A onda de remakes tem possibilitado um outro fenômeno interessante: a vontade dos cinéfilos em revisitar obras antigas que, à primeira vista, não necessitariam de uma nova roupagem. Guardava bem claro em minha lembrança a imagem do policial, parte máquina parte humano, que guardava a sua arma dentro da coxa metálica, mas assistir a Robocop - O Policial do Futuro (Robocop, 1987) mostrou-se uma experiência muito interessante. Posso afirmar que passei a gostar ainda mais do filme do estiloso e talentoso Paul Verhoeven.
Logo de início o filme já se estabelece em um futuro sem muitos floreios: nada de carros voadores, roupas extravagantes ou prédios com design futuristas. A cidade do futuro de Verhoeven é nua e crua, sem cor e sem alma. Dominada pelos malfeitores e as grandes corporações, não há espaço para rodeios. A polícia sofre para controlar a situação e os seus rendimentos não são satisfatórios. Nesse contexto, com as mortes de policiais se tornando algo frequente, conhecemos Murphy, recém transferido e rapidamente colocado nas ruas, ao lado de sua nova parceira Lewis. Em uma malfadada diligência o novato é executado (de uma forma tão gráfica que só Verhoeven poderia conceber) e um oportunista da OCP (conglomerado ciber-futurista) se apossa dos restos do mesmo e temos o surgimento do policial do futuro: Robocop!
O diretor se apropria de uma obra de ação para satirizar a sociedade sem piedade. A utilização de programas de TV diretamente nas cenas só nos mostra o nível do conteúdo difundido, contribuinte assíduo para a sociedade covarde e inerte que encontramos. Ponto para o roteiro que, dessa forma, contextualiza o expectador através de propagandas banais e risíveis. Em dado momento um diálogo entre um policial e um terrorista/político é tão bizarro que causa risadas involuntárias na primeira situação tensa do herói.
A violência e o sadismo com que Verhoeven escolhe mostrar muitas sequências conferem ao longa um DNA próprio, algo que chocou na época por ser muito mais extremado do que o que era comum a Hollywood, e (acredite) choca ainda hoje. Ainda assim, as cenas são tão orgânicas que fica difícil imaginar as mesmas de outra forma.
Algo que impressiona muito são os movimentos de Robocop. Sinceramente, não sei como conseguiram movimentos tão robóticos. A coreografia impressiona, com a cabeça se movendo um pouco antes do resto do corpo. Murphy é um personagem muito interessante, mesmo que só tenhamos acesso a sua vida através das lembranças que passam a assombrar o robô. Mais uma vez, méritos para os roteiristas!
Robocop é ação mas fala de tantas coisas juntas que essa nova visita me fez refletir muito mais, como dito no começo do post. Grandes corporações, privatizações, manipulação televisiva, apatia social, todos assuntos que tornam mais densa a discussão sobre a dualidade de Murphy. Qual a diretriz a seguir? Como salvar o mundo? Esse é um serviço para Robocop!
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