quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Quadrinhos: SWEET TOOTH


SWEET TOOTH, de Jeff Lemire, HQ de 2009 (EUA) acaba de chegar por aqui com o subtítulo Depois do Apocalipse. No enredo temos um garoto com chifres de cervo que nasce após um "incidente" ter atingido os EUA, destroçando sua população. As únicas crianças nascidas após o tal evento são híbridas, alteração essa que as torna imunes à peste dizimadora. Elas mesclam características humanas e animais, e são perseguidas. Gus, o garoto com chifres da capa - e que acompanhamos -, é um menino com uma alma dócil e uma queda por doces (daí o nome do gibi).


Na trama, os garotos híbridos como ele passam a ter a cabeça a prêmio, pois muitos acreditam que em seus DNAs se esconda a resposta para a peste. Quando o lar de Gus é atacado por caçadores inescrupulosos, um homem misterioso e violento aparece para lhe salvar. O nome dele é Jepperd e ele promete levar o jovem até a mítica Reserva, um local seguro para as crianças híbridas.

Percebemos logo que as cidades não são lugares aconselháveis, já que saqueadores e estupradores agora habitam suas construções abandonadas. O pai de Gus deixou para o ensinou cinco regras de ouro antes de sucumbir à praga: sem fogueiras durante o dia, confiar somente em si mesmo, orar pela proteção divina antes de dormir, lembrar de sua mãe em suas preces e, a mais importante de todas as regras, nunca deixar a mata, seu lar. Mas Gus irá quebrá-las antes mesmo de terminarmos as primeiras 30 páginas...


O criador Jeff Lemire, que escreve e desenha - e vem fazendo sucesso na DC tradicional com Homem-Animal -, terminou a pouco a série na edição 40, como havia prometido. Já indicado ao prêmio Eisner, o autor apresenta uma ousada visão pós-apocalíptica sobre o destino da humanidade. A influência e o valor da inocência face uma inesperada amizade que brota mesmo diante de situações adversas. A narrativa é cinematográfica e se encaixa perfeitamente com o clima tétrico e pesado da obra, com pequenos espaços para o humor mordaz do autor. Relativamente um novato na indústria, o canadense abandonou a faculdade de cinema, alegando que os quadrinhos eram mais apropriados à sua natureza taciturna (palavras do autor). Jeff chamou atenção pra si ganhando prêmios e, após alguns outros trabalhos, começou a jornada de Sweet Tooth para a Vertigo.

A arte de Lemire pode não cativar à todos de princípio. Seus traços são marcados e simplistas, chegando por vezes a serem um pouco rústicos, mas mantendo um charme esquisito. Charme esse que serve para ressaltar o caráter estranho da história que temos em mãos. Após algumas páginas o traçado já se torna orgânico e o ritmo da HQ já cativou o leitor. A arte do momento em que Gus se vê frente a frente com um cervo e os detalhes do olhar de ambos ressoam na página, aguçando a curiosidade sobre o caráter híbrido do personagem. Os dois olhares transmitem medo e curiosidade, sentimentos que permeiam as páginas desse primeiro encadernado.


O material não é indicado para menores de 18 anos, em virtude da violência exacerbada e dos temas pesados sobre a natureza humana. A economia de texto por parte do autor dão um ar contemplativo e minimalista ao gibi, convidando o leitor a observar os fenômenos que acontecem no papel. E não é exatamente esse um dos atrativos da leitura desse tipo de fonte? A narrativa deixa os leitores ávidos para saber o que está por vir... Talvez seja a expectativa de ver o comportamento de um indivíduo indefeso neste novo mundo que traga a vontade de ler. Sua inocência, a ponto de apenas provar um chocolate ser uma grande descoberta em sua vida, é tocante. Leia este primeiro encadernado e tente não ficar curioso com o enorme cliffhanger ao final.

Sweet Tooth – Depois do Apocalipse Vol. 01: Saindo da Mata reúne as 5 primeiras edições em uma brochura de enorme qualidade. Se gosta de quadrinhos, não deixe de conferir.


Nenhum comentário:

Postar um comentário