Antes de falar do filme 127 Horas em si, preciso falar sobre seu protagonista, o ator James Franco, de 32 anos. O ator fazia participações pequenas até se destacar pelo seriado Freaks & Geeks de 2000 que teve apenas uma temporada, e então no ano seguinte o ator viveu James Dean num filme para a televisão e levou o Emmy e o Globo de Ouro pela atuação. Foi aí que a vontade de ser um astro aparentemente subiu a cabeça do ator, e ele participou de produções independentes, cults e filmes bastante comerciais, incluindo aí logo em seguida seu chato Harry Osbourne em Homem Aranha.
Mas em algum momento essa longa fase do ator tentando ser um galã de Hollywood cessou, e ele percebeu que seria melhor tentar ser um bom ator que um mero astro. E desde então o ator vem colhendo os frutos deste novo comportamento. A mudança aconteceu por volta de Homem Aranha 3, onde pela primeira vez ele se destacava mais que Tobey Maguire e Kirsten Dunst, com uma atuação que não se preocupava com estética, mas sim com as mudanças psicológicas do personagem. E então veio seu elogiado trabalho em Milk, e comédias aparentemente descompromissadas como Segurando as Pontas e Uma Noite Fora de Série. Seu trabalho baseado em dramas biográficos começou com o pouco comentado Howl de 2010, sobre uma fase da vida do poeta Allen Ginsberg. Então ele engatou uma ótima participação em Comer, Rezar, Amar e então este 127 Horas.
O filme dirigido pelo cultuado inglês Danny Boyle, que após ganhar um Oscar de direção por Quem Quer Ser Um Milionário? escolheu este projeto independente de estúdios, é baseado no livro autobiográfico de Aron Ralston, que conta sua experiência durante uma tarde de sábado em 2003 num parque repleto de cânyons no estado de Utah nos EUA, quando desalojou uma rocha de quase meia tonelada que caiu sobre a sua mão direita e o pulso. A partir de então foram seis dias até que conseguisse sair. Em meio ao desespero da falta de suprimentos, e de gravações de despedida para a família em suas duas câmeras, ele se lembrava e se arrependia de não ter avisado ninguém sobre onde iria. Após os 6 dias, a solução foi se livrar da única coisa que o mantinha preso à pedra, seu braço.
Aron e o desespero de ter a mão presa |
As 127 Horas que o filme e o livro cobrem são desde o momento em que Aron acorda no sábado até ele apagar ao ser resgatado. Talvez por isso Boyle tenha resistido ao clássico relógio na tela, e tenha apenas colocado os dias da semana. Mas todo o talento pop do diretor de Transpotting e A Praia estão ali no filme, dos videoclípicos créditos iniciais ao som de "Never Hear Surf Music Again" do Free Blood às cenas em primeira pessoa (através das câmeras portáteis de Aron). O filme está repleto de qualidades técnicas, como a brilhante fotografia e a surpreendente praticidade da trilha de A.R. Rahman (o mesmo indiano de Quem quer ser um milionário?), e talvez por ter sido um projeto independente, tenha muitos problemas de continuidade (que só serão notados por chatos, mas como o filme tem muitos cortes podem ser perdoados).
A tão comentada cena do auto-amputamento do braço, onde pessoas teriam passado mal no Festival de Cinema Independente de Toronto não é tão longa quanto eu esperava, e nem tão cruel, apesar de realista.
O verdadeiro Aron Ralston e sua prótese. |
Mas a maior surpresa é podermos assistir a um filme de pouco mais de 90 minutos onde James Franco fica o maior tempo sozinho em cena. Eu pessoalmente o detestava como ator, a ponto de pedir para que em Tristão e Isolda o ator que fez o personagem de Franco criança permanecesse na projeção, ou que o personagem morresse pra que Isolda ficasse sozinha em cena. Franco não recebeu uma indicação ao Oscar e o convite para apresentá-lo à toa (mesmo que a apresentação tenha se tornado um tropeço em sua carreira), pois sua atuação se despe de qualquer vaidade para se preocupar apenas com o sofrimento do personagem e fazer parte de uma espécie de documentário dramático.
O diretor Danny Boyle agora dá um tempo no cinema para fazer um "Frankestein" teatral na Inglaterra (que será exibido nos cinemas no esquema que as óperas vêm fazendo) , e principalmente para preparar a grandiosa cerimônia de abertura das Olimpíadas 2012 em Londres, da qual é o responsável.
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