sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Direto da Telona: Além da Vida
O sucesso dos filmes baseados na obra e vida de Chico Xavier no Brasil deve ter chamado a atenção de Clint Eastwood, que resolveu fazer um filme que fala sobre experiências e comunicações pós-morte. Só assim pra explicar o que levou o ator e, agora mais que nunca, cineasta oitentão a fazer um filme que trata de um tema tão delicado.
Além da Vida não fez o sucesso que os filmes espíritas fizeram por aqui, mas tem muitos méritos. Primeiro que ele não é um filme que trata do assunto de forma religiosa, e nem sequer cita a religião espírita, já que as experiências vividas pelos personagens acontecem de forma trágica, mas sem a busca de respostas em doutrinas. O roteiro de Peter Morgan (A Rainha, Frost/Nixon) é sensível sem apelos, e conta toda a história com naturalidade e paciência evidenciando que o roteirista tem um estilo próprio. E se trata do primeiro filme de Clint com grandes efeitos visuais. Claro que tudo isso produzido por Steven Spielberg.
Confesso que fiquei interessado em assistir ao filme especificamente pelo festival de efeitos visuais que seria a cena do tsunami, mas também achei que por se tratar da cena de abertura, o resto do filme (sem os efeitos) poderia ficar prejudicado. Mas não é o que acontece.
O filme conta três histórias bastante distintas, mas que obviamente devem se cruzar em algum momento. Matt Damon vive confortavelmente um vidente nos EUA que desistiu de ganhar dinheiro às custas do dom de conversar com os mortos, que ele acredita ser uma maldição, mas é pressionado pelo irmão (um envelhecido Jay Mohr) para voltar aos negócios. A atriz belga Cécile de France (Albergue Espanhol, Um lugar na Platéia) é uma famosa jornalista francesa que numa viagem turística vive uma experiência de pós-morte durante o tsunami que arrasou a Tailândia, e ao voltar à sua rotina em Paris fica obcecada pelas visões do além que teve. E os irmãos gêmeos Frankie e George McLaren se revezam como um garoto filho de uma mãe viciada em drogas que sente muito a falta do irmão gêmeo que morre num trágico acidente. Em comum, todos eles têm a busca por consolo para seus problemas, através de respostas do e sobre o além.
Independente da veracidade de uma mediunidade ou vidência, o que fez de Chico Xavier, por exemplo, um nome conhecido, foi a capacidade de dar conforto e paz para alguém que não conseguisse superar a perda de alguém querido. Às vezes a superação pode vir de lugares do coração que nenhuma ciência pode tocar, e só o inacreditável pode chegar.
Não se trata do melhor filme de Eastwood, mas se trata de uma história que ele ainda não havia contado. E ele sabe como contá-la. A jornalista francesa quer obter respostas para o que ela viveu, e dividir isso com outros, mas é avisada que se trata de um tema tabu. E provavelmente é um tema difícil, porque falar sobre algo que quase ninguém pode se identificar requer muita coragem.
Com uma participação deliciosa de Bryce Dallas Howard (A Vila, Homem Aranha 3) vivendo uma colega de curso de culinária do personagem de Damon, o filme vai te emocionar e divertir se você não esperar doutrinas religiosas e cenas de ação. É somente uma ótima história com ótimos atores contada por um dos melhores contadores de história do cinema atual. É um cinema cheio de esperança.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário