É inegável que devemos a moda dos filmes em 3D a fim de conter a pirataria à James Cameron e seu barulhento Avatar, e também são inegáveis as virtudes de sua busca por uma boa tecnologia em 3D. As câmeras e o sistema que ele ajudou a desenvolver já foi visto satisfatoriamente em Resident Evil: Recomeço, e neste ano teremos muitos outros usando esta tecnologia. Como uma espécie de vitrine sobre as possibilidades do uso deste 3D, James Cameron produziu o filme Santuário, dirigido por Alister Grierson, que só tem experiência com um longa metragem desconhecido de 2006. Talvez Cameron devesse ter investido em alguém com mais experiência.
O fato é que James Cameron queria atingir um público muito maior com um filme nos moldes dos documentários que produziu entre Titanic e Avatar, mas que não fosse necessariamente um documentário, e se passasse facilmente por uma ficção. Santuário é baseado na experiência real do co-roteirista Andrew Wight, que produziu muitos documentários com Cameron e a Discovery, que ao ficar preso numa caverna com mais 14 pessoas por dois dias, teve de procurar uma outra saída.
O filme conta a história de Frank (Richard Roxburgh de Moulin Rouge e Van Helsing), um experiente e marrento mergulhador e espeleólogo que lidera uma equipe que explora um gigantesco sistema de cavernas ainda inexplorados pelo homem na Nova Guiné. A empreitada é bancada pelo fanfarrão aventureiro Carl (Ioan Gruffudd, o Reed Richards de Quarteto Fantástico), que resolve levar sua nova namorada Victoria (Alice Parkinson) para um passeio na caverna. O passeio também coincide com o retorno do jovem e birrento Josh (Rhys Wakefield), filho de Frank, que está tendo muitos atritos com o pai pela paixão por cavernas e nenhuma pelo filho. A divertida excursão já começa em morte, e uma tempestade os deixarão presos e os farão procurar por uma ainda desconhecida saída lutando contra a cruel natureza da gigantesca rede de cavernas.
O filme em si é uma sucessão de mortes ao estilo Premonição, com um pires de roteiro para narrar tudo, e fica evidente a falta de talento do diretor com atores, já que o único que se salva é Richard Roxburgh como Frank, o que podemos atribuir a experiência do ator. Há cenas bastante tensas e claustrofóbicas, mas todas são geradas pelo óbvio bom uso do 3D, pela trilha sonora que emula Avatar e a fotografia criativa que emula programas documentais como À Prova de Tudo da Discovery Channel. Parece certo, mas como muito do que acontece na trama parece desnecessário, fica uma sensação de vazio ao clichê e forçado final.
Uma curiosidade é que num certo momento do filme, que me lembrou o jogo de videogame Uncharted, há uma menção inútil sobre a 2ª Guerra Mundial envolvendo japoneses e tanque de guerra. O primeiro filme que ninguém assistiu do diretor se chama Kokoda, e fala sobre o conflito de soldados australianos e japoneses durante a Segunda Guerra numa trilha na Nova Guiné. Apesar de não ter assistido este Kokoda, acredito que o diretor tenha tido a intenção de cruzar informações de seus filmes, mas como ninguém percebeu, ficou mais uma informação desnecessária.
Santuário é então um thriller com pouca história, personagens mal desenvolvidos, conflitos que já vimos irritantemente muitas vezes em filmes melhores, mas belíssimas imagens. Chega a ser extravagante iluminar uma caverna com a luz de um relógio, mas fica tão bonito em 3D que você nem se importa. Mas da próxima vez James Cameron deve se concentrar também naquilo em que é bom: contar histórias. Avatar uniu tecnologia e uma história batida de maneira que este Santuário não chega nem perto.
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