domingo, 12 de janeiro de 2014

"...nada se cria, tudo se copia" e o que isso tem a ver com a aposentadoria pública de Shia LaBeouf


Uma vez disse o pai da química moderna Antoine Lavoisier "na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma", mais tarde transformada por Abelardo "Chacrinha" Barbosa em "na televisão nada se cria, tudo se copia" pra explicar porque todos os programas acabavam sendo parecidos partindo sempre do mesmo formato. O ator americano Shia Labeouf, de 27 anos, está sem dúvida com o espírito do Chacrinha, que também falou que "não vim para explicar, mas para confundir" em relação a direitos autorais, e além.

Revelado na série do canal Disney "Mano a Mana" em 2000, e tendo protagonizado seu primeiro filme "O Mistério dos Escavadores" ao lado de veteranos como Jon Voight, Sigourney Weaver e Tim Blake Nelson, o ator teve ascensão rápida ao coadjuvar em blockbusters como "As Panteras", "Eu, Robô" e "Constantine", logo veio os protagonistas de "O Melhor Jogo da História", "Paranóia", a animação "Tá Dando Onda" e a franquia que mudou sua vida "Transformers". Mudou sua vida no bom ($$) e no mal sentido (deixou de ser um ator em ascensão, pra ser uma celebridade). Em 2011, após o enorme fracasso de crítica de "Transformers 3 - O Lado Oculto da Lua" deu declarações contrárias a produções como esta, e disse que iria fugir de blockbusters pra fazer filmes que o desafiassem como ator.Desde então Shia trabalhou com diretores badalados (John Hillcoat, Robert Redford e Lars Von Trier) e até fez nu frontal num videoclipe de Sigur Rós, mas também resolveu se dedicar a outras artes. Em 2012 lançou algumas HQs independentes sob o selo de sua editora The Campaing Book, e anunciou a HQ "Hotah" como um projeto mais ambicioso em parceria com a (mais conceituada) editora Boom!Studios. Além disso, desde 2004 o ator tem dirigido curtas-metragens cada vez mais ambiciosos, e foi aí que o ator foi pego.
O ator em cena de seu último trabalho: "Ninfomaníaca" de Lars Von Trier
Seu último curta-metragem "Howard Cantour.com", estreou em 2012 no Festival de Cannes e foi disponibilizado online no último mês de dezembro, mas guarda numerosas semelhanças (diálogos, acontecimentos, e até aparência dos personagens) com a HQ "Justin M. Damiano" de Daniel Clowes. O ator reconheceu o fato, que o levou a ser chamado de "ladrão sem vergonha" pelo produtor do cartunista, num tweet dizendo que "na minha empolgação e ingenuidade de cineasta amador, me perdi no processo criativo e fui negligente na hora de dar os devidos créditos" e "eu ferrei com tudo". O problema talvez seja que, ao ser pego, o ator resolveu usar toda a história como manifestação, numa maneira de não ficar tão queimado. E resolveu pedir desculpas, usando desculpas de outras pessoas, como uma garota no Yahoo! Respostas ("copiar não integra parte do processo criativo. Se inspirar na idéia de outra pessoa para produzir algo novo e diferente É processo criativo.").
cena de seu polêmico curta
de história plagiada "Howard Cantour.com"
As coisas pioraram quando uma nova leva de denúncias de plágio apareceu. Suas HQs "Lets Fucking Party" e "Stale N Mate" copiam trechos de, respectivamente, poemas de Bukowski e do romance "The Little Girl and The Cigarette" do francês Benoit Duteurtre, além da seção 'sobre' no site de sua editora copiar palavra por palavra o mesmo texto do site da editora PictureBox. Para se desculpar, o ator copiou desculpas de Tiger Woods no calor de seu escândalo de adultério, e do secretário de defesa americano Robert McNamara sobre suas ações na Guerra do Vietnã.
Serial-plagiador sim, mas com orgulho!
No último dia 10 de janeiro o ator anunciou sua aposentadoria "de toda a vida pública" no tweet "na luz dos recentes ataques contra minha integridade artística, eu estou me retirando de toda a vida pública", o site de sua editora apresenta apenas o logo, um link pro seu twitter com a #stopcreating (pare de criar), e um dos últimos tweets lança um manifesto meta-modernista (!!) com alguns conceitos revoltosos. Para finalizar o ator deu uma entrevista ao site Bleeding Cool dizendo que "autoria é censura... Simples - Deveria a criação ser checada com um advogado?".E o que você acha? O ator está dando uma de joão-sem-braço e se promovendo no próprio escândalo, ou está querendo levantar verdadeiras discussões sobre o que é arte hoje?

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