O nome de Mark Millar é muito conhecido entre os leitores de quadrinhos. Entre os seus trabalhos, incluindo aí quase todas as grandes editoras, ele coleciona muitos sucessos. Responsável pelo arco GUERRA CIVIL (fantástico!), da Marvel, e por diversas contribuições na DC Comics (incluindo o selo Vertigo), na Wildstorm (The Authority), Top Cow (Witchblade), sua influência nos quadrinhos acabou levando-o ao próximo patamar: as adaptações para o cinema.
Começou com O PROCURADO (arte de J. G. Jones), que tinha uma premissa interessante (um loser total na vida acaba por se descobrir filho de um grande assassino, e muda para o lado negro da força), mas não passou de promessa. A HQ, muito fraca, vendeu seu mote para o cinema e rendeu um bom filme que, para os produtores de Hollywood acendeu outra luz: a do lucro!
Seguindo nesse caminho, o passo seguinte foi a, novamente autoral, KICK-ASS. Tendo a arte de John Romita Jr. e uma história para lá de desafiadora e polêmica (garoto decide ser um herói na vida real), vingou como uma ótima HQ e um dos melhores filmes dos últimos anos, conquistando público e crítica e alavancando Mathew Vaughn ao hall de diretores promessa (que está se confirmando, filme após filme).
Em seguida veio NEMESIS, matéria desse post. Como dizia o própria capa inicial (acima, no início do post) a ideia era fazer o Kick-Ass parecer um m*@#!. Tendo como mote o que aconteceria se existisse um Batman do lado negro, cria um ricaço que usa os seus recursos não para o bem, mas sim para o mal, e, sem ter os super-heróis habituais para importunar, vai atrás dos policiais proeminentes do mundo. Ideia legal, como sempre, o que deixou a desejar foi a execução.
Parece que Millar tomou gosto pelo cinema e, mesmo retomando a parceria com Steve McNiven (GUERRA CIVIL), o autor investiu em criar um roteiro já pensando na Sétima Arte. Parece até uma adaptação de um filme para os quadrinhos, algo muito comum nos dias atuais. É quase que um storyboard, com imagens grandiosas, mas com diálogos e desenvolvimento de personagem muito rasos. Millar também insiste em algo que tem se tornado cada vez mais comum desde O PROCURADO: criar cenas de violência extrema, quase que "agredindo" seus leitores. Certos trechos chegam a ser de extremo mau gosto (como o vilão obrigar o irmão a engravidar a própria irmã!) e não são orgânicos com o desenrolar da história, como acontecia em Kick-Ass.
Tendo sido discípulo de Grant Morrison, entende-se essa necessidade de chocar e de criar enredos mirabolantes ao ponto de ninguém compreender. Mas esse caráter totalmente mercadológico estraga o que poderia ser uma grande trama. Os direitos (adivinhem...) já foram adquiridos pela Fox. Especula-se que Matthew Michael Carnahan (roteirista de Intrigas de Estado) possa desenvolver o roteiro, que seria dirigido por Tony Scott (Incontrolável). E esperar para ver.
De bom, a HQ tem o traço sempre claro de McNiven, que apresenta cenas realmente impressionantes, como a queda do Air Force One ou mesmo impactantes, como a crueza brutal dos assassinatos perpetrados por Nemesis. Aliás, não sei de quem partiu a ideia, mas criar um uniforme branco para o mesmo é de uma ironia muito bem sacada.
Um amigo me recomendou Chosen, do mesmo autor, e pretendo lê-la o mais rápido possível, pois, nessa mídia Millar, sua história não me convenceu. Talvez no cinema... ou será que, até lá, Kick-Ass vai "dar um pau" em Nemesis?