segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Direto da Telona: Deixe-me Entrar

Em 2008, o escritor sueco John Ajvide Lindqvist roteirizou seu próprio livro "Låt den rätte komma in" para que o diretor Tomas Alfredson o transformasse no filme de vampiros mais forte e cult dos anos 2000. Sim, Deixe Ela Entrar (Let The Right One In) foi exibido com sucesso na Mostra de SP, e ficou meses em cartaz numa sala da cidade, e não se compara a cinessérie Crepúsculo em quase nada, a não ser no fato de falar sobre vampiros, e é mesmo um filme excelente. Mas Hollywood achou que  o filme não era perfeito, principalmente por ser falado em sueco, e resolver manter a  tradição de refilmar cults estrangeiros que tenham vocação para sucessos comerciais.

Assim surgiu o remake Deixe-me Entrar dirigido por Matt Reeves (Cloverfield - O Monstro), que fez pouquíssimas mudanças no roteiro, mas suficientes para dar personalidade própria. Assim o diretor levou a trama para os EUA dos anos 80 do presidente Ronald Reagan, mas mantém a neve que gela o coração no primeiro. O filme conta a história de Owen (Oskar no original sueco) vivido pelo ótimo Kodi Smit-McPhee, um menino solitário de 13 anos que sofre um bullying violento na escola, e é quase ignorado pelos pais que estão se separando, até que ele conhece a nova e estranha vizinha Abby (Eli no original sueco) vivida pela sensacional Chloe Grace Moretz (Kick Ass, 500 Dias Com Ela), garota de mesma idade, que anda descalça na neve e quer evitar a amizade iminente entre os dois. O que ele ainda não sabe é que o pai da garota (o excelente Richard Jenkins de Queime depois de Ler, Comer Rezar Amar e indicado ao Oscar de melhor ator por O Visitante) é um serial killer que leva o sangue das vítimas para a garota se alimentar, já que ela é uma vampira.

Abby e Owen num momento de afeto
A amizade dos dois só aumenta, assim como a tensão do filme em cima dos ataques sofridos por Owen, os assassinatos cometidos pelo pai de Abby, e alguns momentos em que a garota não controla seus instintos. A personagem Abby é tudo o que o público espera de uma vampira e não viu na saga Crepúsculo, ela age como um animal quando está com fome, e o filme mostra isto de forma brutal. Chega a ser um choque ver dois atores mirins fazendo papéis tão densos e violentos de forma tão competente, e em cenas graficamente sangrentas e brutais. Esta é uma enorme virtude deste remake estadunidense, já que na versão original o diretor não contou todos os detalhes da trama e dos personagens com medo de assustar os atores, e fez com que eles atuassem sem saber a verdadeira brutalidade que envolviam seus papéis. Mas se no campo das interpretações o remake já ganha pontos, nos aspectos técnicos ele fica ainda melhor. A trilha sonora de Michael Giacchino (colaborador habitual de seus colegas de faculdade Matt Reeves e JJ Abrams) é uma das melhores num longa de horror que tem como tema principal a amizade entre duas crianças. E a direção de Matt Reeves mostra que o sucesso de Cloverfield não foi um acidente, e que sua vasta experiência com séries de tv não o impedem de experimentar as possibilidades da tela grande, pois aqui ele e o diretor de fotografia Greg Fraser melhoram cada cena com ângulos curiosos, foco/desfoco e criam em imagens o clima perfeito para o filme. No campo das mudanças no roteiro ele também acerta, pois não muda nada do ótimo envolvimento dos protagonistas, mas cria uma situação muito menos redundante e tecnicamente mais difícil de filmar para um importante momento de um dos personagens secundários, e usa exatamente isso pra tirar a linearidade da trama. E o que pra mim mais agradou foi tirar todo o humor voluntário ou involuntário que o filme original tinha, dando unidade ao horror. Isso deixou todas as cenas mais tensas, inclusive a famosa e angustiante cena da piscina, que ficou ainda mais imperdível.
Eli e Oskar no original sueco


O remake custou apenas 5 milhões de dólares, se pagou com folga, mas não teve a prioridade do estúdio pra ser tornar um grande sucesso, mantendo assim para esta versão o aspecto de cult que o original sueco tem. Sinceramente acabei gostando mais do remake, o que é uma raridade em se tratando de cinema. O escritor americano Stephen King, conhecido por seus clássicos de horror como "O Iluminado", "Christine - O Carro Assassino", "Colheita Maldita" entre muitos outros bestsellers, faz todos os anos uma lista dos melhores filmes que viu e escolheu este Deixe-me Entrar como o melhor filme de 2010, segundo ele "o melhor filme de horror da década". E se o autor mais famoso de livros de horror dos últimos 35 anos diz que um filme de horror é bom, é porque deve ser.

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