sábado, 14 de janeiro de 2012

HQs: MILLAR & McNIVEN'S NEMESIS


O nome de Mark Millar é muito conhecido entre os leitores de quadrinhos. Entre os seus trabalhos, incluindo aí quase todas as grandes editoras, ele coleciona muitos sucessos. Responsável pelo arco GUERRA CIVIL (fantástico!), da Marvel, e por diversas contribuições na DC Comics (incluindo o selo Vertigo), na Wildstorm (The Authority), Top Cow (Witchblade), sua influência nos quadrinhos acabou levando-o ao próximo patamar: as adaptações para o cinema.

Começou com O PROCURADO (arte de J. G. Jones), que tinha uma premissa interessante (um loser total na vida acaba por se descobrir filho de um grande assassino, e muda para o lado negro da força), mas não passou de promessa. A HQ, muito fraca, vendeu seu mote para o cinema e rendeu um bom filme que, para os produtores de Hollywood acendeu outra luz: a do lucro!

Seguindo nesse caminho, o passo seguinte foi a, novamente autoral, KICK-ASS. Tendo a arte de John Romita Jr. e uma história para lá de desafiadora e polêmica (garoto decide ser um herói na vida real), vingou como uma ótima HQ e um dos melhores filmes dos últimos anos, conquistando público e crítica e alavancando Mathew Vaughn ao hall de diretores promessa (que está se confirmando, filme após filme).

Em seguida veio NEMESIS, matéria desse post. Como dizia o própria capa inicial (acima, no início do post) a ideia era fazer o Kick-Ass parecer um m*@#!. Tendo como mote o que aconteceria se existisse um Batman do lado negro, cria um ricaço que usa os seus recursos não para o bem, mas sim para o mal, e, sem ter os super-heróis habituais para importunar, vai atrás dos policiais proeminentes do mundo. Ideia legal, como sempre, o que deixou a desejar foi a execução.

Parece que Millar tomou gosto pelo cinema e, mesmo retomando a parceria com Steve McNiven (GUERRA CIVIL), o autor investiu em criar um roteiro já pensando na Sétima Arte. Parece até uma adaptação de um filme para os quadrinhos, algo muito comum nos dias atuais. É quase que um storyboard, com imagens grandiosas, mas com diálogos e desenvolvimento de personagem muito rasos. Millar também insiste em algo que tem se tornado cada vez mais comum desde O PROCURADO: criar cenas de violência extrema, quase que "agredindo" seus leitores. Certos trechos chegam a ser de extremo mau gosto (como o vilão obrigar o irmão a engravidar a própria irmã!) e não são orgânicos com o desenrolar da história, como acontecia em Kick-Ass.

Tendo sido discípulo de Grant Morrison, entende-se essa necessidade de chocar e de criar enredos mirabolantes ao ponto de ninguém compreender. Mas esse caráter totalmente mercadológico estraga o que poderia ser uma grande trama. Os direitos (adivinhem...) já foram adquiridos pela Fox. Especula-se que Matthew Michael Carnahan (roteirista de Intrigas de Estado) possa desenvolver o roteiro, que seria dirigido por Tony Scott (Incontrolável). E esperar para ver.

De bom, a HQ tem o traço sempre claro de McNiven, que apresenta cenas realmente impressionantes, como a queda do Air Force One ou mesmo impactantes, como a crueza brutal dos assassinatos perpetrados por Nemesis. Aliás, não sei de quem partiu a ideia, mas criar um uniforme branco para o mesmo é de uma ironia muito bem sacada.

Um amigo me recomendou Chosen, do mesmo autor, e pretendo lê-la o mais rápido possível, pois, nessa mídia Millar, sua história não me convenceu. Talvez no cinema... ou será que, até lá, Kick-Ass vai "dar um pau" em Nemesis?

Direto da Telona: SHERLOCK HOLMES - O JOGO DE SOMBRAS


A introdução de SHERLOCK HOLMES - O JOGO DE SOMBRAS (Sherlock Holmes - A Game of Shadows, 2011) entrega o tom dessa continuação: aprendemos com o que fizemos e nos esforçamos para trazer à franquia nova força. Em meio ao fechamento que faltara a determinada personagem do primeiro filme, Holmes enfrenta alguns capangas de seu grande rival desse filme, mostrando como o seu raciocínio também pode auxiliá-lo na luta. E é essa a característica da releitura do detetive inglês, criado por Arthur Conan Doyle: saem as cenas contemplativas e deduções puramente lógicas, entra um herói frenético, lutador de MMA e mestre dos disfarces.

Robert Downey Jr, que já viveu Chaplin nos cinemas e que passou por alguns percalços antes de retomar sua (agora bem sucedida) carreira, confere ao solucionador de casos mirabolantes uma pitada cômica e vidente que, parece, conquistou o público (talvez mais do que o próprio original). Seu personagem aqui lembra muito o de outra franquia de que faz parte: Homem de Ferro. Temos muito do "charme" e da irreverência de Tony Stark. O ator, claramente, se diverte no papel e transfere esse sentimento para o público, favorecendo a experiência positiva.

Tendo esse ótimo (e lucrativo) ator nas mãos, Guy Ritchie faz o que sabe: liga o filme no 220 e o mantém nesse ritmo até o seu final. Sim, ele continua o mesmo diretor hiperativo da primeira sequência e de filmes como Jogos Trapaças e Dois Canos Fumegantes e Rock'n'Rolla. Mas dessa vez, ele aprendeu a dividir melhor a ação ao longo de todos os atos do filme (e não concentrá-la no final, como fizera no primeiro Sherlock.) O filme tem poucos momentos de respiro, não se entregando a silêncios reflexivos (tédio?). Mas é sincero em seu objetivo: Holmes, aqui, é um herói de ação e a história irá evoluir nesse sentido.

Com um enredo mais interessante que o primeiro, o filme nos apresenta a Europa no fim do século 19 (1891). Essa é uma novidade: temos a Inglaterra, como no primeiro, mas a ela se juntam França, Alemanha e Suíça. O clima armamentista cresce e uma guerra, capitaneada por França e Alemanha, se aproxima. Holmes suspeita de que não se trata de um acontecimento natural e arranca seu amigo Watson (Jude Law), prestes a se casar com a bela Mary (Kelly Reilly), do conforto de seu lar e o envolve em mais uma aventura, com direito a ciganos (entre eles Simza, a bela Noomi Rapace) e a participações hilárias de Mycroft Holmes (Stephen Fry), a serviço do governo britânico. Jared Harris (Mad Men) vive James Mortiarty, inimigo clássico de Sherlock e possuidor de uma mente tão (ou mais) brilhante que a do herói. Talvez não tão carismático, Harris tenha sido a escolha mais acertada, pois o vilão não é do tipo Lex Luthor (vou te contar todo o meu plano antes de acabar com você, herói!), mas sim frio e extremamente calculista.

Tecnicamente, só elogios. Além da fotografia de Londres, ainda esfumaçada e poluída, temos uma Paris que respira a arte, uma Alemanha verde (a cena da floresta é impressionante!!) e uma Suíça bucólica. Hanz Zimmer traz uma trilha sonora empolgante, condizente com o ritmo do filme. Os atores que retornaram à franquia parecem estar bem alinhados e os novos também não decepcionam. O figurino continua bom como no primeiro, em especial os disfarces de Holmes, que ganham um algo mais nessa continuação.

A cena de embate final de Holmes e Moriarty, em um "jogo de xadrez" é brilhante. Nela, a utilização dos "raciocícnios antecipados", já presente no primeiro filme, atinge seu ponto mais alto, contribuindo para criar uma tensão absurda. Além disso, essa cena guarda uma homenagem à obra de Conan Doyle, contribuindo para o encerramento perfeito e, até certo ponto, inesperado da aventura.

Bom filme, merece ser assistido na telona. O som e a ação saltam da tela e a diversão é garantida. Fica evidente ao final que a ideia e que sejam feitos mais filmes. E por que não? Como disse Downey Jr. em entrevista recente: "Acho que o público vai me avisar quando estiver entediado" (Folha de São Paulo, 13/01/12). Logo, Guy Ritchie, imitando um outro servo da rainha, terá que pensar em complementar o final dos créditos (muito bonitos, por sinal): Sherlock Holmes will return!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Direto da Telona: Cavalo de Guerra

O novo filme do grande diretor Steven Spielberg, “Cavalo de Guerra” (War Horse, 2011) é um filme feito para emocionar e te levar às lágrimas. Ponto. Baseado na obra de Michael Morpurgo, antes de Spielberg se apaixonar pela obra, ela já foi encenada nos palcos de Londres, da Broadway e irá estrear em fevereiro em um teatro de Toronto, Canadá.

Meus companheiros da “Liga da Poltrona”, Carlos (@homemdosdados) e Juliano (@Juliano_S_Viana), sempre tentam me convencer que Spielberg não é um grande diretor como se ventila mundo afora e como pensava Dawson Leery, mas seu sucesso deve-se à equipe que ele reúne e que sempre produzem bons filmes. Pois acho que o mérito dele está justamente aí: dirigir, e no meu ponto de vista muito bem, os melhores em suas especialidades para nos brindar com obras cinematográficas que logo se tornam novos clássicos.

Entrar no cinema sabendo que o filme é dirigido por Spielberg, é sabido que em algum momento, o diretor vai colocar uma cena ou uma sequência acompanhada da trilha sonora do mago John Willians que irá te levar a embargar e aparecer aquela lágrima no canto do olho. Se o filme tiver um animal então, é melhor levar ao cinema um lenço para enxugar as certeiras lágrimas que correrão solta. Sabendo disso, não entendo o estardalhaço de alguns críticos que chegam a colocar “Cavalo de Guerra” como um dos piores filmes já feitos por Spielberg. Baseado em um livro dirigido ao público infantil e que leva o rótulo de “filme família”, o diretor não iria reinventar uma fórmula que sempre funcionou e funciona muito bem.

Talvez estejamos ficando mal acostumados com superproduções que envolvam uma montanha de dinheiro e muitos efeitos especiais e deixando coisas simples como a amizade e perseverança para o plano da fantasia. É bom ver um filme que tenta chamar a atenção para valores que realmente importam e nos levar a refletir um pouco mais sobre isso. Se vier acompanhado de belas imagens, uma fotografia impecável – do sempre colaborador de Spielberg, Janusz Kaminski, de “O Resgaste do Soldado Ryan, Amistad, entre outros, e que meus amigos atribuem grande parte do sucesso de Spielberg – e da trilha sonora do sempre gênio John Willians, porque não se deixar emocionar? Afinal, os seres humanos ainda são capazes de agir com a emoção às vezes. Pelo menos é que quero acreditar.

O filme se passa na Inglaterra, pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial. Com belas cenas de uma paisagem idílica, vemos a amizade de um garoto, Albert Narracott (o novato Jeremy Irvine) com seu potro Joey. Sua tarefa não é nada fácil – domar o animal para que ele sirva para arar o campo da fazenda que a família arrenda do impiedoso Lyons (David Thewlis, o Professor Lupin da série “Harry Potter”). Apesar da amizade entre o animal e o garoto, o pai do rapaz (Peter Mullan) é forçado a vender o potro para o exército inglês e assim saldar as dívidas da fazenda.

Acompanhamos então a saga do animal nos campos de batalha, em uma guerra cruel em que se vê a ânsia do homem pela morte. A Primeira Grande Guerra Mundial foi um ponto importante de mudança na história das guerras, pois foi o início da industrialização da matança, com tanques, canhões poderosos e metralhadoras. Deixa-se de usar espadas e cavalos; o número de soldados não importa mais, apenas quantas metralhadoras e munição se possui. Uma sequência lindíssima da cavalaria avançado pelo campo é brutalmente cortada pelo poder de fogo do exército alemão.

O cavalo Joey então, passa para o exército alemão e assim vai trocando de mãos. Com maestria, o diretor consegue closes dos olhos do animal, que parece nos indagar o que está a acontecer; afinal, esses olhos viram seu dono se despedir, seu novo cavalheiro – o capitão Nicholls, interpretado muito bem por Tom Hiddleston, o Loki de “Thor” – cair em batalha, um pajem ser executado por deserção, uma garotinha ficar aos prantos, umas máquinas que causavam um tremendo barulho seguido de muita fumaça e uns arames que se enroscavam pelas patas causando bastante dor. Resumindo: “Cavalo de Guerra” é um filme violento, que revela uma pequena parte de como a Primeira Guerra Mundial foi brutal e selvagem.

Após esses grandes fatos, prepare o lenço, pois vem uma sequência de cenas que te deixarão com um nó na garganta, afinal, manipular sentimentos, é uma arte que Spielberg domina bem. Destaco a sequência do encontro entre o soldado inglês (Toby Kebbell, de “Aprendiz de Feiticeiro) e o soldado alemão (Hinnerk Schönermann) – que mostra o quão estúpido são os motivos que levam os países e as pessoas as guerras.

Talvez alguns ficarão incomodados com a “homenagem” que Spielberg quis fazer à “... E o vento levou”. Apesar de bonita, me pareceu um tanto exagerada e totalmente destoante das cores e tons utilizados durante o filme. Parece que de repente, você está assistindo à um outro filme. Exceto por esse deslize, “Cavalo de Guerra” é o tipo de filme para admirar e assistir com a família reunida.




quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Vale Assistir: HANNA


Histórias a respeito de soldados que são treinados por algum órgão militar visando alcançar o combatente perfeito não são novidades. Tanto na literatura quanto no cinema, esse é um assunto que é, invariavelmente, revisitado de tempos em tempos. Temos, por exemplo, a trilogia Bourne que, recentemente, agradou a público e crítica ao contar a história de um agente desmemoriado que busca entender uma série de circunstâncias pelas quais é cercado. Como este, o gênero é muito mais lembrado por ser um filme de ação do que algo mais intimista, analítico.

Joe Wright, diretor responsável por filmes como Orgulho & Preconceito e Desejo e Reparação (duas adaptações, por sinal), é conhecido por saber ajudar seu elenco a contar muito de seus sentimentos por meio de olhares, trejeitos e posturas perante outro personagem ou o ambiente em que se encontram. Nesse contexto, o diretor sempre demonstrou saber lidar muito bem com a interação personagem/cenário, sendo pomposo na medida certa. A cena da dança entre Darcy e Lizzie em Orgulho & Preconceito é um bom exemplo: troca de olhares e a decoração do local "esvaziam" a sala das demais personagens.

HANNA (Hanna, 2011) tem como premissa uma menina (a ótima Saoirse Ronan) sendo treinada pelo pai (Eric Bana) para ser uma máquina mortífera. Há um propósito mais específico ainda, um objetivo maior por parte do pai e, em determinado dia, quando se sente preparada, ela decide partir e cumprir com o seu objetivo. Quando o Carlos (um dos editores da Liga) escreveu este post, já deixou bem claro a nossa maior curiosidade: como se sairia Joe Wright nesse gênero, tão diferente do que ele já produziu até hoje? E agora temos a resposta: bem!

A cena inicial já nos mostra o que será a dinâmica do filme: a garota caça, em uma floresta coberta por neve. Temos vislumbres da presa (e do medo em seus olhos) e da caçadora (determinada e concentrada) em enquandramentos interessantes. Após uma flechada certeira, o animal tenta escapar, caindo poucos metros à frente, na imensidão branca da neve. Quando a menina o alcança, fita-o por alguns instantes e constata "Eu errei o seu coração", e atira. O letreiro, em letras grandes e brancas em um fundo vermelho incomoda, como será incômoda a imagem daquela doce menina carregar uma arma ao longo da película. Totalmente Joe Wright.

Ao longo do filme, estando em tela quase que 100% do tempo, Saoirse (como de praxe) consegue conferir à "máquina mortífera" toda a inocência e instensidade adolescente que se espera. Os momentos que passa junto à família em férias são seu rito jovial, seu aprendizado daquilo que a vida de exílio, ao lado de seu pai, a privou. O filme desacelera nesse momento, o que é pouco habitual em filmes de ação, mas que, bem manobrado pelo diretor, fica coerente com a jornada da personagem. A fotografia também ajuda muito. A forma como ocorre uma evolução, dos ambientes desérticos para ambientes povoados (por pessoas e, também, por objetos modernos) fica evidente nos belos olhos azuis da atriz principal.

Podemos enxergar uma metáfora à adolescência que usa várias referências aos contos de fadas, através de sua estrutura, seus arquétipos e suas convenções. A protagonista é como uma criança protegida que sai e começa a descobrir o mundo, e vê que ele não é exatamente - ou somente - o que seus pais diziam que é. É uma história sobre amadurecimento, sobre aceitar e lidar com os fatos (bons e ruins) da vida.

Mas e a ação? Ela está lá também, em momentos chave, e a direção também se mostra muito competente. A fuga de uma base da CIA é mostrada com uma câmera claustrofóbica, que confere mais realismo a cena. A opção aqui é ser mais próximo possível de uma situação real: os golpes são pontuais e, invariavelmente, mortais. Mas não é isso que se espera de uma máquina de guerra? Em outra cena, o pai se vê encurralado por alguns agentes e mostra de onde vem o aprendizado da menina.

Quanto à trilha sonora, criada pelo duo do Chemical Brothers, ela é boa. Nada que perdure na mente ao final do filme, mas é eficiente ao criar tensão e emoção na medida certa. Ela é capaz de imitar o som de caixas de música em momentos para, na sequência, mergulhar em batidas eletrônicas (a inocência permeada pelo perigo). A edição precisa de um elogio à parte. Ela nos ajuda, efetivamente, a entender que estamos em um mundo complexo e caótico de alguém que vê em tudo algo de novo.

Com um bom elenco (incluindo ainda a sensacional Cate Blanchett) e ótimas personagens de apoio, o filme equilibra bem as cenas de ação e o desenvolvimento da trama. Talvez o que deixe um pouco a desejar ao final do longa é a inexistência de respostas para todas as questões levantadas. Nada que comprometa. Gostei sim, de ver que Joe Wright é um diretor para se prestrar atenção e, mais ainda, que Saoirse ainda renderá muitos bons filmes. Quando está lado a lado com Cate Blanchett em cena, nos minutos finais do filme, sente-se o grau de comprometimento dessa atriz mirim.

Lembro de uma imagem de divulgação que ficou em minha mente: Hanna frente a um túnel com a forma da cabeça de um Lobo-mau. É a metáfora perfeita. E assistir à jornada de auto-conhecimento é uma experiência muito interessante.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Ética & Mark Wahlberg

Não gostaram dos meus óculos antiéticos?
Não é que não goste do Mark Wahlberg como ator, afinal além de já ter sido indicado ao Oscar com louvor por "Os Infiltrados", o cara estreou no cinema no extraordinário "Boogie Nights", o debut de P.T. Anderson na direção depois de uma razoável carreira como rapper, quando era legal ser apenas um rapper (hoje eles também devem entender de música em geral), e como não o conheço pessoalmente, também não posso dizer que meu problema com ele seja pessoal.

Mas quando se estuda artes dramáticas, e não importa a escola, método, processo ou referência, se passa por algo que todo profissional precisa entender e aprender, a ética de sua profissão. Um médico tem o código ético de ajudar quem quer se seja independente de qualquer coisa, um psicólogo e um padre não podem sair por aí falando o que lhes foi confidenciado, um engenheiro civil precisa entregar uma ponte que se mantenha em pé e não coloque as pessoas em risco porque ele achou que areia da praia ia sair mais barato, e assim por diante. E qual seria a ética do ator?

Basicamente um ator precisa se comportar e não deixar que seu local de trabalho se transforme num campo de guerra. Ele pode detestar o outro ator, e até ofender este outro ator nos bastidores, mas ele não pode deixar que isso atinja diretamente o resto da equipe/elenco, caso contrário não existirá confiança e clima para um bom trabalho. Mas um ator também precisa ser ético fora dos palcos ou telas, ou seja, precisa evitar dar maus exemplos pra sociedade que ele retrata, já que toda a crítica ou discussão deve ser feita pelo seu trabalho, e não seu modo de viver. Temos muitos bons maus exemplos por aí, como o de Charlie Sheen e muitos outros envolvidos com drogas, sexo e escândalos. Nem sempre eles têm a punição merecida. Mas vou usar Wahlberg por razões menos óbvias.

Pegamos por exemplo uma entrevista de emprego. A cartilha pede pra que você não fale mal de seu último trabalho e chefe, por pior que eles sejam, para que suas chances de conseguir a vaga aumentem. Éticamente um ator também deve agir assim, mesmo porque sua capacidade profissional aumenta conforme sua experiência.

Mark Wahlberg me chama a atenção pela brutal falta de ética. Há um tempo atrás ele disse numa entrevista coletiva para promover o ótimo "O Vencedor", que "Fim dos Tempos" de M.Night Shyamalan, que ele protagonizou, era um filme muito ruim. Há quem discorde dele, e eu sou um destes. E acho ainda que sua opinião só se tornou esta porque o filme era um trabalho de diretor, que por azar perdeu credibilidade com críticas negativas. O ator não fez comentários negativos de filmes muito piores como "Max Payne" que não tem um grande diretor, e que foram massacrador com razão pela crítica.

A última do ator diz respeito a "Ted", primeiro filme em live action de Seth MacFarlane, criador das politicamente incorretas séries animadas "Família da Pesada", "Cleveland Show" e "American Dad". No filme, Mark interpreta um cara que quando criança queria que seu ursinho de pelúcia ganhasse vida, e a realização deste desejo atrapalha sua vida adulta. Apesar de ter aceitado e fazer parte do projeto, Mark andou falando por aí, mesmo que por vezes em tom de brincadeira, que não improvisou em nenhum diálogo, e que o diretor é total responsável por quem quer que se sinta ofendido por algum conteúdo do filme.

O que me confunde é como um ator que se acha astro o suficiente pra dizer que um trabalho anterior é um lixo, não se acha bom o suficiente pra assumir riscos futuros. Complicado e polêmico. Vale lembrar que Mark já trabalhou três vezes com o diretor David O. Russell ("Três Reis", "Huckabees" e "O Vencedor"), o mesmo que teve históricas e eternas brigas com os atores George Clooney e Lily Tomlim, e que queria transformar a adaptação do game "Uncharted" num filme completamente diferente do que se espera.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Vale Assistir: MEIA NOITE EM PARIS


Woody Allen nunca foi um grande chamariz para mim. Saber que a direção era dele não me levaria, necessariamente, ao cinema. Entretanto, de uns anos para cá, mais especificamente desde Ponto Final (Match Point, 2005), isso mudou. E tudo porque ele soube me surpreender como diretor, ao se mostrar não somente um grande diretor de atores, mas também de lugares (por mais estranho que isso possa parecer!). Explico: para mim, as locações são essenciais para o sucesso de muitos filmes. Muitas cidades possuem muita história e, se bem enquadradas, conseguem transportar esse peso histórico para a película.

Sendo assim, depois de estar em Londres, Barcelona e Nova Iorque, por que não aportar na Cidade Luz? Sim, Paris, a cidade que respira cinema em cada uma de suas esquinas e milhares de pontos turísticos. Mais do que isso, uma cidade que sempre teve a arte encrustada em sua história, pois em suas ruas caminharam muitos dos grandes artistas da humanidade, como Hemingway, Picasso e F. Scott Fitzgerald. Diga-se de passagem, a arte está nas próprias ruas ou nas belas catedrais.

MEIA NOITE EM PARIS (Midnight in Paris, 2011) nos conta a respeito de Gil (Owen Wilson), um roteirista frustrado com o trabalho na burocrática Hollywood e que viaja com a noiva, sob o pretexto de férias, mas que, na verdade, busca alcançar o espírito artístico da cidade, para inspiração. Allen usa o fantástico nesse filme exatamente para fazer o seu trabalho de "direção" da cidade de Paris. Mais especificamente, buscar o brilho dos anos 20, onde muitos artistas estadunidenses trocam o pouco conhecimento em sua terra pela aprovação na Europa.

Embarcamos, dessa forma, em uma viagem pela Cidade Luz, onde Allen nos provoca: será melhor ter a arte estática, em museus, para ser vista ou deve esta ser vivida? Isso fica bem claro quando Gil discute com um amigo de sua noiva, um intelectual, em um de seus passeios. Este gaba-se de possuir um certo conhecimento que é rechaçado pela curadora do local. Vale ostentar o que se sabe? Talvez para alguns, mas não para Allen, defensor da arte viva. Mostrar a cidade, sempre em movimento, em ação, dá uma noção clara de que ela é viva. Dinâmica. Um cartão postal animado!

Contar mais do que isso seria estragar as surpresas do filme. Fotografia competente e bela (também pudera, com a cidade à disposição), trilha sonora que embala o romantismo envolvido com o desenrolar da trama, uma montagem primordial, que envolve aquela direção da cidade de que falei, um roteiro inteligente, contestador e, ao mesmo tempo, passível de mais de uma leitura. Enfim, mais uma obra em que o conjunto faz a diferença. As atuações também estão ótimas, com Rachel McAdams, Marion Cotillard, Carla Bruni, Tom Hiddleston, Michael Sheen, Kathy Bates, entre outros, se divertem em seus papéis.

Assista ao que foi considerado por muitos o melhor filme de 2011 e fique com vontade de acessar algum site de companhia aérea e marcar sua viagem para Paris amanhã. E não se espante se você não quiser voltar: ela tem esse efeito mesmo. E não deixe de caminhar muito pelas ruas da cidade... e se chover, melhor ainda!

Vale Assistir: SUPER 8


Não é por acaso que, cada vez mais, Hollywood busca inspiração para remakes nos anos 80. Ao longo dessa década, diversos filmes alegraram e marcaram muitas pessoas que, posteriormente, se tornaram fãs fiéis até os dias de hoje. Filmes como Caçadores da Arca Perdida, E.T., Gremlins, Os Goonies e assim por diante. É um sem número de filmes bons e muitos bons diretores da nova safra curtiram muitos desses, como nós. Entre eles temos J.J. Abrams. E bastou um "empurrãozinho" de um certo Steven Spielberg (que dirigiu muitos desses grandes dos anos 80) para que surgisse um dos melhores filmes de 2011: SUPER 8 (Super 8, 2011).

Dirigido e escrito por J.J. Abrams, produzido por Spielberg, é um filme que mistura ação e ficção em uma cidade pacata de Ohio - daquelas que tem uma única indústria onde todos trabalham - nos idos de 1979. Somos apresentados a um grupo de garotos, amantes de cinema, que assumem (cada um) seu papel na produção de um filme. Temos o diretor, o ator, o responsável pela parte técnica e o maquiador e "maqueteiro". Este último, Joe - que será nosso personagem principal - perdeu a mãe e tenta equilibrar sua vida ao lado do pai. Eles filmam usando uma câmera super-8 e, durante a noite, em uma de suas incursões, acabam por filmar um acidente de um trem, liberando algo desconhecido que mudará a rotina da pacata cidade.

Como tudo em que toca J.J. desde o sucesso de Lost, esse filme foi acompanhado com olhos atentos por toda a imprensa e pelos fãs. Qualquer nota que surgia gerava um certo rebuliço, mas a produção soube proteger muito bem os seus segredos e, mesmo sabendo de detalhes do filme pela sinopse, a expectativa era grande. E o que vemos em tela corresponde completamente a esse sentimento.


Abrams sabe utilizar com coerência o papel que o suspense tem nos dias atuais. Dito isso, SUPER 8 merece mais a comparação com Tubarão ou Cloverfield (pelo suspense ao redor da criatura) do que com o óbvio E.T. Diversas técnicas são empreendidas para acalentar a curiosidade do público, com reflexos em espelhos ou água, ou mesmo com copas de árvores que se mexem repentinamente. Tudo muito bem calculado e executado. A trama envolvendo os garotos e sua investigação prende como Richard Donner outrora o fez em Os Goonies.

O filme é autêntico e dá mostras de alguém apaixonado por cinema e influenciado pela filmografia que o acompanhou. O elenco infantil está muito bem, em especial Elle Fanning. A cena em que a menina ensaia na estação do trem, antes da gravação efetiva, e de quedar o queixo, não só da audiência, mas também dos próprios companheiros de projeto. Projeto esse, aliás, que nos é mostrado logo ao final do filme, durante os créditos. Toda a sequência final impressiona. Mas não são os efeitos que se sobressaem e sim o momento entre Joe e seu pai (um policial vivido por Kyle Chandler, a figura de autoridade), tocante e embalado pela brilhante trilha sonora de Michael Giacchino.

Tecnicamente, não posso deixar de mencionar o acidente do trem, de uma grandiosidade típica de Abrams (basta lembrar do início de Lost e a queda do Vôo 815 da Oceanic). Além disso, certas metáforas visuais são brilhantes, como o plano em que um tanque de guerra destrói um parquinho de crianças frente aos olhos incrédulos dos garotos, que tem sua infância arrancada de forma bruta pelos militares. E, sem querer me repetir, a interpretação de Elle Fanning é daquelas que te fazem acessar o IMDB para descobrir outros filmes com ela, só para poder prolongar a intensidade com que ela se entrega.


Esse filme toca em memórias afetivas para quem vivenciou o cinema nos anos 80. Aproveite para viajar e relembrar os seus filmes inesquecíveis. É quase como adentrar o delorean e viajar para o passado, lembrando de mais uma grande produção da época. Para quem estiver disposto a vivenciar o mundo espetacular do cinema, Super 8 vira Super 80!

Vale Assistir: X-MEN - PRIMEIRA CLASSE


O estúdio 20th Century Fox, quando o assunto é filmes baseados em quadrinhos, não é muito querido pelos fãs de super heróis. Isso porque produziu algumas das (consideradas) piores adaptações desse conteúdo. Responsável por Demolidor - O Homem sem Medo, Elektra, Quarteto Fantástico 1 e 2 e Wolverine, todos execrados pela crítica, a empresa carrega, entretanto, o estandarte de pioneira por ter lançado o primeiro filme sobre HQs que realmente fez sucesso, alavancando tudo o que viria depois: X-Men. O filme dos mutantes, elogiadíssimo, deu origem a duas continuações, sendo que a última acabou tendo uma recepção morna, alcançando reações positivas e negativas. Passaram-se alguns anos e, para evitar perder os direitos sobre a franquia, o estúdio apostou em uma espécie de prequel. Deixou de lado o personagem mais carismático - o canadense invocado com ossos de adamantium - e apostou em Xavier e Magneto. E acertou na mosca.

X-MEN - PRIMEIRA CLASSE (X-Men - First Class, 2011) é um filmaço, talvez a melhor adaptação de HQ já produzida com material da Marvel. É um filme que impressiona pela ampla gama de efeitos especiais (algo já esperado nesse gênero), mas que sobrevive na mente por outro motivo: é um filme que tem coração. Um roteiro, impecável, nos conta a história do encontro entre dois mutantes, Xavier e Erik (Magneto), que possuem visões sobre o mundo diametralmente opostas. Cada um entende a reação das pessoas à eles baseando-se em suas experiências pessoais. De um lado temos alguém que teve as condições de se desenvolver (e crescer) de forma tranquila enquanto do outro, encontramos alguém amargurado, sofrendo ainda o reflexo de uma infância roubada.

Escrito por várias mãos (o que, geralmente, é um péssimo sinal), teve influência direta de Bryan Singer (diretor dos primeiros dois filmes da franquia) e Matthew Vaughn (diretor de Kick-Ass), responsável pela direção desse filme. E esse envolvimento direto dos dois parece ter sido, efetivamente, muito bom para a película. A característica crítica ao racismo - ao medo do desconhecido - presente na criação de Stan Lee e Jack Kirby é abordada. A uma tentativa de entender a dificuldade do próximo em aceitar e buscar uma convivência pacífica opõem-se a visão de que os seres evoluídos devem ocupar o seu espaço na cadeia de seres, assumindo papel dominante. Dinâmico, o filme sabe balancear cenas de ação e o desenvolvimento das personagens, o que gera um sentimento de imersão ao filme: queremos saber como essas pessoas se tornaram "inimigos" no futuro.

Para quem conhece os quadrinhos, algumas mudanças narrativas são sentidas. As mais evidentes são a presença de Mística na vida de Xavier desde a sua infância e Moira Mactaggert se tornando uma agente do governo estadunidense. Mas não é nada que incomode (somente àqueles mais xiitas). Confesso que não conhecia o trabalho de Michael Fassbender (Magneto), mas esse dá um show à parte. A amargura está lá o tempo inteiro, traço característico de Magneto. A cena do mutante na Argentina é digna de todos os elogios. Jennifer Lawrence (Mística) ganhou uma personagem mais interessante do que tinha Rebeca Romijn nos outros filmes, e dá conta do recado com maestria. As sequências em que dialoga com Magneto são sempre interessantes. James MacAvoy (Xavier) confere mais veracidade nesse filme do que, talvez, em todos os outros filmes em que atuou. A leitura da mente de Magneto em determinado momento do filme é emocionante. Um filme com coração, como disse antes.

O filme também traz Kevin Bacon no papel de Sebastian Shaw - líder do Clube do Inferno - um vilão convincente e que foi bem encaixado à trama. Outro trunfo do roteiro foi saber utilizar a crise dos mísseis de Cuba como pano de fundo. Esse momento tenso histórico casa com a tensão presente no último terço do filme, culminando na fantástica cena final, que envolve uma moeda que ilustra a cisão de valores dos personagens principais.

Do ponto de vista técnico, o filme investiu em uma retomada do visual clássico dos quadrinhos. Os uniformes deixam de lado o negro dos outros filmes e aposta em uma mistura de azul e amarelo que, na fase de marketing do filme, devido à utilização de posteres muito mal planejados, chegou a assustar. Entretanto, no filme eles funcionam muito bem, de forma orgânica. A fotografia acompanha esse conceito e a boa trilha sonora só confirma a forma competente com que esse filme foi executado. Ah, e os efeitos especiais dos poderes? Não decepcionam, sendo muito legais as cenas de enfrentamento entre os mutantes. Além disso, algumas participações especiais rendem boas risadas por parte do público que já acompanha a franquia desde o seu início.

Já disponível em DVD e Blu-Ray, é uma ótima pedida para o conforto do seu lar. Não deixe de conferir! A Liga adorou!