pois foi o que a DC fez e assim surgiu Just Imagine Stan Lee Series (2001-2003), composta de treze edições de luxo.

Fizeram parte desse 'balaio de gato' Mulher-gato, Lanterna Verde, Shazam, Liga da Justiça, Mulher Maravilha, Batman, Super-homem, Robin, Flash, Aquaman e até Sandman, além de um número intitulado Crise e outro sobre arquivos secretos e origens. Chamo de 'balaio de gato' porque, mesmo sabendo de toda a importância do autor na Casa das Idéias, esse projeto tem um resultado insosso e sem maior significado. Vale a leitura, a título de curiosidade, mas é um material facilmente esquecível.



O estilo verborrágico das HQs reflete um outro tempo, em que pensamentos precisavam necessariamente aparecer descritos. Os desenhos eram menos expressivos e, dessa forma, explicações (do tipo "Nossa, se o bandido atirar agora o caos poderá se instalar!", rs) eram constantes, poluindo os quadrinhos e, consequentemente, o trabalho dos artistas. Aliás, a arte está ótima! Algumas reimaginações de uniformes ficaram um pouco exageradas e estranhas, mas os trabalhos de artistas como Jim Lee, John Buscema e Dave Gibbons tornam-se o maior atrativo do projeto.

É engraçado perceber semelhanças (não sei se intencionais) entre essas criações e as obras de Stan Lee. A Mulher Maravilha, agora uma entidade do panteão Inca, é assumida por uma peruana, que quando vai a Los Angeles decide trabalhar em um jornal para poder aproveitar o fato de ter acesso direto à deusa... olá, Peter Parker! E o Aranha também é referenciado na releitura do Batman, quando o personagem decide ganhar dinheiro através da luta livre. E isso para ficar em apenas dois exemplos.

Pois bem, uma releitura efetivamente envolve reconstruir um personagem e não posso dizer que Stan Lee não tenha cumprido o que lhe foi pedido. Ainda assim, fica um gosto amargo ao finalizar as leituras. Talvez a expectativa seja o grande vilão desse projeto. Ainda bem que X-men e Homem-aranha nos trazem de volta ao brilhantismo de Lee. E isso é suficiente.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

TV: Primeiras Impressões de "Em Família"

Negativamente tradicional e repetitiva, "Em Família", a nova novela das 21h da Rede Globo, estreou patinando muito na audiência. Resultado de esperar que o público tenha paciência com uma trama arrastada que começa nos anos 80, passa por um período entre 1989/90 até chegar aos dias de hoje. Estas duas primeiras fases deixariam qualquer autor de "Malhação" orgulhoso. Repleto de atores adolescentes, jovens, inexperientes e subaproveitados em diálogos e cenas clichês, o público resolveu ignorar capítulos pra ver o que realmente interessava ao final da segunda fase.

Para tal, a Globo resolveu mudar a ordem das coisas. Inicialmente concebida pra ter 12 capítulos, as
o triângulo amoroso enquanto jovens
duas primeiras fases sofreram novas edições que cortaram muita coisa e estendeu ao máximo outros capítulos. O resultado é que a fase atual se fez presente já na metade do sétimo episódio. 

As duas primeiras fases contaram sobre a amizade de Helena, seu namorado Laerte e Virgílio desde crianças. O ciúmes de Laerte, o senso de liberdade de Helena e enfim a tragédia - Laerte agride Virgílio e o enterra vivo às vésperas de seu casamento com Helena. Destas fases, consagraram-se as atuações de Bruna Marquezine como Helena e Alice Wegman como Shirley.

Na fase atual, Laerte cumpriu sua sentença e passou mais de 20 anos fora do Brasil se consagrando como flautista, teve um filho com Shirley e supostamente um filho com Helena, que se sentindo culpada por todos os acontecimentos se casou com Virgílio. Na esteira da tragédia pré-casamento, várias outras se seguiram - a irmã de Virgílio foi estuprada, o pai de Helena teve uma parada cardíaca fulminante, o irmão de Helena virou alcoólatra de vez, o pai de Laerte teve de amputar uma perna pela diabetes.

Alice Wegman como Shirley jovem
Um dos problemas em tudo é a equivocada escalação de elenco. Com três fases, muitos atores não combinavam com suas partes de outra época. Sem contar a diferenciação de idade. Natalia do Valle (60 anos) é mãe de Julia Lemmertz (50 anos), que vive uma Helena de pouco mais de 40 anos, que chama Vanessa Gerbelli (40 anos) de tia, que teria uns 50 anos. 

Mas e a trama? Laerte menciona diversas vezes sobre a fênix, indicando que o amor dele e Helena irá renascer na trama, apesar dele ter enterrado o rival vivo. Se Laerte se tornasse um homem melhor mais de 20 anos depois, seria plausível, mas não é o caso. Namorando a personagem de Helena Ranaldi, ele a trata miseravelmente como uma estepe em cenas subaproveitadas em Viena. Aliás, são da atriz as melhores e mais interessantes cenas da fase atual. Conhecido pela filosofia de botequim, Laerte faz cara de pensador dentro do carro ao voltar pra onde tudo aconteceu, no que sua namorada diz "Você deve deixar o passado pra trás", onde ele responde "mas a fênix sempre renasce", ouvindo dela "A fênix... Mitologia, meu caro. Mitologia", e traz todos para a realidade com "vamos descer do carro?".

A questão feminina, sempre tão abordada pelo autor Manoel Carlos, nunca esteve de forma tão machista. Além da própria personagem de Helena Ranaldi se sujeitar às grosserias do namorado, Helena, em sua feminilidade jovial e livre, é considerada por todos e si própria a grande culpada por
o casal que deve roubar a cena
Laerte ser possessivo e ciumento a ponto de agredir e enterrar alguém vivo. Alguns no julgamento dizem "ela sempre deu bola pra todo mundo", e "ela gostava de provocar ciúmes nele". Shirley decide ficar e engravidar de Laerte, mesmo após o incidente, mas por algum motivo obscuro não corre atrás dele em mais de 20 anos. A personagem de Giovanna Antonelli é casada com um cozinheiro, e apesar de odiar as comidas do marido, assume que sua profissão é "fazer nada", apesar de sua trama se diferenciar por uma redescoberta na sexualidade.

Outro tema latente até então é o incesto. Relacionamento entre primos, o sobrinho que paquera a tia e diz que a via tomar banho quando jovem, e até um romance entre supostos pai e filha deve ser abordado nos próximos capítulos.

Assim como em "Amor à Vida", o desprezo do público e críticas negativas devem mudar a condução da trama, e a fase atual dará lugar a uma novela onde coadjuvantes se tornarão protagonistas.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O Dr. Albieri já sabia...!


Beth é uma policial que está sendo investigada. Ela vai até uma estação de trem, coloca sua bolsa no chão, retira os sapatos e fita o trilhos. Sarah observa a estranha atitude da policial e se aproxima. Só tem o tempo de olhar o rosto da mulher antes que essa se jogue na frente do trem que chega. Beth está morta; Sarah, embasbacada. As duas são idênticas! Curiosa e sem ter como falar com sua imagem espelhada, Sarah pega a bolsa da mulher e some da estação... e embarca na ótima trama de Orphan Black (2013), série fruto da parceria das canadenses Temple Street Productions e Space e da BBC America que estreou semana passada no Netflilx.

Sarah é uma jovem rebelde e desajustada que está retornando para casa quando tudo isso acontece. Ela tem uma pequena filha da qual quer se aproximar, um antigo namorado, Vic, de quem quer se afastar, e um grande amigo, Felix, com quem pode contar. A situação citada no parágrafo anterior é só o começo dessa estória, que teve 10 episódios em sua primeira temporada e já tem a sua segunda temporada confirmadíssima para abril nos EUA.



É uma produção focada em um enredo de surpresas e traições/descobertas. Aos poucos surgem cópias de Sarah, na verdade clones, que trazem à tona a excelente atriz escolhida como protagonista(s): Tatiana Maslany! Impressionante como ela consegue alternar entre as personagens e criar características e cacoetes próprios de cada uma. Fica fácil acreditar na trama dessa forma, e cada episódio termina com um pequeno aumento na queda do queixo.

Com reviravoltas interessantes, personagens autênticos e uma fotografia crua e realista, essa ficção científica ganha contornos ora de ação, ora de policial, o que só a torna mais interessante. Sarah é falível, o que nos faz questionar certas decisões e até nos apegarmos a uma ou outra personagem (mais uma vez: méritos para a brilhante construção de Maslany).



As explicações científicas funcionam de forma coerente no universo da série, mas um pequeno apêndice que determinado personagem possui acaba destoando um pouco do tom da série. Soa bizarro, mas não chega a atrapalhar o andamento das coisas.

A TV já sentia falta de uma série como essa. Talvez desde Dark Angel não existisse uma personagem feminina tão forte e rebelde... Ou seriam personagens? Bom, é só conferir! Orphan Black faria o Dr. Albieri muito feliz!



segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Games: O Game Over de "Flappy Bird"

Criado e desenvolvido pelo vietnamita Dong Nguyen em apenas três dias, o jogo "Flappy Bird" foi concebido como algo independente, quase experimental. A experiência também era financeira já que, apesar de gratuito, rendia cerca de 50 mil dólares por dia em publicidade. No jogo você controla um pássaro, e para que ele voe a tela precisa ser tocada - quanto mais rápido, mais alto -, e o objetivo é fazer ele passar entre canos semelhantes aos do universo do Super Mario, e cada cano significa um ponto. Em qualquer lugar que o pássaro encoste: game over. Simples assim. Parece fácil, mas não é.


o criador
O que chama a atenção na existência do jogo é que somente 8 meses após seu lançamento, ele se tornou famoso, entrando pro topo da lista de jogos gratuitos do sistema operacional iOS. Dong Nguyen foi então acusado de usar artifícios desonestos pra elevar a popularidade do jogo. Sem contar a iminência de processos por utilizar elementos de franquias famosas.



O conceito do jogo de tentativa e erro, e conseguir ultrapassar o próprio recorde também levantou sérias questões sobre sua qualidade. Afinal um jogo pouco criativo
e com dificuldade extremada seria um bom jogo? Ser viciante seria uma qualidade do jogo, ou um defeito dos jogadores? Independente da resposta, Nguyen n
ão gostou do assédio da imprensa, que queria saber o que fez o jogo ficar famoso tanto tempo depois, possíveis atualizações, continuações e sobre processos que ele poderia sofrer da Nintendo.



Eis que no dia 8 de fevereiro, ele avisa pelo twitter que "Sinto muito, usuários do Flappy Bird. Daqui a 22 horas eu vou retirá-lo do ar. Eu não aguento mais", e mais tarde que "Eu posso dizer que o Flappy Bird foi um sucesso. Mas ele também arruinou minha vida simples. Então agora eu o odeio". E simplesmente retirou o jogo de todas as lojas virtuais. Quem já havia feito o download continua jogando.Ele ainda avisou que não sofreu nenhum processo, e que não irá vender o jogo, como se especulava. A história já está rendendo situações inusitadas, como pessoas vendendo seus iPhones por preços inflacionados por ter o jogo instalado.


domingo, 9 de fevereiro de 2014

TV: Looking

Relacionamentos homossexuais já não eram necessariamente uma novidade na TV norte-americana quando a série sobre o cotidiano de cinco amigos gays "Queer as Folk", versão gringa de série britânica, estreou na TV a cabo. A série ousava, mesmo em canal fechado, em colocá-los como protagonistas e não esconder absolutamente nada. Era uma perspectiva de dentro da comunidade gay. A série americana, ao contrário do original, durou 5 temporadas.

Quase 9 anos depois do fim de "Queer as Folk", a TV americana exibiu com estrondoso sucesso "Queer Eye For the Straight Guy", um reality show onde cinco gays especialistas em diversas áreas davam pitaco na vida de um heterossexual, "The L Word" sobre mulheres que gostam de mulheres, e toda sorte de abordagem sobre gays em séries e filmes variados. Mas também mudou como os jovens são interpretados em narrativas televisivas. E mudou também os jovens, que ficaram mais velhos e ainda considerados jovens.

os protagonistas
Há exatamente três semanas estreou no canal fechado HBO dos EUA e simultaneamente Brasil a série "Looking", sobre 3 melhores amigos vivendo numa hoje tolerante São Francisco. Criado por Michael Lannan, co-criado e dirigido por Andrew Haigh, "Looking" é uma dramédia onde muito gira em torno do conflituoso aspirante a artista Agustín (Frankie J. Alvarez), o quarentão Dom (Murray Bartlett) e principalmente Patrick (Jonathan Groff, veterano da Broadway e mais conhecido pela participação como Jesse em "Glee"), um designer de jogos de 30 anos que se acha romântico e tradicional, mas na verdade não sabe muito bem o que quer.

Se isso te lembra a premissa de "Girls", talvez não seja por acaso. "Looking" foi alardeado como a versão gay de "Girls", e guarda muitas semelhanças. Mas o diretor Andrew Haigh, que já havia dirigido o filme "Weekend" em 2011 sobre um encontro casual entre dois homens que acaba se tornando algo muito especial, definitivamente tem coisas mais específicas pra discutir. Tanto "Girls", "Looking" e o filme "Weekend" usam uma atmosfera fútil e descontraída, numa narrativa de
ator recebendo instruções do diretor
cotidiano comum pra discutir coisas muito mais sérias. Em ambos os trabalhos do diretor, diálogos cuspidos ou suspirados não falam apenas de conflitos, mas fazem uma análise daquela sociedade. Em todos os 3 episódios exibidos há alguém falando frases como "eu não sou como aqueles caras que...", e assim os já rotulados gays se rotulam, mostrando que a homofobia também pode estar internamente.

O resultado final, em episódios de 30 minutos, dá a impressão de que nada acontece na trama, e isso é positivo. A série já começa com Patrick "caçando" num parque e, constrangido consigo próprio, usa o celular como pretexto pra ir embora quando um homem mais velho começa a masturbá-lo, ainda reclamando das "mãos geladas". Apesar do retrato realista, a série ainda precisa passar pelo crivo das leis russas pra ser exibido por lá, e as chances são poucas, o que mostra que estão fazendo certo.

A série tem o episódio inédito exibido usualmente na madrugada de domingo pra segunda 1h30, mas tem reprises durante toda a semana.