sábado, 25 de dezembro de 2010

O verdadeiro Senhor dos Dragões!


“Esta é Berk. Fica doze dias ao norte do desânimo e alguns graus ao sul de morrendo de frio. Ela é enraizada no meridiano da tristeza. Minha aldeia. Em uma palavra: sólida. Ela existe há sete gerações, mas todas as casas são novinhas em folha. Temos pesca, caça e um pôr-do-sol encantador. O único problema são as pragas. Sabe, os lugares costumam ter ratos ou mosquitos... nós temos DRAGÕES!”

Com essas palavras começa a animação que me fez escrever hoje, dia de natal, este post: Como Treinar O Seu Dragão (2010). Há algum tempo o Homem dos Dados me recomendou este filme, falando muito bem sobre o mesmo. Após assisti-lo, pude entender o porquê.

A história gira em torno de um jovem Viking que aspira enfrentar dragões, mas que acaba encontrando seu melhor amigo em um deles. Nada de novo aqui. A novidade é a forma simples e sensível com que a DreamWorks conseguiu tratar assuntos como amizade e respeito mútuo. Interessa a jornada do garoto, a forma como ele entende o mundo, as pessoas, os dragões. Os diálogos diretos e o ritmo do filme conseguem prender a atenção tanto de crianças quanto de adultos.

Em certo momento do filme, uma das personagens pergunta a Soluço, o protagonista, por que ele não matara o dragão na primeira vez em que o vira. Ele responde: “Eu não podia matá-lo porque ele estava tão assustado quanto eu. Quando eu olhei para ele, eu vi a mim mesmo”.

Tecnicamente bonito, com uma bela paleta de cores tanto nas cenas diurnas quando nas noturnas/sombrias, um roteiro bem amarrado, um belo trabalho na trilha sonora, é uma ótima pedida para este natal. Assistir em Blu-ray em um aparelho Full HD só realça mais a beleza do desenho. Pena que não assisti no cinema, em 3D. Fiquei imaginando a sensação em diversas cenas. Ele foge do usual “jogar coisas no espectador”. As cenas de vôo impressionam.

Recomendação máxima.

É uma aventura Viking... e ser Viking, por si só, é um risco ocupacional...


sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Aventura começa NEON e termina BLASÉ


Antevéspera de natal e a Liga de Poltrona se reuniu para assistir ao filme TRON: o Legado (2010) em 3D, na única sala IMAX de SP. O filme muito prometia, com seus belos trailers e promessas de efeitos visuais maneiríssimos, mas - como todo bom cinéfilo - sempre esperamos um pouco mais. Maldita expectativa!

O filme começa alguns anos depois do fim do primeiro. Flynn (Jeff Bridges) agora tem um filho, perdeu a esposa e enfrenta problemas na empresa, junto ao seu conselho. Acaba por desaparecer e, 20 anos depois, seu filho Sam (Garrett Hedlund) consegue adentrar A Grade, buscando por seu pai desaparecido.

As homenagens ao original estão presentes em todo o filme, seja através de cenas semelhantes às do primeiro, seja por meio de diálogos. Muitos personagens aparecem ou são mencionados e os veículos virtuais só passaram por um banho de modernidade, mas são, essencialmente, os mesmos. Os efeitos visuais, em especial os que geraram CLU, a imagem de Jeff Bridges mais novo, impressionam. A fotografia, detalhada e neon, no entanto se torna cansativa depois de algum tempo. O 3D não se justifica, sendo quase inócuo na maioria das cenas.

O roteiro é confuso, envolvendo um entra-e-sai de personagens que não são bem explicados e nem bem resolvidos. Algumas cenas são desnecessárias e alguns diálogos, risíveis. Outras cenas, de luta e perseguição, acabam ficando difíceis de acompanhar dada a grande quantidade de cortes. Talvez o fato de ter um diretor oriundo de comerciais tenha sido determinante para que a sensação ao final da projeção seja um pouco blasé. Eu, particularmente, gostei mais da corrida de Light Cycles do primeiro filme do que da deste.

Quando escrevi o primeiro post, sobre o primeiro filme, elogiei a originalidade que, curiosamente, falta a essa continuação. Por alguns momentos me peguei pensando se não assistia a Matrix: Reloaded, dada a semelhança de algumas situações. Existe até um Pseudo-Merovingian chamado Zuze no filme.

A trilha sonora é ótima, mas em alguns momentos soa um pouco exagerada (acho que mais por problemas com as cenas do que com a música em si). Exageros à parte no excesso de tempo de tela, é mais do que justa a homenagem feita ao Daft Punk. Os dois aparecem devidamente fardados com seus capacetes e controlando a festa.

Enfim, não é um dos melhores filmes do ano. Aliás, passa longe da lista dos dez ou vinte melhores. Pode funcionar para quem procura somente diversão nesse verão. Mas não espere mais do que isso. A odisséia iniciada no primeiro encontra final abrupto nesse segundo.


quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O Facebook aproxima... ou não!

O filme A Rede Social (2010) me ganhou em duas cenas. Nelas encontramos o protagonista, Mark Zuckerberg, conversando com duas garotas diferentes. São momentos diferentes em sua vida. Os ambientes - um barulhento e lotado e o outro vazio e silencioso - não poderiam ser mais diferentes. Mas a constatação das duas é a mesma: estão diante de um gênio que faz de tudo para não ser querido.

O esmero com que o diretor constrói ao longo de duas horas, através de alguns pontos de vista distintos, diversas interpretações de mundo é extremamente instigante/frustrante. Instigante porque nos faz refletir sobre nossas próprias opções e possibilidades de lidar com o nosso mundo; frustrante porque não podemos gritar aos personagens, avisando quando eles estão tomando um caminho equivocado.

Vemos o “NERD” (vivido magistralmente por Jesse Eisenberg) que toma sob sua tutela criar algo grandioso, sem se importar, no início, com relação ao dinheiro. Por seus olhos o mundo é algo cinza, e somente quando cria algo se sente completo; Temos o amigo que enxerga uma oportunidade de lucrar junto a outro, o melhor dos panoramas, mas logo se sente na obrigação de mostrar ao mesmo a inocência de suas escolhas, tomando para si o poder de decidir; e ainda dois gêmeos que se sentem lesados e lutam de qualquer forma para recuperar algo que julgam ser deles.

David Fincher, com maestria, nos coloca diante do dilema dos dias atuais: ouvimos o que nos dizem ou o que queremos ouvir? Vemos o que as pessoas fazem ou somente aquilo que nos afeta? Você está realmente prestando atenção? Ironicamente, Mark cria uma ferramenta que busca facilitar a possibilidade das pessoas se conhecerem, mas acaba se afastando daquele que considerava seu (talvez único) amigo.

Um capítulo à parte, a trilha sonora faz o que se espera desse instrumento em um filme: ajuda o espectador a sentir melhor as emoções presentes em cada cena. Na cena dos créditos iniciais, quando Mark corre pela faculdade, a música nos convida a adentrar aquele mundo junto a ele, iniciando um processo de imersão que acompanha todo o filme.

Antes de assistir ao filme, eu já havia lido o livro Bilionários Por Acaso, que conta a mesma história (confira o post: http://ligadapoltrona.blogspot.com/2010/12/direto-da-prateleira-bilionarios-por.html). No livro, a minha sensação era a de isenção do autor, quanto a julgar quem é certo é quem é errado na história. Ele deixava claro que ocorreram erros de ambos os lados, e gerou em mim o seguinte questionamento: Quem somos nós para julgar? No filme, de forma sutil, o diretor dá sinais de ter sim pendido para um dos lados, mas não impõe essa opção à audiência. Para mim, o filme só destacou mais uma vez que o criador do Facebook teve suas falhas, sim, mas que ele (como todos nós) é vítima de um mundo em que a solidão física tenta afogar suas mágoas na abundância de amigos virtuais.

O polegar continua apontando para cima: ótimo filme, ótimo diretor, ótima discussão.


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

TRON: A Odisséia começa...


Desde que foi anunciado o projeto TRON: Legacy, a luz vermelha de déjà vu se acendeu em minha mente. Lembrava de ter assistido a algo desse tipo anos atrás, quando ainda era bem novo. Mas as lembranças não eram muito claras e, para poder saborear melhor essa nova produção da Disney Studios, resolvi assistir a TRON: uma Odisséia Eletrônica (1982) e devo dizer que gostei muito do que vi (contrariando as minhas próprias previsões, rs).

O que mais me surpreendeu foi a história do filme, bem estruturada e, considerando quando foi feita, realmente à frente do seu tempo. Matrix e tantos outros a que assisti nos últimos anos perderam um pouco no quesito originalidade.

Kevin Flynn (Jeff Bridges) é um jovem engenheiro de Softwares que trabalha para uma grande corporação chamada ENCOM, mas acaba sendo passado para trás por um dos chefões. Kevin decide invadir o servidor da ENCOM com a ajuda de dois amigos, mas acaba transportado para o mundo virtual da MCP (cérebro do sistema) e precisa ajudar os programas a se libertarem da tirania da mesma, enquanto procura provas da traição que sofreu.

Mas e os efeitos especiais? Óbvio que se comparados com as possibilidades de hoje são fracos. Mas, colocando-os na perspectiva certa, eles funcionam muito bem e significaram o primeiro passo para o que assistimos hoje. As atuações não são lá essas coisas, mas nada que atrapalhe na diversão. A corrida de Light Cycles é muito bem feita e transmite bem o desafio dos competidores.

Como ainda não assisti ao novo filme, ficarei devendo comentários sobre o mesmo, que virão na segunda parte desse post. Mas já posso comentar algo: a trilha sonora feita pelo duo francês Daft Punk, que estou escutando enquanto escrevo. Torço para que o filme esteja à altura, porque uma vez que você escuta essa trilha, não consegue parar. Muito boa mesmo.

Bom, por enquanto é isso. Recomendo tanto o filme (com a mente aberta, hein...) quanto a trilha sonora.


Hanna, a pequena assassina

Saoirse foi indicada ao Oscar aos 13 anos.




O diretor Joe Wright dirigiu dramas de época clássicos ("Orgulho e Preconceito", "Desejo e Reparação"), e ficou contemporâneo ("O Solista"), mas agora ele vai além de seus limites, e provavelmente gostaremos!
Saiu o trailer de seu misterioso e complicado novo trabalho. "Hanna" é sobre uma garotinha de 14 anos, interpretada pela sensacional Saoirse Ronan ("Desejo e Reparação", "Um olhar do paraíso", "Cidade das sombras"), que é criada pelo pai vivido por Eric Bana ("Hulk", "Tróia") para se tornar uma máquina mortífera. Alguma semelhança com "Kick Ass"? Talvez. Aqui a história começa no Leste Europeu, envolve a CIA, a menina passa pelos dramas da adolescência e ainda precisa matar e lutar para viver uma vida de liberdade.
A trilha sonora está sendo composta pelo duo do Chemical Brothers, e o filme ainda tem no elenco Cate Blanchett e Olivia Williams.
Com uma ambientação bastante interessante, que quase nada lembra um produto hollywoodiano, o filme estréia no Brasil dia 13 de maio.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Teatro: Bárbara Paz é o Inferno

Hell (Bárbara Paz) deve fumar uns
 15 cigarros ao longo do espetáculo
O diretor de cinema Hector Babenco (Carandiru, O Passado, O beijo da mulher aranha) estava totalmente parado há mais de dois anos, porque segundo ele "cansou de passar o chapéu, tudo é subvencionado pelo governo como se fosse merenda cultural", e casado com a atriz Bárbara Paz redescobriu o teatro, uma vez que ela lhe apresentou ao polêmico romance "Hell: Paris 75016", ele o adaptou para os palcos com a ajuda de Marco Antônio Braz.
Fui assistir a peça com certa expectativa em torno da atriz Bárbara Paz, 35 anos. Atriz e modelo gaúcha, ela ganhou notoriedade ao participar do reality show "Casa dos Artistas" no SBT, e ficar com o cantor Supla. Ao sair do programa protagonizou duas novelas na emissora, todas adaptações de dramalhões mexicanos. Mas o que me chamava a atenção era sua dedicação ao teatro, sempre tinha algo com ela nos palcos, e nunca algo que parecia pouco desafiador. Por este motivo ela chegou a Rede Globo pela porta da frente, convidada pelos diretores e autores, pra viver o papel de uma jovem problemática que se alimentava de álcool na novela "Viver a vida", e estará na nova novela das sete de Walcyr Carrasco.
"Eu sou uma putinha. Daquelas mais insuportáveis, da pior espécie. Meu credo: 'Seja bela e consumista". É assim que começa a peça, baseada no livro de Lolita Pille, que escreveu o livro semi auto-biográfico, sobre jovens ricos, fúteis, drogados, consumistas e que fazem sexo como quem troca de roupa. Tudo o que Hell, a protagonista, quer é arrumar um marido pra continuar a pagar as contas que seu pai banca, mas eis que em meio a tantas baladas ela se apaixona pela pior espécie de homem, Andrea, tão rico e podre quanto ela. Assim como o livro, a peça não poupa a platéia, e tudo o que precisa ser dito, é dito. E assim temos um retrato cruel da juventude atual, seja em Paris, São Paulo ou Morro do Alemão. Curioso foi sair do Teatro do Sesi, na Av. Paulista e dar de cara com duas garotas muito bem vestidas, fumando, e com todo um ar da Hell. A peça não mentiu...
Esta é a primeira adaptação do livro para os palcos feita no mundo, mas não deverá ser por muito tempo. Hector Babenco usa e abusa do talento da esposa pra fazer com que Hell, como num monólogo, nos conte tudo, e se transforme no palco conforme o texto avança. Usa pra isso alguns artifícios, como muitos jogos interessantes de luz e muitas trocas de roupa. Mas só peca ao colocar Andrea no palco, vivido pelo belo e inexpressivo Ricardo Tozzi. O personagem é frio, mas o ator também entrega uma atuação mecânica, que contrasta demais com a de Bárbara, e que não me convenceu de que Hell tenha se apaixonado por ele.
Não se sabe se a peça volta em 2011 pra nova temporada, mas ainda vai se ouvir bastante sobre esta elegante adaptação teatral.