Um movimento de revolução no Irã chega a seu auge em novembro de 1979. Os manifestantes alcançam a embaixada americana em Teerã e fazem 52 reféns. Seis estadunidenses, em meio ao caos, encontram uma maneira de fugir e se refugiam na casa do embaixador canadense. A CIA percebe que é apenas uma questão de tempo até que os seis sejam encontrados e assassinados e bola um plano arriscado para tira-los do país.
É esse, basicamente, o mote de ARGO (Argo, 2012), último longa metragem dirigido pelo eficiente Ben Affleck. Diferentemente dos dois primeiros, Affleck sai de sua vizinhança (Boston), e busca algo mais nesse filme ancorado em fatos reais. O plano arriscado de que fala a sinopse soa tão incrível e irreal que a forma como o diretor e os roteiristas Chris Terrio e Joshuah Bearman desenvolvem a história é digno de muitos elogios.
Tony Mendez (Affleck) decide usar do poderio de Hollywood e sugere a infiltração como uma produção de ficção de nome Argo. Os fugitivos se passariam pela equipe de produção, em visita ao país para conhecer possíveis locações. Mas, para que o plano dê certo, todo o processo de produção de um filme deve ser seguido: criação de produtora, storyboards, festas para o elenco e leitura do roteiro, etc. E é nessa hora que Affleck mostra sua eficiência, ao saber contrabalancear muito bem o aumento da tensão no Irã e o meticuloso planejamento em Los Angeles.
Quando o plano finalmente entra em execução, sabemos de cada passo e, dessa forma, cada contratempo é palpável para o público. A atuação corporal dos atores e atrizes, nesse ponto, torna-se crucial, já que nem tudo pode ser dito, e mais uma vez somos brindados com uma direção excepcional. Um escorregar de óculos pelo nariz, um olhar pela janela, um suspiro reprimido, tudo transcorre de forma orgânica e contribui em muito para a imersão no filme. Em determinado momento, em que um dos foragidos tem ressalvas quanto a ação, um simples abraço por parte de sua companheira já diz tudo: é nossa única chance!
O trabalho de fotografia (Rodrigo Prieto) é impecável, usando cores frias em tudo que ocorre com os personagens exilados na embaixada canadense (onde também ressalto o brilhante trabalho de figurino e caracterização do elenco) em oposição às cores quentes do oeste dos EUA. Affleck parece reconhecer sua limitação enquanto ator e em nenhum momento abandona a premissa de seu personagem, sério e analítico, mesmo ao evitar aprofundar-se no problema do mesmo com o álcool ou em sua relação conturbada com a mulher, algo abordado de forma rasa. A direção segura confere credibilidade ao filme, que não descamba para o ufanismo que muitas vezes assistimos em produções dos EUA e chega a mostrar um mea culpa da CIA com relação aos incidentes ocasionados por suas ações no Irã.
O elenco é ótimo, com muitos atores dessa nova safra da TV americana (Bryan Cranston, Kyle Chandler e Tate Donovan) e figuras carimbadas, como John Goodman e Aaron Sorkin. Aliás, esses dois últimos, vivendo o maquiador e o produtor que foram co-conspiradores na ação da inteligência americana, surgem como o alívio cômico, que em algumas vezes quebra a tensão, mas que, ainda assim, diverte. O filme é tão bem condizido que em seu clímax, único momento em que a equipe decidiu exagerar um pouco os fatos para gerar uma cena de impacto, o público já foi cativado e nada mais soa problemático: acreditamos que isso aconteceu realmente dessa forma!
ARGO é um dos grandes filmes de 2012. Merece ser conferido e aproveito para recomendar toda a filmografia, enquanto diretor, de Affleck (Medo da Verdade, 2007 e Atração Perigosa, 2010). É um bom diretor, que vem sendo cogitado para várias produções, dentre elas o aguardado (dado o sucesso de Os Vingadores) Liga da Justiça.
Argo (Argo - EUA , 2012 - 120 min. - Drama / Suspense)
Direção: Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio, Joshuah Bearman
Elenco: Ben Affleck, Alan Arkin, John Goodman, Bryan Cranston, Tate Donovan, Taylor Schilling, Nelson Franklin, Kerry Bishé, Kyle Chandler, Rory Cochrane, Christopher Denham, Clea DuVall, Victor Garber, Zeljko Ivanek, Richard Kind
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