Desde que o primeiro filme dos X-men, ainda em 2000, foi recebido tanto pela crítica quanto pelo público de forma positiva, cinema e quadrinhos tem caminhado lado a lado. HQs são criadas já pensando na transposição para as telonas e quase todo o panteão de heróis desenvolvidos tanto pela MARVEL quanto pela DC Comics acabam sendo aventados para uma possível nova adaptação. Homem-aranha foi um dos primeiros a fazer tamanho sucesso que conseguiu uma trilogia e agora, em 2012, teve um recomeço com O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA (The Amazing Spider-Man, 2012).
Muito se falou a respeito da necessidade ou não de um reinício, mas o fato é que ele aconteceu: a) por um motivo financeiro, pois a Sony Pictures nunca perderia um dos seus grandes produtos e b) por que o final da trilogia anterior deixou desgastado o diretor Sam Raimi, a ponto de este não retornar para a franquia. Dessa forma, vou me ater ao filme em si, deixando essa discussão para a mesa de bar.
A escolha de Marc Webb, do ótimo 500 Dias Com Ela, desde o seu anúncio pareceu acertada. A ideia do projeto era um enfoque mais voltado para a linha Ultimate, em que Peter ainda frequenta a escola e sua vida privada colide de forma constante com sua vida de vigilante, uma das coisas mais interessantes do aracnídeo. Além disso, a decisão de abandonar Mary Jane (pelo menos no início) e trazer Gwen Stacy como interesse amoroso do herói agradou a muitos, que preferem a loira à ruiva também nos quadrinhos (sem falar que ela é muito importante na linha Ultimate).
Peter Parker (Andrew Garfield) e Gwen Stacy (Emma Stone) tem em suas interações na escola um dos pontos altos do filme. Seja num elogio envergonhado ou em um convite sem jeito, os dois mostram seus lados nerds e frágeis e o real interesse de um pelo outro fica crível, desde a primeira vez em que aparecem. Gosto muito do trabalho de Tobey Maguire nos filmes de Raimi, mas acredito mais em Garfield como Peter, mesmo que o roteiro o traga um pouco mais amargurado do que de costume, reflexo (talvez) do sucesso da trilogia Batman, de Nolan, nos cinemas. Outros personagens, como Flash, foram melhor trabalhados, culminando em uma bela cena quando este conforta Peter após a morte de Tio Ben (sendo seguido na atitude por Gwen).
Mas espera aí: o tio Ben morre? Sim, ele morre... novamente. Talvez aqui resida um grande prolema (para mim) no roteiro: não há necessidade para mostrar essa passagem na vida de Peter. O outro filme ainda é muito recente. Talvez se ele já inicia-se o filme como Aranha ninguém reclamaria. A cena ficou bonita e, talvez, melhor do que no filme de Raimi, mas ainda assim soa repetitiva. Falando em roteiro, James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves são responsáveis pelo texto e, muitas vezes, quanto mais mãos retocam a história essa acaba sem uma identidade própria. Percebe-se claramente um roteiro que tem a dinâmica de uma HQ, com resoluções fáceis que, no papel, tem a suspensão de descrença favorecida. Mas estamos falando de cinema, e em tela, certas decisões soam imprecisas, como Gwen sendo uma estagiária com acesso a tudo na Oscorp ou a forma como Peter vai invadindo o local sem nenhuma segurança ou mesmo o fato de Gwen achar normal um garoto subir 20 andares (!) pela escada de incêndio para bater em sua janela... São vários pequenos detalhes que, no final das contas incomodam um pouco.
Os sucessos desse tipo de filme já evidenciaram que um grande vilão é muito importante no processo e, infelizmente, não é o caso dessa produção. O Lagarto é pouco desenvolvido. Não entendemos sua motivações e seu plano só não é pior do queo de Lex Luthor tentando lotear uma ilha de kriptonita. Além disso, seu design ficou desinteressante e em nenhum momento ele parece ser uma ameaça real ao cabeça de teia. A história de sua família, importante nas HQs, sequer é mencionada.
Falando em família, o roteiro aproveita bem o Capitão Stacy, policial e pai de Gwen, no enredo. Em determinado momento uma discussão entre ele e Peter mostra a ousadia do jovem contra o ceticismo do pai, tentando ensinar algo. Isso só acentua o impacto do sumiço dos pais de Peter quando este ainda era criança.
As cenas de ação são interessantes, em especial quando Peter vai procurar o vilão nas galerias subterrâneas de esgoto, entretanto não ousam. O primeiro trailer prometia cenas em primeira pessoa, algo que acontece em poucos segundos. O design do herói me agradou mais no que nos outros filmes. O perfil franzino do ator favoreceu para que os traços lembrassem os de Todd McFarlane, inclusive na elasticidade e nas poses que o herói adota. O fato de retomarem o lado cientista de Peter, com a invenção dos lançadores de teia, foi outro acerto da produção.
Enfim, é um filme irregular mas divertido, como uma boa sessão da tarde, que é capaz de te apresentar cenas inspiradas como quando Peter salva um garoto e observa a alegria do pai (rima narrativa com a falta que ele sente do seu) e outras despropositadas, como os guardas que são infectados para não mais aparecerem no filme. Assista e veja quais te cativam mais! Ah, quase me esqueci: esse filme possui a melhor participação de Stan Lee até agora!!!
O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man - EUA , 2012 - 136 min. - Ação / Aventura)
Direção: Marc Webb
Roteiro: Alvin Sargent, James Vanderbilt, Steve Kloves
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen, Sally Field, Irrfan Khan, Campbell Scott, Embeth Davidtz, Chris Zylka, Max Charles
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