Repetindo a parceria (de GUERRA AO TERROR) com o roteirista Mark Boal, Bigelow conta como Maya (Jessica Chastain) dedicou anos da sua vida na busca do líder terrorista Osama Bin Laden. Era de se esperar que um filme como este exagerasse no patriotismo, mas Boal soube criar uma trama quase que documental. Somos levados, num passo a passo intrigante e inquietante, à descoberta do paradeiro do chefe da Al Qaeda enquanto acompanhamos o oscilar de uma agente da CIA entre a frieza e a desolação.
O roteiro perpassa diversos momentos que acompanhamos nos noticiários, desde atentados em Londres e em uma base dos EUA até pronunciamentos de Obama condenando o uso de tortura como método para obtenção de informação. Bigelow aproveita o excelente elenco (James Gandolfini, Kyle Chandler e Mark Strong, entre outros) para mostrar o quanto o ataque mexeu com os egos da inteligência norte-americana. Em certo momento, quando questionado por um de seus subalternos quanto à capacidade intelectual de Maya, o chefe da CIA retruca: na CIA, todos somos inteligentes!
Aproveitando a atuação equilibrada de Chastain, Bigelow mostra didaticamente o que move essa mulher, sem no entanto recorrer a lições maniqueístas. Maya quer prender o ser que pode, a qualquer momento, reaparecer e abalar o seu mundo.
Tecnicamente, o filme segue o já bem sucedido GUERRA AO TERROR. A fotografia, belíssima, ressalta a desolação do mundo de Maya e o viés encorajador que seu trabalho tem em sua vida. As situações por que passa a mostram cada vez mais preparada para lidar com os problemas, falando um palavrão para ganhar a atenção do chefe, rabiscando números em um vidro ao cobrar agilidade de outro ou mesmo quando tira o capuz, aquele do começo do filme, para encarar o interrogado frente a frente. Bigelow entrega a Chastain cenas singulares em que esta, com um belo olhar ou com a postura envergada pelo peso da responsabilidade de reconhecer se o alvo foi abatido, nos lembra o porque de toda aquela ação. Enquadramentos inteligentes tiram dos diálogos a necessidade de explicar qualquer coisa. Uma progressão de humores e sentimentos.
A bela fotografia ilustra o mundo de Maya |
Destaque para as brilhantes cenas do atentado em um ônibus em Londres e do tiro fatal em Bin Laden. O soldado fica incrédulo - atitude que seria repetida por todos que ouviriam a notícia ao redor do mundo - diante do que acabara de fazer. Ele sabe que entrou para a história. Ele sente que, finalmente, uma história que começara em 2001 terminava.
Maya entra em um avião e encosta em um fundo vermelho e branco, que não por acaso lembra a bandeira dos EUA. Uma lágrima escorre por seu rosto e com ela, vai embora o peso de seu trabalho. Seu olhar diz tudo: a agulha foi encontrada.
Ponto final.
Enquadramentos cheios de significado |
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