Woody Allen nunca foi um grande chamariz para mim. Saber que a direção era dele não me levaria, necessariamente, ao cinema. Entretanto, de uns anos para cá, mais especificamente desde Ponto Final (Match Point, 2005), isso mudou. E tudo porque ele soube me surpreender como diretor, ao se mostrar não somente um grande diretor de atores, mas também de lugares (por mais estranho que isso possa parecer!). Explico: para mim, as locações são essenciais para o sucesso de muitos filmes. Muitas cidades possuem muita história e, se bem enquadradas, conseguem transportar esse peso histórico para a película.
Sendo assim, depois de estar em Londres, Barcelona e Nova Iorque, por que não aportar na Cidade Luz? Sim, Paris, a cidade que respira cinema em cada uma de suas esquinas e milhares de pontos turísticos. Mais do que isso, uma cidade que sempre teve a arte encrustada em sua história, pois em suas ruas caminharam muitos dos grandes artistas da humanidade, como Hemingway, Picasso e F. Scott Fitzgerald. Diga-se de passagem, a arte está nas próprias ruas ou nas belas catedrais.
MEIA NOITE EM PARIS (Midnight in Paris, 2011) nos conta a respeito de Gil (Owen Wilson), um roteirista frustrado com o trabalho na burocrática Hollywood e que viaja com a noiva, sob o pretexto de férias, mas que, na verdade, busca alcançar o espírito artístico da cidade, para inspiração. Allen usa o fantástico nesse filme exatamente para fazer o seu trabalho de "direção" da cidade de Paris. Mais especificamente, buscar o brilho dos anos 20, onde muitos artistas estadunidenses trocam o pouco conhecimento em sua terra pela aprovação na Europa.
Embarcamos, dessa forma, em uma viagem pela Cidade Luz, onde Allen nos provoca: será melhor ter a arte estática, em museus, para ser vista ou deve esta ser vivida? Isso fica bem claro quando Gil discute com um amigo de sua noiva, um intelectual, em um de seus passeios. Este gaba-se de possuir um certo conhecimento que é rechaçado pela curadora do local. Vale ostentar o que se sabe? Talvez para alguns, mas não para Allen, defensor da arte viva. Mostrar a cidade, sempre em movimento, em ação, dá uma noção clara de que ela é viva. Dinâmica. Um cartão postal animado!
Contar mais do que isso seria estragar as surpresas do filme. Fotografia competente e bela (também pudera, com a cidade à disposição), trilha sonora que embala o romantismo envolvido com o desenrolar da trama, uma montagem primordial, que envolve aquela direção da cidade de que falei, um roteiro inteligente, contestador e, ao mesmo tempo, passível de mais de uma leitura. Enfim, mais uma obra em que o conjunto faz a diferença. As atuações também estão ótimas, com Rachel McAdams, Marion Cotillard, Carla Bruni, Tom Hiddleston, Michael Sheen, Kathy Bates, entre outros, se divertem em seus papéis.
Assista ao que foi considerado por muitos o melhor filme de 2011 e fique com vontade de acessar algum site de companhia aérea e marcar sua viagem para Paris amanhã. E não se espante se você não quiser voltar: ela tem esse efeito mesmo. E não deixe de caminhar muito pelas ruas da cidade... e se chover, melhor ainda!
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