quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Direto da Telona: Amor, ou O Filme Tristíssimo do Ano


Dos indicados ao Oscar a melhor filme deste ano, dois títulos chamam a atenção: são eles Indomável Sonhadora, filme estadunidense de estréia de Benh Zeitlin sobre o furacão Katrina, e o outro é o franco-austríaco Amor, dirigido pelo veterano alemão Michael Haneke. Veterano também em ganhar prêmios: são 59 prêmios (entre eles a Palma de Ouro em Cannes por este e por A Fita Branca de 2009) e 49 indicações.

O cinema francês vem mostrando força e influência na indústria cinematográfica americana nos últimos anos, culminando no Oscar do ano passado com o franco-americano O Artista, e neste ano já se tinha a certeza de que outro filme francês teria destaque no Oscar: Os Intocáveis, que não ganhou nenhuma indicação e curiosamente vai ganhar uma versão americana.
As indicações ao Oscar podem não medir a qualidade de nenhuma produção de fato, afinal se trata de um prêmio da indústria, e produções estrangeiras ganharam espaço nos últimos anos por motivos nem tão nobres, mas um filme como Amor não recebeu indicações a melhor filme, filme estrangeiro, diretor, atriz e roteiro original apenas por questões comerciais, também se trata de um serviço.
Uma das cenas mais tensas do Cinema

O protagonista Georges (o incrível Jean-Louis Trintignant) tranca a porta do quarto quando recebe visitas em casa, a fim de evitar que vejam sua esposa definhar numa cama. Mas os espectadores podem dar uma espiada (muito indiscreta) neste Big Brother da Terceira Idade, e com muita calma são convidados a refletir sobre a situação dos idosos numa sociedade ocupada demais que poderia estar em qualquer lugar, ao mesmo tempo em que podem apreciar o melhor do cinema.

Com uma fotografia inspirada (se prepare para não acompanhar o protagonista quando ele dizer que vai buscar algo) que favorece de maneira singular o cenário (basicamente um amplo apartamento em Paris, mas que poderia estar em qualquer lugar), os móveis (que são uma extensão do casal) e principalmente o trabalho primoroso dos protagonistas, em especial  a atuação física e sem vaidade de Emmanuelle Riva, que vive a simpática professora de piano aposentada Anne, que definha nos 3 atos do filme.
O diretor e seus astros

O engenhoso roteiro de Haneke em 3 atos é repleto de ótimos diálogos, e já começa com uma rápida cena que prepara o público para o rumo que o filme tomará, e de quebra ajuda a manter uma tensão assustadora por todo o filme. Nada é entregue gratuitamente: o público não sabe exatamente dos problemas de Anne, nem de onde vem/veio a renda do casal. Há um distanciamento anormalmente formal entre o casal, a filha (vivida por Isabelle Huppert) e os outros personagens, e algumas marcas (como a do protagonista abrir a carteira de tempos em tempos) que levam a reflexão. Sem contar o brilhante (e moralmente importante) final, que surpreende mesmo depois do aviso da primeira cena.



Alguns críticos chamam o filme de tristíssimo, mas não há nenhuma cena feita para as lágrimas. O que é de fato triste, é constatar que ser idoso não é fácil para ninguém, e o filme está ali para ser lembrado por muito tempo depois que você sair do cinema. Haneke deixa claro que ele não quer te emocionar, nem simplesmente fazer um bom filme, mas fazer você pensar sem ser didático, nem esfregar tudo na cara do espectador. Às vezes o sutil machuca mais.

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