terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Vivo ou morto, você vem comigo!



Robocop (2014) não é um remake comum. Ao contrário da maioria das releituras de filmes antigos, que sofrem ou por copiar demais o original ou por ignorá-lo por completo, a estreia de José Padilha em Hollywood sabe balancear bem a homenagem ao cult de 1987 e a criatividade ao redor do personagem título, trazendo uma nova história que dialoga com o mundo de hoje.


Em 2029, a Omnicorp detém o monopólio tecnológico dos drones, robôs que auxiliam na manutenção da paz. Entretanto, devido a uma lei específica, os EUA não permitem que os mesmos atuem em seu território, já que os robôs são desprovidos do livre arbítrio, agindo dessa forma somente de acordo com suas diretrizes. A multinacional decide então colocar o homem dentro da máquina e quando o jovem policial Alex Murphy sofre um atentado que o mutila, os engravatados oferecem à esposa do mesmo uma possibilidade de trazer seu marido de volta.


Padilha e o roteirista Joshua Zetumer fazem escolhas interessantes desde o início do longa, usando a mídia televisiva para auxiliar no avanço do enredo (o que já acontecia no original) mas de uma forma mais específica e contundente, focando na pessoa de um apresentador sensacionalista (alguém lembrou de Tropa de Elite 2?). Além disso, no novo filme a introdução do policial Murphy é um pouco maior e sua família passa a ter uma inclusão mais ativa na trama, algo interessante e que confere ao personagem mais camadas.

A evolução do enredo também inova ao enfocar um ser humano que não quer se tornar máquina (ao contrário do primeiro que era sobre um robô que queria voltar a ser humano). Temos uma pessoa que é modificada para virar um robô e, para isso, deve ser sobrepujada pelo seu sistema operacional, perdendo o seu lado humano, conseguindo assim oferecer os mesmos resultados e o grau de eficiência dos drones da Omnicorp. O filme traz o personagem Dennett Norton, espécie de Dr. Frankenstein do novo Robocop. Como eu disse, mais e mais camadas para abordar o mundo armamentista, onde a ciência avança e gera questionamentos sobre os limites para tal avanço e a influência que conglomerados multinacionais - amparados ou não pela mídia imediatista - nos assuntos reconhecidamente de responsabilidade de cada nação.

Padilha e o montador Daniel Rezende investem em uma montagem bacana, de ritmo ágil, conferindo a esse a mesma sensação de urgência do original. Todo o didatismo, necessário em alguns momentos, se dá por belos efeitos da visão em primeira pessoa de Murphy/Robocop, cenas essas que levarão os fãs de games ao delírio. O policial do futuro mantém seu 'barulhos mecânicos', mas está inegavelmente mais rápido e com uma destreza de dar inveja a qualquer artista circense. Nada que atrapalhe ou destoe (muito) na trama.

As homenagens são pontuais, mas muito bem empregadas. Inserções da fantástica trilha de 1987, o primeiro protótipo da 'roupa' cibernética, o nome do parceiro, e mesmo algumas cenas, como a invasão de um ponto de produção de drogas, tudo muito orgânico e sutil. E sim, a famosa frase-bordão surge, já próximo do final, deixando claro que sim, a produção respeitou o cult, mas não se resignou a fazer uma cópia.


Robocop é um bom filme.  Fã do original ou não, não deixe de dar uma chance a esse longa. Ele é o futuro da polícia. Ele é o Robocop.

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