sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O MELHOR DRAMA DA TV: HOMELAND


Carrie Mathison é uma agente da CIA que ouve de um de seus informantes que o inimigo número 1 dos EUA, Abu Nazir (uma espécie de Bin Laden), converteu um soldado americano. Alguns meses se passam e, em uma missão, Nicholas Brody é resgatado. Sargento da Marinha, ele é encontrado em um dos antigos esconderijos de Abu Nazir. Não demora muito para que Carrie ligue os pontos e tenha uma certeza: Brody é o soldado convertido!

Estrelada por Claire Danes (Romeu + Julieta) e Damian Lewis (o Major Winters de Band of Brothers), respectivamente Carrie e Brody, HOMELAND surgiu como a melhor série da Fall Season americana. Produzida pelo canal Showtime, a série pode ser descrita como um ótimo drama e um thriller que te prende à poltrona.

Considerando o panorama americano pós 11/09, a personagem de Carrie é uma metáfora clara do Tio Sam. Não mede esforços para executar o seu trabalho e não vê limites na tentativa de provar o envolvimento de Brody em algum iminente atentado. Escutas ilegais, mentiras, pânico e teorias da conspiração surgindo a todo instante. Alguma semelhança com a caça às bruxas iniciada por Bush?

Claire Danes desfila sua capacidade como atriz. É impressionante o senso de urgência e ansiedade que a atuação transfere ao telespectador. Da mesma forma, saber que ela possui algum transtorno de humor, que gera uma dependência em um remédio tarja preta, a humaniza e nos faz questionar se ela deveria fazer parte da CIA e ter acesso aos dados que tem. Danes tem uma postura cansada, de uma pessoa que carrega o mundo nas costas. A forma como se veste e a pouca preocupação com a sua figura reforçam a construção da personagem. Ponto para a atriz e para a produção!

Brody também é um personagem muito complexo. A experiência em Band of Brothers parece ter facilitado as coisas para Lewis ao montar a personalidade do sargento, assustado com algumas coisas, mas muito seguro quanto a outras. É interessante ver como os roteiristas sabem "brincar" com isso, o fazendo flertar com os dois extremos possíveis: sim, ele é um terrorista; não, ele só ficou traumatizado pela guerra que travou. É um verdadeiro jogo de gato e rato, onde precisamos, além de tudo, decidir quem é o felino e quem é o roedor.

Não é de se admirar que a série tenha ganhado o Globo de Ouro de melhor drama e que Claire Danes tenha abocanhado o prêmio de melhor atriz. Sendo executada de forma competente e sendo guiada pela imprevisibilidade, seus 12 episódios - que compõem a primeira temporada - merecem ser conferidos. A série veio ocupar o lugar da finalizada 24 horas, sendo menos urgente que essa, mas tratando de alguns temas recorrentes nos dias de Jack Bauer: o voyerismo das agências de segurança americanas, bem como as manipulações, mentiras e dilemas envolvidos em cada operação militar.

Como diz o cartaz promocional, no início do post:
A NAÇÃO VÊ UM HERÓI; ELA VÊ UMA AMEAÇA.

E você, o que verá?

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

NAS BANCAS: HELLBLAZER - PASSAGENS SOMBRIAS


Ao ver Pedro Bial todas as noites saudar os "heróis da nave Big Brother", fica a certeza de que não havia momento mais oportuno para a Panini Comics lançar no Brasil a HQ HellBlazer: Passagens Sombrias (HellBlazer: Dark Entries, 2010). Fruto de um projeto da Vertigo de lançar histórias policiais (Vertigo Crime), essa talvez tenha sido a única a utilizar um personagem já famoso: John Constantine.

O mago inglês - criado por um trio encabeçado por Alan Moore e que teve sua primeira aparição na Graphic Novel Swamp Thing - é um mestre do ocultismo, executando exorcismos e "salvando pessoas", sempre de uma forma negligente e arrogante. Seu ambiente é o sobrenatural, enfrentando demônios e monstros, contando com o taxista Chas, com quem invariavelmente discute. Chegou a enganar o próprio Lúcifer, se livrando através deste de um câncer nos pulmões. Essa história, inclusive, foi mote para a adaptação aos cinemas. É um bom filme, mas foi muito criticado pelos fãs pelas "liberdades criativas" dos envolvidos (Keanu Reeves vive o anti-herói, que no gibi se parece fisicamente com o Sting e não é nem um pouco americano; o nome foi alterado para Constantine, para que não confundissem com Hellraiser...).

Em Passagens Sombrias, John é convocado por um produtor para investigar acontecimentos estranhos em um reality show(!). O mote do programa e colocar pessoas em uma casa e assustá-las até que uma encontre a saída. Entretanto, os sustos que tem acontecido não são fruto dos efeitos especiais da produção. Será a casa mal assombrada?

Tudo isso nos é explicado em poucas páginas da HQ. O roteirista Ian Rankin demonstra um timing correto e pacing coerente com o local onde tudo acontece. Sua experiência como escritor de romances policiais se faz evidente na forma como ele gasta o tempo correto com cada um dos seis concorrentes dentro da casa, permitindo que criemos vínculos (pelos mais variados motivos) com cada um deles. É difícil falar mais sem correr o risco de estragar as surpresas da trama.

A arte em preto-e-branco de Werther Dell'edera deixa um pouco a desejar. Ela não possui personalidade própria, flertando com o visual mangá em vários momentos. Hoje em dia, os grandes artistas de quadrinhos sabem utilizar bem o espaço que possuem. Não são só as personagens que contam, mas o ambiente também. E esse merece ser melhor retratado, algo que senti falta nessa HQ. Tudo bem que o cenário é, basicamente, o mesmo (a casa), mas um pouco mais de cuidado ajudaria no resultado final. A falta de cores não atrapalha, ajudando no tom seco e ágil da história. Fica a impressão de que a Panini também pensou assim, trazendo a HQ no formado pocket, em clara evidência de que o roteiro conta mais que a arte.

A leitura é rápida e divertida. Lembra em muito o desenrolar de um reality show: lento e explorativo no início; veloz e urgente do meio para a frente. Constantine está um pouco menos amargo e mais prestativo do que o habitual. Quem conhece o inglês talvez estranhe um pouco. Entretanto, é o final que surge como o seu calcanhar de Aquiles, um pouco apressado demais. Talvez se tivessem gastado um pouco mais de tempo com ele teríamos um final mais interessante. Mas nada que interfira na diversão.

O selo Vertigo, da DC Comics, sempre busca trazer novidades, fora do circuito dos super-heróis usuais. Recomendo a leitura deste e de muitos outros títulos desta. É uma forma "to think outside the box", como dizem os americanos. Fica a dica!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Direto da Telona: Precisamos Falar Sobre o Kevin

Como sempre, toda obra literária sofre alterações quando transposta para a telona. É inevitável. Com o livro de Lionel Shriver, Precisamos Falar Sobre o Kevin (We Need to Talk About Kevin) não foi diferente. Sobraram elogios e críticas, pelo que parece, na mesma proporção.

O filme da escocesa Lynne Ramsay, que divide o roteiro com Rory Kinnear, mantém o nome do livro, Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011), e se destaca por trazer ao elenco o nome de peso de Tilda Swinton, no papel principal como Eva. Tilda está maravilhosa no papel que lhe rendeu 17 indicações ao premio de melhor atriz em diversos festivais e associações como o SAG (Screen Actors Guild Awards), o BAFTA e ao Globo de Ouro.

Falar sobre esse filme terá dois desafios: não fazer comparação com o livro, que infelizmente não li, e escrever de maneira que não atrapalhe sua experiência de assisti-lo. Quanto menos informações você tiver, melhor. Mas vamos lá.

A cena inicial é extremamente simbólica pois vemos Eva feliz e solta num festival em que os bons costumes coletivo e santidade do alimento ficam de lado. Em seguida, vemos o contraste de uma Eva que parece se arrastar pela vida, sempre com um olhar de interrogação parecendo querer compreender algo.

Ficamos chocados com a indiferença, violência e desprezo com que essa mulher é tratada por todos que cruzam seu caminho. A partir daí, em flashbacks bem posicionados, vamos montando essa colcha de retalhos para entender afinal porque essa mulher que teria motivos suficientes para se entregar e não querer mais viver, se agarra a insistência de viver.

Onde foi que errei?
Vemos que sua vida é transformada depois de uma noite despreocupada de amor com Franklin (o sempre bom ator John C. Reilly) vem ao mundo o pequeno Kevin, uma criança que parece aborrecer a mãe e que por sua vez, parece sentir o desprezo da mãe, pois chora sem parar. Ficará na sua memória também a cena em que Eva sai de casa com o filho chorando e para ao lado de uma britadeira, o único som capaz de suplantar o choro do filho. Misturando o presente e o passado, acompanhamos essa relação tensa entre mãe e filho. De um lado, uma mulher que demonstra carregar a culpa do mundo em seus ombros e do outro, uma mãe que gostaria de não estar nessa posição, mas que se esforça para desempenhar o papel da melhor maneira possível.

O título que sugere uma conversa urgente com o pai sobre esse Kevin que mostra uma personalidade para a mãe e outra totalmente diferente para  pai, é urgente e você é levado a pensar que ela ocorrerá a qualquer momento. Mas a situação do filho tende a piorar a cada quadro avançado.

Seria esse o olhar do mal?
Eva só demonstra um certo conforto no papel de mãe quando nasce a pequena Celia (Ashley Gerasimovich), que sofre na língua afiada do irmão. Nesse período, o abismo entre mãe e filho parece intransponível e o cinismo de Kevin no tratamento com um pai permissivo é de assustar. O trabalho da diretora com a forte marcação de cores e olhares, revela-nos um Kevin (otimamente interpretado por Ezra Miller na adolescência) perturbado e incomodado com todos ao seu redor. Essa situação, levará o garoto à cometer atos que colocará inúmeros questionamentos sobre a trajetória da mãe, e se até mesmo uma inocente história contada de maneira singela por ela, fornecera subsídios para que o filho chegasse ao extremo da maldade.

Apesar de todos os fatos, de tantas as perguntas, vemos que no final, à duras penas, Eva entende que o papel de mãe vai além de amamentar e prover uma boa escola ou roupas de marcas. Talvez nem seja esse o intuito do livro ou do filme - passar qualquer tipo de lição ou moral, mas com certeza você sairá como se tivesse levado um soco no estômago, daqueles que nos fazem lembrar da dor por alguns dias!

O trailer abaixo, não entrega muito da história, por isso recomendo! Confira!