quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Vale Assistir: CARTAS PARA JULIETA


William Shakespeare, poeta e dramaturgo, é um dos maiores expoentes da arte inglesa. Responsável por uma das frases mais conhecidas da dramaturgia (To be or not to be: that's the question! - HAMLET), criou a história romântica de todos os tempos: Romeu e Julieta. Nela, narra a vida de dois jovens italianos, filhos de famílias rivais, que se apaixonam e, devido às desventuras familiares, acabam em um final trágico. O autor já nos informa no prólogo que os dois irão sucumbir ao final da trama. Com isso, Shakespeare nos mostra que, em histórias como essa, nem sempre é um problema saber o final, desde que o desenvolvimento do romance seja satisfatório.


Muitas vezes, exigir mais de um filme do que o próprio se propõe pode influenciar na experiência. O gênero comédia-romântica se caracteriza por um encontro fortuito, por complicações para que o relacionamento ocorra e a sua resolução, invariavelmente positiva. Em alguns casos - 500 Dias Com Ela - alguma inventividade de roteiro ou de direção modifica um pouco a fórmula. Mas não há problema com a estrutura, desde que seja bem executada.

Em CARTAS PARA JULIETA (Letters to Juliet, 2010), a dupla de roteiristas Jose Rivera/Tim Sullivan e o diretor Gary Winick partem de uma premissa muito interessante: em uma viagem a Verona, cidade de Romeu e Julieta, Sophia (Amanda Seyfried) é deixada de lado por seu noivo (Gael García Bernal) e visita um muro, onde mulheres contam (através de cartas) para Julieta suas histórias românticas e esperam por sua resposta, com um bom conselho. Lá ela se depara com a história de Claire (Vanessa Redgrave), uma inglesa que nunca teve a sua resposta. Sophia resolve desfazer esse erro e dá início a uma "aventura na Toscana", passando a acompanhar a busca de Claire por seu antigo amor. É claro que Claire tem um neto. E o resto, você já pode imaginar.

Mas é interessante a forma como os clichês surgem na tela. Em uma manobra inteligente, o filme usa a história de Shakespeare como fonte inspiradora e, nos faz a seguinte pergunta: você quer um final diferente ou, simplesmente, assistir como que este(s) romance(s) aconteceram? E, em alguns momentos, o próprio neto de Claire se mostra incrédulo diante de algumas situações, verbalizando comentários do tipo: "é isso mesmo que está acontecendo?"

Não se levando a sério, o filme deixa o espectador livre para aproveitar as belas paisagens da Toscana, muito bem enquadradas e retratadas, resultando em uma belíssima fotografia. O filme, que ganha (em determinado momento) contornos de um road-movie, é bem executado e colhe os frutos por ter apostados em duas grandes atrizes para os papéis centrais. Amanda Seyfried, filme após filme, confirma ser uma das melhores e mais expressivas atrizes da atualidade. Segura, sabe conferir à personagem tanto força e competência (na busca de seus objetivos profissionais) ao mesmo tempo em que possui ingenuidade e fragilidade (na relação com o noivo e Claire). Seus belos olhos transmitem emoções muito melhor do que palavras. Vanessa Redgrave demonstra a insegurança de alguém que desenterra o seu passado, tudo de forma orgânica.

Essas duas ótimas atuações destoam das demais, fato que parece recair sobre a direção do filme. O fato do elenco masculino estar aquém (inclusive Bernal, no piloto automático) aponta para um diretor que, talvez, não consiga exigir o melhor de seu elenco. Lembra um pouco o outro trabalho do diretor (De repente 30), onde o elenco feminino também sobrepõe o elenco masculino.

Mesmo assim, o filme, enquanto comédia-romântica, funciona. Belo, é daqueles que te convidam a viajar pelo Velho Continente. Melhor ainda se estiver bem acompanhado. Bom, essa é uma boa ideia também para assistir ao próprio filme. Boa diversão!

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

TV: O Brado Retumbante - O Presidente Acidental

Em tempos em que até no Jornal Nacional ouvimos notícia sobre o suposto estupro dentro do Big Brother Brasil, o conceito dos reality shows (programas de realidade) fica entre a dúvida do scritpt e o que isso agrega à sociedade. O que sabemos até agora é que o público gosta de acompanhar a intimidade alheia. E que tal um reality show sobre política?

"O Brado Retumbante" é uma minissérie em 8 episódios que estreou ontem (dia 17) na Globo, justamente após o BBB, e mostra os bastidores de Brasília. Escrita por Euclydes Marinho, com colaboração de Nelson Motta, Denise Bandeira e Guilherme Fiuza, a trama esbanja referências reais disfarçadas de ficção.
Os atores principais

"O Presidente Acidental", primeiro episódio, começa com políticos de diversas esferas se reunindo para escolher um 'laranja' com pouco poder para se tornar presidente da Câmara. Começar por uma cena que mostra políticos nessa intimidade que só conhecemos por escândalos de câmeras escondidas já mostra o que veremos por todos os episódios. Paulo Ventura, interpretado com vigor e técnica pela revelação Domingos Montagner, é o deputado federal escolhido como 'laranja'. O que vemos depois é que Paulo tem ética correndo por suas veias, e muitos problemas pessoais. Ele tem perigosos casos extraconjugais, vive uma crise com a esposa Vitória vivida com segurança por Maria Fernanda Cândido, um problema sério a resolver com o filho transexual, e descontrole no uso do álcool.

A cantora baiana Alinne Rosa vive uma das amantes
Então o presidente e vice-presidente da República fazem uma viagem de helicóptero até a Bacia de Campos, e desaparecem. O presidente da Câmara então repentinamente se torna o Presidente da República, e pretende fazer uma faxina na política do país. Claro que a política é pano de fundo pra jornada de Paulo Ventura, e será que seu brado retumbante, será mais retumbante que o dos vilões?

Repleta de diálogos espertos, como quando uma repórter pergunta pra Vitória se ela continuará a dar aulas agora que é Primeira Dama, e ela responde que Primeira Dama não é profissão, também vemos uma Brasília fantasiosa (mas nem tanto) quando descobrimos que existe o Ministério da Criança, Ministério do Adolescente, Ministério da Pesca Naval, Ministério da Igualdade Racial, Ministério da Diversidade Racial, etc. O embate político de fato começa num banheiro onde o agora Presidente Paulo Ventura deixa claro para o ministro da Justiça Floriano Pedreira (um interessante José Wilker) que pretende acabar com a farra deles.
Já vimos isso, não?

Um dos detalhes que afastam a minissérie da realidade, e ainda ajudam a equipe a economizar na replicação de lugares, é que a sede do governo está no Rio de Janeiro. Com isso o Palácio do Governo ganha uma sala presidencial com dramáticas janelas viradas pra Baía de Guanabara.

Dirigido por Gustavo Fernandez, com direção de núcleo de Ricardo Waddington, os mesmos que fizeram "A Cura", a fotografia cinematográfica, a câmera subjetiva e as cenas longas ajudam a compor uma minissérie cheia de atitude que ainda está começando.

Games: Angry Birds ou Como os Pássaros Nervosos Dominaram o Mundo


Quem nunca ouviu falar de "Angry Birds" provavelmente não tem um smartphone e não costuma jogar jogos casuais no computador ou videogame. Lançado para o iPhone em dezembro de 2009, o quebra-cabeça de ação se tornou uma febre instantânea, e desde então 12 milhões de cópias foram baixadas na Apple App Store. E a partir daí, a quase falida finlandesa Rovio Mobile, que já tinha 51 jogos de pouca expressão, expandiu o jogo para quase todas as plataformas imagináveis o transformando num fenômeno mundial e hoje conta com uma equipe de mais 150 funcionários.

O sucesso do jogo se deve à sua jogabilidade viciante, estilo de desenho animado e preço baixo (para iPhone o jogo custa 0,99 dólares). Os jogadores controlam um grupo de pássaros de várias cores e funções que precisam recuperar seus ovos roubados por famintos porcos verdes. Em cada uma das 63 telas (níveis) iniciais espalhadas por capítulos, os porcos estão protegidos (ou cercados) por estruturas feitas de vários materiais, e o objetivo é eliminar todos os porcos lançando os pássaros usando lógica e técnica nas estruturas e inimigos. Devido a jogabilidade baseada na física (comum em jogos touchscreen), onde você bate na estrutura com o pássaro e espera que ela desmorone (ou não) derrotando (ou não) os porcos, são horas de jogo e muitos replays.
Em 2009 a Rovio começou a estudar propostas para futuros games, e o designer de games senior da empresa Jaakko Iisalo, que costuma começar projetos apenas os desenhando, havia feito uma arte conceitual com os pássaros de aparência irritada sem asas e pernas para um certo jogo, mas a pequena equipe de 9 pessoas gostou tanto que decidiram usar aqueles personagens no único jogo que de fato iriam desenvolver. Pesquisaram então que tipo de jogo as pessoas estavam jogando, e encontraram jogos em flash como Crush The Castle (que tem versões móveis, mas que você pode conferir e jogar pela internet clicando aqui), que consiste em destruir castelos e seus nobres moradores jogando pedras e poções através de uma catapulta. Logo a equipe percebeu que os pássaros precisavam ter raiva de algo, e no auge da crise da gripe suína, decidiram que seriam irônicos porcos verdes, visualmente parecidos. Um dos ideais dos desenvolvedores era de que qualquer um poderia jogar sem tutoriais, que de qualquer forma estão lá, por isso resolveram que os pássaros seriam lançados por um estilingue, que todo mundo sabe pra quê serve. Mas devido a isso, nem todos os jogadores sabem das diferentes utilidades de cada cor de pássaro, o que geralmente não atrapalha.

O primeiro desafio da empresa após o sucesso no iPhone foi levar o jogo para a plataforma Android do Google, presente em diversos aparelhos de configurações díspares. A empresa de alguma forma ajudou a fomentar a briga tecnológica entre os defensores do IOS e os do Android, ao anunciar que devido a requerimentos mínimos ao menos 30 aparelhos da época, inclusive novos, não rodariam o jogo. Um mês depois do lançamento, a Rovio desenvolveu um versão mais simples do jogo para estes aparelhos. E num pensamento parecido com o de Steve Jobs da Apple, ela defende o desenvolvimento no IOS pelo fato dos desenvolvedores não terem que fazer diversas versões para diversos aparelhos. Mas o sucesso fez a empresa engolir o orgulho e fazer versões e mais versões para vários sistemas operacionais, navegadores e até redes sociais. Você pode jogá-lo online através do navegador Chrome clicando aqui.

Angry Birds Magic
O jogo jamais ganhou ou deverá ganhar uma continuação, pois a cada atualização ganha novos episódios e ferramentas, mas a empresa lançou em outubro de 2010 Angry Birds Halloween, que no natal do mesmo ano se transformou em Angry Birds Seasons, um jogo independente com episódios baseados em datas comemorativas, e em março de 2011 baseado no longa animado "Rio" da Fox lançaram Angry Birds Rio com apenas dois capítulos baseados em cenas do filme como um material promocional, mas baixado mais de 10 milhões de vezes ganhou 4 capítulos extras nas atualizações. Em 2011, a Rovio deu o primeiro passo para o jogo ficar multiplayer com Angry Birds Magic, exclusivo para aparelhos Nokia que usem a tecnologia de comunicação por aproximação.

Em novembro, Henk Rogers, atual responsável pela série Tetris, que agora está sob a tutela da Electronic Arts, disse que Angry Birds não passa de "modinha", e que a popularidade do jogo se deve a seus personagens, que logo perderão o apelo. Segundo ele, Tetris está no mercado há 25 anos sobrepujando jogos como este, e que além de ter deixado de ser "modinha" há muito tempo, hoje é considerado um esporte. Talvez seja inveja dos números: apenas no dia de Natal, 6.8 milhões de smartphones começaram a funcionar no mundo, e 6.5 milhões de pessoas baixaram Angry Birds em seus aparelhos. Não se sabe se todos os downloads foram de aparelhos novos, mas já são mais de meio bilhão de downloads do jogo em todas as plataformas, e mais de 1 milhão de dólares em faturamento mensal, num custo inicial de pouco mais de 100 mil Euros.

brinquedo pela Mattel
Tanto sucesso fez a empresa abrir uma loja virtual, vendendo todo tipo de traquitana baseada nos pássaros e fazer um acordo com a Mattel para uma linha de brinquedos que já são vendidas no Brasil. Os personagens devem ganhar um filme em 2014, e antes uma série animada que o canal Nickelodeon pode vir a exibir, já que exibiu no Natal um curta metragem:



E se tudo não fosse o suficiente, um parque na China abriu uma área não-oficial com brinquedos baseados no jogo, inclusive com estilingues, que anda fazendo muito sucesso. A empresa não se manifestou sobre este parque em específico, mas já fechou acordo com uma gigante dos parques de diversão da Europa pra licenciar parques temáticos dos personagens. Os primeiros parques serão inaugurados na Finlândia, depois no Reino Unido.

Depois de se tornar piada em Os Simpsons, e do jogo ter ganhado uma versão ao vivo em Barcelona como campanha da empresa de telefonia T-Mobile, fica difícil achar que o jogo seja apenas "modinha". Talvez não seja eterno, mas apenas inesquecível pra cultura pop.





segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Globo de Ouro 2012 pela Liga

Não adianta achar que esta temporada de premiações estadunidenses vai surpreender. Elas estão todas situadas em Hollywood, nos Estados Unidos, e apesar dos prêmios do Globo de Ouro serem dados há 69 anos pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood, eles irão premiar filmes que de alguma forma representem algo para a sociedade americana, e o que aquela indústria representa.

Na noite deste domingo o mundo assistiu mais um tapete vermelho repleto de moda, astros, estrelas, revelações, aspirantes, bons e maus atores. O caminho percorrido por estas pessoas culminou dentro do salão onde todos temiam pelo anfitrião: o ator inglês Ricky Gervais. Apresentando a premiação pela terceira vez, o ator chamou a atenção no ano passado ao fazer uma apresentação repleta de piadas de gosto duvidoso sobre os presentes, como você pode conferir no post do ano passado aqui. Este ano ele começou pegando uma lista e lendo as coisas que não poderia dizer, entre elas Mel Gibson e seu filme Um Novo Despertar dirigido por Jodie Foster, que segundo ele ninguém assistiu, mas que deveria ser bom. Ao chamar Johnny Depp, que foi apresentar o filme "A Invenção de Hugo Cabret", perguntou se ele havia assistido "O Turista", filme estrelado por Depp e Angelina Jolie destruído pela crítica e público que causou polêmica na premiação do ano passado ao ser indicado a melhor filme, sob a suspeita dos votantes terem sido comprados pela Sony com uma viagem para Las Vegas.

O anfitrião, que subiu ao palco acompanhado de uma copo em vários momentos, não fez qualquer piada com o politizado George Clooney, ator que tenta manter bem distantes sua carreira e sua vida pessoal. Mas o próprio Clooney, provavelmente pra não passar como mal humorado, fez piadas com uma bengala e o amigo Brad Pitt, que apesar de presente está machucado. Também disse que chamaria ao palco a "rainha do pop", e pediu para que Elton John não se levantasse pois estava falando de Madonna, a quem chamou de quase "like a virgin". Madonna também se divertiu ao chegar ao microfone e dizer que "se estou quase como uma virgem, venha aqui e faça alguma coisa. Faz um tempo que não beijo outra garota˜. Igualmente bem humorados foram Antonio Banderas e Salma Hayek, que recitaram um poema em espanhol após o anfitrião dizer que os dois parecem legais, apesar dele não ter entendido uma palavra da conversa com os dois. Provavelmente desavisados, Colin Firth não retrucou as piadas do conterrâneo, e Natalie Portman deu um sorriso sem graça quando subiu ao palco após o anfitrião anunciar que a atriz não recebeu nenhuma indicação neste ano porque, apesar de saber que é um erro, preferiu cuidar da família à carreira.

Os atores coadjuvantes em filme para cinema deste ano foram o veterano Christopher Plummer por Toda Forma de Amor (Beginners), e Octavia Spencer pela empregada negra que luta contra a segregação em Histórias Cruzadas (The Help); já os coadjuvantes em série, filme ou minissérie para tv foram o anão Peter Dinklage pela série "Guerra dos Tronos" da HBO, e a várias vezes premiada Jessica Lange por "American Horror Story", série criada por Ryan Murphy ("Glee"). Os melhores atores por filme ou minissérie para tv foram Kate Winslet pela mini "Mildred Pierce" da HBO, e Idris Elba por "Luther" da BBC. A melhor minissérie ou filme para tv ficou para britânica "Downton Abbey", que já está indo para sua terceira temporada de 7 episódios cada.

As melhores séries do ano são o drama "Homeland" do Showtime, que também premiou sua protagonista Claire Danes como melhor atriz dramática, que volta às telinhas como uma oficial da CIA instável que precisa investigar um soldado que volta do Iraque 8 anos após ser dado como desaparecido. O prêmio de melhor ator dramático ficou para Kelsey Grammer, ator conhecido pela comédia "Frasier", por seu forte trabalho como um prefeito de Chicago que descobre ter uma doença degenerativa em "Boss". A melhor comédia ficou novamente com "Modern Family", o melhor ator de comédia foi para o retorno do Joey de "Friends" por "Episodes" do Showtime, e a melhor atriz comediante foi Laura Dern pela (já não mais) quase cancelada dramédia "Enlightened" da HBO.

O melhor longa de animação do ano ficou para o altamente tecnológico "As Aventuras de Tintim", dirigido por Steven Spielberg, produzido por Peter Jackson com tecnologia de James Cameron. O melhor filme estrangeiro ficou surpreendentemente para o iraniano "A Separação", que desbancou o belga "O Garoto da Bicicleta" e o espanhol "A Pele que Habito". O melhor roteiro do ano foi para Woody Allen e seu "Meia Noite em Paris". A melhor trilha sonora foi para Ludovic Bource por "O Artista", que pediu desculpas por só falar francês, e arriscou poucas palavras em inglês. Madonna subiu ao palco pra agradecer o prêmio de melhor canção por "Masterpiece" do romance histórico dirigido por ela mesma "W.E.", e lembrou que não tinha a desculpa de só falar francês.

O melhor filme de comédia ou musical ficou para o mudo franco-americano "O Artista", que homenageia clássicos como "Cantando na Chuva", e que também deu a seu protagonista (francês, como também lembrado por ele) Jean Dujardin o prêmio de melhor ator, e até o cachorrinho do filme subiu ao palco.  Anunciado por Kate Beckinsale e Seth Rogen, que disse estar excitado pela colega, a melhor atriz por musical ou comédia é Michelle Williams por sua delicada e impressionante interpretação de Marilyn Monroe em "Sete Dias com Marilyn", e a atriz que sempre ameaça abandonar o cinema agradeceu sua filha com Heath Ledger. O melhor filme dramático ficou com "Os Descendentes" de Alexander Payne, pelo qual George Clooney, que ganhou o prêmio de melhor ator dramático, viaja com as filhas pra unir a família depois que sua esposa entra em coma após um acidente. Clooney não foi zuado por Gervais, mas disse que Michael Fassbender, que concorria por "Shame", pegou todas as cenas de nu frontal que ele poderia ter feito, e que o ator (que aparece totalmente nu no filme) pode jogar golfe sem as mãos apenas balançando o corpo. A melhor atriz dramática foi Meryl Streep e sua poderosa interpretação da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher em "A Dama de Ferro". A atriz até tentou fazer piada, mas desistiu ao perceber não ter talento (!) para isso.

O melhor diretor do ano é quase que por unanimidade da crítica Martin Scorsese pelo filme-família "A Invenção de Hugo Cabret". E a honra do Prêmio Cecil B.DeMille pela carreira foi dado a Morgan Freeman, pelas mãos da lenda Sidney Poitier e de Helen Mirren.

Pra terminar a noite, o anfitrião desejou que todos gostem dos brindes que irão receber durante a festa. Porque entre mortos e feridos, digo vencedores e perdedores, sobram-se os caros brindes que eles recebem.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Direto da Telona: A Hora da Escuridão

Filmes de sobrevivência em grupo tendem a ser problemáticos quando se apoiam demais em seus personagens, que geralmente são bastante estereotipados em um mesmo padrão de comportamento. Sem contar o fator de eliminação desses personagens, que pouco surpreende o público. E quando o perigo iminente é invisível, imaginário ou desconhecido, as coisas tendem a ficar ainda piores, e a rejeição do público é quase imediata.

Produzido por Timur Bekmambetov de O Procurado, "A Hora da Escuridão" (The Darkest Hour, 2011) é um filme de sobrevivência em grupo onde o inimigo é praticamente invisível. Ou seja, altamente problemático. No filme, dois amigos (os sempre ótimos Emile Hirsch e Max Minghella, respectivamente de Na Natureza Selvagem e Ágora) sócio-fundadores num site de relacionamento por geolocalização vão para Moscou tentar ganhar investidores numa clara alusão ao filme A Rede Social (onde um está preocupado com os negócios, e o outro parece só querer curtir). No retrato que o filme faz de uma Rússia em crescimento econômico à qualquer custo, os amigos são enganados por um executivo sueco que trabalha no país. Num bar, encontram duas turistas americanas (Olivia Thirlby e Rachael Taylor, respectivamente de Juno Transformers), e então após um apagão eletroeletrônico estranhas bolhas de luz invadem Moscou (e todo o planeta), e ao ficarem invisíveis se revelam incineradoras de seres vivos, e em conclusão um inevitável ataque alienígena. A única coisa que resta para eles é descobrir como identificar a presença dos seres, e se esconder.
arte conceitual oficial feita pelo brasileiro da HQ ˜Vampiro Americano"

O público sabe que não há pra onde fugir, apesar dos personagens buscarem este lugar, mas que em algum lugar alguém está se abrigando em segurança, e que será pra essa direção que o filme irá. O filme também erra ao dar poucos motivos pra gostar (ou não) dos personagens, ignorando desde o princípio o passado deles. Chega a incomodar quando um dos personagens fala emocionado sobre a infância (que nos era desconhecido)com alguém que acaba de morrer, pelo qual o público teve no máximo alguma empatia por conta de seu intérprete. Muito se disse sobre jovens atores talentosos terem aceitado o projeto, mas deve-se levar em conta que todos precisam de um arrasa-quarteirãol, e a idéia de uma invasão alienígena invisível poderia render um bom filme.

Eu pessoalmente me interesso por filmes com inimigos invisíveis, como eu já deixei claro com Fim dos Tempos aqui. Eles poderiam sempre render tensas cenas de suspense, mas infelizmente eles geralmente erram por ser apenas uma contenção de despesa quando com efeitos visuais. O diretor Chris Gorak, geralmente afeito aos bastidores de grandes produções erra feio nessa economia de orçamento em todas as cenas (com cortes e fechamentos de cenas bem amadores), principalmente nas rápidas sequências de suspense, e nem mesmo consegue sustentar o título A Hora da Escuridão, já que o contraste entre luz e sombra do filme é nulo, e todas as principais cenas acontecem à luz do Sol. Nem mesmo o 3D ajuda, e só vale pela última tomada, com nuvens sob a cidade.

Só nos resta mesmo contemplar esta curiosa Moscou capitalista em meio ao caos do fim do mundo.