William Shakespeare, poeta e dramaturgo, é um dos maiores expoentes da arte inglesa. Responsável por uma das frases mais conhecidas da dramaturgia (To be or not to be: that's the question! - HAMLET), criou a história romântica de todos os tempos: Romeu e Julieta. Nela, narra a vida de dois jovens italianos, filhos de famílias rivais, que se apaixonam e, devido às desventuras familiares, acabam em um final trágico. O autor já nos informa no prólogo que os dois irão sucumbir ao final da trama. Com isso, Shakespeare nos mostra que, em histórias como essa, nem sempre é um problema saber o final, desde que o desenvolvimento do romance seja satisfatório.
Muitas vezes, exigir mais de um filme do que o próprio se propõe pode influenciar na experiência. O gênero comédia-romântica se caracteriza por um encontro fortuito, por complicações para que o relacionamento ocorra e a sua resolução, invariavelmente positiva. Em alguns casos - 500 Dias Com Ela - alguma inventividade de roteiro ou de direção modifica um pouco a fórmula. Mas não há problema com a estrutura, desde que seja bem executada.
Em CARTAS PARA JULIETA (Letters to Juliet, 2010), a dupla de roteiristas Jose Rivera/Tim Sullivan e o diretor Gary Winick partem de uma premissa muito interessante: em uma viagem a Verona, cidade de Romeu e Julieta, Sophia (Amanda Seyfried) é deixada de lado por seu noivo (Gael García Bernal) e visita um muro, onde mulheres contam (através de cartas) para Julieta suas histórias românticas e esperam por sua resposta, com um bom conselho. Lá ela se depara com a história de Claire (Vanessa Redgrave), uma inglesa que nunca teve a sua resposta. Sophia resolve desfazer esse erro e dá início a uma "aventura na Toscana", passando a acompanhar a busca de Claire por seu antigo amor. É claro que Claire tem um neto. E o resto, você já pode imaginar.
Mas é interessante a forma como os clichês surgem na tela. Em uma manobra inteligente, o filme usa a história de Shakespeare como fonte inspiradora e, nos faz a seguinte pergunta: você quer um final diferente ou, simplesmente, assistir como que este(s) romance(s) aconteceram? E, em alguns momentos, o próprio neto de Claire se mostra incrédulo diante de algumas situações, verbalizando comentários do tipo: "é isso mesmo que está acontecendo?"
Não se levando a sério, o filme deixa o espectador livre para aproveitar as belas paisagens da Toscana, muito bem enquadradas e retratadas, resultando em uma belíssima fotografia. O filme, que ganha (em determinado momento) contornos de um road-movie, é bem executado e colhe os frutos por ter apostados em duas grandes atrizes para os papéis centrais. Amanda Seyfried, filme após filme, confirma ser uma das melhores e mais expressivas atrizes da atualidade. Segura, sabe conferir à personagem tanto força e competência (na busca de seus objetivos profissionais) ao mesmo tempo em que possui ingenuidade e fragilidade (na relação com o noivo e Claire). Seus belos olhos transmitem emoções muito melhor do que palavras. Vanessa Redgrave demonstra a insegurança de alguém que desenterra o seu passado, tudo de forma orgânica.
Essas duas ótimas atuações destoam das demais, fato que parece recair sobre a direção do filme. O fato do elenco masculino estar aquém (inclusive Bernal, no piloto automático) aponta para um diretor que, talvez, não consiga exigir o melhor de seu elenco. Lembra um pouco o outro trabalho do diretor (De repente 30), onde o elenco feminino também sobrepõe o elenco masculino.
Mesmo assim, o filme, enquanto comédia-romântica, funciona. Belo, é daqueles que te convidam a viajar pelo Velho Continente. Melhor ainda se estiver bem acompanhado. Bom, essa é uma boa ideia também para assistir ao próprio filme. Boa diversão!
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