sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

FILMES: O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA

Desde que o primeiro filme dos X-men, ainda em 2000, foi recebido tanto pela crítica quanto pelo público de forma positiva, cinema e quadrinhos tem caminhado lado a lado. HQs são criadas já pensando na transposição para as telonas e quase todo o panteão de heróis desenvolvidos tanto pela MARVEL quanto pela DC Comics acabam sendo aventados para uma possível nova adaptação. Homem-aranha foi um dos primeiros a fazer tamanho sucesso que conseguiu uma trilogia e agora, em 2012, teve um recomeço com O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA (The Amazing Spider-Man, 2012).



Muito se falou a respeito da necessidade ou não de um reinício, mas o fato é que ele aconteceu: a) por um motivo financeiro, pois a Sony Pictures nunca perderia um dos seus grandes produtos e b) por que o final da trilogia anterior deixou desgastado o diretor Sam Raimi, a ponto de este não retornar para a franquia. Dessa forma, vou me ater ao filme em si, deixando essa discussão para a mesa de bar.

A escolha de Marc Webb, do ótimo 500 Dias Com Ela, desde o seu anúncio pareceu acertada. A ideia do projeto era um enfoque mais voltado para a linha Ultimate, em que Peter ainda frequenta a escola e sua vida privada colide de forma constante com sua vida de vigilante, uma das coisas mais interessantes do aracnídeo. Além disso, a decisão de abandonar Mary Jane (pelo menos no início) e trazer Gwen Stacy como interesse amoroso do herói agradou a muitos, que preferem a loira à ruiva também nos quadrinhos (sem falar que ela é muito importante na linha Ultimate).

Peter Parker (Andrew Garfield) e Gwen Stacy (Emma Stone) tem em suas interações na escola um dos pontos altos do filme. Seja num elogio envergonhado ou em um convite sem jeito, os dois mostram seus lados nerds e frágeis e o real interesse de um pelo outro fica crível, desde a primeira vez em que aparecem. Gosto muito do trabalho de Tobey Maguire nos filmes de Raimi, mas acredito mais em Garfield como Peter, mesmo que o roteiro o traga um pouco mais amargurado do que de costume, reflexo (talvez) do sucesso da trilogia Batman, de Nolan, nos cinemas. Outros personagens, como Flash, foram melhor trabalhados, culminando em uma bela cena quando este conforta Peter após a morte de Tio Ben (sendo seguido na atitude por Gwen).

Mas espera aí: o tio Ben morre? Sim, ele morre... novamente. Talvez aqui resida um grande prolema (para mim) no roteiro: não há necessidade para mostrar essa passagem na vida de Peter. O outro filme ainda é muito recente. Talvez se ele já inicia-se o filme como Aranha ninguém reclamaria. A cena ficou bonita e, talvez, melhor do que no filme de Raimi, mas ainda assim soa repetitiva. Falando em roteiro, James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves são responsáveis pelo texto e, muitas vezes, quanto mais mãos retocam a história essa acaba sem uma identidade própria. Percebe-se claramente um roteiro que tem a dinâmica de uma HQ, com resoluções fáceis que, no papel, tem a suspensão de descrença favorecida. Mas estamos falando de cinema, e em tela, certas decisões soam imprecisas, como Gwen sendo uma estagiária com acesso a tudo na Oscorp ou a forma como Peter vai invadindo o local sem nenhuma segurança ou mesmo o fato de Gwen achar normal um garoto subir 20 andares (!) pela escada de incêndio para bater em sua janela... São vários pequenos detalhes que, no final das contas incomodam um pouco.

Os sucessos desse tipo de filme já evidenciaram que um grande vilão é muito importante no processo e, infelizmente, não é o caso dessa produção. O Lagarto é pouco desenvolvido. Não entendemos sua motivações e seu plano só não é pior do queo de Lex Luthor tentando lotear uma ilha de kriptonita. Além disso, seu design ficou desinteressante e em nenhum momento ele parece ser uma ameaça real ao cabeça de teia. A história de sua família, importante nas HQs, sequer é mencionada.

Falando em família, o roteiro aproveita bem o Capitão Stacy, policial e pai de Gwen, no enredo. Em determinado momento uma discussão entre ele e Peter mostra a ousadia do jovem contra o ceticismo do pai, tentando ensinar algo. Isso só acentua o impacto do sumiço dos pais de Peter quando este ainda era criança.

As cenas de ação são interessantes, em especial quando Peter vai procurar o vilão nas galerias subterrâneas de esgoto, entretanto não ousam. O primeiro trailer prometia cenas em primeira pessoa, algo que acontece em poucos segundos. O design do herói me agradou mais no que nos outros filmes. O perfil franzino do ator favoreceu para que os traços lembrassem os de Todd McFarlane, inclusive na elasticidade e nas poses que o herói adota. O fato de retomarem o lado cientista de Peter, com a invenção dos lançadores de teia, foi outro acerto da produção.



Enfim, é um filme irregular mas divertido, como uma boa sessão da tarde, que é capaz de te apresentar cenas inspiradas como quando Peter salva um garoto e observa a alegria do pai (rima narrativa com a falta que ele sente do seu) e outras despropositadas, como os guardas que são infectados para não mais aparecerem no filme. Assista e veja quais te cativam mais! Ah, quase me esqueci: esse filme possui a melhor participação de Stan Lee até agora!!!


O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man - EUA , 2012 - 136 min. - Ação / Aventura)
Direção: Marc Webb
Roteiro: Alvin Sargent, James Vanderbilt, Steve Kloves
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen, Sally Field, Irrfan Khan, Campbell Scott, Embeth Davidtz, Chris Zylka, Max Charles

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

HQs: CAPITÃO AMÉRICA - O SOLDADO INVERNAL

Os quadrinhos podem ser definidos como o livro tentando se tornar cinema. Enquanto nos romances usamos a nossa imaginação para criar ambientes ao redor de personagens que interagem, nos quadrinhos temos duas pessoas (não somente, mas principalmente) responsáveis por isso: o roteirista e um artista. Enquanto um bola a história, o outro recebe as coordenadas e materializa a imaginação, a criação.

Sempre fui atraído por tramas de investigação. Talvez esse interesse explique gostar muito das histórias envolvendo Batman e Capitão América. Sim, eles possuem personalidades diferentes, mas, no fim do dia, buscam resolver os problemas que se colocam em seus caminhos. Batman sempre esteve na crista da onda, seja em desenhos animados, gibis ou cinema, mas o Capitão demorou bem mais tempo para atingir o seu reconhecimento. Em 2011 tivemos o filme solo do Sentinela. Seu grande sucesso aliado ao estrondoso impacto de Os Vingadores em 2012 garantiram uma continuação, para 2014, que já recebeu o título de O Soldado Invernal e é, exatamente, essa HQ o assunto desse post.


CAPITÃO AMÉRICA - O SOLDADO INVERNAL é um encadernado que traz todo o arco escrito por Ed Brubaker. Criador de outras HQs de teor investigativo (como Criminal e Incógnito), o autor sabe abordar o personagem no que tem de melhor: seu caráter honrado frente fantasmas do passado. Ainda se recuperando dos acontecimentos que culminaram com o desmembramento dos Vingadores e a morte de Gavião-Arqueiro, Steve Rogers tenta se encaixar nesse mundo novo para ele, ao mesmo tempo que tenta entender quem está tentando atingi-lo com vários "pequenos atentados".

O autor busca elementos do passado clássico do herói, usando-os de forma fundamentada, construindo um argumento instigante e bem amarrado. Saber usar a longa história de um ícone tradicional como este em prol do crescimento do mesmo é um dos elogios mais eloquentes ao trabalho de Brubaker. Relendo agora, consigo visualizar nesse trabalho uma tentativa vitoriosa de desconectar o personagem, que veste a bandeira americana e era uma propagando ambulante do belicismo norte-americano, de uma imagem ufanista, tornando-o um soldado universal .


Esse enredo interessante se torna ainda mais divertido graças aos traços de Steve Epting, já conhecedor desse universo por ter trabalhado muitos anos em Os Vingadores. Seu desenho não é dos mais precisos, mas acerta em cheio ao detalhar as feições de todos os personagens em momentos estratégicos, tornando desnecessária qualquer legenda para a emoção que está à tona. Seu estilo de diagramar é bem "feijão-com-arroz", sem investir em nada mais arrojado ou inovador, como muitos da nova geração, mas acaba por conferir ao encadernado um caráter histórico que se encaixa perfeitamente com o roteiro, cheio de flashbacks para a Segunda Grande Guerra. A forma como o artista desenha o escudo, principal utensílio do Capitão, é outra característica a ser ressaltada, com certos momentos em que conseguimos sentir o movimento do objeto.


Ótima leitura, perfeito como "esquenta" para o filme que vem por aí, é uma boa forma de conhecer o mundo do Bandeiroso. Aventure-se, você pode (deve) gostar!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

HQs: DARTH VADER AND SON

E se Darth Vader, mesmo a serviço do Império, tivesse um papel ativo na criação de Luke Skywalker? Não, não é George Lucas tentando ganhar mais alguns trocados com sua franquia mais famosa, mas sim o celebrado ilustrador Jeffrey Brown fazendo um exercício de imaginação e produzindo a bela HQ DARTH VADER AND SON, considerada pela crítica uma das melhores de 2012.



De forma hilária e doce, vemos nos quadrinhos Darth Vader, um Lord Sith, agindo como pai. A bagagem do lado negro da força está transposta em cada página, entretanto o olhar paternal, mesmo dentro da capacete do vilão, atenua toda a carga que a figura do personagem carrega.

Com uma ilustração por página, o artista traz momentos clássicos da saga Star Wars com uma nova roupagem, apresentando as aflições e alegrias de ser pai através das lentes de uma galáxia muito, muito distante. Frases conhecidas e repetidas incansavelmente pelos fãs ganham novo sentido, incluindo a famosa "Luke, I am your father". É divertido gastar um tempo em cada ilustração, procurando os pequenos detalhes e rindo de alguma referência.


As "lições de vida" incluem tentar rebater uma bola de baseball usando um sabre de luz, pegar o pote de biscoitos através da Força, ou mesmo levar o filho visitar a Estrela da Morte no famoso "dia de levar o filho ao trabalho", rs. Todas são situações que acentuam e estreitam a ligação especial entre qualquer pai e filho.


Não sou o maior conhecedor desse universo e nem integro a turma que adora os filmes (assisti a todos os seis, mas o único a que realmente assistiria novamente é O Império Contra-Ataca, esse sim muito bom!), mas posso dizer que a leitura rápida (gastei uns 30 minutos) e leve me entreteve e, ao final da leitura, fiquei com um sorriso no rosto.


Não sei se tem e, se tem, ainda não vi a versão nacional da HQ, mas ela é facilmente encontrada na versão original, em inglês, nas grandes lojas do ramo. Se você é fã, leitura obrigatória. Caso contrário, permita-se mergulhar de cabeça em um universo de amor paternal e sabres de luz. E que a Força esteja com você!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

FILMES: ARGO

Um movimento de revolução no Irã chega a seu auge em novembro de 1979. Os manifestantes alcançam a embaixada americana em Teerã e fazem 52 reféns. Seis estadunidenses, em meio ao caos, encontram uma maneira de fugir e se refugiam na casa do embaixador canadense. A CIA percebe que é apenas uma questão de tempo até que os seis sejam encontrados e assassinados e bola um plano arriscado para tira-los do país.



É esse, basicamente, o mote de ARGO (Argo, 2012), último longa metragem dirigido pelo eficiente Ben Affleck. Diferentemente dos dois primeiros, Affleck sai de sua vizinhança (Boston), e busca algo mais nesse filme ancorado em fatos reais. O plano arriscado de que fala a sinopse soa tão incrível e irreal que a forma como o diretor e os roteiristas Chris Terrio e Joshuah Bearman desenvolvem a história é digno de muitos elogios.

Tony Mendez (Affleck) decide usar do poderio de Hollywood e sugere a infiltração como uma produção de ficção de nome Argo. Os fugitivos se passariam pela equipe de produção, em visita ao país para conhecer possíveis locações. Mas, para que o plano dê certo, todo o processo de produção de um filme deve ser seguido: criação de produtora, storyboards, festas para o elenco e leitura do roteiro, etc. E é nessa hora que Affleck mostra sua eficiência, ao saber contrabalancear muito bem o aumento da tensão no Irã e o meticuloso planejamento em Los Angeles.

Quando o plano finalmente entra em execução, sabemos de cada passo e, dessa forma, cada contratempo é palpável para o público. A atuação corporal dos atores e atrizes, nesse ponto, torna-se crucial, já que nem tudo pode ser dito, e mais uma vez somos brindados com uma direção excepcional. Um escorregar de óculos pelo nariz, um olhar pela janela, um suspiro reprimido, tudo transcorre de forma orgânica e contribui em muito para a imersão no filme. Em determinado momento, em que um dos foragidos tem ressalvas quanto a ação, um simples abraço por parte de sua companheira já diz tudo: é nossa única chance!

O trabalho de fotografia (Rodrigo Prieto) é impecável, usando cores frias em tudo que ocorre com os personagens exilados na embaixada canadense (onde também ressalto o brilhante trabalho de figurino e caracterização do elenco) em oposição às cores quentes do oeste dos EUA. Affleck parece reconhecer sua limitação enquanto ator e em nenhum momento abandona a premissa de seu personagem, sério e analítico, mesmo ao evitar aprofundar-se no problema do mesmo com o álcool ou em sua relação conturbada com a mulher, algo abordado de forma rasa. A direção segura confere credibilidade ao filme, que não descamba para o ufanismo que muitas vezes assistimos em produções dos EUA e chega a mostrar um mea culpa da CIA com relação aos incidentes ocasionados por suas ações no Irã.

O elenco é ótimo, com muitos atores dessa nova safra da TV americana (Bryan Cranston, Kyle Chandler e Tate Donovan) e figuras carimbadas, como John Goodman e Aaron Sorkin. Aliás, esses dois últimos, vivendo o maquiador e o produtor que foram co-conspiradores na ação da inteligência americana, surgem como o alívio cômico, que em algumas vezes quebra a tensão, mas que, ainda assim, diverte. O filme é tão bem condizido que em seu clímax, único momento em que a equipe decidiu exagerar um pouco os fatos para gerar uma cena de impacto, o público já foi cativado e nada mais soa problemático: acreditamos que isso aconteceu realmente dessa forma!

ARGO é um dos grandes filmes de 2012. Merece ser conferido e aproveito para recomendar toda a filmografia, enquanto diretor, de Affleck (Medo da Verdade, 2007 e Atração Perigosa, 2010). É um bom diretor, que vem sendo cogitado para várias produções, dentre elas o aguardado (dado o sucesso de Os Vingadores) Liga da Justiça.


Argo (Argo - EUA , 2012 - 120 min. - Drama / Suspense)
Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio, Joshuah Bearman
Elenco: Ben Affleck, Alan Arkin, John Goodman, Bryan Cranston, Tate Donovan, Taylor Schilling, Nelson Franklin, Kerry Bishé, Kyle Chandler, Rory Cochrane, Christopher Denham, Clea DuVall, Victor Garber, Zeljko Ivanek, Richard Kind