sábado, 15 de janeiro de 2011

Vivendo sob as trevas do holocausto


Como gosto muito de ler e sou frequentador assíduo de Livrarias, sempre tenho uma fila de cinco ou seis livros / HQs para ler. Procuro seguir mais ou menos uma ordem e só passo algum na frente quando este realmente me intriga. E isso aconteceu com um presente que ganhei nesse natal: MAUS (minha edição tem a história completa e é de 2010).

Na obra, Art Spiegelman narra o que aconteceu com seu pai, um judeu polonês, durante a Segunda Guerra Mundial. Interessante que Art também é um personagem e a HQ, uma grande metalinguagem, contando como a mesma nasceu. Em determinado momento Art conversa com sua mulher no carro e diz: “A realidade é complexa demais para os quadrinhos... preciso deixar coisas de fora, simplificar”. Ela responde: “Querido, é só ser SINCERO”. E é isso que sentimos nos desenhos e nos diálogos: sinceridade.

Todos estudamos o que aconteceu durante a Segunda Grande Guerra. Entretanto, não sabemos o que foi vive-la. Nem Art. Ele, como nós, ouve de Vladek, seu pai, todos os detalhes das situações que enfrentou. Como diz o subtítulo da HQ, estamos diante da história de um sobrevivente.

A relação pai-filho é um tanto complexa. A guerra deixou cicatrizes em Vladek. Cicatrizes que ele carrega em suas escolhas, as quais Art não consegue entender na maior parte do tempo. Quem tem razão talvez não seja o mais importante, mas sim a luta de cada um em tentar aceitar a opinião do outro.

A primeira parte fala do início da guerra na Polônia dividida (via acordo de não agressão) entre a Alemanha de Hitler e a URSS de Stalin. Perseguição, perda dos bens, fome. Está tudo lá, em preto e branco. O título desta parte não poderia ser mais descritivo: “Meu pai SANGRA história”. Uma das primeiras falas do pai, ainda no prólogo, me marcou muito. Quando Art se queixa sobre seus amigos, o pai retruca: “Amigos? Se tranque em um quarto com eles, sem comida, por uma semana. Aí verá quem são seus amigos...”.

Na segunda parte acompanhamos todos os ultrajes com que os prisioneiros dos campos de concentração eram confrontados. Auschwitz traz novos personagens na vida de Vladek e a descrição deste de todas as ações que o levaram a sobreviver são impressionantes. O traço de Spiegelman é tenso e urgente nesses momentos, transportando-nos para tais situações. O peso da guerra esta impresso na crueza dos detalhes.

A escolha de ligar cada nacionalidade com um tipo de animal é referência clara às propagandas nazistas, que tratavam os judeus por ratos. Os alemães são gatos, seus inimigos naturais. Os estadunidenses são cachorros; os poloneses, porcos; os franceses, sapos; os britânicos, peixes e os russos, ursos. Esse recurso também nos deixa claro o quão irracionais podemos ser. Curiosidade: MAUS em alemão significa ratos...

Leitura obrigatória. Uma obra prima, vencedora do Prêmio Pulitzer. Faço minhas as palavras do Boston Globe, na contra-capa: “Uma obra de arte brutalmente tocante”.

2 comentários:

  1. Belo texto gafanhoto! Começando a ler MAUS exatamente agora...

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  2. É realmente lindo juca. Quer dizer, lindo não é bem a palavra, é duro, real, meio bruto em várias partes...a forma como ele trata o pai, que é do jeito que é por causa de tudo o que passou. Meu, e pensar que tudo aconteceu mesmo. Muito, muito bom mesmo...

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