sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Direto da Telona: Amor e Outras Drogas

Depois de vê-los juntos e em O Segredo de Brokeback Mountain, que apesar de não os apresentar como casal principal, tinham uma ótima química, Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway voltam a formar parceria nesse filme difícil de classificar seu gênero, Amor e Outras Drogas (Love and Other Drugs, USA, 2010).

Gyllenhaal é Jamie Randall, um cara inteligente que abandona a faculdade de medicina pra mostrar ao pai que tem controle sobre sua vida e torna-se vendedor de produtos eletrônicos em um magazine do ramo. A sequencia inical que nos mostra a facilidade de Jamie se relacionar, por ter ter um grande carisma é bem vibrante e hilária. Também ficamos sabendo que se trata de um "casanova", que alia o bonitinho e ordinário com boa lábia e consegue facilmente conquistar e se envolver com qualquer mulher.

Justamente um desses envolvimentos, acabam lhe custando o emprego e novamente o rapaz inteligente está sem emprego "de respeito" conforme dita sua familia.
Seu irmão Josh (Josh Gad), um nerd que ganhou muito dinheiro com ações de empresas de tecnologia, mas um fracasso total com as mulheres (e garante algumas risadas), o oposto do irmão bonitão, arruma um emprego para o Jamie como representante de vendas no ramo farmacêutico, na toda poderosa Pfizer

Uma nova ótima sequencia se põe na tela, com o super treinamento da gigante farmacêutica. Frases motivacionais, técnicas para falar rapidamente aos médicos sempre apressados, sobre as vantagens de receitar aos seus pacientes drogas produzidas pela Pfizer, as estatísticas que provam que os produtos Pfizer são melhores e mais eficientes. E dessa forma, um espectador mais atento, notará na verdade que por trás das piadas, está uma crítica a indústria farmacêutica interessada apenas no lucro de bilhões de dólares anuais e em que o bem estar do paciente ocupa um lugar bem menos importante.

É nesse momento que o filme dá uma guinada, pois até então, imagina-se que a película irá tratar da guerra das indústrias farmacêuticas, que desejam mais e mais pessoas dependentes de suas drogas para continuar aumentando suas vendas. Jamie, tentando achar meios de aumentar sua cota, tem ajuda de um médico de quem quer conquistar a confiança (Hank Azaria, de Godzilla), e assiste uma consulta da paciente Maggie Murdock (Anne Hathaway) e fica interessado na paciente que tem diagnostico precoce de Parkinson.

O tom continua de comédia, pois os dois entram num acordo de terem um relacionamento baseado apenas no sexo casual, rendendo situações engraçadas, até que o que era casual, torna-se importante e necessário para ambos. O filme ainda reserva boas piadas por conta do lançamento da droga que revolucionou a vida sexual de muita gente: Viagra. O "bonachão" Jamie, torna-se o representante da droga e as vendas acontecem sem esforço. Depois de mais algum tempo, o filme toma uma nova roupagem e se veste de sério. Mostra as dificuldades de se relacionar com uma pessoa portadora dessa doença. O tema da guerra entre as indústrias farmacêuticas, que vinha sendo abordado até então, é substituído pela busca de uma solução para o problema, o inconformismo com a aceitação de conviver com um mal que não tem cura.

Quase próximo do fim, o filme tenta jogar na tela um pouco de otimismo e chegamos a um final morno, mas que não é de todo ruim.

A qualidade desse filme, está talvez justamente no que muitos poderão pensar ser vulgar: a nudez. Com exceção de alguns filmes franceses, a nudez em Amor e Outras Drogas está teatral, tranquila e em harmonia com o momento. Os protagonistas estão confortáveis com a situação e não ficam o tempo todo tentando se esconder. Não espere ver nu frontal, mas a nudez foi trabalhada de modo a ser algo natural, sem ofender, como deve ser entre duas pessoas que se amam.

Por outro lado, o filme decepciona um pouco e chega a deixar a quem assiste confuso, justamente por não definir se será uma crítica a indústria farmacêutica, assim como Obrigado por Fumar o foi para a indústria do tabaco (o filme é baseado no livro Hard Sell: The Evolution of a Viagra Salesman), ou se será um exemplo para como tratar os portadores de Parkinson ou se será um comédia romântica água com açúcar. Por isso no início do post disse ser difícil classificar o filme.

De qualquer modo, Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway ficaram ótimos juntos e é sempre bom ver bons atores em papéis que parecem descompromissados, mas mesmo assim, dando show de interpretação. Por isso, digo que vale a pena conferir.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O retorno dos "Gatos do Trovão"


Quem foi criança nos idos dos anos 80 e nunca ouviu falar de Thundercats definitivamente não teve infância. Talvez um dos melhores desenhos já produzidos, o cartoon contava a história dos sobreviventes do planeta Thundera, destruído logo no primeiro episódio. A nobreza de Thundera, os Thundercats, são perseguidos por seus maiores inimigos, os mutantes de Plun-Darr, que querem a todo custo por suas mãos na Espada Justiceira, que tem o Olho de Thundera incrustado em si. E, sim, ela dá a visão além do alcance. Os felinos caem no Terceiro Mundo, onde se estabalecem e passam a enfrentar, além dos mutantes, uma nova ameaça: Mumm-Ra, o de vida eterna.

A história se desenrolou ao longo de 4 temporadas, sempre trazendo ótimas histórias e personagens. As atitudes, os poderes, o porte de Lion-O, Panthro, Tygra, Cheetara, WilyKat, WilyKit inspiravam todas as brincadeiras em vários pátios de diversos prédios espalhados pelo mundo. A inocência e "covardia" de Snarf eram cômicas e cativantes. A malvadeza atrapalhada de Escamoso, Chacal, Simiano e Abutre contrastavam com a mente doentia de Mumm-Ra. Quem conseguia piscar quando o ser decrépito começava a entoar o bom e velho "Antigos espíritos do mal, transformem esta forma decadente em MUMM-RA! Que tem vida eteeeeeeeeerna!"? Eu não...



Pois bem. Eles estão de volta. Ou melhor, estão se preparando para retornar. A produção, a cargo de Michael Jelenic, está em desenvolvimento e deve estrear em 2011. Mas as primeiras imagens foram divulgadas. E a ansiedade chegou junto. A promessa do produtor é simplificar a mitologia, mas não deixar de lado o dinamismo da produção dos anos 80. Na primeira imagem oficial percebe-se que os traços, bem como as cores dos personagens, continuam semelhantes ao original. Um bom banho de modernidade, mas nada que assuste.

Eu, particularmente, gostei do que vi. É difícil opinar somente em cima de imagens, mas fica a vontade de rever personagens que tanto povoaram a minha infância. Agora é só esperar pelo momento em que Lion-O voltará a empunhar a Espada Justiceira e gritar:

THUNDER - THUNDER - THUNDERCATS HOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Rio e os Estereótipos


Ao co-dirigir o primeiro A Era do Gelo, o brasileiro Carlos Saldanha chamou a atenção da Fox e do estúdio de animação Blue Sky por ter criado o personagem mais  emblemático da série, o esquilo Scrat. Também autor de efeitos visuais do filme Clube da Luta, na época que o estúdio fazia trabalhos de efeitos visuais, não demorou pra ele ser promovido a diretor de A Era do Gelo 2, e chegando ao ápice técnico e narrativo em A Era do Gelo 3D. Pois agora em 2011 ele pôde realizar seu sonho, e fazer um projeto todo seu, uma homenagem ao Brasil no longa metragem de animação Rio.

Mas tem muita gente aqui no mundo virtual questionando se o longa é benéfico ou depreciativo ao nosso país e talvez principalmente ao nosso orgulho próprio. Por questões óbvias o filme precisa mostrar certos estereótipos para deixar bem claro no imaginário do espectador se passa no Brasil, então pelo trailer podemos ver mulheres "popozudas" em biquinis, macacos que roubam coisas, Carnaval, samba, praia e até maracas (que nem tem tanto a ver com Brasil).

Mas a questão é se isto realmente é importante. Não acredito que o diretor tenha concebido um filme que faça uma imagem negativa do país. Pelo contrário! Esse lance de nos ofendermos com estereótipos talvez seja coisa de gente estereótipada. Em todo o mundo há povos estereótipados, mesmo no cinemão americano você os vê estereotipando certas regiões, e eles não se sentem ofendidos por isto, afinal faz parte da cultura de cada região. Nós realmente temos lindas mulheres de biquini, temos muitas praias incríveis e lotadas, temos macacos (e todo macaco é ladrão, ou melhor dizendo, curioso) assim como países da América do Norte têm ursos, temos samba de qualidade e de nem tanta qualidade, temos Carnaval, pássaros, alegria e acho que só não temos maracas. Enfim, isto faz parte de nossa cultura, e seria interessante aceitarmos ela, porque ela não vai se tornar uma cultura estadounidense só porque não queremos ser estereotipados de qualquer forma.

O filme em si tem tudo pra ser um sucesso. A dona da arara azul Blu (com voz de Jesse Eisenberg de A Rede Social) descobre que ele é uma espécie em extinção e resolve levá-lo de Minnesota para o Rio de Janeiro pra acasalar com Jewel (voz de Anne Hathaway de O Diabo Veste Prada), também de sua espécie. Mas atrapalhado, e sem saber voar, ele e Jewel partem para uma aventura de descoberta da cidade maravilhosa e deles mesmos. E há cenas engraçadas, divertidas e românticas de montão. E um dos pontos fortes é a trilha sonora instrumental assinada por John Powell, que tem assinado a trilha da maioria das animações dos últimos anos, mas com a ajuda de Sergio Mendes, que compôs até músicas de carnaval e chamou o amigo Will.i.am do Black Eyed Peas (que dubla um personagem no filme) pra cantar alguma coisa. Rodrigo Santoro dubla um ornitologista na versão original. O filme estreia no Brasil dia 8 de abril, logo depois no resto do mundo, mas o lançamento mundial, quando começam as divulgações mais intensas será em março no Rio de Janeiro. O filme foi produzido em assossiação com a Fox do Brasil e O2 Filmes de Fernando Meirelles.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Direto da Telona: Deixe-me Entrar

Em 2008, o escritor sueco John Ajvide Lindqvist roteirizou seu próprio livro "Låt den rätte komma in" para que o diretor Tomas Alfredson o transformasse no filme de vampiros mais forte e cult dos anos 2000. Sim, Deixe Ela Entrar (Let The Right One In) foi exibido com sucesso na Mostra de SP, e ficou meses em cartaz numa sala da cidade, e não se compara a cinessérie Crepúsculo em quase nada, a não ser no fato de falar sobre vampiros, e é mesmo um filme excelente. Mas Hollywood achou que  o filme não era perfeito, principalmente por ser falado em sueco, e resolver manter a  tradição de refilmar cults estrangeiros que tenham vocação para sucessos comerciais.

Assim surgiu o remake Deixe-me Entrar dirigido por Matt Reeves (Cloverfield - O Monstro), que fez pouquíssimas mudanças no roteiro, mas suficientes para dar personalidade própria. Assim o diretor levou a trama para os EUA dos anos 80 do presidente Ronald Reagan, mas mantém a neve que gela o coração no primeiro. O filme conta a história de Owen (Oskar no original sueco) vivido pelo ótimo Kodi Smit-McPhee, um menino solitário de 13 anos que sofre um bullying violento na escola, e é quase ignorado pelos pais que estão se separando, até que ele conhece a nova e estranha vizinha Abby (Eli no original sueco) vivida pela sensacional Chloe Grace Moretz (Kick Ass, 500 Dias Com Ela), garota de mesma idade, que anda descalça na neve e quer evitar a amizade iminente entre os dois. O que ele ainda não sabe é que o pai da garota (o excelente Richard Jenkins de Queime depois de Ler, Comer Rezar Amar e indicado ao Oscar de melhor ator por O Visitante) é um serial killer que leva o sangue das vítimas para a garota se alimentar, já que ela é uma vampira.

Abby e Owen num momento de afeto
A amizade dos dois só aumenta, assim como a tensão do filme em cima dos ataques sofridos por Owen, os assassinatos cometidos pelo pai de Abby, e alguns momentos em que a garota não controla seus instintos. A personagem Abby é tudo o que o público espera de uma vampira e não viu na saga Crepúsculo, ela age como um animal quando está com fome, e o filme mostra isto de forma brutal. Chega a ser um choque ver dois atores mirins fazendo papéis tão densos e violentos de forma tão competente, e em cenas graficamente sangrentas e brutais. Esta é uma enorme virtude deste remake estadunidense, já que na versão original o diretor não contou todos os detalhes da trama e dos personagens com medo de assustar os atores, e fez com que eles atuassem sem saber a verdadeira brutalidade que envolviam seus papéis. Mas se no campo das interpretações o remake já ganha pontos, nos aspectos técnicos ele fica ainda melhor. A trilha sonora de Michael Giacchino (colaborador habitual de seus colegas de faculdade Matt Reeves e JJ Abrams) é uma das melhores num longa de horror que tem como tema principal a amizade entre duas crianças. E a direção de Matt Reeves mostra que o sucesso de Cloverfield não foi um acidente, e que sua vasta experiência com séries de tv não o impedem de experimentar as possibilidades da tela grande, pois aqui ele e o diretor de fotografia Greg Fraser melhoram cada cena com ângulos curiosos, foco/desfoco e criam em imagens o clima perfeito para o filme. No campo das mudanças no roteiro ele também acerta, pois não muda nada do ótimo envolvimento dos protagonistas, mas cria uma situação muito menos redundante e tecnicamente mais difícil de filmar para um importante momento de um dos personagens secundários, e usa exatamente isso pra tirar a linearidade da trama. E o que pra mim mais agradou foi tirar todo o humor voluntário ou involuntário que o filme original tinha, dando unidade ao horror. Isso deixou todas as cenas mais tensas, inclusive a famosa e angustiante cena da piscina, que ficou ainda mais imperdível.
Eli e Oskar no original sueco


O remake custou apenas 5 milhões de dólares, se pagou com folga, mas não teve a prioridade do estúdio pra ser tornar um grande sucesso, mantendo assim para esta versão o aspecto de cult que o original sueco tem. Sinceramente acabei gostando mais do remake, o que é uma raridade em se tratando de cinema. O escritor americano Stephen King, conhecido por seus clássicos de horror como "O Iluminado", "Christine - O Carro Assassino", "Colheita Maldita" entre muitos outros bestsellers, faz todos os anos uma lista dos melhores filmes que viu e escolheu este Deixe-me Entrar como o melhor filme de 2010, segundo ele "o melhor filme de horror da década". E se o autor mais famoso de livros de horror dos últimos 35 anos diz que um filme de horror é bom, é porque deve ser.