terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Polêmica no Oscar 2011


Engraçado colocar um título como o de cima quando vou falar sobre um filme de que gostei muito. Enterrado Vivo (2010), que já não se encontra mais em cartaz (pelo menos aqui em SP), é uma produção que, na pior das hipóteses, merece um adjetivo: corajosa.

Como o título já diz, temos um personagem que acorda dentro de uma caixa de madeira. Inicialmente só encontra um isqueiro no bolso, para minutos depois descobrir que tem um celular próximo aos seus pés, vibrando. Através do aparelho, ele descobre mais sobre a sua situação: vítima de insurgentes iraquianos, ele foi sequestrado e deve pagar milhões para sair dali com vida.

Ok. Mas saberemos mais sobre a sua vida, certo? Flashbacks são para isso, certo? Personagens secundários, fora do caixão, são para isso, certo? Mas nada disso acontece. Acompanhamos todo o desenrolar da história juntos de Paul Conroy (Ryan Reynolds). É asfixiante. Sofremos com ele para alcançar algo próximo aos pés ou para nos virarmos para termos uma melhor visão de algo.

Tecnicamente o filme merece muitos elogios. Filmado em apenas 17 dias e com 7 caixões diferentes, o diretor espanhol Rodrigo Cortés consegue nos prender junto com Reynolds e tira deste uma atuação convincente e aterrorizada. Ele exala o desespero de alguém que estivesse realmente nessa situação. As movimentações de câmera são perfeitas e a fotografia se esmerou, usando a chama do isqueiro, a luz do visor do celular e o que pudesse para iluminar de forma brilhante a cada cena.

O roteiro também é realmente bom. Chris Sparling parece ter feito uma boa pesquisa, para nos mostrar o mundo de civis americanos contratados por empresas para trabalhar na reconstrução do Iraque e o risco que correm de ser sequestrados. A tensão toda me lembrou muito outro filme, Por Um Fio (2002) com Colin Farrel preso dentro de uma cabine telefônica. Infelizmente, foi exatamente uma atitude do roteirista que inspirou título deste post.

A pouco tempo, o mesmo mandou um e-mail para muitos dos votantes aos indicados para o Oscar 2011. E, apontando as coisas boas de seu roteiro, pedia o voto dos mesmos. Isso é proibido e o filme corre sério risco de ter sua candidatura impugnada. Sinceramente não sei se ele conseguiria essa indicação. Na minha opinião, outros filmes do ano que passou merecem mais a indicação e, como disse, o aspecto técnico me impressionou bem mais do que propriamente o roteiro. Mas essa polêmica é um tanto quanto estranha. Diversos estúdios fazem campanhas por seus filmes. Recentemente, Toy Story 3 criou uma série de posters se comparando com outros ganhadores do prêmio, insinuando que poderia estar entre os indicados. A Origem enviou seu roteiro para vários membros da academia querendo indicações. Qual a diferença? Só porque ele soletrou "quero o seu voto"?

Sei que é ingenuidade não entender a importância comercial de um prêmio como este. Mas cá pra nós, para que tanto barulho? Quer pedir votos, peça. Vai da cabeça de cada um dos membros da academia acatar a esse pedido ou não. O fato é que dificilmente um e-mail vai mudar a cabeça de várias pessoas.

Enterrado Vivo, independente da polêmica, é um bom filme. Melhor no cinema, claro, para emular a escuridão e o caixão de Paul como sendo a sala em que estamos. Mas se não der, assista em casa mesmo. Mas espere anoitecer. E apague a luz. Ahhhhhhhhh, e não se esqueça de deixar o celular recarregado. Nunca se sabe quando iremos precisar dele...

Um comentário:

  1. Mais um filme que vai pra lista "quero assistir". Parece ser mto bom, como meu amigo da Liga empolgadamente comentou!! Será que leva a indicação ao Oscar?

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