sábado, 9 de julho de 2011

A saga de uma família disfuncional...


O mundo das HQs, ou nona arte (como é carinhosamente apelidado pelos fãs), sempre foi terreno para que diversos autores extravasassem sua criatividade, não se resumindo apenas aos personagens já famosos, mas também muito voltado a produções autorais. Gerard Way, vocalista da banda My Chemical Romance sempre foi conhecido por ousar nas letras de suas músicas e era de se esperar que naquela mentre criativa repousasse uma das HQs mais interessantes da última década. Estou falando de THE UMBRELLA ACADEMY (2007).

A série, vencedora dos prêmios Eisner e Harvey em 2008, conta a história de uma "família" de super-heróis que são adotados por um certo empresário chamado Reginald Hargreeves e, com o auxílio deste, começam a desenvolver os seus poderes, preparando-se para um perigo futuro. Lembrou de alguma coisa? Sim, como eu disse no primeiro parágrafo, a obra é interessante, mas não totalmente original (como quase tudo hoje em dia, não é?), bebendo muito em X-MEN, WATCHMEN e até mesmo AKIRA (este último principalmente no visual e na personalidade de alguns personagens). O próprio Way cita essas como suas HQs favoritas.

Mas aí começa o repertório de situações incomuns que a tornam interessante: essas sete crianças são as únicas que sobreviveram de uma leva de quarenta e poucos bebês que nasceram de mulheres que não estavam grávidas. Inusitado, não?

A dinâmica da família é retratada de forma crua, visceral: o ralacionamento entre familiares já é complexo, que dirá entre super-"irmãos"... Eles nos são "nomeados" inicialmente por números. Por aí podemos inferir o quão rígido é o seu crescimento/treinamento, que acaba por moldar personas singulares e em constante conflito. O tempo passa, eles se separam e acabam por se reencontrar quando Hargreeves aparece morto, fato que vem acompanhado por muitos acontecimentos que ameaçam as "crianças" e o planeta.

O primeiro arco de história, APOCALIPSE SUITE (já disponível) conquista e surpreende ao longo das suas páginas. Enxerga-se um esboço de mais uma hitória de grupo de super-heróis salvando o mundo para, logo em seguida, sermos brindados com soluções criativas muito legais. Os poderes incomuns dos protagonistas tornam os clichês que existem nem um pouco incomodos. Gostei muito mesmo e fiquei interessado pelo que viria depois, já que na época já se falava em adaptações para o cinema e novos arcos de história. Há umas duas semanas comprei o segundo encadernado, DALLAS... Bom, mas não está à altura do primeiro.

Incrível a coincidência que, nesse mesmo ano, um filme baseado em HQs (X-MEN - PRIMEIRA CLASSE) também tenha usado em seu plot um acontecimento real para criar um clima mais intimista, algo que a HQ da equipe de heróis disfuncionais também faz. Dessa premissa eu gostei, tanto quanto do desenvolvimento dos personagens, que continua a contento. Mas senti falta de algo que transbordava nas páginas do primeiro arco: a urgência de cada um deles de se provar importante para os outros. Dessa vez perdesse muito tempo em personagens que para mim foram muito bem resolvidos na primeira parte e deixasse de lado outros que poderiam aflorar muito mais.

Independente disso, a leitura continua interessante e muito acima do que encontramos hoje em dia na nona arte. Vale a pena visitar o mundo Way, brilhantemente retratado nos traços do brasileiro Gabriel Bá. Não é de hoje que essa fera dos quadrinhos nos brinda com imagens detalhadas e animadas. A ação salta aos olhos, fazendo com que sempre gastemos um tempo a mais em cada página, só para olhar novamente.

Diálogos afiados, boas ideias e uma arte única e bela. É isso que te espera em THE UMBRELLA ACADEMY: APOCALIPSE SUITE e THE UMBRELLA ACADEMY: DALLAS. Não perca!


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