Depois de vê-los juntos e em O Segredo de Brokeback Mountain, que apesar de não os apresentar como casal principal, tinham uma ótima química, Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway voltam a formar parceria nesse filme difícil de classificar seu gênero, Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs, USA, 2010).
Gyllenhaal é Jamie Randall, um cara inteligente que abandona a faculdade de medicina pra mostrar ao pai que tem controle sobre sua vida e torna-se vendedor de produtos eletrônicos em um magazine do ramo. A sequencia inical que nos mostra a facilidade de Jamie se relacionar, por ter ter um grande carisma é bem vibrante e hilária. Também ficamos sabendo que se trata de um "casanova", que alia o bonitinho e ordinário com boa lábia e consegue facilmente conquistar e se envolver com qualquer mulher.
Justamente um desses envolvimentos, acabam lhe custando o emprego e novamente o rapaz inteligente está sem emprego "de respeito" conforme dita sua familia.
Seu irmão Josh (Josh Gad), um nerd que ganhou muito dinheiro com ações de empresas de tecnologia, mas um fracasso total com as mulheres (e garante algumas risadas), o oposto do irmão bonitão, arruma um emprego para o Jamie como representante de vendas no ramo farmacêutico, na toda poderosa Pfizer.
Uma nova ótima sequencia se põe na tela, com o super treinamento da gigante farmacêutica. Frases motivacionais, técnicas para falar rapidamente aos médicos sempre apressados, sobre as vantagens de receitar aos seus pacientes drogas produzidas pela Pfizer, as estatísticas que provam que os produtos Pfizer são melhores e mais eficientes. E dessa forma, um espectador mais atento, notará na verdade que por trás das piadas, está uma crítica a indústria farmacêutica interessada apenas no lucro de bilhões de dólares anuais e em que o bem estar do paciente ocupa um lugar bem menos importante.
É nesse momento que o filme dá uma guinada, pois até então, imagina-se que a película irá tratar da guerra das indústrias farmacêuticas, que desejam mais e mais pessoas dependentes de suas drogas para continuar aumentando suas vendas. Jamie, tentando achar meios de aumentar sua cota, tem ajuda de um médico de quem quer conquistar a confiança (Hank Azaria, de Godzilla), e assiste uma consulta da paciente Maggie Murdock (Anne Hathaway) e fica interessado na paciente que tem diagnostico precoce de Parkinson.
O tom continua de comédia, pois os dois entram num acordo de terem um relacionamento baseado apenas no sexo casual, rendendo situações engraçadas, até que o que era casual, torna-se importante e necessário para ambos. O filme ainda reserva boas piadas por conta do lançamento da droga que revolucionou a vida sexual de muita gente: Viagra. O "bonachão" Jamie, torna-se o representante da droga e as vendas acontecem sem esforço. Depois de mais algum tempo, o filme toma uma nova roupagem e se veste de sério. Mostra as dificuldades de se relacionar com uma pessoa portadora dessa doença. O tema da guerra entre as indústrias farmacêuticas, que vinha sendo abordado até então, é substituído pela busca de uma solução para o problema, o inconformismo com a aceitação de conviver com um mal que não tem cura.
Quase próximo do fim, o filme tenta jogar na tela um pouco de otimismo e chegamos a um final morno, mas que não é de todo ruim.
A qualidade desse filme, está talvez justamente no que muitos poderão pensar ser vulgar: a nudez. Com exceção de alguns filmes franceses, a nudez em Amor e Outras Drogas está teatral, tranquila e em harmonia com o momento. Os protagonistas estão confortáveis com a situação e não ficam o tempo todo tentando se esconder. Não espere ver nu frontal, mas a nudez foi trabalhada de modo a ser algo natural, sem ofender, como deve ser entre duas pessoas que se amam.
Por outro lado, o filme decepciona um pouco e chega a deixar a quem assiste confuso, justamente por não definir se será uma crítica a indústria farmacêutica, assim como Obrigado por Fumar o foi para a indústria do tabaco (o filme é baseado no livro Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman), ou se será um exemplo para como tratar os portadores de Parkinson ou se será um comédia romântica água com açúcar. Por isso no início do post disse ser difícil classificar o filme.
De qualquer modo, Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway ficaram ótimos juntos e é sempre bom ver bons atores em papéis que parecem descompromissados, mas mesmo assim, dando show de interpretação. Por isso, digo que vale a pena conferir.