sábado, 22 de fevereiro de 2014

Muito (mas muito) Além do Horizonte

O que poderia dar errado numa trama que falasse sobre uma sociedade alternativa em busca da felicidade plena no meio da floresta amazônica? Tudo, se a estrutura e principalmente os personagens forem frágeis. É o caso da novela das 19h da Rede Globo "Além do Horizonte", escrita por Carlos Gregório (roteirista do filme "Se eu Fosse Você") e Marcos Bernstein (roteirista de "Central do Brasil" ao lado de João Emanuel Carneiro, autor do hit "Avenida Brasil") com a colaboração de outros seis roteiristas.

A trama começa com os jovens Marlon (Rodrigo Simas) e
jovem elenco protagonista
Paulinha (Cristiana Ubach) fugindo para a tal sociedade utópica em busca de uma misteriosa e inexplicável felicidade no meio da floresta amazônica. O irmão de Marlon, William (Thiago Rodrigues) e o namorado de Paulinha, Rafa (Vinicius Tardio) começam independentemente uma investigação pra descobrir o paradeiro deles. Paralelamente, a milionária Lili (Juliana Paiva) descobre que seu pai pode estar vivo, e começa uma investigação que liga seu desaparecimento ao sumiço da tia da Marlon e William, Teresa (Carolina Ferraz) anos atrás. Juntos eles encontram sinais da busca de uma felicidade plena em livros, especificamente em uma livraria que serve de fachada pro recrutamento de novos moradores pra tal sociedade utópica.

máquina de felicidade ou tomografia?
Uma trama assim deixa pouco espaço pra humor, que só era encontrado na comunidade ribeirinha de Tapiré, o núcleo mais interessante da novela, e também a civilização mais próxima do tal local secreto. De todos os personagens da trama, era a professora Celina (Mariana Rios) de Tapiré quem mais se destacava, numa mistura de engajamento social, heroína e humor natural.

A baixíssima audiência de 13 pontos fez os autores acelerarem a
"É, vamos ter que reprisar o casal de 'Malhação'"
lenta trama que não revelava qual a função da tal sociedade utópica e do que seria a tal felicidade, que seria na verdade uma máquina de lavagem cerebral sem objetivo claro. A tal sociedade utópica saída de filmes de ficção científica, com todos fazendo experiências e usando roupas claras e opacas, continua sem o menor objetivo claro, mas os muitos vilões por trás dela parecem querer algo que os telespectadores não compreendem. Mas nem só de tramas vivem novelas, e os personagens insípidos precisaram se reestruturar, e assim o casal protagonista Lili e William deixou de ser um casal pra que Lili viesse a se apaixonar pelo cunhado Marlon, já que seus intérpretes já haviam feito um casal de sucesso na última temporada de "Malhação" (e a audiência reagiu positivamente), e William abandonado caiu nos braços da agora insípida heroína professora Celina que, pasmem, começou a cantar pro amando, numa clara alusão a personagem da atriz em uma das, novamente, trocentas temporadas de "Malhação". Isso sem contar o núcleo urbano de Flávia Alessandra e seu triângulo (a)moroso com Guilherme Fontes e Alexandre Borges. Sem muita comédia, outros tantos personagens tentam forçar a graça.

O maior pecado da trama é a falta de estrutura e convicção de seus valores. De longe, poderíamos dizer que a busca da abstrata felicidade "além do horizonte" fosse uma analogia à busca dos jovens pra uma função no mundo, mas a trama jamais explorou esta crítica objetivamente. Sem personagens pra realmente chamar de protagonistas, e torcer a favor esperando um começo, meio e fim toda a trama patina. E a bruxa parece estar solta na produção com Claudia Jimenes tendo de se afastar pra se recuperar de uma cirurgia no coração, Laila Zaid precisando se recuperar de uma forte pneumonia e até Flavia Alessandra sofrendo uma luxação no pé que acabou sendo incorporado à trama.

"Jogaram até eu no buraco"
Acredito que todos estes problemas poderiam ser solucionados se os autores tivessem uma escaleta original pra novela, mas todos os conceitos são provenientes de outros produtos. A sociedade utópica saiu de "Lost", assim como toda falta de explicação que a cerca. O monstro que assustava Tapiré era uma mistura de monstro-nuvem do mesmo "Lost" com a explicação de "A Vila". Até a livraria, que servia de recrutamento, se chamava Quimera, numa clara alusão - inclusive no logo - à "Lost". Isso sem contar as provas pra "conhecer a felicidade plena" que lembraram demais "Jogos Vorazes".

Talvez se acompanhasse o novo ritmo samba-rock da música tema composta por Erasmo e Roberto Carlos, a novela teria tido maiores atenções.

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