sábado, 4 de fevereiro de 2012

O que é "Chronicle / Poder Sem Limites"?

Estreou nesta sexta-feira 3 de fevereiro nos EUA o filme "Poder Sem Limites" (Chronicle, 2012) distribuído pela Fox. O filme é do gênero "câmera documental" que se mostrou um bom chamariz de público (e até crítica) principalmente desde o independente "A Bruxa de Blair" de 1999, que custou 60 mil dólares e lucrou cerca de 250 milhões no mundo todo. Desde então o cinema busca contar uma história por esta câmera subjetiva, como o terror espanhol "REC" de 2007, que rendeu um remake americano; "Cloverfield - O Monstro" de 2008, e o filme independente que resultou na franquia "Atividade Paranormal" de 2007, que custou apenas 15 mil dólares e lucrou cerca de 200 milhões no mundo todo quando lançado em circuito comercial em 2009.

Pouco se sabia sobre "Poder Sem Limites", que teve um trailer bastante comentado que mostra 3 amigos que têm super poderes, e ficam filmando suas brincadeiras, mas que também revela um conflito violento cheio de efeitos especiais. A trama acompanha Andrew, um garoto com problemas em casa e na escola que compra uma câmera filmadora e decide filmar tudo, e que junto com mais dois amigos, após sair de uma festa e encontrarem um buraco com algo estranho, adquirem poderosas habilidades sobre-humanas. Andrew então usa seus poderes para conseguir a tão desejada popularidade na escola, mas as coisas começam a ficar descontroladas, e por fim erradas para ele, e revoltado resulta numa descontrolada batalha contra seus amigos e, ao que parece, a sociedade.

os 3 amigos nem tão super assim
Alguém aí lembrou de "com grandes poderes vêm grandes responsabilidades" do Tio Ben pro Peter "Homem Aranha" Parker? Pois acho que sim, o filme terá este elemento, mas se aproximará muito mais de outro ícone, "Akira", o definitivo longa de animação japonês que ajudou a definir conceitos de ficção científica e universo cyberpunk que filmes como "Matrix" e muitos animes utilizaram. A trama de "Akira", que vai virar uma superprodução hollywoodiana produzida por Leonardo DiCaprio em 2013, fala sobre um rebelde sequestrado por um orgão de paranormalidade do governo que faz experimentos com crianças prodígio, que após desenvolver super poderes, enlouquece e se torna uma ameaça global, do qual seu melhor amigo tentará conter. O trailer de "Poder Sem Limites" mostra Andrew descontrolado e com cara de mau, e uma garota gritando desesperada o nome do protagonista, assim como o nome Kaneda é gritado em vários momentos de "Akira".

Enquanto escrevia este post, encontrei uma entrevista que o diretor deu para o site Bloody Disgunting, assumindo a influência, e dizendo ser um grande fã do longa japonês. Infelizmente o vídeo está em inglês, mas a parte que fala de "Akira" é a parte final da entrevista, após ele dizer que não queria um filme de jovens triviais.


Esperamos que um filme interessante desse faça sucesso, e teremos alguns números das bilheterias americanas e canadenses já na segunda-feira, mas o brasileiros só poderão curtir o filme no dia 9 de março. Enquanto isso fique com o interessante trailer!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Direto da Telona: As Aventuras de Tintim

Provavelmente, em alguns anos, a Academia deverá criar um prêmio para distinguir uma categoria que vem crescendo em Hollywood – a de filmes feitos com captura de movimentos dos atores. Esse tipo de filme vem crescendo, aumentando o realismo das cenas, já que um ator as fez, e facilitando a vida os responsáveis pela animação, que pode usar o movimento dos atores para dar vida aos personagens, já que não precisará inventar a maneira de andar ou até mesmo os trejeitos.

Desde a trilogia “O Senhor dos Anéis” em que a personagem Gollum herdou os movimentos de Andy Serkis e a finalização de arte com os técnicos da empresa de Peter Jackson, a Weta Digital, discute-se na Academia se um ator que atuou para a captura de movimentos pode concorrer ao Oscar de Melhor Ator, afinal, houve atuação, mas a finalização não é do ator, e sim de um cara especializado em informática. Enfim, isso ainda renderá boas discussões até que se chegue a um veredito.

Tudo isso para falar que filmes com captura de movimentos são mais comuns a cada ano, e talvez tenha chegado ao seu ápice atual com “As Aventuras de Titntim – O Segredo do Licorne” (The Adventures of  Tintin, 2011) filme dirigido por Steven Spielberg com produção executiva de Peter Jackson.

O filme é baseado em duas obras do repórter aventureiro Tintim, criado pelo cartunista belga Hergé – O Caranguejo das Tenazes de Ouro e O Segredo do Licorne. As peripécias de Tintim ganharam forma a partir dos relatos que Hergé tinha acesso na época em que trabalhava no jornal Le XXe Siècle e nas próprias viagens que fez por alguns países da Europa. Hergé conheceu Spielberg meses antes de falecer e expressou sua preferência que se Tintim fosse parar no cinema, que fosse pelas mãos de Spielberg.

Os anos se passaram e Spielberg diz ter esperado o momento certo para trazer à tela grande a personagem que é admirada e lida por várias pessoas ao redor do mundo. É aquela velha história de que ainda não havia disponível uma tecnologia que fosse capaz de traduzir o que ia na mente do diretor. Pelo visto, valeu mesmo esperar.

Aliado às excelentes atuações de Jamie Bell (Tintim), Andy Serkis (Capitão Haddock) e de Daniel Craig (Rackham) e a perfeição da pós-produção do pessoal da Weta Digital, o filme parece estar ligado no 220V desde o início! Quase não há momentos em que o espectador fique sem momentos grandiosos e de intensa ação para assistir. O 3D do filme funciona muito bem, oferecendo uma sensação de realismo como que inserindo a plateia na tela. É claro que algumas das melhores e mais divertidas cenas ficam por conta do cachorro e fiel amigo de Tintim, Milu, e possivelmente se na plateia houver muitas mulheres, você ouvirá alguns “ahhhh” nas cenas em que o fox terrier banco aparecer.

O filme é divertido, ágil e empolga a cada dez minutos, com sequências de tirar o fôlego. A parceria Spielberg-Jackson, dois apaixonados pela obre de Hergé,  proporciona um dos melhores filmes das férias e que atende à todos os públicos.

Talvez você notará algumas cenas em que pensará – já vi isso antes! – e como não sou leitor das obras e me lembro vagamente dos desenhos que assistia na infância, não sei dizer se elas foram tiradas de alguns filmes ou se faziam parte das histórias originais. Mas você verá na abertura uma bonita sequência que lembrará Prenda-me se for Capaz, um encontro de navios que parece ter sido tirado de Piratas do Caribe – No Fim do Mundo, e uma perseguição de moto que lembra Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal.


Tomara que a fraca arrecadação nos Estados Unidos – após um mês em cartaz, o filme chegou a US$72 milhões – não atrapalhe os planos de uma possível sequência, pois o restante do mundo está sabendo apreciar o filme mais divertido de Spielberg desde Jurassic Park. Se for conferir nos cinemas, prefira a exibição da Sala Imax (no Shopping Bourbon Pompéia, a única em São Paulo), fará toda a diferença! 




quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Direto da Telona: Tomboy



"Tomboy" (França, 2011) começa com uma criança loura de cabelos curtos com aproximadamente 10 anos, de braços abertos, com árvores passando rapidamente ao fundo, sentindo o vento passar pelos seus dedos e cabelos aludindo a liberdade, que a sociedade fará questão de lembrá-la que não tem. Logo percebemos que ela está em pé no carro conversível, enquanto seu pai dirige rumo ao novo lar, onde a mãe grávida, e a irmã menor os esperam. Depois de conhecer a nova casa, a criança abraça a mãe, que diz "Gostou do seu quarto? É azul como você pediu". Mas logo o tédio de ficar dentro do apartamento enquanto a irmã pequena brinca de coisas bobas, o pai trabalha fora, e a mãe fica de resguardo bate, e a criança vai pra rua depois de ver um grupo de garotos se organizando pra brincar. Quando desce, não os encontra mais, mas conhece a bela e divertida Lisa, de mesma idade, que pergunta seu nome, e olhando para os ladosno responde "Michaël".

Até aí temos um típico e simpático filme mostrando uma criança se descobrindo e crescendo, mas "Tomboy" é mais que isso. Quando volta pro apartamento, essa criança vai tomar banho com a irmã de 6 anos, até que depois de um bom tempo na água a mãe aparece pra tirar a caçula da banheira e diz "Laure, saia também". E sem pudores, a criança se levanta nua e mostra um corpo feminino em transformação.

Lisa e Laure flertam sob uma mentira?
Acostumados a tratar temas delicados no cinema com certa naturalidade, os países de língua francesa, e principalmente a França mostram toda a filosofia de temas que poderiam soar cínicos em lugares como os EUA. Tomboy é gíria em inglês para definir meninas que parecem meninos, e só por isso o filme de alguma forma perde um pouco sua característica, já demoram alguns bons minutos pro público descobrir que a criança é uma menina, que claramente está querendo se passar por menino.

O filme lembra em alguns aspectos o belga vencedor do Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro em 1998 "Minha Vida em Cor de Rosa", que mostra um garoto de 7 anos que gosta de se vestir de mulher, mas mostrado por um viés mais cômico, mas se aproxima mais da maturidade do argentino "XXY" sobre um adolescente hermafrodita que sofre de seus pais a pressão da escolha. Só que diferentemente do filme argentino, "Tomboy" não fica focado nas reações dos pais ou mesmo da sociedade, pois é Laure quem acompanhamos o tempo todo, e o roteiro não usa a trama pra criticar a sociedade ou um indivíduo falando apenas de preconceito, deixando claro que "cada um é cada um", o no final o que importa é o que você é pra você mesmo e para aqueles que ama. Laure e, aparentemente sua família, não tem problemas por seu jeito de menino, é algo veladamente assumido, mas todos sabemos das consequências de enganar os outros. Sem a menor trilha sonora instrumental, há cenas de poucos diálogos e algum desconforto que você pode prever uma explosão da menina, mas ela não parece estar se martirizando com a pressão da mentira.
A caçula Jeanne e Laure brincando
A diretora Céline Sciamma, que já tocou no tema gay em "Lírios D'água" de 2007, tem um pouco da leveza dos Irmãos Dardenne, que ganharam notoriedade mundial desde o premiado  "A Criança", e já disse em entrevistas que o filme só foi possível por ter encontrado Zoé Héran, a intérprete de Laure, que atua com seriedade sem jamais deixar de ser criança. Mas muito do charme do filme também reside na intérprete da irmã mais nova de Laure, a atriz-mirim Malonn Lévana, que usa a própria inocência pra surpreender e, indo mais longe, criticar a audiência. Altamente indicado, o filme está restrito ao circuito de cinema de arte, mas abre o circuito em 2012 com chave de ouro, deixando claro que o que importa é o que você acha de si próprio.