quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

TV: Primeiras Impressões de "Em Família"

Negativamente tradicional e repetitiva, "Em Família", a nova novela das 21h da Rede Globo, estreou patinando muito na audiência. Resultado de esperar que o público tenha paciência com uma trama arrastada que começa nos anos 80, passa por um período entre 1989/90 até chegar aos dias de hoje. Estas duas primeiras fases deixariam qualquer autor de "Malhação" orgulhoso. Repleto de atores adolescentes, jovens, inexperientes e subaproveitados em diálogos e cenas clichês, o público resolveu ignorar capítulos pra ver o que realmente interessava ao final da segunda fase.

Para tal, a Globo resolveu mudar a ordem das coisas. Inicialmente concebida pra ter 12 capítulos, as
o triângulo amoroso enquanto jovens
duas primeiras fases sofreram novas edições que cortaram muita coisa e estendeu ao máximo outros capítulos. O resultado é que a fase atual se fez presente já na metade do sétimo episódio. 

As duas primeiras fases contaram sobre a amizade de Helena, seu namorado Laerte e Virgílio desde crianças. O ciúmes de Laerte, o senso de liberdade de Helena e enfim a tragédia - Laerte agride Virgílio e o enterra vivo às vésperas de seu casamento com Helena. Destas fases, consagraram-se as atuações de Bruna Marquezine como Helena e Alice Wegman como Shirley.

Na fase atual, Laerte cumpriu sua sentença e passou mais de 20 anos fora do Brasil se consagrando como flautista, teve um filho com Shirley e supostamente um filho com Helena, que se sentindo culpada por todos os acontecimentos se casou com Virgílio. Na esteira da tragédia pré-casamento, várias outras se seguiram - a irmã de Virgílio foi estuprada, o pai de Helena teve uma parada cardíaca fulminante, o irmão de Helena virou alcoólatra de vez, o pai de Laerte teve de amputar uma perna pela diabetes.

Alice Wegman como Shirley jovem
Um dos problemas em tudo é a equivocada escalação de elenco. Com três fases, muitos atores não combinavam com suas partes de outra época. Sem contar a diferenciação de idade. Natalia do Valle (60 anos) é mãe de Julia Lemmertz (50 anos), que vive uma Helena de pouco mais de 40 anos, que chama Vanessa Gerbelli (40 anos) de tia, que teria uns 50 anos. 

Mas e a trama? Laerte menciona diversas vezes sobre a fênix, indicando que o amor dele e Helena irá renascer na trama, apesar dele ter enterrado o rival vivo. Se Laerte se tornasse um homem melhor mais de 20 anos depois, seria plausível, mas não é o caso. Namorando a personagem de Helena Ranaldi, ele a trata miseravelmente como uma estepe em cenas subaproveitadas em Viena. Aliás, são da atriz as melhores e mais interessantes cenas da fase atual. Conhecido pela filosofia de botequim, Laerte faz cara de pensador dentro do carro ao voltar pra onde tudo aconteceu, no que sua namorada diz "Você deve deixar o passado pra trás", onde ele responde "mas a fênix sempre renasce", ouvindo dela "A fênix... Mitologia, meu caro. Mitologia", e traz todos para a realidade com "vamos descer do carro?".

A questão feminina, sempre tão abordada pelo autor Manoel Carlos, nunca esteve de forma tão machista. Além da própria personagem de Helena Ranaldi se sujeitar às grosserias do namorado, Helena, em sua feminilidade jovial e livre, é considerada por todos e si própria a grande culpada por
o casal que deve roubar a cena
Laerte ser possessivo e ciumento a ponto de agredir e enterrar alguém vivo. Alguns no julgamento dizem "ela sempre deu bola pra todo mundo", e "ela gostava de provocar ciúmes nele". Shirley decide ficar e engravidar de Laerte, mesmo após o incidente, mas por algum motivo obscuro não corre atrás dele em mais de 20 anos. A personagem de Giovanna Antonelli é casada com um cozinheiro, e apesar de odiar as comidas do marido, assume que sua profissão é "fazer nada", apesar de sua trama se diferenciar por uma redescoberta na sexualidade.

Outro tema latente até então é o incesto. Relacionamento entre primos, o sobrinho que paquera a tia e diz que a via tomar banho quando jovem, e até um romance entre supostos pai e filha deve ser abordado nos próximos capítulos.

Assim como em "Amor à Vida", o desprezo do público e críticas negativas devem mudar a condução da trama, e a fase atual dará lugar a uma novela onde coadjuvantes se tornarão protagonistas.

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