Os quadrinhos podem ser definidos como o livro tentando se tornar cinema. Enquanto nos romances usamos a nossa imaginação para criar ambientes ao redor de personagens que interagem, nos quadrinhos temos duas pessoas (não somente, mas principalmente) responsáveis por isso: o roteirista e um artista. Enquanto um bola a história, o outro recebe as coordenadas e materializa a imaginação, a criação.
Sempre fui atraído por tramas de investigação. Talvez esse interesse explique gostar muito das histórias envolvendo Batman e Capitão América. Sim, eles possuem personalidades diferentes, mas, no fim do dia, buscam resolver os problemas que se colocam em seus caminhos. Batman sempre esteve na crista da onda, seja em desenhos animados, gibis ou cinema, mas o Capitão demorou bem mais tempo para atingir o seu reconhecimento. Em 2011 tivemos o filme solo do Sentinela. Seu grande sucesso aliado ao estrondoso impacto de Os Vingadores em 2012 garantiram uma continuação, para 2014, que já recebeu o título de O Soldado Invernal e é, exatamente, essa HQ o assunto desse post.
CAPITÃO AMÉRICA - O SOLDADO INVERNAL é um encadernado que traz todo o arco escrito por Ed Brubaker. Criador de outras HQs de teor investigativo (como Criminal e Incógnito), o autor sabe abordar o personagem no que tem de melhor: seu caráter honrado frente fantasmas do passado. Ainda se recuperando dos acontecimentos que culminaram com o desmembramento dos Vingadores e a morte de Gavião-Arqueiro, Steve Rogers tenta se encaixar nesse mundo novo para ele, ao mesmo tempo que tenta entender quem está tentando atingi-lo com vários "pequenos atentados".
O autor busca elementos do passado clássico do herói, usando-os de forma fundamentada, construindo um argumento instigante e bem amarrado. Saber usar a longa história de um ícone tradicional como este em prol do crescimento do mesmo é um dos elogios mais eloquentes ao trabalho de Brubaker. Relendo agora, consigo visualizar nesse trabalho uma tentativa vitoriosa de desconectar o personagem, que veste a bandeira americana e era uma propagando ambulante do belicismo norte-americano, de uma imagem ufanista, tornando-o um soldado universal .
Esse enredo interessante se torna ainda mais divertido graças aos traços de Steve Epting, já conhecedor desse universo por ter trabalhado muitos anos em Os Vingadores. Seu desenho não é dos mais precisos, mas acerta em cheio ao detalhar as feições de todos os personagens em momentos estratégicos, tornando desnecessária qualquer legenda para a emoção que está à tona. Seu estilo de diagramar é bem "feijão-com-arroz", sem investir em nada mais arrojado ou inovador, como muitos da nova geração, mas acaba por conferir ao encadernado um caráter histórico que se encaixa perfeitamente com o roteiro, cheio de flashbacks para a Segunda Grande Guerra. A forma como o artista desenha o escudo, principal utensílio do Capitão, é outra característica a ser ressaltada, com certos momentos em que conseguimos sentir o movimento do objeto.
Ótima leitura, perfeito como "esquenta" para o filme que vem por aí, é uma boa forma de conhecer o mundo do Bandeiroso. Aventure-se, você pode (deve) gostar!
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