Quando lançado em 2001, a animação "Shrek", da até então pouco empolgante divisão de animação da DreamWorks, fez um estrondoso sucesso por todo o mundo e tirou o primeiro Oscar de longa de animação da história da Pixar com seu "Monstros S/A". Três anos depois veio a divertida continuação que brincou não apenas com os personagens dos contos de fada, mas com a estrutura dos contos de fada sem precisar escrachá-la como no primeiro. E nessa continuação veio a garantia de sobrevida da franquia nos cinemas: o Gato de Botas. Com a voz hispânica e sensual de Antônio Banderas, o personagem tinha tanto ou mais personalidade que qualquer um dos protagonistas, e conquistou o público e crítica com as cenas dos grandes olhos pedintes de gato. Como o personagem cai de paraquedas na trama, sem revelar sua origem clássica e conhecida, era uma questão de tempo que ele ganhasse um filme solo.
O que ninguém esperava era que o seu longa-metragem solo tivesse tanta personalidade. Sem usar os truques de paródia dos filmes do ogro verde, o filme do felino se aproxima mais dos clássicos westerns. E aí ganha qualidade. Com roteiro parecido o primeiro "Carros" da Pixar fez um razoável sucesso que garantiu uma muito inferior continuação. É a velha (e infalível) história do forasteiro que apesar do bom coração vai ter que reavaliar suas más ações, e quando parece tudo bem, será mal interpretado e terá de provar seu valor a (quase) todo custo.
Oh Coitado! |
Na trama, o Gato está atrás dos feijões mágicos em posse de Jack e Jill (Billy Bob Thornton e Amy Sedaris) que o levarão ao castelo do gigante onde está a Gansa dos Ovos de Ouro. Atrapalhando seus planos aparece a gata Kitty (Salma Hayek), e por fim o parceiro dela Humpty Dumpty (Zach Galifianakis, de "Se Beber, Não Case"), que têm o mesmo objetivo. O Gato não aceita a parceria, e aí o filme ganha novo fôlego com o longo e ótimo flashback da origem do Gato e sua amizade (e por fim inimizade) com Humpty, que é essencialmente um ovo que anda e fala. E a aventura está apenas começando, pois o Gato terá de enfrentar seu passado, e resolvê-lo para sempre, e assim se tornar o felino que conhecemos na franquia do ogro verde.
Humpty Dumpty |
A excelência em contar a história, e principalmente na qualidade da animação e do 3D garantiram boas cifras, críticas e indicações a prêmios importantes. Mas não deixa de ser estranho o uso de referências tão diferentes dos filmes do Shrek, pois Jack, Jill e o ovo Humpty Dumpty são personagens conhecidos por antigas canções de ninar em língua inglesa, e mesmo assim sem grande visibilidade por não terem uma história definida como a dos contos de fada. Humpty Dumpty, por exemplo, é citado por Lewis Carroll em Alice Através do Espelho, continuação de Alice no País das Maravilhas.
Estranho sim, mas muito positivo ao usar personagens pouco conhecidos num propósito mais original.
E não deixe de prestar atenção na ótima trilha sonora de Henry Jackman, com duas faixas compostas pelo casal Rodrigo y Gabriela, que arrasam nas cordas.
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