sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Direto da Telona: O LADO BOM DA VIDA
O LADO BOM DA VIDA (Silver Linings Playbook, 2012), produção de David O. Russell (O Vencedor), é um filme preocupado com seus personagens. Sendo uma das marcas do diretor deixar os atores mais à vontade - sem grandes interferências - torna-se possível que esses desenvolvam suas personas ficcionais a contento, deixando-nos a vontade para também classifica-lo como um filme de atuações. E as dessa película não decepcionam.
Bradley Cooper é Pat Solitano, um paciente bipolar - que em uma de suas crises quase comete uma fatalidade - tentando de toda forma uma reunião que ao seu ver é inevitável. Jennifer Lawrence vive Tiffany, mulher que transforma sua dificuldade em superar a morte do marido em agressividade direcionada ao mundo. E é essa condição psiquiátrica desbalanceada em comum e a busca por sua superação que os une, ainda que se estranhem inicialmente. Por meio de amigos, os dois se envolvem em um jogo que visa a melhora (ou seria o benefício?) de ambos.
Na película, o diretor acerta ao dar espaço para as fantásticas interações entre Cooper e Lawrence. Seus diálogos - afiados, bem humorados e carregados de emoção e sarcasmo - são declamados como enxurradas, envolvendo todos ao redor, inclusive o público. O trabalho de movimento corporal e os olhares e indagações são impressionantes. Nunca estive frente a frente com alguém com transtorno bipolar, mas Cooper convence em sua angústia, em especial em uma cena em que contesta o final de um livro de Hemingway.
Mesmo abordando temas sérios, o filme desenvolve humor de sobra em seu material. Sua montagem privilegia os diálogos rápidos, mas nem por isso rasos, dos atores. Pelo contrário, vemos as características de cada personagem transbordarem na forma como se expressam, seja em um pai com transtorno obsessivo-compulsivo voltado para seu fanatismo por futebol americano (com uma ótima atuação de Robert De Niro, como há muito não se via), ou em uma mãe dedicada à melhora do filho, ou mesmo no amigo, doidinho, que entende Pat tão bem (com o divertido Chris Tucker), expoentes no ótimo elenco de apoio. Divirta-se com a cena da "aposta", em que todos falam ao mesmo tempo, a melhor do filme na minha opinião.
O clímax torna-se memorável por não ser exagerado ou carregar demais nas ações. Engraçado, é um momento que defende firmemente a positividade, tão repetida por Pat ao longo do filme. Com inteligência e sem apelar para a breguice, o diretor - e todos os envolvidos na produção (com destaque para uma ótima trilha sonora) - conseguem trazer um humor comedido e oportuno para uma trama carregada e pesada. A sensação é a de assistir a um road movie sem a estrada. É um rito de passagem, e o resultado é encorajador.
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