quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
Direto da Telona: O LOBO DE WALL STREET
É possível não gostar de um ou outro filme da longa carreira do diretor Martin Scorsese, mas há algo que todos hão de reconhecer: o brilhantismo e a forma inspirada com que esse gênio constrói os seus filmes. O Lobo de Wall Street (EUA, 2013), lançado há pouco aqui no Brasil, é mais um ótimo exemplo disso.
Baseado na história de Jordan Belfort, um ex-corretor da bolsa, temos um longa que nos dá a mão e nos leva a passear por um mundo aonde o dinheiro é ganho de dia e gasto à noite, de forma despudorada e pelo simples prazer de mostrar que pode. Belfort é introduzido a esse mundo e, eficiente, começa sua própria empresa, com um objetivo claro: transformar o dinheiro dos seus clientes em seu! E aí já surge a inteligência de Scorsese, ao buscar o ridículo de cada uma das situações vividas pelo protagonista, tornando-as, de certa forma, mais palatáveis, mas sem, no entanto, demonstrar condescendência para com esses momentos.
DiCaprio, parceiro já algum tempo do diretor, dá vida ao protagonista, e o faz de forma competente. A transição do corretor iniciante e (quase) inocente para o lobo do título se dá de forma orgânica ao longo das quase 3 horas de filme e nos interessa cada vez mais saber qual o limite do corretor. Suas atitudes se perdem no meio de tantas festas, pó e sexo. Em uma cena fantástica, a bordo de seu iate, o ator mostra o quão tênue pode ser a sensação de vitória e o gosto amargo de uma derrota em um conversa com um oficial do FBI.
Carregado de palavrões em seus diálogos, o roteiro é bem sucedido em envolver o espectador, usando do artifício da narração em off, que por vezes é assumida pelo protagonista em uma conversa direta com o público, olhando nos olhos da platéia. Até nós, ali sentados, somos tratados com ironia e desprezo pelo personagem, que se vê acima de tudo e todos. Cenas como a do corte de cabelo de uma secretária e a de um 'esporte' envolvendo anões embrulham o estômago e a humilhação por que esses passam torna-se alheia rapidamente, constrangendo a todos.
Dessa forma, com escolhas acertadas e enfoques que passeiam entre o intimista e o escrachado, Scorsese desenvolve uma trama fazendo uso da comicidade que provoca o riso não pelo engraçado, mas pelo desprezo que passamos a sentir com relação a alguns personagens. O elenco também demonstra o dedo de ouro do diretor, que coloca Jonah Hill e seu jeito cômico em favor de seu personagem e a bela Margot Robbie que flerta com - mas nunca se entrega ao - clichê das personagens femininas em um filme de máfia. Vale citar também Matthew McConaughey, que em uma cena brilhante (estilo mestre-discípulo) coloca seu personagem como um dos mais marcantes da película.
Difícil terminar o longa indiferente a tudo o que se passa. É uma sensação de mãos atadas que dificilmente será esquecida. E Scorsese entende isso e nos brinda com uma impactante metáfora através de um close-up em uma criança. Está tudo na tela. Esperando pelo seu julgamento.
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Excelente artigo! Parabéns! Assistirei com certeza depois dessa leitura.
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