sábado, 15 de janeiro de 2011

Vivendo sob as trevas do holocausto


Como gosto muito de ler e sou frequentador assíduo de Livrarias, sempre tenho uma fila de cinco ou seis livros / HQs para ler. Procuro seguir mais ou menos uma ordem e só passo algum na frente quando este realmente me intriga. E isso aconteceu com um presente que ganhei nesse natal: MAUS (minha edição tem a história completa e é de 2010).

Na obra, Art Spiegelman narra o que aconteceu com seu pai, um judeu polonês, durante a Segunda Guerra Mundial. Interessante que Art também é um personagem e a HQ, uma grande metalinguagem, contando como a mesma nasceu. Em determinado momento Art conversa com sua mulher no carro e diz: “A realidade é complexa demais para os quadrinhos... preciso deixar coisas de fora, simplificar”. Ela responde: “Querido, é só ser SINCERO”. E é isso que sentimos nos desenhos e nos diálogos: sinceridade.

Todos estudamos o que aconteceu durante a Segunda Grande Guerra. Entretanto, não sabemos o que foi vive-la. Nem Art. Ele, como nós, ouve de Vladek, seu pai, todos os detalhes das situações que enfrentou. Como diz o subtítulo da HQ, estamos diante da história de um sobrevivente.

A relação pai-filho é um tanto complexa. A guerra deixou cicatrizes em Vladek. Cicatrizes que ele carrega em suas escolhas, as quais Art não consegue entender na maior parte do tempo. Quem tem razão talvez não seja o mais importante, mas sim a luta de cada um em tentar aceitar a opinião do outro.

A primeira parte fala do início da guerra na Polônia dividida (via acordo de não agressão) entre a Alemanha de Hitler e a URSS de Stalin. Perseguição, perda dos bens, fome. Está tudo lá, em preto e branco. O título desta parte não poderia ser mais descritivo: “Meu pai SANGRA história”. Uma das primeiras falas do pai, ainda no prólogo, me marcou muito. Quando Art se queixa sobre seus amigos, o pai retruca: “Amigos? Se tranque em um quarto com eles, sem comida, por uma semana. Aí verá quem são seus amigos...”.

Na segunda parte acompanhamos todos os ultrajes com que os prisioneiros dos campos de concentração eram confrontados. Auschwitz traz novos personagens na vida de Vladek e a descrição deste de todas as ações que o levaram a sobreviver são impressionantes. O traço de Spiegelman é tenso e urgente nesses momentos, transportando-nos para tais situações. O peso da guerra esta impresso na crueza dos detalhes.

A escolha de ligar cada nacionalidade com um tipo de animal é referência clara às propagandas nazistas, que tratavam os judeus por ratos. Os alemães são gatos, seus inimigos naturais. Os estadunidenses são cachorros; os poloneses, porcos; os franceses, sapos; os britânicos, peixes e os russos, ursos. Esse recurso também nos deixa claro o quão irracionais podemos ser. Curiosidade: MAUS em alemão significa ratos...

Leitura obrigatória. Uma obra prima, vencedora do Prêmio Pulitzer. Faço minhas as palavras do Boston Globe, na contra-capa: “Uma obra de arte brutalmente tocante”.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Direto da Telona: Além da Vida



O sucesso dos filmes baseados na obra e vida de Chico Xavier no Brasil deve ter chamado a atenção de Clint Eastwood, que resolveu fazer um filme que fala sobre experiências e comunicações pós-morte. Só assim pra explicar o que levou o ator e, agora mais que nunca, cineasta oitentão a fazer um filme que trata de um tema tão delicado.
Além da Vida não fez o sucesso que os filmes espíritas fizeram por aqui, mas tem muitos méritos. Primeiro que ele não é um filme que trata do assunto de forma religiosa, e nem sequer cita a religião espírita, já que as experiências vividas pelos personagens acontecem de forma trágica, mas sem a busca de respostas em doutrinas. O roteiro de Peter Morgan (A Rainha, Frost/Nixon) é sensível sem apelos, e conta toda a história com naturalidade e paciência evidenciando que o roteirista tem um estilo próprio. E se trata do primeiro filme de Clint com grandes efeitos visuais. Claro que tudo isso produzido por Steven Spielberg.
Confesso que fiquei interessado em assistir ao filme especificamente pelo festival de efeitos visuais que seria a cena do tsunami, mas também achei que por se tratar da cena de abertura, o resto do filme (sem os efeitos) poderia ficar prejudicado. Mas não é o que acontece.
O filme conta três histórias bastante distintas, mas que obviamente devem se cruzar em algum momento. Matt Damon vive confortavelmente um vidente nos EUA que desistiu de ganhar dinheiro às custas do dom de conversar com os mortos, que ele acredita ser uma maldição, mas é pressionado pelo irmão (um envelhecido Jay Mohr) para voltar aos negócios. A atriz belga Cécile de France (Albergue Espanhol, Um lugar na Platéia) é uma famosa jornalista francesa que numa viagem turística vive uma experiência de pós-morte durante o tsunami que arrasou a Tailândia, e ao voltar à sua rotina em Paris fica obcecada pelas visões do além que teve. E os irmãos gêmeos Frankie e George McLaren se revezam como um garoto filho de uma mãe viciada em drogas que sente muito a falta do irmão gêmeo que morre num trágico acidente. Em comum, todos eles têm a busca por consolo para seus problemas, através de respostas do e sobre o além.
Independente da veracidade de uma mediunidade ou vidência, o que fez de Chico Xavier, por exemplo, um nome conhecido, foi a capacidade de dar conforto e paz para alguém que não conseguisse superar a perda de alguém querido. Às vezes a superação pode vir de lugares do coração que nenhuma ciência pode tocar, e só o inacreditável pode chegar.
Não se trata do melhor filme de Eastwood, mas se trata de uma história que ele ainda não havia contado. E ele sabe como contá-la. A jornalista francesa quer obter respostas para o que ela viveu, e dividir isso com outros, mas é avisada que se trata de um tema tabu. E provavelmente é um tema difícil, porque falar sobre algo que quase ninguém pode se identificar requer muita coragem.
Com uma participação deliciosa de Bryce Dallas Howard (A Vila, Homem Aranha 3) vivendo uma colega de curso de culinária do personagem de Damon, o filme vai te emocionar e divertir se você não esperar doutrinas religiosas e cenas de ação. É somente uma ótima história com ótimos atores contada por um dos melhores contadores de história do cinema atual. É um cinema cheio de esperança.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Céu de Outubro: até aonde os sonhos podem levar!

Como já foi dito no post de Incontrolável, filmes baseados em história real sempre nos levam ao questionamento se de fato o que está na tela aconteceu. Claro que sempre existem algumas adaptações para que na tela grande, os eventos relatados fiquem mais "cinematográficos".

Quero crer que pouca coisa foi mudada nesse filme que ocupa um lugar especial entre os meus "5+"! Baseado no livro "Rocket Boys" (ainda sem tradução para o português), "Céu de Outubro" (October Sky, EUA, 1999, 108 min) conta a história de Homer Hickam e de seus amigos, Quentin Wilson, Roy Lee Cook e Sherman O'Dell na cidade de Coalwood, na Virgínia Ocidental. Como o nome da cidade sugere, a cidade existia em função das minas de carvão e todos os seus moradores estavam ligados a extração do "ouro negro".

Depois de ver o primeiro satélite artificial (Sputnik) lançado pelo ser humano (e russos, no auge da Guerra Fria)  passeando pelo céu, Homer tem a idéia de construir um foguete.

Em uma cidade sem muitas expectativas, que se resumia a conseguir uma bolsa de estudos na faculdade através do futebol ou trabalhar na mina de carvão, esses quatro jovens desafiaram as probabilidades e incentivados por alguns moradores e principalmente por sua professora, Miss Riley (interpretada magistralmente por Laura Dern, mais conhecida por seu papel em Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros), resolvem tentar entrar na faculdade não pela via dos músculos dos jogadores de futebol, mas usando a massa cinzenta através de uma feira de ciências, em que os ganhadores, acabam disputados pelas melhores universidades com bolsa de estudo integral (muito parecido com o Brasil, não?)

Homer e seus amigos na época da escola
Durante todo o filme, vemos o progresso desse grupo que acredita ver realizado o impossível - ganhar a Feira Nacional de Ciências. A difícil relação de Homer com seu pai (marcado fortemente por Chris Cooper), que no filme teve o nome trocado para marcar as diferenças entre os dois, quase leva o garoto a desistir de seus objetivos. Isso se complica ainda mais quando o pai sofre um acidente na mina de carvão e Homer (Jake Gyllenhaal), para não deixar seu irmão perder a bolsa de estudos que ganhou na faculdade por ser um bom quarterback, abandona os estudos e vai trabalhar na mina.

Para quem tem um objetivo, entretanto, essas dificuldades apenas contribuem para que as conquistas sejam valorizadas quando alcançadas. É isso que me fez ver e rever "Céu de Outubro", pois quando penso que as coisas não darão certo, penso nessa história real que me motiva a continuar acreditando nos sonhos e que eles se concretizarão! Uma homenagem a esperança, é assim que defino essa obra que deve ser apreciada por todos. Uma fotografia primorosa e a belíssima trilha sonora, fecham o pacote. Não perca!

Homer na Feira de Ciências
Coisa de fã: tenho o DVD nacional e o importado. O importado tem um ótimo e completo making of. Tenho o livro que inspirou o roteiro e a maravilhosa trilha sonora, que tive que importar. Pena que não consegui o pôster.


quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Calvin & Haroldo: a magia da imaginação


As personagens criadas por Bill Watterson em 1985, um menino marrento de 6 anos e seu tigre de pelúcia, talvez seja a das mais queridas em todo mundo pelo carisma e simplicidade de visão de mundo. Calvin e seu inseparável amigo Haroldo, que cria vida e interage com o menino quando não há outras pessoas por perto, nos presenteia com o que há de mais interessante e fantástico na vida do ser humano: a imaginação da criança!

As peripécias em que os dois se metem faz qualquer adulto ou criança cair na risada. Enquanto escrevia esse post, revi algumas tirinhas - que foram publicadas em dezenas de jornais pelo mundo até 1995, quando o autor anunciou sua aposentadoria - e dei boas gargalhadas!

O autor é extremamente competente ao mostrar o mundo imaginário que a criança cria para as várias situações que enfrenta durante o período em que tudo "parece" conspirar para uma infância infeliz - a comida que somos obrigados a comer, a foto que não queremos tirar, o medo daquele monstro que vive no armário do quarto, o valentão da escola, a menina que resolvemos infernizar a vida e claro, a babá - talvez não muito próximo da realidade das crianças brasileiras - mas que rende ótimas histórias.



Outro universo explorado por Watterson é a escola. Nela, vemos Calvin geralmente como explorador intergalático, enfrentando um monstro horrível e abominável - a professora. Ele é sempre o herói indefeso que acaba por cair em situações de perigo na luta pela liberdade! Leia-se: não entregou o dever de casa e por isso tem que inventar alguma história mirabolante para se safar!



Outras situações que garantem boas gargalhadas é a constante briga entre Calvin e sua amiga/inimiga Susi. Ela é estudiosa, inteligente e educada e os dois vivem em pé de guerra. Geralmente envolvendo bolas de neve! Outra personagem cruelmente atormentada pela dupla, é a babá Rosalyn. Essa porém, não dá moleza aos dois traquinas, e como disse o autor, "talvez seja a única pessoa que Calvin realmente tenha medo".



Não posso deixar de falar que apesar dos temas do universo infantil, o autor também toca em temas sérios utilizando seus personagens. Uma ótima maneira de expor o ponto de vista e nos levar a reflexão, quer concordemos ou não. Uma dessas tiras "sérias", é de Calvin e Haroldo parados em frente a uma árvore cortada. Impossível não pensar que talvez esse "menino" esteja coberto de razão.





A Editora Conrad vem lançando no Brasil os livros com a coletânea das 3.160 tiras criadas durante os dez anos de atividade da dupla - Calvin & Hobbes no original.. É um deleite para quem curte uma boa história com uma dose de humor requintada. Até o momento foram lançados 7 volumes, com as aventuras dessa dupla divertida! Recomendo e garanto boas risadas.



Títulos lançados:

O mundo é Mágico
E foi assim que tudo começou
Tem alguma coisa babando embaixo da cama
Yukon Ho!
                                                              
Criaturas bizarras de outro planeta
Deu "tilt" no progresso científico
A hora da vingança


    

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Polêmica no Oscar 2011


Engraçado colocar um título como o de cima quando vou falar sobre um filme de que gostei muito. Enterrado Vivo (2010), que já não se encontra mais em cartaz (pelo menos aqui em SP), é uma produção que, na pior das hipóteses, merece um adjetivo: corajosa.

Como o título já diz, temos um personagem que acorda dentro de uma caixa de madeira. Inicialmente só encontra um isqueiro no bolso, para minutos depois descobrir que tem um celular próximo aos seus pés, vibrando. Através do aparelho, ele descobre mais sobre a sua situação: vítima de insurgentes iraquianos, ele foi sequestrado e deve pagar milhões para sair dali com vida.

Ok. Mas saberemos mais sobre a sua vida, certo? Flashbacks são para isso, certo? Personagens secundários, fora do caixão, são para isso, certo? Mas nada disso acontece. Acompanhamos todo o desenrolar da história juntos de Paul Conroy (Ryan Reynolds). É asfixiante. Sofremos com ele para alcançar algo próximo aos pés ou para nos virarmos para termos uma melhor visão de algo.

Tecnicamente o filme merece muitos elogios. Filmado em apenas 17 dias e com 7 caixões diferentes, o diretor espanhol Rodrigo Cortés consegue nos prender junto com Reynolds e tira deste uma atuação convincente e aterrorizada. Ele exala o desespero de alguém que estivesse realmente nessa situação. As movimentações de câmera são perfeitas e a fotografia se esmerou, usando a chama do isqueiro, a luz do visor do celular e o que pudesse para iluminar de forma brilhante a cada cena.

O roteiro também é realmente bom. Chris Sparling parece ter feito uma boa pesquisa, para nos mostrar o mundo de civis americanos contratados por empresas para trabalhar na reconstrução do Iraque e o risco que correm de ser sequestrados. A tensão toda me lembrou muito outro filme, Por Um Fio (2002) com Colin Farrel preso dentro de uma cabine telefônica. Infelizmente, foi exatamente uma atitude do roteirista que inspirou título deste post.

A pouco tempo, o mesmo mandou um e-mail para muitos dos votantes aos indicados para o Oscar 2011. E, apontando as coisas boas de seu roteiro, pedia o voto dos mesmos. Isso é proibido e o filme corre sério risco de ter sua candidatura impugnada. Sinceramente não sei se ele conseguiria essa indicação. Na minha opinião, outros filmes do ano que passou merecem mais a indicação e, como disse, o aspecto técnico me impressionou bem mais do que propriamente o roteiro. Mas essa polêmica é um tanto quanto estranha. Diversos estúdios fazem campanhas por seus filmes. Recentemente, Toy Story 3 criou uma série de posters se comparando com outros ganhadores do prêmio, insinuando que poderia estar entre os indicados. A Origem enviou seu roteiro para vários membros da academia querendo indicações. Qual a diferença? Só porque ele soletrou "quero o seu voto"?

Sei que é ingenuidade não entender a importância comercial de um prêmio como este. Mas cá pra nós, para que tanto barulho? Quer pedir votos, peça. Vai da cabeça de cada um dos membros da academia acatar a esse pedido ou não. O fato é que dificilmente um e-mail vai mudar a cabeça de várias pessoas.

Enterrado Vivo, independente da polêmica, é um bom filme. Melhor no cinema, claro, para emular a escuridão e o caixão de Paul como sendo a sala em que estamos. Mas se não der, assista em casa mesmo. Mas espere anoitecer. E apague a luz. Ahhhhhhhhh, e não se esqueça de deixar o celular recarregado. Nunca se sabe quando iremos precisar dele...

Direto da Telona: Enrolados

Como já mencionei em alguns outros posts, os tempos mudaram. Agora é preciso pensar em todo o contexto social pra levar um produto audiovisual a público, seja pra lucrar, seja pra mudar o mundo. A Disney fez a lição de casa direitinho,e mudou um bocado sua linha de princesas para os novos tempos.
Sim, Cinderelas, Brancas de Neve e Belas Adormecidas continuam fazendo sucesso e vivendo no íntimo de meninas e mulheres, mas elas são imagens de um passado que deveriam funcionar hoje, mas não funcionam mais. Esperar que o príncipe encantado apareça pra resolver todos os problemas só em sonho nos dias de hoje. As mulheres vão à luta!
Enrolados (Tangled, 2010) é um projeto bastante interessante na linha das princesas da Disney e se tornou um filme sensacional para toda a família, e quem mais quiser curtir. Rapunzel era a princesa famosa que faltava no rol da Disney, mas os longas animados baseados em contos de fada caíram em declínio com o advento das animações computadorizadas. Até que John Lasseter, o cara por trás de toda a Pixar (após ser readquirida com mais participações pela Disney) resolveu que os contos de fadas foram e deveriam continuar sendo importantes. Foi aí que ele reabriu os trabalhos de animação tradicional com A Princesa e o Sapo em 2009, e apesar do resultado ter sido um longa estupendo que conquistou a crítica, não foi considerado um grande sucesso nos cinemas. Colocaram a culpa na animação tradicional e no fato do título afastar os meninos dos cinemas.
O título antes da mudança
E antes que o projeto da Rapunzel virasse a continuação do sucesso Encantada, decidiram dar mais uma chance para as princesas, e mudaram algumas coisas. O título não poderia mais afastar os meninos, então Rapunzel virou Enrolados; e o filme precisava ter mais ação que A Princesa e o Sapo, que tinha uma princesa negra que colocava em prática todas as suas ambições e não dependia de um príncipe, colocando assim as princesas nos novos tempos com sucesso e aceitação. E o mais importante é que o filme deveria ser computadorizado e utilizando os recursos do 3D, e aí estava o desafio.
Enrolados criou uma técnica de animação computadorizada que misturada a técnicas tradicionais, se parece com uma pintura. Muitas vezes você sente estar vendo um filme de animação tradicional, e em várias outras tudo parece se misturar harmoniosamente. O interior da torre onde vive Rapunzel é um dos cenários mais incríveis num desenho animado tridimensional.
O filme começa mostrando a lenda dos cabelos mágicos de Rapunzel desde seu nascimento e seu sequestro pela bruxa má. Seus pais, tristes, soltam lanternas voadoras todos os anos por todo o reino no dia de seu aniversário para lembrar da princesa desaparecida, e Rapunzel logo já tem 18 anos e nunca saiu da torre. Mas não espere uma sofredora, a bruxa só não permite que ela saia e se finge de mãe numa boa. E então conhecemos Flynn Rider (que na dublagem nacional ficou com a voz de Luciano Huck por causa de piadas sobre nariz), um ladrão que roubou a coroa da princesa e foi se esconder justamente na torre dela. Domado pela moça dos longos cabelos, ele é chantageado a levá-la até o reino para ver as lanternas que pra ela querem dizer algo, em troca da coroa que ela escondeu (sem saber que lhe pertence), e daí pra frente é muita diversão.
A Disney acertou o tom em todos os aspectos, e fez um filme de princesa clássico, com números musicais excelentes, mas com cara de animação descompromissada. Não por acaso os animadores principais foram responsáveis por Bolt, uma animação descompromissada bem bacana do estúdio.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Direto da Telona: É muito mais que Amor por Contrato

Na maioria das vezes, os responsáveis pelas traduções dos títulos dos filmes estadunidenses cometem grandes gafes e em outras, a essência do filme se perde numa tradução que não tem nada a ver com o título original. Foi assim com o recente comentado aqui no Blog The Happening, que na tradução virou Fim dos Tempos. Podemos afirmar, sem medo, que o mesmo acontece com "Amor por Contrato" (The Joneses, EUA, 96 min, 2009).

O filme teve sua estréia no Festival de Toronto no Canadá em 2009, mas só chegou as telonas em 2010. No Brasil está em cartaz desde o dia 24 de dezembro de 2010.

A história se desenvolve em torno da "Família Jones", tendo como mãe a cinquentona e enxuta Demi Moore e como pai o eterno David "Mulder" Duchovny. Completam essa família Amber Heard (Zumbilândia) e Ben Hollingsworth (do seriado The Beautiful Life) como filha e filho.

Em um primeiro momento, você imagina que está diante de um filme estilo "American Way of Life", principalmente devido a recepção que os " Joneses" dão aos vizinhos que vão se apresentar e oferecer as boas vindas! Uma família bonita, feliz e de sucesso!   Ao longo dos primeiros minutos você se depara com um desfile de gente bonita e endinheirada vivendo da melhor maneira possível em suas mansões, com seus carros luxuosos de último tipo, com toda tecnologia possível e imaginável! Além, é claro, de parecer que a vida é uma constante festa. Só que tem um problema! Os Joneses não são uma família e sim, vendedores! Eles fingem serem uma família rica e bem sucedida, para influenciar a todos em sua volta! A mãe com as roupas e tênis da caminhada matinal, o pai com o carrão os caríssimos tacos de golfe. Os filhos, influenciam os amigos na escola com cosméticos, celulares e demais badulaques de última geração. E na verdade, o que todos querem alí, é aumentar as vendas! Essa é a preocupação dessa "célula": virar um "ícone"!!

Mas como nem tudo sempre é perfeito, os conflitos e necessidades de qualquer pessoa aparecem, e é nesse momento que o filme te prende ainda mais a atenção, pois apesar de todo luxo, toda a grana; todos continuam passando pelas mesmas situações que qualquer mortal enfrenta, sendo que a principal delas é: queremos estar perto de quem gostamos e de quem gosta da gente!!

O filme parece encaminhar para um filme clichê, mas é bem interessante como o desfecho se dá de maneira leve e aberta. E poderiam ter trabalhado até com outros finais, o que não perderia em hipótese alguma, a mensagem original do filme.

Os amigos da "Liga da Poltrona" concordam ainda, que o filme daria um ótimo seriado! Com duas temporadas talvez, mas tocando num assunto que sempre é atual: o mais importante é ser ou ter?

Vale a pena conferir esse filme, que traz ótimas interpretações e fotografia, além de uma trilha sonora bem cuidada; e constatar mais uma vez que a tradução do título acaba, infelizmente, por afastar muita gente do cinema e de curtir um ótimo filme!

domingo, 9 de janeiro de 2011

Direto da Telona: INCONTROLÁVEL


O cinema é arte. E a vida imita a arte, certo? Nem sempre. Não quando um filme começa pelas palavras BASEADO EM FATOS REAIS. Essas poucas palavras sinalizam para nossos cérebros que estamos diante de algo que ocorreu. E não interessa se foi parcialmente. O fato é um só: a arte agora nos MOSTRA a vida.

INCONTROLÁVEL (2010) acaba de entrar nos trilhos de nossos cinemas. Tony Scott está brincando novamente com a mesma máquina (no último eram metrôs, mas estão no mesmo patamar que trens, certo?) e com o mesmo ator. Denzel Washigton retoma a parceria e, dessa vez, nos traz um bom filme de ação, acima da classificação "Sessão da Tarde" que o último mereceu.

Temos um trem não-tripulado e acelerado, carregando materiais inflamáveis que, nas palavras de Connie (Rosario Dawson), é um "míssil do tamanho do edifício Chrysler" e vai em direção a áreas populadas.

O filme, Unstoppable no original, realmente não para. Para quem tem uma noção do que o espera, a angústia não tarda a aparecer, com o trem desgovernado. O roteiro acelera, com o perdão do trocadilho, para não mais frear. O clímax me prendeu à poltrona. Só voltei a respirar quando os créditos finais começaram.

Denzel Washigton (O Livro de Eli) nos brinda com mais uma atuação segura, seguido de perto por Chris Pine (Star Trek), talvez alvo de excessivos closes faciais. Rosario Dawson (belíssima como sempre) transmite bem o vigor de sua personagem. A fotografia e a direção também vão bem e alguns movimentos de câmera denotam boa inspiração. Os efeitos também são bons, com pequenos incômodos no uso do CGI em algumas cenas.

Ótima diversão de verão, merece ser conferido. Mas corra, porque esse trêm não está afim de esperar por ninguém. Todos a bordo!

TRAILER:


NOTÍCIA DO FATO REAL:

Direto da Telona: Pernas pro ar, humor pra baixo.

Quando assistimos a um trailer de comédia, a maioria das pessoas, ou pelo menos aqueles com um pouco mais de visão crítica, sempre perguntam-se “essas são as melhores piadas?” Pode-se dizer que “De Pernas pro Ar” (Brasil, 2010) com Ingrid Guimarães e Maria Paula responde quase na totalidade essa pergunta, se não fosse por duas ou três outras piadas que foram deixadas para o filme.
Histórias de pessoas que são viciadas em trabalho ou tenham qualquer outra obsessão e deixam a família e a própria felicidade para segundo plano, tem aos montes no cinema. Nessa comédia, o interessante é que depois de ser demitida de uma empresa de brinquedos – numa cena aliás, clichê ao extremo – a personagem Alice (Ingrid Guimarães) acaba indo trabalhar numa Sex Shop, ambiente oposto ao anterior e de certo modo um tabu entre os brasileiros - até aí sem problemas, pois isso é revelado no trailer. Ela transforma uma loja “xexelenta” em um negócio lucrativo e acaba por obter o tão sonhado sucesso profissional. Entretanto, o filme chega ao final tentando dar uma lição de moral (lição de moral em comédia é sempre ótimo!) mas na última cena, perde totalmente o sentido. “De pernas pro ar” é um filme de comédia que “tenta” divertir e dar uma lição de moral mas mal consegue fazer uma coisa e nem chega perto de fazer outra! Culpa de um roteiro confuso que não diz exatamente a que veio.
As atuações de Ingrid Guimarães e Maria Paula são preguiçosas. Isso mesmo. Parece o tempo todo que elas estão com preguiça de atuar. Ingrid não convence que está triste quando a personagem precisa passar essa idéia e as piadas em geral saem muito técnicas. Maria Paula parecesse mais com uma travesti mal intencionada que com uma mulher sensual que almeja ganhar dinheiro com seus dotes.
O filme no geral perde a oportunidade de transformar um assunto que poderia além de render boas piadas problematizar a questão da sexualidade de maneira divertida, mas acaba por se transformar em um monte de banalidades ao expor que para a mulher ter sucesso, ela "ainda" precisa pensar na relação que tem em casa. Isso fica muito claro ao final do filme quando vem à tona ao mostrar que aquilo que se pensava estar resolvido, na verdade, está longe de se tornar realidade na vida da personagem e de milhares de mulheres.
"De pernas pro ar" é um caça-níquel de verão prometendo piadas com um assunto manjado. Pra rir, só com cócegas! E olhe lá...