Lançado em abril de 2012, "The Walking Dead - The Game" poderia ser mais um fiasco de adaptação pros videogames, mas surpreendeu por uma narrativa original dentro do universo estabelecido por Robert Kirkman nas HQs e na série de televisão. Por sorte, quem veio com a idéia de levar este específico universo apocalíptico foi o estúdio Telltale Games - onde a maioria dos funcionários veio da LucasArts -, por quem Kirkman já tinha apreço, e conhecida por suas graphic adventures, que já havia demonstrado foco maior em contar histórias em jogos como "Sam & Max", "Strong Bad's Cool Game for Attractive People - Homestar Runner", a última aventura "Monkey Island", e falhadas tentativas de algo que só foi conquistado por "The Walking Dead" em "De Volta para o Futuro" e "Jurassic Park".
O desenvolvimento do jogo teve a consultoria de Kirkman através de sua Skybound Entertainment, mas o enredo não foi criado por ele, apenas suas regras (por exemplo nem mesmo mencionar Rick Grames - protagonista das HQs). Três parâmetros foram fixados pra esta nova trama: a personagem Clementine como bússola moral, um encontro dela com um estranho numa sala de estar em algum momento e o final. Desta forma eles puderam dividir perfeitamente o enredo em cinco capítulos que foram lançados bimestralmente.
A trama e as decisões do jogador (por escolha de diálogos, estratégia, ou mesmo socorro - entre o bem/mal, certo/errado) acompanham Lee Everett em Atlanta na Georgia, um professor universitário condenado por um crime do qual se responsabiliza conscientemente. Mas ainda na viatura policial, o caos se instala nas ruas com os ataques zumbis, e ele acaba sozinho e algemado. Ao encontrar abrigo numa casa abandonada, ele encontra Clementine, de apenas 8 anos, protegida numa casa de árvore. Sozinhos, eles decidem cuidar um do outro, e procurar os pais de Clementine, que haviam viajado pra Savannah, no mesmo estado, a deixando com a babá. Logo eles vão parar na fazenda de Hershell (o mesmo da série de TV), mas logo são banidos com outra família. O grupo aumenta quando se abrigam numa farmácia na cidadezinha de Macon, a cidade natal de Lee. A partir daí as muitas decisões que o jogador deve tomar por Lee ficarão cada vez mais tensas, na medida que a história e personalidade dos personagens também ficam mais profundas.
A segunda temporada do jogo muda o personagem pelo qual o jogador deve tomar as decisões para a própria Clementine, agora supostamente com 11 anos de idade. A troca acontece naturalmente, mas é também um grande avanço pra indústria de jogos ter uma menina como protagonista num enredo tão ou mais violento que o da série televisiva.
Ao contrário do seriado, que muitas vezes não parece ter um superobjetivo e pouco consegue aprofundar os personagens surpreendendo o público, o jogo faz tudo isto funcionar. O objetivo de encontrar os pais de Clementine em Savannah na primeira temporada, e de encontrar Christa, por quem Clementine mantém uma dívida moral na segunda temporada, nunca atrapalha o desenvolvimento de tramas paralelas, e as surpresas sobre o passado e presente de todos os personagens. E ao contrário da série, que mantém o suspense na próxima horda de zumbis que aparecerá na próxima esquina, o jogo consegue manter isto nas ações dos personagens, e muitas vezes em ações que pouco têm a ver com zumbis. Os vivos é quem são os grandes vilões no jogo.
Da primeira temporada, onde há mais opções entre ser muito correto/bondozo ou muito errado/rude, pra segunda temporada onde Clementine tem mais opções pessimistas, há o importante desenvolvimento da trama e dos personagens. Seria infantil achar que Clementine, após tantos perrengues, pudesse dar respostas inocentes a personagens suspeitos. No episódio "A House Divided", ao perceber a desconfiança da garota, um personagem lhe pergunta o que as pessoas estão procurando, no que ela responde família, e ele filosofa "as pessoas precisam saber em quem confiar, né". Mas quem é sua família em tempos tão difíceis?
Um encontro com o mal. Alguém comparou com Governador? Yeah! |
Dividido em pequenos capítulos ou cenas, cada episódio dura em média 2h30min, mas os maiores problemas da experiência, ao menos no PlayStation3, é a queda de framerate (leia-se imagem quadriculada) e o irritante loading entre os capítulos que por pouco não minam a narrativa.
O sucesso do jogo (e do formato graphic adventure), que foi lançado de consoles a tablets, fez a Telltale ousar adaptando o universo das HQs "Fables" em "The Wolf Among Us", e futuramente com os universos do game "Borderlands" e dos livros "Game of Thrones".
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