O estúdio 20th Century Fox, quando o assunto é filmes baseados em quadrinhos, não é muito querido pelos fãs de super heróis. Isso porque produziu algumas das (consideradas) piores adaptações desse conteúdo. Responsável por Demolidor - O Homem sem Medo, Elektra, Quarteto Fantástico 1 e 2 e Wolverine, todos execrados pela crítica, a empresa carrega, entretanto, o estandarte de pioneira por ter lançado o primeiro filme sobre HQs que realmente fez sucesso, alavancando tudo o que viria depois: X-Men. O filme dos mutantes, elogiadíssimo, deu origem a duas continuações, sendo que a última acabou tendo uma recepção morna, alcançando reações positivas e negativas. Passaram-se alguns anos e, para evitar perder os direitos sobre a franquia, o estúdio apostou em uma espécie de prequel. Deixou de lado o personagem mais carismático - o canadense invocado com ossos de adamantium - e apostou em Xavier e Magneto. E acertou na mosca.
X-MEN - PRIMEIRA CLASSE (X-Men - First Class, 2011) é um filmaço, talvez a melhor adaptação de HQ já produzida com material da Marvel. É um filme que impressiona pela ampla gama de efeitos especiais (algo já esperado nesse gênero), mas que sobrevive na mente por outro motivo: é um filme que tem coração. Um roteiro, impecável, nos conta a história do encontro entre dois mutantes, Xavier e Erik (Magneto), que possuem visões sobre o mundo diametralmente opostas. Cada um entende a reação das pessoas à eles baseando-se em suas experiências pessoais. De um lado temos alguém que teve as condições de se desenvolver (e crescer) de forma tranquila enquanto do outro, encontramos alguém amargurado, sofrendo ainda o reflexo de uma infância roubada.
Escrito por várias mãos (o que, geralmente, é um péssimo sinal), teve influência direta de Bryan Singer (diretor dos primeiros dois filmes da franquia) e Matthew Vaughn (diretor de Kick-Ass), responsável pela direção desse filme. E esse envolvimento direto dos dois parece ter sido, efetivamente, muito bom para a película. A característica crítica ao racismo - ao medo do desconhecido - presente na criação de Stan Lee e Jack Kirby é abordada. A uma tentativa de entender a dificuldade do próximo em aceitar e buscar uma convivência pacífica opõem-se a visão de que os seres evoluídos devem ocupar o seu espaço na cadeia de seres, assumindo papel dominante. Dinâmico, o filme sabe balancear cenas de ação e o desenvolvimento das personagens, o que gera um sentimento de imersão ao filme: queremos saber como essas pessoas se tornaram "inimigos" no futuro.
Para quem conhece os quadrinhos, algumas mudanças narrativas são sentidas. As mais evidentes são a presença de Mística na vida de Xavier desde a sua infância e Moira Mactaggert se tornando uma agente do governo estadunidense. Mas não é nada que incomode (somente àqueles mais xiitas). Confesso que não conhecia o trabalho de Michael Fassbender (Magneto), mas esse dá um show à parte. A amargura está lá o tempo inteiro, traço característico de Magneto. A cena do mutante na Argentina é digna de todos os elogios. Jennifer Lawrence (Mística) ganhou uma personagem mais interessante do que tinha Rebeca Romijn nos outros filmes, e dá conta do recado com maestria. As sequências em que dialoga com Magneto são sempre interessantes. James MacAvoy (Xavier) confere mais veracidade nesse filme do que, talvez, em todos os outros filmes em que atuou. A leitura da mente de Magneto em determinado momento do filme é emocionante. Um filme com coração, como disse antes.
O filme também traz Kevin Bacon no papel de Sebastian Shaw - líder do Clube do Inferno - um vilão convincente e que foi bem encaixado à trama. Outro trunfo do roteiro foi saber utilizar a crise dos mísseis de Cuba como pano de fundo. Esse momento tenso histórico casa com a tensão presente no último terço do filme, culminando na fantástica cena final, que envolve uma moeda que ilustra a cisão de valores dos personagens principais.
Do ponto de vista técnico, o filme investiu em uma retomada do visual clássico dos quadrinhos. Os uniformes deixam de lado o negro dos outros filmes e aposta em uma mistura de azul e amarelo que, na fase de marketing do filme, devido à utilização de posteres muito mal planejados, chegou a assustar. Entretanto, no filme eles funcionam muito bem, de forma orgânica. A fotografia acompanha esse conceito e a boa trilha sonora só confirma a forma competente com que esse filme foi executado. Ah, e os efeitos especiais dos poderes? Não decepcionam, sendo muito legais as cenas de enfrentamento entre os mutantes. Além disso, algumas participações especiais rendem boas risadas por parte do público que já acompanha a franquia desde o seu início.
Já disponível em DVD e Blu-Ray, é uma ótima pedida para o conforto do seu lar. Não deixe de conferir! A Liga adorou!
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