segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Ética & Mark Wahlberg

Não gostaram dos meus óculos antiéticos?
Não é que não goste do Mark Wahlberg como ator, afinal além de já ter sido indicado ao Oscar com louvor por "Os Infiltrados", o cara estreou no cinema no extraordinário "Boogie Nights", o debut de P.T. Anderson na direção depois de uma razoável carreira como rapper, quando era legal ser apenas um rapper (hoje eles também devem entender de música em geral), e como não o conheço pessoalmente, também não posso dizer que meu problema com ele seja pessoal.

Mas quando se estuda artes dramáticas, e não importa a escola, método, processo ou referência, se passa por algo que todo profissional precisa entender e aprender, a ética de sua profissão. Um médico tem o código ético de ajudar quem quer se seja independente de qualquer coisa, um psicólogo e um padre não podem sair por aí falando o que lhes foi confidenciado, um engenheiro civil precisa entregar uma ponte que se mantenha em pé e não coloque as pessoas em risco porque ele achou que areia da praia ia sair mais barato, e assim por diante. E qual seria a ética do ator?

Basicamente um ator precisa se comportar e não deixar que seu local de trabalho se transforme num campo de guerra. Ele pode detestar o outro ator, e até ofender este outro ator nos bastidores, mas ele não pode deixar que isso atinja diretamente o resto da equipe/elenco, caso contrário não existirá confiança e clima para um bom trabalho. Mas um ator também precisa ser ético fora dos palcos ou telas, ou seja, precisa evitar dar maus exemplos pra sociedade que ele retrata, já que toda a crítica ou discussão deve ser feita pelo seu trabalho, e não seu modo de viver. Temos muitos bons maus exemplos por aí, como o de Charlie Sheen e muitos outros envolvidos com drogas, sexo e escândalos. Nem sempre eles têm a punição merecida. Mas vou usar Wahlberg por razões menos óbvias.

Pegamos por exemplo uma entrevista de emprego. A cartilha pede pra que você não fale mal de seu último trabalho e chefe, por pior que eles sejam, para que suas chances de conseguir a vaga aumentem. Éticamente um ator também deve agir assim, mesmo porque sua capacidade profissional aumenta conforme sua experiência.

Mark Wahlberg me chama a atenção pela brutal falta de ética. Há um tempo atrás ele disse numa entrevista coletiva para promover o ótimo "O Vencedor", que "Fim dos Tempos" de M.Night Shyamalan, que ele protagonizou, era um filme muito ruim. Há quem discorde dele, e eu sou um destes. E acho ainda que sua opinião só se tornou esta porque o filme era um trabalho de diretor, que por azar perdeu credibilidade com críticas negativas. O ator não fez comentários negativos de filmes muito piores como "Max Payne" que não tem um grande diretor, e que foram massacrador com razão pela crítica.

A última do ator diz respeito a "Ted", primeiro filme em live action de Seth MacFarlane, criador das politicamente incorretas séries animadas "Família da Pesada", "Cleveland Show" e "American Dad". No filme, Mark interpreta um cara que quando criança queria que seu ursinho de pelúcia ganhasse vida, e a realização deste desejo atrapalha sua vida adulta. Apesar de ter aceitado e fazer parte do projeto, Mark andou falando por aí, mesmo que por vezes em tom de brincadeira, que não improvisou em nenhum diálogo, e que o diretor é total responsável por quem quer que se sinta ofendido por algum conteúdo do filme.

O que me confunde é como um ator que se acha astro o suficiente pra dizer que um trabalho anterior é um lixo, não se acha bom o suficiente pra assumir riscos futuros. Complicado e polêmico. Vale lembrar que Mark já trabalhou três vezes com o diretor David O. Russell ("Três Reis", "Huckabees" e "O Vencedor"), o mesmo que teve históricas e eternas brigas com os atores George Clooney e Lily Tomlim, e que queria transformar a adaptação do game "Uncharted" num filme completamente diferente do que se espera.

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